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Capítulo 20
Tudo o que é desordem, revolta e caos me interessa; e particularmente as atividades que parecem não ter nenhum sentido. Talvez sejam o caminho para a liberdade. A rebelião externa é o único modo de realizar a libertação interior.— Jim Morrison, The Book of Rock Quotes", Michael Heatley, Omnibus Press, 2010.━━━━━ • • ❈ • • ━━━━━PENÉLOPE VERONESIFLASHBACK ON: — Você sentiu saudades de mim, Penélope? — ele sussurrou com uma voz morna em meu ouvido.Eu conseguia captar o seu cheiro amadeirado, e por alguma razão desconhecida, eu queria muito o envolver em um abraço, contar que senti a sua falta, o questionar o porquê dele ter partido e nunca ter sequer feito uma ligação para falar comigo.Mas, por que faria isso? Por que de repente essa inconstância de sentimentos e emoções que eu havia prometido para mim mesma guardar em uma caixa e jamais voltar a lhe libertar?Eu não devia nada além da minha vida, e a única coisa que eu precisava realmente demonstrar era apenas gratidão, mas então
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Capítulo 21
PENÉLOPE VERONESI Terminei de fazer uma trança firme em meu cabelo cacheado, assegurando-me de que os fios não se soltariam enquanto eu me movimentava. O termômetro marcava uma inóspita temperatura de 10º Celsius, e, apesar de estar vestida com um macacão de treino preto de mangas compridas e gola alta, forrado por dentro para me manter aquecida, um colete de couro para proteção e botas pesadas que os meus pés enfrentavam com meias espessas, ainda não era o suficiente para conter o frio que parecia penetrar nos meus ossos. Adentrei a sala de treinamento subterrânea, desejando secretamente que o ambiente fosse mais quente. Infelizmente, a minha esperança logo desmoronou, já que a temperatura ali parecia ser justamente o oposto do que eu esperava. — Boa tarde, Hans. — Saudei-o com um "eshaku," um cumprimento peculiar que ele me ensinara, enquanto me aproximava dele. Hans estava de pé, com os braços cruzados e um sorriso nos lábios. — Estás atrasada, Penélope. — Ele comentou, avançan
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Capítulo 22
PENÉLOPE VERONESIOs Daiyokais, uma classe única de seres sobrenaturais do folclore japonês, são amplamente reconhecidos por sua força e inteligência superiores em relação aos outros Yokais comuns. Estes seres extraordinários ostentam uma diversidade de formas e poderes que os tornam notáveis em meio ao mundo espiritual japonês. Alguns se manifestam como gigantes imponentes, desafiando completamente a concepção humana do que é possível, enquanto outros têm a capacidade de assumir formas alternativas com grande habilidade.Um dos aspectos mais intrigantes dos Daiyokais é sua longevidade sobrenatural, que pode até superar a já impressionante expectativa de vida dos Yokais menores. Isso lhes confere uma perspectiva única sobre o mundo, permitindo-lhes acumular conhecimento e experiência ao longo de inúmeras eras. Essa imortalidade relativa oferece aos Daiyokais uma vantagem distinta nas suas interações com outros seres espirituais e humanos.Ao longo dos séculos, os Daiyokais demonstrara
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Capítulo 23
PENÉLOPE VERONESI O sol havia desaparecido abaixo do horizonte, e o céu noturno se tingia de um profundo negrume. No entanto, a atmosfera estava clara e límpida, revelando o início do brilho das estrelas. A noite era mágica e convidativa. Embora a neve não mais caísse dos céus, a temperatura permanecia baixa, lembrando a presença do inverno. No entanto, isso não nos impediu, a mim e a Marcus, de nos acomodarmos nos bancos do jardim para apreciar o espetáculo celestial que se desenrolava diante de nós. Marcus, sempre criativo, começou a moldar uma pequena bola de neve nas suas mãos. Com cuidado, ele colocou-a sobre o monte de neve que já havia acumulado, moldando um engraçado boneco de neve. A brancura reluzente contrastava lindamente com o fundo escuro da noite. Marcus tinha um toque especial para a arte efêmera da escultura de neve. Com um sorriso no rosto, eu observava o processo. Marcus era meticuloso e detalhista, e, à medida que o boneco de neve tomava forma, ele começou a cr
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Capítulo 24
PÉNELOPE VERONESIAntes de eu ser enviada para o I.T.I., meu pai e eu éramos nômades, explorando o mundo juntos. No entanto, sempre tive a sensação de que estávamos fugindo de algo, de um fantasma invisível que perseguia os nossos passos. Eu nunca soube ao certo o que era que Coniffer, meu pai, estava tentando escapar. Mas, independentemente das razões, as nossas viagens eram uma constante em nossas vidas.Depois de explorar locais misteriosos e desconhecidos, nada tão agradável que as riquezas que ele aparentemente possuía pudesse embelezar o ambiente, sempre acabávamos voltando para a nossa casa, nossa base de operações. Essas viagens não eram férias ou oportunidades de lazer, pelo contrário, eram fugas.A nossa vida consistia em permanecer brevemente em diferentes locais, mas invariavelmente, retornávamos à nossa casa. No entanto, essas não eram viagens para o prazer, como se poderia esperar, uma vez que eu deixava raramente o nosso lar. O fato é que nos estabelecíamos em casas som
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Capítulo 25
PENÉLOPE VERONESI A cidade de Florina tem as suas origens que datam de tempos antigos, com evidências de assentamentos humanos que remontam à Antiguidade. No entanto, foi durante o período otomano que Florina se destacou como uma cidade importante. Durante esse período, a cidade prosperou como um centro de comércio e cultura, estabelecendo laços comerciais e culturais com outras regiões dos Bálcãs. Isso enriqueceu a cidade com influências culturais diversas e contribuiu para sua identidade única. A história moderna está fortemente ligada aos eventos do século XX, incluindo as Guerras dos Bálcãs e as Guerras Mundiais, que tiveram um impacto significativo na região. Após a Primeira Guerra Mundial, Florina fez parte do Reino dos Sérvios, croatas e eslovenos (mais tarde conhecido como Reino da Iugoslávia), até que finalmente se tornou parte da Grécia após a Segunda Guerra Mundial. A região é caracterizada por invernos rigorosos e frequentes nevascas, com a cidade frequentemente coberta
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Capítulo 26
PENÉLOPE VERONESI Ao despertar, os meus olhos deparam-se com uma luz intensa que invade o espaço ao meu redor, quase que imediatamente me fazendo fechá-los. A ausência do som dos pássaros e da melodia que geralmente embala os meus momentos na capital atinge-me de imediato. Resolvo sentar-me na cama, tomando um momento para examinar minuciosamente o cômodo que me foi designado. As paredes exibem uma tonalidade branca, e uma das paredes é composta por vidro levemente azulado. A lareira, ao contrário da sala, está embutida na parede, conferindo um toque de modernidade ao ambiente. Finalmente, tomo coragem para sair da cama, que parece quase luxuosamente convidativa demais para um mero descanso. Antes de adentrar o banheiro, capturo o meu celular escondido do interior do bolso do meu casaco, e assim que entro no cômodo, sou novamente surpreendida pela amplitude do espaço, o qual é cerca de duas vezes maior do que o banheiro que tinha em Atenas. Essa discrepância deixa-me surpresa, esp
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Capítulo 27
PENÉLOPE VERONESIOptei por desviar o olhar no momento em que Ezra se afastava com aquela mulher, cujos olhos e características não escondiam a semelhança marcante com o homem que anteriormente tentara levar-me à força.Relembrar aquele episódio fez um arrepio percorrer toda a extensão da minha coluna, estendendo-se pelos braços e pernas. Um sabor amargo invadiu a minha boca, fazendo-me pigarrear antes de deixar o ambiente monocromático e dirigir-me ao meu, ainda segurando peças de roupa nas mãos.Ao sentar-me na cama, uma inexplicável vontade surgiu de aproximar a camisola do nariz. Cedi a esse impulso momentâneo, mas logo a afastei, constatando apenas o aroma suave de lavanda, talvez relacionado ao detergente de roupa.Ezra exala um perfume peculiar, habilmente mesclando notas cítricas, reminiscentes do aroma de laranja e limão-siciliano, com toques amadeirados, gerânio e lavanda. O resultado é uma combinação que evolui ao longo do dia, culminando em uma nota final de sensualidade.
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Capítulo 28
PENÉLOPE VERONESI A manhã passou muito rápido e pela tarde um sol miúdo deu suas graças entre as nuvens pesadas, obviamente não pude conter-me e puxei o meu sofá até estar próximo à parede de vidro do meu quarto e fiquei por lá, lendo o livro e aproveitando o máximo do sol que eu pudesse. Quando a fome ficou algo impossível de ignorar, fiz duas sandes, uma de presunto e mussarela e outra de ovo e atum, mas que também não segurou por muito tempo a minha fome. Por isso, rendida, voltei a descer, já com o livro finalizado e liguei a enorme televisão. Eu não estava acostumada a ver, o meu pai não era muito fã disso e por isso não tínhamos em casa, e no I.T.I eu não tinha uma televisão no meu dormitório, portanto nunca me senti tão tentada a sentar e assistir qualquer coisa que passasse por ela. Entretanto, a Annie havia-me ensinado a mexer e eu sabia também que nele havia canais que passavam receitas culinárias, e para calar de uma vez por todas a minha fome, decidi arriscar. Fiquei
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Capítulo 29
A lei é uma sombra pudica e hipócrita do desejo de vingança da sociedade. Se, por uma razão ou outra, as paixões se condensam, os ódios se inflamam, eles devem ser apaziguados, aquietados, acalmados. Alivie o desconforto sem exceder. Os tribunais são os lugares decentes da vingança. Não para direcioná-lo para o alvo correto, mas para evitar que movimentos perigosos ocorram.— Giampaolo Rugarli.━━━━━ • • ❈ • • ━━━━━EZRA D'ARTAGNAN— Você realmente acha que ela não vai descobrir, Ezra? — A voz calma escapou dos lábios pintados de carmesim.Há muito tempo atrás, na iminência de eu assumir a responsabilidade de Enok, o homem estava preocupado em estabelecer alianças, sabendo que quebrá-las resultaria na minha própria ruína. Uma estratégia perspicaz, confesso. No entanto, onde Enok falhou foi na sua sensibilidade e, pior ainda, em subestimar-me.Sempre vi Salvatore como uma pedra no sapato das decisões dos D'Artagnan e, de certa forma, sabia que essa suposta amizade chegaria ao fim mais
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