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Todos os capítulos do A vida no morro: Capítulo 81 - Capítulo 90
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Eu sou natural da Bahia, mais especificamente de Senhor do Bonfim. Fui muito feliz naquele lugar. Minha família era muito grande, mas Deus foi levando um à um com o passar do tempo. O câncer é uma doença realmente devastadora. Levou meus pais muito cedo e meus irmãos também. Eu sou o caçula, com uma diferença grande de idade do meu último irmão. Acho que não tenho muito o que falar sobre a minha infância e adolescência. Tive uma vida comum, com a felicidade de ter uma família maravilhosa e muito unida. Meu pai e minha mãe eram muito trabalhadores, ela o ajudava na plantação de maracujá, mas depois do terceiro filho eles preferiram que ela fosse se dedicar somente aos filhos. Davam muito trabalho, né? Crianças são mesmo uma peça. Meu pai nunca foi um homem machista, ele parecia sempre muito a frente do seu tempo. Acho que por is
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Eu tinha 25 anos quando fui embora da minha cidade. Deixei o terreno para as famílias de meus irmãos, meus sobrinhos e suas esposas e esposos. Vim embora e nunca mais olhei para trás. Meu passado tinha muitas coisas boas, mas também tinha muita morte. A morte, que inclusive, me assombrava muito. Mas assim, adiantando uma parte da história, como vocês podem ver, acho que a morte não me quis, porque hoje eu estou aqui com 50 e tantos anos, vivo. O motivo? Não tenho ideia, mas sou grato. Enfim. Peguei carona até chegar no Rio de Janeiro. Essa cidade já era desejada por muitos brasileiros, de todos os lugares. Eu não conhecia muito sobre aqui não, mas ouvi falar durante o meu percurso saindo da Bahia. Estava meio perdido sem saber o que faria, quando um dos caras que também estava pegando carona na estrada, me disse que iria vir para a cidade maravilhosa. Aí eu perguntei dele que cidade era essa e ele disse que era o Rio de Janeiro. Eu já tinha ouvido falar do Rio de Janeiro, mas não conh
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 O prédio onde o senhor Bahia morava era muito bonito. Ficava bem de frente para o mar e realmente tinha cara de só morava ali quem tinha muito dinheiro. Quando subimos para o apartamento dele foi mais chocante ainda. O apartamento era impecável. Era muito bem ornamentado, para a época, é claro e era tudo de muito bom gosto. O seu Bahia não parecia combinar com aquele lugar, porque ele se vestia de maneira muito simples. Não era um homem que se importava muito com aparências.- Bem vindos ao meu lar, espero que gostem e fiquem bem a vontade. Vou pedir para a Aparecida fazer uma janta bem gostosa para todos nós, ela é uma cozinheira de mão cheia.- Quem é Aparecida? - Minha mãe perguntou.- É a senhora que trabalha aqui em casa faz anos, é como se ela fosse da familia.- Ah, chegou, né, seu velho! Sabia que eu tinha ouvido alguma cois
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Seu Bahia e minha mãe, deixaram tudo o que tinham para meu irmão, para a Dona Aparecida e para mim.  Eu posso dizer que vivo bem e que não preciso do meu salário para sobreviver, mas eu faço o que gosto. E sempre trabalhei com muito afinco e com muita certeza de que faço isso porque quero realmente poder ajudar pessoas, ajudar pessoas como a minha irmã.Sobre a minha vida pessoal, nunca mais me apaixonei por outra mulher e nem nunca mais consegui ter um relacionamento com outra pessoa. Meu coração sempre foi e sempre será de minha falecida esposa. Também nunca tive mais filhos. O papel de filho sempre vai ser da minha pequena menina, que eu acredito que ainda encontrarei um dia.E foi assim que eu cheguei até você, Ana. Hoje eu cubro o morro que você mora, ou morava, não sei como será daqui pra frente. Me chamaram porque eu ainda estou trabalhando em um ca
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Luiz Tavares realmente estava cansado e tinha muito em sua mente naquela noite. Tinham muitas coisas atuais para se pensar e ele ainda tinha trazido muitas coisas de seu passado a tona. Muitas coisas que ele não lembrava há um tempo, ele acabou lembrando quando começou a contar sua história para Ana.Ulisses já estava indo embora, seguiu para o seu carro e sentou no banco. Sua mente também estava à mil. Por que o caso da menina Ketlen estaria envolvido com o da menina Ana, um incêndio?Ulisses, mesmo sem querer, porque já havia perdido noites e noites em claro por causa do desaparecimento da menina Ketlen, começou a lembrar de cada passo que deu no caso da menina e de tudo o que havia acontecido.Ketlen era uma menina de apenas 14 anos de idade. Ulisses lembra bem dela, lembra do primeiro dia que a viu, em como ela segurava a mão da mãe dela, que estava deitada na maca, naquele ho
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 - Sinto muito por vocês terem passado essas coisas.- Tudo bem, senhor Ulisses. Pelo menos nós temos uma a outra, tem gente que nem mãe tem.- É verdade, mas ninguém deveria passar por essas situações. E você deveria ter um pai com quem contar, porque esse era o correto.- O senhor deve ser um bom pai, não é, senhor Ulisses?- Eu tento ser...- Eu tenho certeza de que o senhor é um bom pai, porque se o senhor tira uma parte do seu tempo para trazer comida para alguém que nem deveria lhe importar, e o senhor faz isso todos os dias, eu imagino que o senhor faça muito mais pelas suas filhas. Elas devem ser meninas muito felizes, porque por muito tempo, tudo o que eu quis foi um pai que me amasse e cuidasse de mim.- Eu sinto muito mesmo, menina. Você é uma menina muito boa e não deveria se sentir dessa maneira.- T&a
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A bebê Madalena nasceu linda, grande e branca. Logo que ela saiu da sala de cirurgia foi entregue à equipe de enfermagem, para levá-la para o berçário, que ela nunca chegou. A mãe estava completamente apagada. O resultado do remédio que Lúcia aplicou nela. Era muito mais fácil fazer aquilo com a mãe insconsciente. Lúcia dizia que preferia apaga-las, porque haviam algumas mães que pareciam ter uma conexão tão forte, que sabiam quando algo de errado estava acontecendo e essas mães acabavam sempre exigindo ver seus bebês, o que tornou, por vezes, o trabalho de Lúcia difícil e algumas vezes até fadado ao fracasso. Para não correr esse risco novamente, Lúcia passou a dar uma dose muito alta de um remédio que as faziam dormir por muito tempo.Eliza voltou para a enfermaria e Ketlen estava lá para receber a mãe e a irm&
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- Boa tarde, Ketlen. O seu amigo policial que me mandou aqui.- O policial Ulisses?- Isso, ele mesmo.- O que ele disse?- Ele disse que gostaria que eu levasse você até a delegacia.- Mas por que? Eu vou ter que deixar minha mãe aqui sozinha?- Ele disse que você não deve demorar muito e que assim que a sua mãe acordar, ela vai ser avisada. Ele está preocupado com a sua segurança. Ele não pôde vir porque está ocupado, mas me mandou logo, porque não queria que você ficasse muito mais tempo aqui sozinha.- Ele me disse que estava um pouco preocupado mesmo, mas não achei que fosse assim tão sério.- É, eu acho que é sério sim, porque ele me mandou levar você com urgência.- Bom, se o senhor Ulisses falou, eu vou. Vou só pegar minha mochila lá dentro.- Não
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Tavares tinha mais certeza ainda que tinha mais coisa envolvida nisso. E aparentemente era algo muito grande, porque até a diretora do colégio desapareceu e ela só era um pouco próxima de Ana. Pelo menos era isso que ele pensava.Tavares foi até a delegacia junto com Bianca e lá ela começou a falar tudo o que sabia, que não era muita coisa. Mas era de se estranhar que a diretora de um colégio tivesse desaparecido e não tivesse falado nada para ninguém. Pelo histórico de Carmem, ela era uma mulher muito centrada e que nunca faltava ao serviço por besteiras.Bianca falou das últimas semanas, que foram diferentes dos dias mais usuais. Que Carmem havia dito que precisaria sair mais cedo em alguns dias, precisou remarcar algumas reuniões e tiveram alguns poucos dias que ela não havia ido trabalhar, mas nada parecia muito estranho a ponto de levantar suspeitas. Tav
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Tavares e Ulisses foram por conta própria rondar aquela área. Depois da principal tinham algumas ruas mais estreitas. Algumas delas não levavam a lugar algum. Tinha muito terreno com mato alto por ali e ainda era uma área pouco explorada. Os policiais sabiam que aquela área era um pouco perigosa, já haviam encontrado alguns corpos naquelas redondezas.Eles achavam que não iriam encontrar alguma coisa, estavam esperando encontrar uma marca de roda em alguma parte, na terra, mas não encontraram nada. Eles já estavam voltando quando Tavares, que estava no banco de passageiro, disse para Ulisses dobrar em mais uma daquelas ruas estreitas, porque ali tinham mais pedregulhos que barro e um carro poderia passar por ali facilmente sem deixar muitos vestígios. Mal Ulisses virou e logo no início daquele ramal, eles viram uma terra remexida. Os dois já tinham visto muito aquela cena durante seus anos com
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