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Todos os capítulos do A Alma no Reflexo da Vida: Capítulo 11 - Capítulo 20
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Semanas passaram-se! Aos poucos fui me adaptando ao novo estilo de vida. Na hora do almoço conversávamos sobre as atividades da chácara e no descanso eu e Bela corríamos para as poltronas da varanda para uma conversa  descontraída.Maricá estava superando o vício aos pouquinhos e isso me alegrava. Tivera ainda mais duas crises, mas, segundo ele próprio, já conseguia perceber aquilo que queria... e isso, sem dúvidas, era livrar-se das drogas.Certo dia após as aulas, fui procurado por Solange, uma das hóspedes. Como todos os outros ela era magra e mostrava estar saindo recentemente do vício funesto que a acompanhava desde a adolescência; como a maioria, tinha tatuagens esparsas nos braços e nas costas, pois trajava sempre uma blusa decotada e sem mangas que deixavam à mostra tais desenhos. O sorriso era falhado pela falta de alguns dentes e o corpo fazia l
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E o tempo foi passando! Eu aprendendo com aquela gente diferente que gastava as suas horas, minutos e segundos tentando fazer com que o próximo se sentisse importante e feliz.Num dado domingo quando a chácara ficava mais calma e eu me preparava para aproveitar uma folga, Guida e Bela vieram me convidar para sair com elas; segundo disseram iam fazer algumas visitas a pessoas da vizinhança, visitas corriqueiras... um programa leve para um dia de domingo.Haviam preparado algumas cestas de alimentos que explicaram ser praxe distribuí-las a famílias já cadastradas para receber o benefício. Também levavam um farnel bem caprichado para almoçarem em algum local predeterminado. Como iríamos os três e ainda levaríamos o peso das cestas, Guida resolveu que iríamos de carro. Ela possuía um automóvel, só que o utilizava apenas quando saía  da vila ou ia
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Na varanda dos fundos que dava para uma floresta distante uns quinze a vinte metros, havia uma mesa grande com o tampo feito de uma só peça de jaqueira; ao lado uns bancos compridos onde cabiam facilmente quatorze pessoas, seis de cada lado e ainda mais dois, um em cada cabeceira. Guida sempre arguia Julião sobre a necessidade de uma mesa tão grande, já que ele morava sozinho.― Eu é que preciso de uma mesa assim ― dizia ela. ― Lá na chácara ficaria perfeita no pavilhão, pois meus treze hóspedes estariam bem instalados nela.Guida e Bela trouxeram o farnel preparado na chácara e distribuíram sobre a mesa. Era bem farto e tinha arroz, salada, filé de peixe, legumes e frutas. O almoço foi alegre e participativo; Julião contribuiu com um saboroso refresco de pitanga bem gelado e revigorante.Após o almoço sentaram-se todos embaixo do caramanch&atil
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Lá pelas cinco e meia da tarde retornamos à chácara. Como Rute estava recolhida a seus aposentos, Bela foi para a cozinha preparar um café. Serviu-o na mesa da varanda, café, leite, pão, manteiga, biscoitos e bolinho de chuva.No início comemos calados e de olhos postos no lanche... depois de algum tempo quebrei o silêncio e perguntei à Guida:― Não entendi muito quando o doutor Julião disse que a humanidade estava com câncer e que o tratamento seria doloroso. Você poderia explicar melhor?Guida sorriu divertida com o tratamento de “doutor Julião” que eu dei ao novo amigo. Mas com toda a condescendência procurou responder:― Uma forma alegórica de dizer que o mundo de hoje se encontra em desordem moral e psíquica é compará-lo a um imenso organismo. Quando um organismo está em desequilíbrio dizemos que e
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Bela e eu, depois que ficamos a sós, levantamo-nos e fomos sentar em nosso lugarzinho predileto: a varanda.Eu fiquei durante alguns minutos calado, em cismas. Depois fui voltando da minha abstração enquadrando-me novamente ao estado de vigília característico de quem está desperto. E então comentei com Bela― Puxa! Eu recebi mais informação no pouco tempo em que estou aqui do que nos trinta anos anteriores da minha vida! Jamais havia discutido ou participado de conversas tão profundas sobre a filosofia, e por consequência, a maneira e a ótica de encarar o mundo, ou simplesmente a nossa existência fora da superficialidade que sempre fez parte da minha educação. Em casa nunca se comentava nada, a não ser situações que poderiam comprometer a saúde financeira da Viola, e na faculdade o único fato que interessava à “
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Na terça-feira Jane me procurou após as aulas:― Professor ― disse ela ― já estou há algum tempo sóbria; nada de drogas, bebidas, cigarros... resolvi abandonar de vez essa vida miserável, mas queria pedir um conselho ao senhor... Tem uma igreja lá na vila que já faz um tempinho eu estou indo nela; o pastor fala umas coisas que mexem lá dentro de mim e ele pergunta se eu quero receber Jesus... eu falo que quero e aí ele pede para “mim” contar a história da minha experiência nas ruas... O que o senhor acha?Pego assim de surpresa fiquei calado durante algum tempo. O que eu diria? Apesar do verniz de educação que eu recebera desde que me mudara para a chácara, ainda tinha um ranço de ateísmo que me fazia embirrar com qualquer religião.Jane ficou aguardando a minha resposta; como ela demorou, repetiu:―  E a&i
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Afinal chegou o domingo! Eu estava bastante animado; já há algum tempo todas as vezes que me aproximava de Bela, sentia uma espécie de corrente elétrica me percorrendo a espinha. Nunca fui bom no trato com as mulheres... minha vivência resumia-se a algumas tentativas de namoro na faculdade que não se desenvolviam e deixavam-me um tanto frustrado. Mas também nunca sentira por ninguém o que eu estava experimentando por Bela... só que esbarrava na minha timidez. E quando aparecia uma oportunidade para me declarar, perdia o folego, suava frio e dava uma desculpa para me ausentar até voltar ao normal.A possibilidade de sair sozinho com ela mexia com o meu sistema nervoso, mas me dava um prazer inefável. Eu me sentia como o menino que vai pela primeira vez ver Papai Noel no shopping.Saímos às nove horas. Bela já tinha alertado Julião que iríamos passar o domingo n
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Após o almoço Julião nos convidou para um passeio no sítio. Era o seu pedacinho de Mata Atlântica todo replantado por ele; sentamo-nos em um banco rodeado de frondosas árvores, espécimes raros, alguns em vias de extinção. Havia ali Jequitibás, perobas, ipês, sucupiras e até jacarandás... árvores de madeira nobre que despertam cobiça em exploradores e ladrões da floresta.Bela provocou Julião com a seguinte pergunta:― Tio, você nos deu uma profunda aula de ciência, falando de átomos, física quântica... e muitas coisas mais. Mas a ciência não engole o ocultismo...  por quê? Onde está o gargalo?Julião riu bastante com a brejeirice da moça. Depois começou a responder a questão:― A pergunta “Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?...&rdqu
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A rotina na chácara prosseguia!Algumas vezes em minha folga visitei meus familiares, mas foram momentos breves com intuito de matar as saudades que eu sentia de minha mãe. Aproveitei para devolver as chaves do apartamento visto que eu não utilizava mais o mesmo e ― confesso com uma pontinha de vergonha ― foi para fazer uma raivinha a Junior. Não abri o jogo de onde eu estava nem o que fazia. Mencionei apenas que conseguira um emprego decente que me oferecia as comodidades que eu precisava.Numa segunda-feira depois que todas as aulas terminaram fui até o pavilhão para pegar um livro que eu esquecera ali. Estava justamente à procura quando Mércia entrou e, pela atitude dela, percebi que alguma coisa grave tinha acontecido.― O que foi Mércia, aconteceu alguma coisa? ― Perguntei solícito.― Aquela safada vai ver só com quantos paus se faz uma canoa... ― vociferou a mo&cce
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O mês de dezembro chegou anunciando os festejos de Natal, a festa máxima da cristandade; Guida, auxiliada por Bela, dirigia e orientava a decoração da chácara, pois programava-se uma comemoração reunindo todos os participantes daquela comunidade. Dentro das minhas possibilidades também procurei ajudar da melhor maneira possível pendurando enfeites e luzes.Para mim era uma novidade! Sempre achei o Natal muito chato e minha família não tinha tradição com tais festejos, apesar de meu pai como bom carcamano cultivar a tradição cristã..., porém, trabalhando como ele trabalhava não sobrava qualquer tempo para nenhuma outra atividade que não fosse a fábrica. Por isso tínhamos no máximo uma pequena árvore em um canto escondido da sala sem qualquer destaque. Na véspera cada um ia para seu lado cuidar de seus compromisso
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