Todos os capítulos do O Homem no Trono - Livro 2 : Espólios da Fronteira: Capítulo 31 - Capítulo 34
34 chapters
30 - O último arrependimento
            Agir com justiça. A primeira obrigação de um Profeta. Nas palavras, nas ações, nos pensamentos. Em combate, isso significava usar apenas a força necessária. Nem mais, nem menos.             Uzias conhecia o princípio, e nas poucas vezes que precisou se defender, a regra definitiva era a de nunca causar mais estrago que o suficiente para parar o inimigo. A questão importante cá agora era: quanto estrago era considerado o bastante para deter alguém como Acaiah?             Não havia tempo para argumentação. O grito soluçante de Abigail foi o gongo. O sinal. A pedra que caía no chão em uma briga de rua. Ela gritou porque mal viu o movimento que tombou uma árvore próxima, vítima de um golpe letal que lhe partira o tronco.             Uzias pulou para
Ler mais
31 - Estrada solitária
            Se havia um lugar em Ataya do qual pouco se conhecia a existência, era o calabouço na sede da Ordem dos Redentores. Normalmente destinado aos criminosos que, pegos cometendo crimes dentro dos muros, aguardavam julgamento antes de serem enviados a alguma unidade prisional na floresta, raramente era usado por serem baixíssimas as ocorrências criminais tão graves dentro da cidade. Suas paredes de pedra rachada exibiam fendas abertas por raízes que desciam desde o solo acima. Quase não havia luz – a pouca que entrava o fazia através de pequenas fendas no teto que davam para o salão principal da ordem. O frio que fazia ali, ao menos, era menor que o de estar ao ar livre no meio do inverno, mas ainda assim doía nos ossos e retesava os músculos.             Sobre o chão de barro batido havia restos de comida em pratos de madeira, alguns copos vazios e sangue fresco. Apesar de amplo, o l
Ler mais
32 - A única escolha que importa
            Nevava havia dois dias e não havia qualquer sinal de que pararia pelas próximas semanas. O branco já havia coberto as raízes das árvores, e logo começaria sua lenta subida pelos caules. Em anos difíceis, um homem alto poderia ficar até os joelhos preso na neve. Era possível acrescentar um palmo ou dois à medida que se avançasse nordeste adentro e dizia-se que, na fronteira com Volstania, um homem podia ter neve até a cintura impedindo-o de prosseguir. Simplesmente avançar nessas condições era duro, mas pior ainda era fazer uma busca. Em condições normais, ninguém se atreveria a tentar encontrar um corpo específico soterrado no gelo em meio a um campo de batalha. Uma tropa podia fazer o trabalho mais rápido que um indivíduo, mas tão desmotivados pelo frio, os homens só pensariam em terminar logo e retornar para perto das fogueiras do acampamento. Os oficiais teriam tentado persuadir o comandante a desistir, pelo bem da tropa.  &n
Ler mais
Epílogo
Por mais pobre que houvesse sido, a prisioneira Número Setenta e Dois até então jamais havia aberto mão de certas vaidades. O longo cabelo penteado, ou trançado, por exemplo, era talvez a maior delas. Quando criança, ele caía sobre suas costas como uma volumosa cascata dourada. Ela gostava de ver sua mãe o trançando ou penteando, diante do enorme fragmento de espelho que tinham no quarto, enquanto ela ouvia histórias sobre seu pai ou músicas assobiadas. Mesmo quando ingressou no exército, e se submetera a treinos extenuantes sob o sol ou sob a água salgada do mar, tratava as madeixas lanosas como uma mãe a um filho querido. Por mais que sua rotina de treinamento cumprisse bem sua função de libertá-la de vaidade e individualidade, aquele aspecto de sua alma feminina permanecera intocado, lembrando-a sempre de que, antes de um soldado, ela era uma mulher. Uma mulher bonita, com lindos e longos cabelos loiros.             N
Ler mais