Todos os capítulos do O melhor de mim: contos e crônicas de minha autoria: Capítulo 11 - Capítulo 16
16 chapters
Conspiração
Não sabe-se bem o porquê, mas não era nada convencional Jairo Rocha pedalar em sua bicicleta àquela hora da noite, na ciclovia. Passava das 23h. Pedalava em um ritmo frenético, apesar de demonstrar cansaço. O jovem senhor de 45 anos já havia pedalado mais de 20km às margens do Lago das Garças, com a gélida brisa suave nas suas narinas, ocasionalmente, e as ruas da pequena Florentina completamente vazias. O lago tinha uma extensão de 50km e circundava toda a cidade de 100 mil habitantes.          A lua, parecendo um lampião azulado no céu sem estrelas, clareava mais que qualquer poste. Jairo não via a hora de chegar em casa, tomar um banho e dormir, mas não havia se atentado a distância da mesma. Ficava umas três léguas de onde estava. Era um homem sedentário, acima do peso, e pedalar fazia parte da pres
Ler mais
Dignidade maculada
              É inacreditável como as coisas podem dar um looping na sua vida da noite para o dia. Ano passado, em 2019, foi um ano incrível, pelo menos para mim. Ganhei muito dinheiro com as vendas dos meus portfólios, comprei meu apartamento no Morumbi praticamente à vista, troquei de carro por um modelo importado. Sem falar da promoção que ganhei na empresa de publicidade que trabalhava. Sim, o verbo está conjugado no tempo correto: pretérito. Ontem fui informado da minha demissão na empresa. Estou aqui, sentado no sofá e pensando o que fazer.             Vamos por partes. Estamos em 2020, vivenciando a pandemia do coronavírus/covid-19, que nos obrigou a ficar em casa, em isolamento social como único meio eficiente de conter a curva de contágio. Ainda n
Ler mais
O melhor café do mundo
         Eu sempre gostei de aventuras. Sair à noite para visitar minhas amigas que moram nos bairros mais periféricos da cidade, tendo em vista o alto índice de criminalidade, faz parte do pacote de desbravamento e diria até de insanidade. Mesmo numa moto Biz 125, equipado com capacete, o medo não me impedia de sentir calafrios.        Natasha morava há muitos quilômetros da minha casa, quase do outro lado da cidade de Teresina, e eu a visitava, religiosamente, todas as quartas-feiras após o futebol na TV Globo. Ela estava passando por uma crise séria no casamento, suspeitava que o marido a traia, mas não tinha provas, e pretendia dar cabo da própria vida, então sempre ia lá na casa dela no intuito de impedir esse ato de loucura.        Nos conhecíamos desde o en
Ler mais
Um natal bem diferente
Eu sempre amei o natal. Para mim, essa é a melhor época do ano. Tempo de reflexão, de olharmos para si mesmos e nos reavaliarmos enquanto pessoas, o que fizemos de certo e errado durante o ano, enfim... Faltavam dez minutos para meia noite e finalmente iniciarmos a ceia com tudo que temos direito: um peru (ou talvez frango) pequeno assado com batatas, sidra das mais baratas, arroz à grega sem uvas-passas, saladinha com poucos legumes e um tender.         Esse ano precisei economizar ao máximo para a ceia porque tudo está muito caro, diferentemente de anos anteriores, em que comprava tudo do bom e do melhor.        Sentei-me à mesa e me servi de um pedaço do peru com uma generosa porção de arroz, fiz uma oração em agradecimento por tudo que passei esse ano e pedi bênçãos e muita energia posit
Ler mais
Eu sei o que você fez no verão passado
As férias de Kassandra era o momento mais aguardado do ano. Não aguentava mais tanta pressão no trabalho e na faculdade de Direito, em especial quando aproximava-se o período de avaliações e término do semestre. Nas férias que se aproximavam, pretendia viajar com o namorado Plínio e o casal de amigos Léia e Jordan, na sua Blazer 2000 verde musgo.         Dias de ansiedade passaram-se até que finalmente a viagem chegou. Iam para o litoral do Piauí, em Luís Correia, 30 km de Parnaíba. No caminho, contemplaram a linda paisagem litorânea, misturada com o cerrado e a caatinga, típica do estado. Já estavam cansados e estressados de percorrerem mais de 700 km de estrada, pois residiam em Picos, no centro-sul do Piauí. Kassandra dirigia o carro que fora de seu falecido pai e, hora por outra, balbuciava alguma insatisfa&c
Ler mais
Nunca é tarde para amar
          Todos os dias paro em frente à janela do meu modesto apartamento, nesse conjunto habitacional popular, daqueles tipo Minha casa Minha vida, e contemplo, daqui de dentro, solitariamente, através das persianas empoeiradas, crianças e alguns poucos corajosos brincando nas áreas de convivência. Estou isolado há quase um ano, sozinho, devido a pandemia da Covid.           Meus pais se refugiaram no sítio da família, são aposentados, e me deixaram aqui. Trabalho em home-office. Não sei o que é pior: a sensação de medo, insegurança, indignação (sim, o governo vem vacinando a população a passos de tartaruga). Ainda bem que meus pais já receberam as duas doses da Pfizer. Tá passada?!!!  Mas, mesmo assim, preferiram não arriscar e fi
Ler mais