Início / Realista / Loucura / Capítulo 1 - Capítulo 7
Todos os capítulos do Loucura: Capítulo 1 - Capítulo 7
7 chapters
Capítulo 1 - Abandono
Suas andanças pelas ruas da metrópole paraense, às vezes sob pesada enxurrada das chuvas, num clima quente e úmido, em outras ocasiões debaixo da escaldante luz do sol que queimava sua envelhecida pele, escurecida pela densa temperatura que impiedosamente o castigava durante aquela peregrinação miserável. Carregava como fardo o desalento e muitas lembranças amargas do passado, bem como um saco imundo sobre os ombros, cheio de várias porcarias encontradas nos lixos espalhados por todo o trajeto por onde costumava passar. Juntava tudo quanto parecia-lhe útil, de acordo com suas loucas ideias. Alimentando-se de restos de comidas encontrados nas lixeiras localizadas na frente das belas casas, onde certamente ele jamais entraria. Reconhecia não ter valor algum como pessoa, era um penitente já conformado com a pobreza na qual vivia desde muito tempo atrás. Naquela noite, como tantas outras, decide dormir numa das várias praças existentes. Para dar repouso a seu corpo cansado sobre os pape
Ler mais
Capítulo 2 - Ver-O-Peso
 Lá existia o Ver-O-Peso, local onde Luís passou maior parte de sua adolescência e conheceu aquela que o adotou duas décadas atrás. O moribundo desceu a avenida, recostando-se ao meio fio para evitar ser atropelado pelos vários veículos que trafegavam em alta velocidade e tornava o ambiente perigoso demais para se movimentar.  Dirigiu-se ao porto e do lado de fora da grade proteção podia observar os navios que ao longe permaneciam ancorados. Descarregavam em balsas as suas cargas, enquanto isso outros seguiam viagem rumo a diversos destinos.   Apesar de toda a confusão que obscurecia sua mente ainda era possível lembrar de suas origens, recordar seu passado e saber de onde veio.  Mesmo que através de lembranças confusas e repletas de pontos ilegíveis, o que lhe permitia naquele momento observar o infinito sobre as águas barrentas do extenso rio.  E sentir saudades de casa, do velho pai pescador, da mãe dona de casa. Os outros dois irmãos
Ler mais
Capítulo 3 - Recordações
 Se sua mente estava travada ao ponto de não assimilara realidade, pelo menos seu subconsciente ainda podia trazer através de sonhos flash de recordações arquivadas, e assim ele pôde voltar no tempo de sua infância, quando ao lado de Bernardo e Lucinda tomavam banho às margens do largo rio Guajará, que ficava no baixo amazonas, com suas águas barrentas e fortes correntezas capazes de levar até o homem adulto e mais resistente, bem como os melhores nadadores para o fundo. Causando o naufrágio de grandiosas embarcações.  Porém, com a coragem aventureira de criança e os irmãos não tinham medo de se divertir. Mergulhando nas ondas que iam e vinham sobre a areia da praia deserta. Na ilha existiam muitas plantas com frutos comestíveis, e eles saborearam de tudo o que encontravam pela frente. Mangas de várias espécies, jacas, jambo, caju e goiabas. Açaí de primeira qualidade, bananas diversas, era um verdadeiro paraíso. Mas um dia, depois de crescer e descobrir qu
Ler mais
Capítulo 4 – Reencontro
Aos quarenta anos de idade, vinte deles enlouquecido e com aparência de um homem de sessenta, ainda tinha as forças necessárias para prosseguir na maldita jornada como pedinte de esmolas e assim seria sua caminhada rumo a um futuro incerto e cheio de sofrimentos. Não tinha ilusões de que a felicidade voltaria a lhe sorrir, talvez a sorte já tivesse lhe sorrido o suficiente e esgotado todas as oportunidades.  Afinal, não é rotineiro aparecerem senhoras boazinhas e milionárias, querendo adotar pobretões, principalmente tratando-se de um velho rabugento. Naquela manhã seguiu pelo trajeto costumeiro e atravessava a principal avenida do centro comercial, quando se deparou com vários carros luxuosos que estacionaram em frente a um dos mais requintados hotéis. Frequentado por grandes personalidades, intuitivamente decidiu parar e observar quem seria a celebridade a chegar no local. A mulher era de expressiva aparência. Usava um longo vestido vermelho com uma ab
Ler mais
Capítulo 5 – A Entrevista
Marilda Campos era uma excelente jornalista, muito reconhecida no meio social em que vivia, uma profissional competente e levava bem à sério seu trabalho. Diante das novidades trazendo à tona a possibilidade de o herdeiro dos Guimarães Velasco ainda estar vivo e toda a história sobre sua suposta morte não passar de uma farsa criada para ocultar a verdadeira condição em que ele se encontrava.  Teve a infeliz ideia de investigar à fundo e com isso acabou comprando para si graves problemas. Colocando em risco a própria vida e a dos demais que amava. Seguiu pistas que a levaram ao início de tudo.  Desde a aprovação de Luís Gustavo nas faculdades de Direito Medicina e Engenharia na Universidade Federal do Pará e em outras duas instituições de ensino superior particulares.  Até quando o candidato às vagas sofreu um terrível colapso mental. Perdendo o juízo e ficando impossibilitado de prosseguir com a formação académica. De acordo com os documentos encontrad
Ler mais
Capítulo 6 – Justiça
A juíza Alessandra uniu forças com a antiga amiga de faculdade para traçar um plano que lançasse abaixo a candidatura da milionária Naomi Velasco. As duas eram inimigas a muitos anos e a discórdia entre elas já teria sido destaque em alguns jornais e revistas de fofocas locais. A antipatia entre elas era recíproca e conhecida por todos, faltavam poucos meses para as eleições.  E não poderia existir momento mais ideal para espalhar lama no ventilador e manchar por completo o reputado nome da candidata diante de seus eleitores. A principal arma que seria usada para denegrir a imagem da empresária buscava revelar para toda a sociedade a farsa criada. A falsa história em torno da suposta morte de seu filho adotivo, Luís Gustavo. Declarado morto pela mesma a vinte anos atrás durante um trágico acidente de carro, quando na verdade ele permaneceu vivo e em completo abandono pelas ruas da cidade, dormindo ao relento depois de anos internado num hospital para doentes men
Ler mais
Final
Como possuía várias propriedades, entregou a mansão aos cuidados de seus dois irmãos mais novos e mudou-se para uma cobertura localizada no conhecido edifício Manoel Pinto da Silva, o mais amplo e alto prédio existente na capital paraense naquela época, com luxuosos apartamentos, construído ainda na década de setenta em frente a também não menos conhecida e frequentada praça da república. Do alto dos mais de quarenta andares era possível ver o admirável panorama da cidade das mangueiras. Como era popularmente conhecida Belém. E admirar todo o verde dividido entre diversificados tipos de vegetação. Seu olhar pairava sobre tudo o que a visão podia alcançar. O centro da praça, os coretos onde por tantos anos dormiu jogado no chão imundo, os monumentos históricos, o pequeno lago improvisado onde os pássaros bebiam ou molhavam sua penugem. Os casais abraçados ou andando de mãos dadas pelas estreitas passarelas. Passaram-se tantos anos e aquelas imagens pareciam não querer sair de sua men
Ler mais