Troquei de Noivo no Meio do Pedido de Casamento
Naquele instante em que Valentino Nunes se ajoelhou para me pedir em casamento, o telefone rompeu o silêncio com seu toque estridente.
A chamada ecoou tão próxima que pude distinguir perfeitamente a voz feminina que emanava do aparelho:
— Valentino, me machuquei feio... Estou com uma dor terrível na perna.
Sem um segundo de hesitação, Valentino fechou a caixinha aveludada e declarou:
— Felícia está machucada. Vou deixar o pedido para outro momento.
E diante dos olhares atônitos de todos os presentes, ele disparou porta afora.
Jamais tive a oportunidade de conhecer Felícia Moura em carne e osso, mas sua essência pairava por todos os cantos.
Durante as refeições, Valentino não perdia a chance de comentar que Felícia sempre foi louca por sobremesas. Ao escolhermos roupas juntos, descobria que a cor preferida dela era o suave tom de lavanda.
— Você não acha que essa Felícia aparece demais nas nossas conversas? — Questionei certa vez, exasperada.
— Você exagera com esse ciúme! — Retrucou ele, balançando a cabeça. — Todo mundo tem uma memória que não consegue apagar da vida. O meu passado pertence a ela, mas o futuro, meu amor, é todo seu.
Cansada daquela sombra constante, resolvi abraçar meu destino de maneira inesperada... E parti em busca de alguém para quem eu pudesse ser aquela lembrança indelével.
Com determinação nos olhos e firmeza na voz, pronunciei:
— Antônio, vamos nos casar agora.