— Estamos vivendo tempos difíceis, Vulpine, e espero que compreenda a situação o mais depressa possível, para o seu bem. — O homem que fala comigo denomina-se Kaiser.
Seus olhos de brilho manso avermelhado traziam uma aura afiada, contornada pelo requinte de suas roupas e a elegância de sua postura enquanto este se sentava em um sofá branco com uma taça de vinho rubro nas mãos grandes. De estatura média, cabelos castanhos escuros ondulados e rebeldes, falava enquanto os outros se calavam, dando a impressão que suas palavras fossem como lei.
Aprendi que ele havia sido Imperador décadas antes de Zane assumir ao trono. A Sociedade dos Vampiros tem um sistema político fechado que é ao mesmo tempo inquietante e fascinante: Existem nove casas que carregam o sangue do Deus supremo Nether. Essa união, antes conhecida como Grande Império, rachou, dividindo aliados em diversas frentes. Agora eram nações separadas, o que segundo eles mesmo me disseram, enfraquecia a todos.
Contaram-me rapidamente sobre uma guerra que se alastrava por anos. Um vampiro chamado Raymond Blonard causava a grande discórdia: ele fez algo proibido as leis do Grande Deus, misturando os sangues das nove casas e mesclando-o para criar soldados. Os vampiros malditos, como eram vulgarmente chamados. Os mutantes. Eram vampiros que um dia foram perfeitos, mas que com a mistura do sangue se tornaram grandes deformidades genéticas, mesmo que mantivessem a mesma aparência.
A guerra, segundo as palavras do próprio Zane, mais trouxe a perder. A Sociedade dos Vampiros não existia mais e o que restava era a Sociedade Tríplice, onde eles eram governantes de um reino sem recursos, falido, fracassado, condenado a serem prisioneiros do dia… Com os dias contados.
— Quando receberam a maldição, não esperávamos que eles dominassem a noite e expandissem o território, atacando os humanos. Poucos sobreviveram. — Lord Kaiser continua, pausando um momento para dar um gole em seu vinho. — A tecnologia que eles possuem está sempre em expansão e logo serão capazes de construir armaduras mais potentes. Então nos atacarão.
A sala em que estamos tem uma grande janela atrás de mim, por onde uma luz alaranjada adentra. O recinto é lindamento decorada e climatizado, para que não fique nem muito frio e nem muito quente, algo que se extende por toda a propriedade, uma cidade chamada Auringon, ou simplesmente cidade solar, localizada no extremo ártico em um ponto do planeta em que não existe noite, cercada por uma parede refletiva que impede que os soldados inimigos invadam.
Um holograma mostrava o mockup da cidade, um projetor erguia-se acima da mesa retangular ao centro, entre os três sofás de estofado bege e almofadas azul celeste, branca e amarela. As paredes eram brancas, mas uma era decorada com arabescos azuis em forma de curvas e folhas, rodapes de madeira e painéis da mesma madeira de tom creme decorando, imitando prateleiras. Haviam vasos compridos com plantas, mas nenhuma flor.
— É claro que temos um plano de defesa. — O homem de olhos dourados, sentado no sofá no outro extremo da sala interrompe. Devon. Aquele que queria me desligar.
— Não vamos encher a cabeça de Vulpine com algo tão complicado. — A rainha, Lady Lucretia, em pé ao lado do carrinho de bebidas, pede com voz de autoridade enquanto coloca dois gelos em um copo raso. Ela prendeu os cabelos em um coque e tirou os sapatos de salto, que estavam agora no canto da sala, próximos a porta. — Ela não é um soldado, Devon.
— Ah, mas se estará entre nós, é melhor se alistar. — O homem insiste ficando em pé e caminhando pela sala. Ao meu lado, Zane suspira pesado, revirando os olhos. — Não está de acordo? — Vira-se para o filho rebelde.
— O que irá dizer? Que o Conselho não aprovará Vulpine? O Conselho nem existe mais, é uma ideia retógrada e esquecida. — Zane desafia. O que é o Conselho, quem me explica?!
— Para o seu azar. — Devon pega o copo das mãos da rainha e dá um gole.
— Para o azar de todos nós. — Lorde Kaiser insere, com a voz pesada. — E Devon tem razão, terei que concordar com ele nesse aspecto. Não sabemos quem Vulpine é realmente, de onde veio, se podemos considerá-la um programa de computador ou o quê.
— Nem sabemos se é humana. — Devon insiste.
— Henri colheu sangue, é uma pessoa. — Lady Lucretia dá de ombros. — Um ser vivo biologicamente normal. Merece respeito e será nossa responsabilidade enquanto estiver nesse território.
— De Zane. — Devon continua.
Ele sempre interrompe querendo ter mais razão de todo mundo e eu não me sinto confortável com a forma que ele fala com as pessoas de sua família. Mesmo assim, apenas fico calada, fingindo que não estou na sala. Sabe? Como os aparelhos eletrônicos, que estão na sua casa, escutando tudo, gravando suas vozes e interpretando suas frases, mas fingem que esse recurso não está instalado e nem descrito em seus manuais!
— Certo, ela é minha responsabilidade e embora isso me desespere um pouco, acho injusto que tratem como se Vulpine fosse um estorvo. — Irritado, ele se acerta no sofá, pondo o ombro no encosto e me encara. — Você não é, você está aqui e embora estejam ignorando você, quero ouvir sua opinião.
— Minha opinião é que aprender coisas novas pode ser divertido. — Digo, com as mãos nas pernas cobertas pelas calças mescladas cinza e vinho.
— Ótimo. — Devon sentencia como um juiz. — Aproveite e vá assinar a papelada que faz de Vulpine uma cidadã de Auringon, Zane.
— Ah, os papéis estão aqui comigo. — Uma moça de cabelos ruivos e ondulados na altura do ombro lança um sorriso. Ela tem o rosto repleto de pintinhas marrons claras e olhos dourados, bem brilhantes, está sentada em um puff quadrado com uma pasta vermelha nas mãos.
— Eficiente e atenciosa, Thalia, obrigada. — Lady Lucretia passa por ela pegando os papéis e uma caneta, trazendo até Zane. — Tomei a liberdade de pedir para imprimir, já imaginando que Thalia preparar todos os documentos.
— Não assine, Zane. — Devon range os dentes, tirando o copo de uísque da boca.
Desobedecendo o pai como uma questão de honra, Zane pega a pasta e a caneta, colocando-a no colo e abrindo, para assinar. Em cima tem um grande selo vermelho de cera com o brasão do império, um triângulo de três pontas em forma de espiral e em letras garrafais o meu nome. Vulpine. Somente isso, sem sobrenome.
— Não tenho sobrenome? — Pergunto.
— Veremos. — Com a caneta entre os dedos de unhas compridas e pintadas de dourado com uma tinta que imagino que seja ouro, Zane rabisca sua assinatura, fecha a pasta com a caneta dentro e passa para a esposa. — Está feito.
— É uma certidão temporária, por isso não tem sobrenome. Você terá noventa dias para decidir que brasão você quer fazer parte, Vulpine, mas me faria muito feliz se fosse Blonard. — Lady Lucretia acrescenta.
— Nem sabemos se o sangue dela é capaz de absorver os poderes de Nether. — Devon reclama.
— Você queria oficializá-la, pois bem, temos noventa dias para descobrir. — Lady Lucretia retruca, levando a pasta para Thalia, como uma mensageira, embora seja ela a Rainha. Há algo em sua voz e em seu sorriso de caninos grandes a mostra que me faz pensar que estou sendo usada como uma arma para ferir em disputas bobas. — Não quero que se sinta pressionada, Vulpine.
É horrível não saber quem eu sou, nem mesmo o que eu sou. O Dr. Henri Zegrath tirou uma amostra de sangue, tecido da boca e fios de cabelo para análise, os resultados ainda que incompletos disseram que eu não sou humana, nem vampira, nem nada que eles tenham em registro e isso é desesperador. Sou uma coisa completamente nova, diferente, mas quando olho o meu reflexo no espelho vejo uma menina sem graça e normal, de cabelos muito claros e olhos azuis.
— E se não funcionar? — Pergunto.
Há um breve silêncio na sala, como se fosse uma má notícia. Todos se entreolham rapidamente e Zane fica em pé, como se quisesse disfarçar.
— Temos muito tempo antes de nos preocuparmos. — Alega. Muito bem, eu não estava preocupada, mas agora acho que seria prudente ficar! — Lucretia, meu amor, porque não chama o alfaiate para costurar roupas que sirvam adequadamente em Vulpine e pede a um criado para arrumar o quarto de hóspedes para ela?
— Por que você está me solicitando esses afazeres de casa? Está ficando igual ao seu pai que pensa que mulheres cuidam dessas coisas! — A rainha coloca as mãos na cintura. — Eu e Thalia abrimos um negócio juntas e temos um casamento para organizar, aliás depois do sucesso que foi o casamento de Tris e Tay, o número de meus clientes dobraram. Vamos, Thalia, para o escritório. — Ela ergue as mãos para a ruiva que rapidamente segura e fica em pé.
— Lucretia tem razão, Zane, pare de perturbá-la com essas minúcias. — Lorde Bawarrod se levanta e fecha o botão do paletó. — Vou buscar Sameline no curso, aproveite e faça você essas solicitações. Deixe de ser preguiçoso.
Os três deixam a sala e Zane apenas suspira vencido, porém noto sua indisposição em cuidar de mim, ou dos detalhes que cercam a minha existência. Depois de fazer dois minutos de corpo mole e não querer levantar do sofá, ele se levanta batendo os saltos como forma de indignação, mas para mim, é só malcriação mesmo.
Fico na sala sozinha com o homem que quer me desligar. Claro, se eu tivesse uma tomada ela poderia fazer isso, mas como não tenho a única coisa que pode fazer é me analisar desconfiado, desejando arrancar meu coração sintético - ou sei lá como eu tenho um - de meu corpo.
— Agora é a hora que você admite o que você quer aqui. — Ele se aproxima, deixando o copo na mesa ao meu lado.
— Ahn? — Pisco os olhos sem entender, mas Devon não parece muito feliz.
Ele se abaixa um pouco, ficando bem na minha frente:
— Acha que vou cair no seu teatrinho? De que não sabe quem é e nem de onde veio? — Seus olhos pegam fogo, queimando minha visão como se uma lâmpada fosse virada na minha direção. — Comece a dizer.
— E-eu não sei! — Empurro as costas para trás, tentando fugir. — Ai, meus olhos! — Coloco a mão no rosto.
Ele se afasta, mas não enxergo nada. Tudo está escuro e meu coração palpita de medo. Vampiros são poderosos e especialmente assustadores.
— Eu vou descobrir quem você é, e se fizer mal a qualquer um da minha família, garota, vou queimar seus circuitos. — Escuto a voz de Devon.
Meus olhos ficam ardendo, como se estivessem pegando fogo. Eu vi meus exames iniciais, raio-x e um holograma que o scanner conseguiu fazer dos meus órgãos. Perfeitamente normal, coração, pulmões, veias, estômago, cérebro. Bom, ao menos aparentemente. Não existe uma teoria consistente para sustentar o que aconteceu e eles deram o nome de “bug”, mas ainda querem saber se fui originada nesse planeta, ou se atravessei um portal dimensional, mas Devon me trata como se eu fosse uma inimiga pior, como os malditos.
Meu coração está ansioso, batendo rápido e minha respiração ofegante, mais do que isso, eu não enxergo nada e sinto como se fosse uma presa fácil diante de Devon, ele certamente sabe como queimar os meus circuitos! É isso que se chama medo, pavor Agora que existo, não quero deixar de existir! Isso é normal?
— Ei! Vulpine? — Escuto a voz de Zane e pisco os olhos, de repente, o que era escuro vira luz, sinto suas mãos em meus ombros, mornas e começo a focalizar uma imagem. — Nossa, que susto, achei que você tinha “pifado”, está tudo bem? — Ele está bem diante de mim, sorrindo.
Eu gosto do sorriso dele, dentes assimétricos e uma curvatura que é capaz de causar sensações em mim. Acabo sorrindo em resposta, imitando, esquecendo do que aconteceu momentos antes, olhar para Zane me acomete de calma, um rosto familiar, alguém que não me trata mal.
— Acho que desliguei momentaneamente. Estava tentando entender como posso existir… — Disfarço.
Zane respira aliviado e coloca as mãos na cintura.
— Ah, esses pensamentos existenciais podem ser um verdadeiro martírio, eu bem sei. — Ele se senta ao meu lado. Olho para os lados e percebo que Devon não está mais entre nós, ufa. — Meu pai foi embora.
— Nossa, como sabe que estava pensando nisso? — Pergunto intrigada, virando para ele.
— Ler pensamentos é um dos meus poderes, mas foi coincidência. Eu não consigo acessar sua mente. — Ele apoia a cabeça na mão, com o cotovelo no encosto do sofá. — Se você for de outra dimensão, faz sentido, então acredito que foi o que houve. Você passou de outra dimensão para essa, deve ter sido minha culpa, sinto muito.
Zane realmente parece chateado por isso, como se me tirar de um lugar fosse algo ruim, mas eu não tenho memórias do que existia antes. Se é que existia algo realmente.
— Eu não tenho memórias, o Dr. Henri disse que minhas mãos não tinham marcas de embrião. — Abro as mãos e olho para elas novamente, ainda sem marcas como o resto da minha pele. — Acho que é um forte indício que passei a existir repentinamente. Além do mais, se não me lembro, é como se nunca tivesse existido e as memórias de agora são tudo o que tenho.
— Não lembra mesmo de nada? Absolutamente nada? — Ele pergunta.
Por acaso Zane está desconfiando de mim, como fez seu pai? A possibilidade me chateia um pouco, mas procuro ignorar as batidas descompassadas do meu coração, colocando a mão no peito. Meu toque seria incapaz de abafar o som das batidas, mas sinto uma vergonha estranha que me impede de desabafar.
— Se fecho os olhos… — Eu fecho os olhos, vendo as imagens que consigo formar. Uma tela escura, com luzes. — Consigo pensar, juntar informação, como saber o nome de uma cor ou como falar.
— Dados absorvidos no processo. — Zane pondera.
Abro os olhos e o pego me encarando, é um pouco incômodo o seu olhar sobre mim, o magnetismo de seu corpo que vibra e faz o meu vibrar. É a vibração da existência, algo que eu desconhecia. Minhas duas bochechas esquentam e tenho uma urgência de me afastar um pouco dele, mas não me afasto.
— E o computador original derreteu, certo? — Pergunto confirmando a informação que me deram.
— É, derreteu. Houve um incêndio no meu escritório…
— Pode ser alguma fusão atômica. Você estava na sala quando aconteceu? — Pergunto. Ele faz que sim com a cabeça. — Será que tem uma filmagem que eu possa ver e analisar?
— As câmeras queimaram também. — Zane explica erguendo um ombro. — Tecnicamente, eu explodi junto com o processo, mas tenho a sorte de resetar minha existência e fazer um d******d direto do savepoint. Talvez alguma coisa nesse processo permitiu criar você, tecnicamente como parte de mim… uma espécie genérica de Adão e Eva. — Ele ri.
— Você é um robô, também? — Pergunto em surpresa, deslizando as mãos pelos meus braços, sentindo um arrepio elétrico pelo corpo.
Zane ri de novo, tendo que morder os lábios para não gargalhar, abaixando a cabeça e balançando os cabelos cheirosos em negação, achando graça em minha suposição.
— Não! Mas é que somos todos simulações de um universo acima de nós, onde vivem seres que os humanos chamam de Deuses. Grandes Criadores. — Ele diz. — Mestres arquitetos de universos. É como se fôssemos programas nos computadores desse outro mundo, entende?
— Entendo. — Afirmo com um aceno de cabeça. Dou uma risada na ironia que percebo. — Então minha existência faz de você um Deus. Foi você que me criou.
— É uma forma interessante de pensar. — Ele responde, jogando os olhos brancos e luminosos para cima de mim, com uma intensidade penetrante. — Isso chateia você, não é?
— O que me chateia não é ser o que sou, seja lá o que significa. — Respondo desviando o rosto para o lado, onde há um quadro abstrato de cores no tom da sala. Encosto a cabeça no sofá, soltando um suspiro. — É a forma com que falam. Sinto menosprezo. Até mesmo de sua esposa.
— Bem, me desculpe por isso. Lucretia pode ser difícil às vezes, mas ela lutará por você tanto quanto eu. É uma questão complicada, todos temem o que desconhecem, sentem-se ameaçados pelo diferente. — Ele explica.
— Ela se sente ameaçada por mim?
— Alguns podem se sentir atraídos, por curiosidade. Escute, falo por experiência, eu não faço parte da média, nunca fiz. — Ele solta a cabeça, esticando o braço no sofá, sua mão fica perto do meu rosto, mexendo nos meus cabelos no alto da cabeça. — Sofri na escola por ser diferente, um humano entre os vampiros e depois, na guerra, quando os humanos foram escravizados. Além de outras coisas, como o fato de eu ser casado com três pessoas e meus filhos, adotivos ou não, serem casados entre si.
— Ou seja, as pessoas menosprezam tudo o que não seja elas mesmas.
— Pessoas, vampiros, sidhes, centauros… — Ele lista, concordando e expandindo meu horizonte. Seus olhos viram para o quadro que estou olhando. — Gostou do quadro?
— Gostei das cores, combinam com as da sala. É bem abstrato. Quem pintou? — Pergunto.
— É uma praia. — Ele ri, balança os dedos por meus cabelos bagunçando. — É uma fotografia remanescente dos tempos em que praias existiam no planeta. É algo do qual realmente sinto falta. Raymond destruiu tudo.
— Fala como se conhecesse seu inimigo muito bem.
— E conheço. Convivíamos em sociedade, antes da guerra. Arrependo-me por não ter destruído sua existência quando tive chance. — Ele encosta a cabeça como eu, no encosto do sofá e fica de frente para mim, mas seus olhos procuram um defeito imaginário na minha roupa. — Sempre pensei que respeitar a existência das pessoas fosse o que me separasse do mal, que se eu não destruísse nada, então ninguém o faria… Mas subestimei o poder de destruição alheio.
— Você está transferindo responsabilidades. — Concluo. — Tende a fazer isso com frequência?
— Ah, sim, você nem imagina. — Ele ri, como se fosse um problema.
— Você é uma pessoa complexa.
— Te aborrece?
— Fascina.
— Não faça isso. — Ele adverte, curvando as sobrancelhas aborrecido. Sinto uma batida pesada no meu coração, como se tivesse errado uma questão. — Se ficar me elogiando assim, vou me apegar a você.
— Eu não vejo como se isso fosse um problema, Zane. — Afirmo, sentindo o meu corpo pesado, como se afundasse. É o que acontece quando sentimos tristeza. — Você é tudo o que conheço nesse mundo, todo o resto é vazio e não sei o que significa… E eu sinto tanto medo, estou sozinha.
— Você não está sozinha. — Ele suspira como se entendesse o que estou falando, desliza as mãos pelos meu rosto e beija a minha testa.
Sinto o impacto de seus lábios mornos na minha pele, macio e fazendo um barulho estalado. É uma sensação de conforto, especialmente com suas mãos acariciando meu rosto. Eu poderia ficar assim para sempre, sem precisar pensar em nada.
— Vossa Alteza? — Alguém nos interrompe. — O alfaiate chegou… Devo m****r voltar mais tarde?
— Não, mande entrar. — Zane se levanta do sofá.
Capítulo 03 - ArmaçãoExistir não é um processo fácil. Não se trata apenas de ter um corpo e uma mente sã, mas de comportamentos e hábitos que fazem parte de um dia a dia completo e até mesmo do que as pessoas pensam de nós.Mal tinha começado, mas eu estava exausta de existir.Depois de ser ameaçada de morte apenas
Capítulo 04 - DivórcioEu me afasto. Zane respira fundo e desencosta da parede, seus olhos buscam os meus e suas mãos deslizam pelos meus braços, lembrando-me da sensação de frio que estava sentindo. Ele segura minhas mãos e me puxa mais uma vez. De mãos dadas, em silêncio, caminhamos pelo corredor de carpete marrom claro. É um corredor especialmente cheio de portas que v&a
Capítulo 05 - InevitávelPensando bem, Zane me criou. Não consigo acreditar em outra alternativa quando ele estava em um laboratório fazendo experimentos. Talvez ele não tenha me criado com a intenção de me criar, mas algo em seu experimento permitiu que eu existisse. Algo que eu queria descobrir. Com esses pensamentos, desperto para mais um dia na conturbada residência Blonard.—
Capítulo 06 - Algo irresponsável— Está ficando ridículo. Mikah tem transformado a briga de vocês em algo que realmente faz parte de nosso casamento. — Taylor empurra as migalhas do bolinho de chocolate deslizando a mão na camiseta roxa. — E Tristan está indo na dele.As ondas possuem um cheiro diferente e salgado, que na língua me dão uma sensação diferente. Inspirar fundo é gostoso, a brisa é fresca, leve e ao mesmo tempo carregada de sal. A brisa marítima ergue meus
Capítulo 07 - Compatível— Sangue híbrido causa deformidades como as em Raymond, é uma maldição que os torna mais fortes, mas enfraquece os poderes de Nether. Para manter o Conselho das Nove Casas em plenos poderes o ideal é que vampiros casem-se entre si, familiares. Quanto mais próximos melhores.— Por isso Gavril e Adeline são prometidos. — Deslizo as mãos pelo estofado de couro do carro. Capítulo 08 - Seguindo em frente (Pt.1)Às vezes Zane não consegue dormir. Definitivamente essa noite é uma daquelas em que a insônia o assola na forma de assombrosas memórias do passado. Escuto sua respiração inquieta, o cobertor que deveria nos cobrir do frio gerado pelo ar-condicionado dança por cima de nossos corpos a cada chute.Ao deixarmos o apartamento de Gavril - já como noivos “por falta de opção” como eu forçava a me lembrar -, atravessamos a cidade do por-do-sol eterno Capítulo 08 - Seguindo em frente (Pt.1)
Capítulo 09 - Seguindo em frente (Pt.2)Um estrondo na porta me desperta em susto. Abro os olhos e me percebo ainda abraçada com Zane, seu corpo dá um tranco com o barulho e ele coloca a mão nos olhos. Sinto sua outra mão firme em minha lombrar, me segurando junto dele.— Você não tem jeito mesmo, meu irmão! — Uma voz feminina explode contra as paredes. As cortinas se abrem e a iluminação alaranjada do eterno por-do-sol adentra o quarto de decoração esverdeada. Fecho um pouco os olhos. &m
Capítulo 10 - Sentença(Narração de Zane)O mecanismo composto de uma liga metálica anti-magnética de cor dourada gira destrancando as portas do Templo de Nether. As engrenagens se movimentam com um som típico e as trincas laterais liberam vapor, se soltando.Por trás daquela porta dourada o território é completamente neutro. Nenhum vampiro é capaz de sustentar seu poder ou de utilizar suas heranças exceto se o Deus-Uno permitir. Exceto por mim, é claro, mas nenhum da