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Voe alto
Voe alto
Por: Handress
Une fierté

Pés pequenos se arrastam pelo chão de terra batida com tanta dificuldade que parecem sustentar uma tonelada sobre sua estrutura frágil. Na verdade, sustentam apenas um corpo magro, mas já esgotado em seus dezoito anos de uma vida nada fácil.

Carteira de trabalho em branco, currículo em mãos, sem experiência e muita força de vontade. Faz tempo que Bianca quer saber como conseguir um emprego. Acorda cedo todos os dias e vai para a rua portando uma pasta com cópias de seu currículo não muito chamativo muito menos surpreendente.

Utilizando o que resta de suas forças, se aproxima da porta da casa de madeira muito simples em que mora com sua mãe e sua irmã de 15 anos. Se a moradia que têm é péssima, a localização não poderia ser pior: ao lado de uma valeta aberta e malcheirosa, em um bairro de gente pobre e sofrida. Mesmo assim, sua mãe amorosamente ensinou as filhas a prezar pela limpeza, então Bianca tira seus sapatos velhos em frente à porta, para evitar uma briga com sua irmã que, pelo horário, havia acabado de limpar a casa.

A vida delas certamente seria mais fácil se pudessem contar com o pai, ele foi embora de casa quando as meninas ainda eram crianças, nunca mais se teve notícia dele. Apesar disso, Bianca se considera sortuda por ter uma mãe que sozinha, trabalhando duro como diarista para trazer o sustento, conseguiu criar as filhas decentemente.

Porém a mãe descobriu que está com câncer no estômago. Por isso, quando Bianca não está na rua à procura de emprego, está no hospital com ela, mas a falta de recursos fez com que descobrissem tarde demais a gravidade do problema. A doença está avançada, já usa lenços na cabeça e seu corpo está magro e fraco.

Cansada dos problemas, Bianca entra no quarto que divide com sua irmã, se olha no espelho se perguntando: “Por que eu? Por que não consigo emprego?

 Olha seus cabelos cacheados e volumosos, sua pele negra e torce para que o motivo não seja esse. "Acho que nunca vou conseguir um emprego."  Pensa.

Ela sabe que não deve pensar dessa maneira, porém, se classifica como alguém tão azarada, que ser pessimista é inevitável. Depois de um longo suspiro na frente do espelho, se joga na cama de colchão velho e fino desabando em lágrimas.

Por que a vida insiste em soterrar seus sonhos? Por que não pode simplesmente viver em paz? Logo ela, que não tem preguiça de lutar, sonhar e voar alto, por que não consegue sair do chão?

Apesar de todas as dificuldades que enfrenta desde seu nascimento, Bianca sempre se recusa a ser conformista. Não importa quantos desafios ela tenha enfrentado, sabe qual é o seu dom e se recusa a desistir de seu maior sonho: se tornar uma chef da alta gastronomia.

Todos os melhores momentos de que tem lembrança, se passam na humilde cozinha de sua casa apertada. Em sua infância, vivia rodeada de sua mãe, excelente cozinheira, para vê-la preparar as refeições da família. A cada prato simples, mas bem temperado, ensinava para Bianca a magia de cada ingrediente.

Quando já estava um pouco maior, começou a assistir em sua velha televisão cheia de interferências causadas por uma antena improvisada, programas que ensinavam a cozinhar pratos maravilhosos. Embora não tivesse aqueles ingredientes, prestava toda atenção no preparo e anotava em seu pequeno caderno cada dica que os chefs davam. Foi em um desses programas que se apaixonou pela culinária francesa. Assim decide que esse será seu destino: estudar culinária na França, mais precisamente em Paris.

Dona Ruth, que apesar de todos os perrengues que enfrenta, nunca fora capaz de cortar as asas dos sonhos de suas filhas, compra parcelado um livro de gramática francesa com um CD para aprender pronúncias e um dicionário para ela, que desembrulhou os presentes com lágrimas nos olhos. Passa horas debruçada fascinada com o novo idioma. A dedicação de sua filha compensou cada faxina extra que a mãe teve que arranjar para poder pagar por aqueles livros.

“Voe alto, minha menina” – Ela pensa enquanto observa a filha lendo – “Voe alto, e não deixe ninguém cortar as suas asas”.

Certo dia, depois de ter finalmente conseguido uma entrevista de emprego, Bia tem a sensação de que não foi muito bem. Chega em casa e vai direto para a geladeira, passou a manhã toda sem comer nada e a geladeira está vazia, tem somente um pouco de feijão que sobrou da janta e uma garrafa de água, abre o armário e vê pouquíssimas coisas. Em seguida, vai até o quarto da mãe e para na porta, aparentemente está dormindo. Entretanto, quando se vira para sair, escuta a voz de sua mãe:

—Bia? Filha, chegue mais perto de sua mãe... Sente-se aqui.

Bianca a obedece.

—Eu tenho pensado muito em você ultimamente, pensa que eu não percebo sua luta para conseguir um trabalho?

—Está muito difícil, mãe. Não entendo por que as empresas não me contratam!

—Cidade pequena e pobre como a nossa os empregos estão em falta, mas não desista! Dentro do guarda-roupas tem um pote, você pode me alcançar, filha?

Prontamente, ela faz o que sua mãe pediu. A mulher abre o pote e pega uma nota de 10 reais e entrega a Bianca:

—Essa nota é a última de todas as minhas economias. Peque-a e vá até a venda mais próxima e compre algo para a gente comer hoje.

Bianca sabe que se gastar o último 10 reais da mãe, amanhã continuarão sem ter o que comer em casa, ela precisa fazer esse dinheiro render. Sai de casa com esse dilema. Ela sobe o morro que leva até a venda, uma pequena estufa com várias coxinhas sobre o balcão chama sua atenção. O cheiro daquelas pequenas delícias chega a ser um insulto para sua fome tão crescente. Pensa em comer uma coxinha daquelas com um refrigerante bem gelado. Sua boca saliva, mas se vira para sair correndo dali, antes que o dono da venda perceba seu desespero interior.

 Foi então que surgiu uma ideia: Em seu caderno de receitas tem passo a passo de como fazer coxinhas, também sabe que em casa tem meio quilo de farinha e alguns temperos, o que ela precisa é comprar os ingredientes para o recheio. Assim ela faz e volta para casa empolgada, sua irmã questiona:

– O que você comprou pra gente comer hoje?

– Na verdade, comprei algo que matará nossa fome não só hoje, mas nos próximos dias também!

– É mesmo? Deixa-me ver o que é essa coisa milagrosa, que eu estou morrendo de fome! – A caçula diz enquanto revira a sacola – Mas só tem coisa crua aqui!

– Exatamente. Nós não vamos comer, vamos preparar algo que nos fará ganhar dinheiro! Vou precisar de sua ajuda, venha até a cozinha.

Emburrada e irritada com a empolgação de Bia, sua irmã a acompanha contrariada até a pequena cozinha.

– Preste bastante atenção que o preparo é simples, mas exige atenção e cuidado. Vá lavar suas mãos.

– Mas eu quero comer, não cozinhar!

– Não seja preguiçosa! Temos que lutar pelo que queremos e o que eu quero é comer amanhã também e não só hoje. Agora faça o que eu falei, não podemos demorar porque a mãe também precisa comer para tomar os remédios.

Sob o olhar indiferente da irmã, Bia segue o preparo das coxinhas com total dedicação, modelando cada uma como se fosse uma obra de arte única. No fim, o rendimento não foi muito, pois tinham poucos ingredientes, mas foi o suficiente para começar as vendas.

Délicieux!* – Exclama Bia ao provar uma pequena coxinha de teste que dividiu com sua irmã.

– O que quer dizer isso? – Ela pergunta.

– “Deliciosa”, em francês.

– E é assim mesmo que se pronuncia?

– Oui!* É assim mesmo que se pronuncia.

As duas continuam colocando as coxinhas, uma a uma, dentro de dois pequenos potes plásticos que usarão para vendê-las, já que não tem uma caixa de isopor.

 Assim passou uma semana, Bianca e sua irmã tentam sustentar a casa com a venda de coxinhas, logo a situação melhorou um pouco, mas o armário continua vazio.

O tão sonhado emprego não aparece, levando Bianca à conclusão de que não encontrará nenhuma oportunidade se continuar naquela cidade. Com muito esforço, ela junta o dinheiro para uma passagem de ônibus e arruma sua mochila velha, ainda dos tempos do colégio, decidida a conquistar uma vida melhor para sua família. Em seguida se despede de sua mãe, e depois de orientar sua irmã em como cuidar da mãe e no preparo das coxinhas, vai embora.

Como não tem muito dinheiro, caminha várias quadras em direção a rodoviária da cidade, escolhe uma das maiores cidades do país e compra as passagens. Feliz da vida, e com o coração cheio de esperança entra no ônibus. No meio do caminho faz planos para quando chegar em seu destino.

Horas depois chega na rodoviária, muito maior daquela da cidade que veio. Com sua mochila nas costas e seu tênis velho, caminha pelas ruas e observa a cidade, não está acostumada em ver prédios tão grandes e tantas pessoas.

"Hora de começar a minha busca. Por onde devo começar? Esse lugar é imenso, nunca vi nada igual..." Pensa ela em um longo suspiro.

A sua maior vontade é trabalhar em um restaurante, por isso para em vários. Sente-se muito mal depois de receber tantos "nãos" e olhares de reprovação que vinha de cima para baixo. Percebe que aquele lugar é tão horrível quanto a sua cidade natal. Logo a fome começa a incomodar mais uma vez, já que não come nada desde quando saiu de casa.

Quando chega em uma grande calçada de uma praça, cheia de pessoas indo e vindo, percebe que a indiferença é comum naquele lugar. Logo escuta um som de violão, tem um rapaz tocando e cantando, um chapéu está no chão e algumas pessoas param para assisti-lo e deixar algum trocado. Bianca gosta muito do que escuta, se aproxima do rapaz e se enfia no meio das poucas pessoas que estão em volta.

Observa as roupas do rapaz, também parece ser pobre, usa um moletom preto batido e uma calça jeans rasgada. Apesar disso, sua aparência é bem cuidada, seus cabelos compridos até os ombros são ondulados e tem um tom castanho claro, e para completar, um cavanhaque bem aparado. Quando Bianca se cansa, senta-se num canto no chão para descansar.

As pessoas se dispersam e o rapaz faz uma pausa, é quando repara em Bianca sentada no chão o observando e abre um sorriso carismático:

—Ei moça! De onde você é?

—Sou de Novo Triunfo. — Responde surpresa pela pergunta repentina.

Ele parece saber onde fica e balança a cabeça:

—Estou indo almoçar agora, quer ir comigo?

– Eu gostaria... – Responde Bia, sentindo o estômago roncar pela simples menção da palavra “almoçar” – Mas não tenho dinheiro...

– Sem problema! – Ele responde animado – Minha mãe tem um restaurante aqui perto, não é tão grande, mas é bem legal e você pode almoçar lá como minha convidada, que tal?

– Seria maravilhoso. Tem certeza que não vou atrapalhar?

– Claro que tenho! Eu me chamo José, qual é o seu nome?

– Bianca.

– Legal! Eu toco nesse local todos os dias pra fazer uma renda extra. E você o que faz aqui?

– Estou procurando emprego. Minha cidade natal é pequena, nunca consegui nada por lá e tenho a esperança de conseguir aqui.

– Em que área quer trabalhar?

– Eu adoraria trabalhar em um restaurante. Amo cozinhar, mas não tenho experiência na carteira, então ninguém me contrata. Sabe de algum lugar que poderia me aceitar?

– Bom... Minha mãe sempre precisa de ajudantes. Não sei se ela está contratando agora, mas não custa perguntar. Você parece uma boa pessoa, quem sabe ela não te dá essa oportunidade?

– Seria incrível!

– Beleza, então vamos pra lá.

Eles chegam no restaurante e então almoçam juntos, é realmente um restaurante muito simples e humilde, mas a comida é deliciosa. Aquele rapaz gentil que conheceu há poucos minutos já ocupa um lugar no coração de Bianca, por ser a primeira pessoa a lhe estender a mão em sua nova jornada. Mal ela sabe que não é a primeira pessoa ajudada por José, que com seu bom coração sempre faz o possível para prestar algum auxílio para as pessoas que são pobres, como ele e a mãe.

 Ela almoça pensativa, está insegura em pedir um emprego, pois já recebeu tantas portas na cara e acha que vai receber novamente. Pensa nas roupas que está usando, são roupas bem gastas, velhas, principalmente seus tênis, não acha que a mãe de José irá contratá-la nestas condições. O rapaz percebe a insegurança e toma iniciativa:

—Mãe, esta daqui é a Bianca, acabei de conhece-la na praça Osvaldo XV, ela está procurando um trabalho e a senhora está precisando de uma ajudante, não é?

Bia leva um susto com as palavras dele:

— Ah, estou sim... — A mulher parece se interessar senta à mesma mesa — Já trabalhou em um restaurante?

— Não senhora... — Responde de cabeça baixa e a balançando — Mas eu sei cozinhar.

— Que ótimo! Podemos fazer um teste? Preciso de uma auxiliar de cozinha.

Bianca levanta a cabeça na hora sorrindo.

—Claro! Pode ser agora?

—Pode sim! — A mulher se levanta da cadeira, rodeia o balcão, pega um jaleco e entrega à Bianca. — Vou te mostrar a cozinha, venha comigo.

A moça pega o jaleco e veste antes de seguir Joana, quando chega à porta, olha para trás em direção as mesas para agradecer a José, mas não o vê mais. A cozinha é pequena e limpa, com um fogão industrial de 6 bocas e um depurador logo acima, uma pia, armário de parede e tudo mais o que uma cozinha precisa, tudo é revestido por azulejos brancos.

— Eu preciso de alguém para cortar legumes, carnes, cortar e organizar temperos, e também para deixar tudo limpo. Amanhã vou fazer arroz, feijão, batata frita e bife à milanesa, gostaria que você pegasse todos os ingredientes e deixasse tudo pronto para mim.

 Joana sai da cozinha sem falar mais nada, deixando Bianca sozinha de propósito para ver como ela se viraria. Ela sabe muito bem preparar esse prato graças aos poucos almoços especiais que conseguiam fazer com o bônus de fim de ano que as patroas pagavam para sua mãe, ou quando ganhavam doações.  

Começa a vasculhar o local, entretanto, não tem noção da quantidade que ela irá precisar nem como deixá-los. Depois decide começar pelas batatas, descasca e corta várias em palitos, em seguida deixa dentro da geladeira. Percebe que a carne está congelada e se preocupa se vai conseguir descongelar a tempo. Coloca o feijão de molho e por fim, deixa todos os temperos cortados esperando serem usados. "Ufa, espero que tudo isso seja suficiente."

Joana entra na cozinha, vê a moça lavando a louça com tudo o resto pronto e gosta.

— Então Bianca... Acha que dá conta?

—Sim, claro! Como eu fui?? — Responde esperançosa e com um sorriso.

— Eu gostei muito, você é bastante proativa. Só temos um problema: Eu não vou conseguir te pagar muito, não conseguirei pagar sequer um salário mínimo ou te registrar em carteira. Você aceitaria mesmo nestas condições?

— Claro que sim! Eu estou tanto tempo procurando por um emprego, que nem me importo com isso.

—Que ótimo, então você pode começar amanhã. Começamos lá por 10 horas da manhã, pode vir este horário?

— Posso sim.

—Então até amanhã!

—Até amanhã... — Responde baixinho timidamente:

Até. Amanhã. Duas palavras que são como um balde de água fria sobre a sua empolgação. Isso porque ela não fazia a menor ideia de onde ficaria até que o amanhã chegasse.

A moça sai do restaurante feliz por ter conseguido um emprego e morrendo de vontade de contar a sua mãe, o problema é que não tem para onde ir nem dinheiro para pagar um quarto, isso a entristece. Caminha sem saber para onde ir por aquelas ruas escuras e frias pelo soprar do vento noturno e chega novamente na praça Osvaldo XV. A noite avançou e José não está mais no local, depois senta no mesmo banco do início do dia convencida de que terá que passar a noite ali mesmo.

É acordada na manhã seguinte por José a chacoalhando:

— Bianca! Você passou a noite neste banco??

Ainda zonza de sono, ela se senta enquanto balança a cabeça em movimento afirmativo.

— Por que não contou para minha mãe que você não tem para onde ir?

Ela finalmente consegue enxergar o rosto dele com nitidez, ele está com seu violão pendurado nas costas através de uma faixa.

— Você não pode ficar dormindo na rua... Minha mãe me contou que você aceitou o emprego, quando for trabalhar, peça a ela uma ajuda, está bem? Eu vou começar o meu expediente aqui.

Quando Bianca chega no restaurante, Dona Joana estava conversando com algumas pessoas, ela pede para a moça ir direto para a cozinha.

— O que eu faço agora? Eu já fiz tudo ontem... Acho melhor eu colocar o feijão para cozinhar e... Ver se a carne descongelou. Eu não posso fazer nada que deixe Joana com vontade de me despedir. Hm, acho que depois vou passar um pano no chão...

No final do expediente, Bia arruma coragem e pede à Joana algum lugar para dormir e ganha permissão para ocupar um quartinho nos fundos, local onde guardam mercadorias. Embora quisessem oferecer a Bianca um lugar melhor em sua casa, também passavam seus dias apertados financeiramente e dividiam um pequeno apartamento perto dali que definitivamente não comportaria mais uma pessoa.

Nada disso importava para Bia, que ficou feliz por ter um teto sobre sua cabeça e a possibilidade de dormir aquecida no pequeno colchão arranjado para ela.

Esses foram os dias de Bianca e assim completaram vários meses. Mandava religiosamente quase todo o dinheiro que ganhava para sua mãe, guardando consigo o mínimo necessário para sua subsistência. Apesar de tudo, sente-se muito feliz, para ela, trabalhar em um restaurante é um pontapé inicial para realizar seu sonho de ser chef de cozinha, na qual nunca se esqueceu.

Adormecido sim. Extinto, nunca! Jamais deixaria que cortassem suas asas, como sua querida mãe lhe ensinou.

— Um dia eu ainda vou para França. Ah... — Suspira — Mon rêve*...

Perto de completar cinco meses de muito trabalho, Bianca cantarola uma pequena canção em francês que está tentando decorar para aprender o idioma, enquanto esfrega com um pano a bancada de trabalho.

“Tourne, tourne, petit moulin,

Frappent, frappent, petites mains,

Vole, vole, petit oiseau

Nage, nage, poisson dans l’eau…”*

Sua singela melodia é interrompida pelo chamado de Dona Joana, dizendo que alguém a aguarda no telefone. Enquanto houve as palavras da pessoa do outro lado da linha, Bia sente o corpo amolecer e deixa cair o telefone, levando as mãos até a cabeça.

Percebendo o olhar de choque, sua patroa pega o telefone do chão, onde alguém continua falando.

— Alô? Alô? Senhorita Bianca?

— Aqui é Joana, amiga dela, o que aconteceu?

— Boa tarde, senhora Joana. Aqui é do hospital municipal da cidade de Novo Triunfo. Acabo de informar a senhorita Bianca que infelizmente, após complicações em seu tratamento, a mãe dela não resistiu... Lamentamos muito.

Tomada pela tristeza de ver o sofrimento de Bianca, abaixa-se então ao lado dela, que agora já está de joelhos no chão, em um choro compulsivo e a abraça forte sem dizer uma só palavra. Sua experiência de vida lhe ensinou que palavras não ajudam em um momento como esse, mas um abraço, isso sim pode dar forças para suportar uma perda tão grande e irreparável.

Bianca arruma suas coisas e volta para sua cidade, terá de realizar o funeral da sua mãe, pois não há ninguém que possa contar. Após longas horas de uma viagem deprimente, que só conseguiu aguentar por causa da presença consoladora de Joana e José, que não só lhe ofereceram companhia, como o dinheiro necessário para as despesas, ela chega a Novo Triunfo.

Como se não bastasse tanto sofrimento, descobre da pior maneira que sua irmã abandonou sua mãe meses antes para ir embora com um namorado.

Após um enterro, com somente algumas poucas pessoas presentes, Bianca foi a última a sair. Antes de deixar o local, passa os dedos pela cruz de madeira cravada na terra e em seu coração.

“Eu te prometo mãe, eu não vou desistir. Este mundo cruel não vai cortar minhas asas, e eu ainda serei seu orgulho, esteja onde estiver”.

Glossário

Mon rêve:  Meu sonho

Tourne, tourne, petit moulin”: “Gira, gira, pequeno moinho”, canção infantil tradicional francesa. O trecho apresentado nesta obra é traduzinho como: “Gira, gira, pequeno moinho. Batam, batam, pequenas mãozinhas. Voe, voe, pequeno passarinho. Nadem, nadem, peixes na água.”

 

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