Início / Romance / Voe alto / Moins une étoile
Moins une étoile

"Preciso da minha cama com urgência...” – Pensa enquanto estrala seu pescoço de um lado para o outro – “Um restaurante tão fino com certeza não teria problemas em contratar mais uma pessoa para me ajudar e isso não seria nada mal!” – Conclui

Depois de muitos chãos limpos, lixos recolhidos, louças lavadas, e principalmente, muitas ratoeiras e venenos espalhados, a pequena sonhadora recebe seu primeiro salário. Em casa, abre seu envelope com um sorriso satisfeito no rosto, entretanto logo o desfaz, pois lamentavelmente desconhecia um importante detalhe do acordo, já que só havia trabalhado sem registro em carteira até então.

— O que aconteceu com o meu salário?

Delphine olha para o dinheiro nas mãos da amiga, dá um suspiro e explica:

— O governo também quer um pouco do seu salário, chéri.*

— Não me diga que você nunca trabalhou antes? — Pergunta Manon

— Sim, eu já trabalhei antes... Mas...

A visão do salário tão baixo lhe rouba a força para pronunciar as últimas palavras. Como conseguirá juntar o dinheiro que precisava para cursar gastronomia na Le Cordon Bleu? Não fazia a menor ideia...

— Ah não ligue para isso, Bia... Vamos amanhã conosco comprar roupas! Você precisa conhecer a Loja Christian! — Convida Delphine acrescentando empolgação extra às palavras para motivar a amiga.

— Já estava demorando... — Manon desaprova balançando a cabeça.

— Acho melhor não ficar gastando muito, já é pouco e... — A loira interrompe.

— Nossa, não seja sem graça! Vamos lá!

— Na verdade ela está querendo te mostrar o Christian... son amour.*

— Claro que não, que absurdo! Eu preciso de um vestido novo, apenas isso... — Delphine tenta desviar a atenção, mas suas bochechas rosadas mostram que não está falando a verdade.

— Está bem, eu vou, não me lembro da última vez que comprei uma roupa nova.

Com um revirar de olhos Manon — que preferia ficar em casa lendo um livro e escutando música — decide acompanhá-las por ser o primeiro passeio de Bianca em Paris.

 A Loja Christian realmente fazia jus à empolgação de Delphine: com uma fachada imponente e um interior extremamente sofisticado, dava pra perceber a atenção dos proprietários a cada detalhe. Na recepção, um rapaz finamente vestido recebe as garotas rapidamente com um sorriso no rosto.

Bia, acanhada como sempre, tenta correr os olhos pelo francês sem chamar tanta atenção. Parece ficar horas na academia e usa um topete enorme impecável em seus cabelos castanhos, parece um príncipe de conto de fadas dos desenhos animados, ela não entende por que o acha tão artificial, acha seu colega de trabalho Julien muito mais bonito. Sorri ao se lembrar de seu sorriso solto e penteado despreocupado.

De repente, um locutor fala em um microfone ali dentro da loja, a garota olha para os lados assustada sem entender nada, enquanto Manon a observa com os braços cruzados com um pequeno sorriso no rosto, aparentemente sabe o que está acontecendo.

Enquanto o locutor fala, uma modelo caminha numa passarela com tapete vermelho toda iluminada, parece que hoje tem um evento especial: Um desfile da nova coleção primavera/verão do estilista.

Com o queixo erguido e pose perfeita, a modelo é incrivelmente magra, tem traços muito parecidos aos de Christian, o que leva Bia à conclusão de que obviamente são irmãos gêmeos. Seu corpo esbelto está trajando usa um short branco e uma camisa florida laranja, a pequena sonhadora acha tudo isso fantástico e assiste tudo boquiaberta.

— Quem é ela? — Pergunta à Manon.

— Ah, ninguém... O nome dela é Camille, desfila nessa passarela todos os sábados e pensa que é modelo.

— Nossa, ela é muito magra!

— Isso é bulimia.

— Sério? — Bianca arregala os olhos diante da menção da doença grave da qual ela já tinha ouvido falar.

— Muito sério. — A amiga balança a cabeça concordando.

Aparentemente, aquela modelo – ou menina que se achava modelo como disse Manon – era muito amiga de Delphine, pois desce do palco para cumprimentá-la. Em seguida, com um jeito muito arrogante olha para Bianca de cima a baixo.

— Quem é essa aí? — Pergunta.

—Minha amiga Bianca, ela é brasileira. — Responde demonstrando toda a sua afinidade que tem com ela.

A moça faz uma cara de nojo e Bia se sente extremamente desconfortável pela gritante diferença entre suas roupas. Com um pequeno aceno para ela, se afasta e vai olhar as peças do cabideiro. Ao puxar as etiquetas, se sente ainda mais medíocre, se é que isso era possível.

— Eu não tenho dinheiro para isso! — Solta as peças como se tivesse levado um choque ao tocá-las.

— Eu odeio esse lugar — Diz Manon se aproximando — Eu conheço outra loja que é bem mais barata. Quer ir comigo?

— Sim, você me leva?

— Claro, é pra já! Não vejo a hora de sair desse ambiente tóxico!

As duas saem da loja avisando de longe que estavam saindo, Delphine está tão entretida conversando com Christian que nem escutou.

— A Del namora com aquele cara estranho? – Bianca pergunta arqueando a sobrancelha.

— Não. Ela só sonha em se casar com ele desde que o conheceu e por isso vem aqui todo final de semana. Eu sinceramente acho que um cara todo malhado daquele jeito jamais se casaria com uma gordinha como ela, mas fazer o quê se ela quer sonhar?

— Ah... Se ele gostar dela, acho que seria possível. A Delphine não é feia e é muito simpática. Se você quer saber, eu acho que ela é bem mais bonita que aquela modelo nojentinha.

— Nisso concordamos!

As amigas caem na gargalhada enquanto entram em uma loja menor e mais simples, onde finalmente os preços são razoáveis. Bianca compra algumas peças de roupas. Uma boina vermelha pendurada chama sua atenção, se apaixona na hora. Experimenta e percebe que caiu muito bem, custa somente 3 euros. Vai para casa alegremente com ela na cabeça e várias sacolas, sentindo-se uma dondoca francesa. As compras a deixaram animada e com vontade de fazer o jantar hoje, antes de ir para casa, passaram no mercado.

No dia seguinte, Bianca estreia suas aquisições, amando se arrumar para o trabalho. Finaliza seu look com a boina vermelha e se olha no espelho muito feliz com o resultado.

A satisfação em finalmente usar algo novo é tanta que ela nem vê o tempo passar e quando se dá conta já está atrasada. Com muita pressa, sai correndo afobada pela rua, torcendo para que Olivier ainda não tenha chegado ao restaurante.

  Abre bruscamente a porta dos fundos do restaurante que dá acesso ao local destinado aos funcionários, lembrando muito Delphine quando chega em casa. “Puxa, estou ficando igual a minha amiga, é melhor eu me controlar.” Pensa enquanto ri de si mesma.

Toda sua ansiedade pelo atraso acaba quando nota que Julian está ali, colocando a touca de cozinheiro para começar suas atividades e está olhando com uma cara surpresa, depois abre um sorriso para cumprimenta-la:

— Bonjour!*

— Bonjour. — Responde entrando devagar envergonhada pelo modo que chegou, percebe que ele ainda a observa com um sorriso, muito bonito por sinal, pois a achou linda toda arrumada. Imediatamente ela sente sua face queimar e antes que fique claro o poder que ele tem sobre ela, prefere se afastar e entrar no banheiro.

Hoje é um dia bem movimentado, pois é final de semana. O chef Oliver entra na cozinha de repente, as portas brancas continuam se movimentando depois que ele passa:

— Bernard Pacaud acabou de chegar e o salão está uma loucura! Courir! Courir!* Eu não posso deixá-lo esperando!!

"Quem é Bernard Pacaud?? Por que o chef está tão estressado??" Pensa Bianca enquanto se dirige ao salão para tentar descobrir. Ela corre os olhos pelas pessoas sentadas esperando a chegada de seus pratos e nota um senhor idoso, com cara de poucos amigos, ajeitando os óculos. Desconfia que aquele seja o homem a quem seu patrão se referiu.

Matando o tempo com uma vassoura na mão, percebe que Olivier continua estressado e colocando muita pressão em todos os funcionários da cozinha. Aos gritos, ele exige pratos perfeitos e o mais depressa possível enquanto chama a atenção de todos com braveza.

A cara fechada de Julien entrega que está se segurando para não perder as estribeiras com aquele homem. Bia pensa que ele deve estar no limite, afinal levou dez repreensões seguidas. Nunca o tinha visto tão irritado.

Não parece ser uma boa hora para perguntas, mas ela não consegue se controlar e questiona o cozinheiro sobre quem é o homem que está causando todo aquele alvoroço.

— Ele é um crítico gastronômico, faz críticas num jornal muito importante aqui na França, de vez em quando ele vem aqui para tornar nossas vidas um inferno. Mas relaxa, normalmente ele é inofensivo.

— Se ele é tão inofensivo, porque o Chef está tão estressado?

Julien se abaixa junto ao ouvido dela e sussurra:

— Porque ele pode arrancar uma estrelinha do restaurante. S’il- vous-plait,* nunca diga isso em voz alta, se não quiser perder seu emprego. — Diz divertindo-se com a situação.

— Puxa, tomara que ele não seja cruel... — Responde Bia ainda tentando se recuperar do efeito que a proximidade de Julien lhe causou.

Após algumas risadas, ambos se afastam, sustentando a troca de olhares por algum tempo.

“Ah Julien...” — Pensa Bianca com um suspiro — “Por que você tem que ser tão lindo assim? quer me matar do coração?”

Mais tarde quando o crítico vai embora, tudo se acalma. O expediente está quase terminando, mas quando Bianca olha para a pia, solta um suspiro e um pequeno gemido, seus ombros caem num gesto descontente, já sabe que terá que fazer hora extra para lavar tudo isso:

— Bom, mãos à obra... Fazer o que? — Arregaça suas mangas.

— Oh, você está aí ainda, Bianca!?

Ela percebe que Julien, já arrumado para sair com a mochila pendurada em um ombro, está parado no canto da cozinha.

— Sim, tenho que lavar toda essa louça antes de ir.

— Quer ajuda?

— Não precisa se incomodar, você pode ir para casa.

— Tem certeza? Em dois minutos a gente termina isso aí! — Responde ele colocando sua mochila em cima da bancada e se aproxima dela com um pano de prato na mão.

— Na verdade, se você realmente não se incomoda... Seria bom uma ajuda.

— Não me incomodo nem um pouco. Sabia que eu comecei lavando pratos também? — Pega um prato para secar.

— É mesmo?? Eu não sabia... — Ela abre um sorriso.

— Sim, e agora estou cozinhando. Eu acredito que você quer cozinhar também, não quer?

— Como você sabe disso?

— Desde quando você começou a trabalhar aqui, já percebi seus olhares curiosos e admirados em todos os lugares desta cozinha.

— É verdade, eu tenho uma paixão antiga pela gastronomia... – Bia ri timidamente – Tão antiga que vem desde quando me conheço por gente. Mas me diga: como foi que você conseguiu ser cozinheiro aqui?

—Certo dia me candidatei para uma vaga de cozinheiro e passei. Eu sempre gostei de cozinhar graças a minha mãe, ela me ensinou tudo o que sei. Acho que tive sorte...

Ao escutar a palavra "mãe," Bia abaixa a cabeça enquanto ensaboa um prato. Julien percebe sua reação:

— O que foi? Eu te deixei triste?? — Inclina-se para ver melhor o rosto dela.

— Nada, eu só me emocionei um pouco, minha mãe faleceu há algum tempo. —  Responde ainda de cabeça baixa.

— Sinto muito, eu não sabia...

— Está tudo bem, aos poucos estou superando isso. E você fez algum curso?

— Fiz um curso básico somente enquanto trabalhava como lavador de pratos. Mesmo assim, erro muitas receitas, por isso às vezes o Chef puxa minha orelha, penso que ele se arrepende de ter me contratado, mas eu não dou a mínima pra isso.

Ambos dão risada.

— Ah, quem nunca errou uma receita? Sabe, meu sonho é estudar na Le Cordon Bleu.

—Que legal! Essa escola é a melhor de todas.

Enquanto trabalham, Bianca conta toda a sua história a Julien, sente-se tão à vontade na presença dele que não omite nada: o desemprego, a pobreza, os armários vazios e a mágoa que tem de sua irmã. O rapaz escuta atentamente tudo o que ela diz e tenta entender como seria vivenciar tudo isso, já que sua própria vida é tão diferente da dela.

Com pais vivos e casados, Julien não faz ideia do que significa perder uma família inteira. Embora não tenha o apoio de seu pai para ser cozinheiro, já que ele esperava que seu filho se tornasse um doutor, sua mãe compensa essa falta, comendo com empolgação tudo o que ele prepara. Filho único, ele teria um irmão, se não fosse um abordo espontâneo que interrompeu a gestação daquele que seria o primeiro filho da família. Sua descrição de sua mãe foi tão empolgante que Bianca sentiu uma vontade enorme de conhecê-la, mas não disse nada.

— Seja lá onde sua mãe estiver, tenho certeza que ela está muito orgulhosa. Pois você é uma garota muito esforçada. Se continuar assim, com certeza irá se tornar uma grande chef!

Bia se vira, entregando o último prato a ele com um largo sorriso no rosto, arrancando um brilho sem igual daquele par de olhos azuis encantadores. A dupla deixa a cozinha impecável, brilhando como um diamante. Ficaram duas horas a mais do que de costume. Caminham pelas ruas parisienses devagar curtindo a conversa:

— Sabe qual é o meu maior sonho? Pode ser meio bobo comparado ao seu, mas ignore isso...

— Nenhum sonho é bobo, diga-me qual é.

— Ficar famoso como o criador da marca de chocolate mais gostosa do mundo! Sim, sou um chocólatra assumido e tenho uma receita bem especial que todos deveriam provar!

—  Ah, eu quero!

— Trago para você na segunda-feira! Vou prepara-lo nesse final de semana. Sabe, acho que na verdade, deveria ter feito um curso de confeiteiro, doces são minha paixão.

— Ainda dá tempo! — Ela o incentiva.

Animados, eles chegam a uma praça onde um homenzinho simpático toca acordeom com maestria, dando um clima perfeitamente francês ao ambiente. Bianca olha satisfeita para Julien, amando sua companhia.

— Ei, eu adoro esse lugar! Quer comer um doce? — Diz apontando para a loja de guloseimas defronte à praça.

Surpresa pelo convite, Bia olha para o estabelecimento e se encanta com as várias cadeiras do lado de fora de uma porta de vidro bem chamativa. Antes de responder, sente a mão de Julien tocando levemente seu braço.

— Vamos comer um doce feito com chocolate!

Eles se aproximam da vitrine e Bianca fica com a boca cheia de água, indecisa em que escolher, são várias opções de doces, todos muito bonitos e chamativos. Fica na dúvida entre um crepe ou um macaron, mas escolheu o crepe, Julien a acompanha com bastante chocolate.

— Nossa, o crepe lá no Brasil é bem diferente..., mas esse daqui também é ótimo!

Depois do lanche, o rapaz segue seu caminho contrário e Bianca volta para casa pisando nas nuvens. Aquela foi a primeira vez que ela teve algo parecido com um “encontro” e tudo parece mágico.

Dois dias se passaram e Bianca fica de olho nos jornais, pois está curiosa em saber o que o crítico gastronômico escreveu. Espera o jornaleiro aparecer no portão de onde mora. Percebendo sua apreensão, o simpático senhor entrega o jornal direto em suas mãos.

"Bom vejamos... Será que ele escreveu alguma coisa? Parece que aqui tem algo escrito:"

“Não merece sequer uma resenha, logo, escrevi esta pequena nota para alertar os que gostam de comer bem e, preferencialmente, com uma quantidade justa no prato. As porções são incrivelmente minúsculas, pobre em calorias, uma coisa qualquer que ousam chamar de comida. O tempero é ridiculamente mal feito e com nenhuma complexidade de sabores. Tenho certeza que na cozinha estavam rindo dos clientes.

Como se não bastasse, cada prato do menu degustação estava muito salgado ou muito esquisito. Só tenho uma forma de avaliar o que me foi servido: uma brincadeira de mau gosto. Pego-me pensando: essa é uma vingança do cozinheiro por fazê-lo trabalhar com um péssimo salário? Ao meu ver, seria a única explicação para essa experiência insossa e completamente imemorável.”

Embora a verdadeira vontade de Bianca fosse ficar em casa naquele dia, pois sabia que seu patrão estaria no pior dos humores possíveis, esta não era uma opção.

Quando entra com cuidado no restaurante, tudo está imerso em um profundo silêncio. Na cozinha já tem alguns funcionários e escuta quando comentam que o restaurante perdeu uma das 5 estrelas da classificação do Le Bistrot Splendide, e o cozinheiro responsável pelo prato de Bernard Pacaud foi um cara chamado Pierre. Bianca suspira aliviada em saber que não foi Julien.

— Acho que o Pierre vai ser demitido hoje. — Comenta Julien chegando no local.

— Você ainda tem dúvida? — Responde uma doceira.

— O Chef já pediu para avisar o Pierre para ir até a sala dele quando chegar. – Completa o responsável pelas saladas.

— Já sei que hoje vai ser um inferno! Diel aide moi! — Julien ergue as mãos para o céu para complementar sua frase.

Bianca fica extremamente desconfortável com a situação. Sabe o quanto é difícil conseguir um bom emprego e não deseja que ninguém seja demitido. Infelizmente, porém, entende que isso não está em suas mãos.

No dia seguinte, há um cartaz na frente do restaurante anunciando que foi aberta a vaga para a contratação de um novo cozinheiro. Mesmo se sentindo mal por Pierre, Bia sabe que aquela será a sua chance de conseguir uma vaga na cozinha.  Só faltava achar um jeito de convencer Olivier a lhe dar essa chance.

Saltitante, ela entra cantarolando na cozinha.

Bonjur! Parece feliz hoje... — Julien a recepciona com seu sorriso cativante, enquanto prepara uma massa.

— E estou! — Confirma a garota — Eu vou conseguir essa vaga de cozinheiro. 

— Pensei em você quando vi o cartaz. É isso aí, tem que pensar positivo!

— O problema é que não sei como impressioná-lo. — Responde fazendo uma careta

— Ah, você vai conseguir impressiona-lo, pode ter certeza.

— Será que eu poderia preparar um prato para ele? O que acha?

— Pode funcionar, sim... Venha amanhã mais cedo que eu te ajudo, topa? Eu posso te dar algumas dicas. Fui encarregado de receber algumas mercadorias amanhã e vou chegar mais cedo.

— Eu topo! — Ela sorri, em seguida vai até o vestiário para colocar seu uniforme.

Bianca fica indecisa em que cozinhar, não sabe fazer nenhum prato francês. Em casa, pega seu velho caderno de receita e escolhe algo que sabe fazer muito bem: Estrogonofe. Não tem nem ideia de qual origem é, mas acha que o mais importante é Oliver gostar.

Bem cedo na manhã seguinte, após verificar se o cartaz ainda estava no mesmo lugar, ela caminha até a porta dos fundos para ter acesso ao vestiário. Julien já está arrumando algumas coisas e quando a vê abre mais um dos seus belos sorrisos. Ver aquele rosto lindo dizendo “Bonjour” já estava se tornando o momento preferido de seu dia.

— Bonjour Chef Bianca! — Ele disse apanhando sua mão e depositando um suave beijo sobre ela, que a fez tremer dos pés à cabeça — O que vamos cozinhar hoje?

— Bom dia gentil cavalheiro! — Bianca responde com um sorriso — Vamos fazer um delicioso estrogonofe!

— Ah, isso é simples demais para apresentar ao Chef. Que tal um Gratin Dauphinois*?

— O que é isso?

— Batatas gratinadas com molho branco. O chef gosta muito e é rápido de fazer, precisamos de algo rápido, daqui um pouco ele chega e não pode sonhar que estamos usando a cozinha dele para cozinhar algo sem autorização.

— Mas ele vai saber que fiz aqui.

— Você vai dizer que trouxe de casa. — Pisca uma vez com o olho direito. — Não se preocupe, vai ficar ótimo! Vamos lá, iniciaremos cortando essas batatas.

Aparentemente, Julien já havia planejado ensinar Bianca fazer essa receita. A garota confia nele e começa a cortar os tubérculos. Ele pega uma panela para iniciar o molho branco, ela percebe o bom grado e fica feliz.

— Agora coloque todas essas batatas naquela travessa e eu vou colocar o molho.

— E depois? O que faremos?

— Colocaremos ao forno.

— Uau! Super fácil e rápido!

— Eu não disse? — Julien sorri com ar travesso.

Minutos depois, o prato está pronto. Tem um excelente aroma e graças à habilidade do amigo, a apresentação fica perfeita. O combinado é que Bia dirá que fez o prato sem mencionar Julien, então ela começa a ensaiar o diálogo que terá com Olivier mentalmente, enquanto começa suas tarefas de limpeza.

Com muito medo, se aproxima do patrão e após inspirar e soltar o ar dos pulmões com força, ela começa a falar o que planejou.

— Com licença, quero dizer, Bonjur chef... — Repara seu amigo a observando de longe, espera uma resposta de seu chefe, nenhuma resposta — O senhor tem um minuto para conversar comigo?

— Fala. — Responde ríspido.

— Podemos conversar na sua sala?

— Não, não tenho tempo.

Bianca engole seco:

— Bom, é que eu percebi que o restaurante está com um cozinheiro a menos e... — Observa seu semblante fechar cada vez mais e fica ainda mais insegura, esquece de tudo o que queria falar — Eu fiz algo para o senhor... Em casa, pois quero ser cozinheira. Guardei na geladeira e...

Ela para de falar quando vê Oliver balançar a cabeça negativamente, demostrando o quanto desaprova a atitude.

— Não precisava ter feito nada, eu já contratei um novo cozinheiro. Você fica na limpeza mesmo.

Depois de dizer essas palavras frias, Oliver vai em direção a Julien, que está boquiaberto, para lhe dar ordens. A moça fica parada no mesmo lugar desiludida: "Ele sequer quis ver o que fiz." 

Em seguida, caminha em direção a saída dos fundos e senta-se no meio fio da calçada. Ela não quer chorar, mas não consegue segurar.

Minutos depois, alguém senta ao lado dela sutilmente, é Julien. Ela enxuga as lágrimas rapidamente:

— Ei, não fique assim...

— Poxa... Ele não quis nem ver.

— Entendeu por que eu o detesto? — Responde depois de um suspiro impaciente.

Ela balança a cabeça quase imperceptível.

— Você terá outras oportunidades, Bia... Você não pode se dar como derrotada, tem que erguer a cabeça. E não ligue para ele, é um idiota! Eu o detesto mais ainda agora!

Bia olha para ele e abre um pequeno sorriso.

— Obrigada, Julien...

— Hoje teremos um almoço delicioso, você experimentou? Está incroyable*, o chef não sabe o que está perdendo!

Glossário

Cher - Querida

Son Amour – Seu amor

Courir – Corra

S'il-vous-plait – Por favor

Diel aide moi – Deus me acuda

Incroyable – Incrível

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo