Capitulo 04

Sarah Gilbert

Acordei num quarto grande e uma cama espaçosa, não sabia onde estava e muito menos como cheguei aqui. Escutei uma porta abrir e vi meu chefe passar pela mesma com Kitty nos braços, assim que me viu a gatinha pulo em minha direção.

 -Já acordou- ele suspirou aliviado- Perdão a intromissão, sua gatinha estava arranhando a porta e achei melhor abrir, antes que ela fizesse um buraco - falou entre breves risinhos.

- Onde estou? E quem me trocou - perguntei acariciando minha gatinha que ronronava no meu colo.

- Em casa, digo, na minha casa, desmaiou no meu escritório e achei de bom tom trazê-la para cá, e eu te dei banho e te troquei, mas foi só por que você ardia em febre, e suas feridas ainda estavam abertas - a realidade me atingiu com tudo, me vi sem expectativas e na casa do meu chefe, comecei a chorar e me desculpar, mas Rafael apenas me abraçou, repetindo que tudo ia ficar bem.

- Faremos assim, essa casa é muito grande para eu viver sozinho, portanto fique o tempo que precisar, continue trabalhando em minha empresa e conquiste o que precisa sem pressa, e quando estiver estabelecida, sairá daqui- ele propôs- Mas, saiba que desde o momento que te vi senti a necessidade de te ter apenas para mim, e não vou perder a oportunidade de paquera-la, e quem sabe no final das contas você não passe a viver aqui.

- Acho que o senhor está confundindo as coisas, não quero te dar trabalho, posso morar em alguma republica até em um pequeno apartamento, talvez um cortiço, e te garanto, com o tempo vai me esquecer

Foram poucas as vezes que eu vi o Senhor Guzman com raiva, mas eram cenas marcantes, ele ficava muito vermelho e fechava as mãos com tanta força que dava para ver suas veias, sua voz adquiria um tom ameaçador, que causava muito medo. Por coincidência ele está assim agora. Ele me pegou, colocou o joelho em cada lado do meu corpo, deixou a Kitty delicadamente no chão e segurou meus pulsos juntos em cima da cabeça.

- Escuta aqui Sarah, eu já fiquei longe de você tempo demais, não vou me afastar outra vez, você vai ficar aqui, nem que eu tenha que te prender nesse quarto! Entendeu?

- Mas senhor eu...- fui interrompida.

- Perguntei se entendeu - esse moço é doido, tenho que arranjar uma forma de sair daqui um quanto antes, eu não sei do que ele é capaz, e não pretendo descobrir.

- Entendi! – respondi de uma vez.

- Ótimo, vou pedir para minha abuela prepara algo leve para você comer, sei que está a base de bolachas e café o dia todo, isso não é nada saudável, por enquanto descanse um pouco – Rafael falou se levantando e indo até a porta, assim que ele saiu do quarto soltei a respiração que até então não percebi que prendia.

 Antes eu reclamava da minha vida estar muito parada, porém não esperava uma reviravolta tão abrupta.

- É Kitty, fiquei um tanto assustada, as coisas começam a acontecer de forma repentina – a gatinha miou como se entendesse – Pelo menos você me traz um pouco de naturalidade.

 Passados alguns minutos Rafael voltou com uma bandeja, que equilibrava uma tigela com um liquido fumegante, um copo de suco de maracujá, e um vasinho de planta

- Improvisamos um ajiaco santafereño*, vai te dar forças, depois descanse, posso ajuda-la com as malas em outro momento, por enquanto preocupe-se em ficar forte e saudável, preciso da minha secretária e futura namorada bem- ele colocou a bandeja sob minhas pernas e comecei a comer, não dava pra negar, aquilo estava maravilhoso

 - Você é convencido demais, nada garante que eu venha a ser sua namorada- falei tomando mais um pouco da sopa.

- Eu me garanto Sarah, daqui a poucos meses vai estar tão louca por mim quanto eu por você! - ele se deitou ao meu lado e falou- Agora vamos ver um filme, precisamos relaxar.

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Sarah Gilbert 

 Acabei de acordar, dormi com a Kitty, que está esparramada na cama, como se o quarto fosse realmente dela, ela dormiu aqui comigo depois que eu expulsei Rafael do quarto. Sei que a casa é dele, mas não tem cabimento ele querer dormir comigo, nem temos nada.

 - Kitty, essa casa não é nossa, se comporte gatuna- ela me olhou como se não acreditasse na minha fala.- É sério filha, nem sei se estou fazendo a coisa certa, é muito estranho, meu chefe tem uma queda por mim e no dia que admite isso eu começo a morar com ele, é loucura. Tudo bem que eu acho que ele só quer sexo- na hora a gatinha me arranhou e começou a miar- Ai! Tá você gosta dele, entendi.

  Me levantei devagar e fui direto ao banheiro, lavei o rosto e escovei meus dentes com uma escova lacrada que tinha por lá, isso é o que chamo de preparo! Assim que voltei pro quarto ele estava lá sentado na ponta da cama, mexendo no celular com minhas malas ao lado da poltrona, muito sexy, é fato, resistir a Rafael Guzman é praticamente impossível.

 - É feio ficar espiando Sarah- disse com aquela voz grave, se virando para me encarar, até arrepiei.

 - Também é feio entrar no quartos dos outros sem permissão.

   Ele se levantou e veio até mim, me encurralando na parede.

 - Falou certo Sarah, é errado entrar no quarto dos "outros" sem permissão, mas você não é nenhum terceiro, é minha mulher, nem devia estar em um quarto diferente do meu.- ele disse bem perto da minha boca, deixei até escapar um pequeno gemido- Porra Sarah, se gemer assim não vou resistir.

 - Não resista- falei abandonando a moral e o bom senso. Pra minha surpresa ele deu uma risadinha e se afastou.

 -  Não vou fazer nada enquanto não admitir que é minha, até lá, te deixarei sedenta por mim, se prepare Sarah Miller.

 Dito isso ele saiu, me deixando molhada e sedenta, vai ser uma longa estadia.

 Tomei um bom banho morno depois desse episódio, como já é sábado a empresa nem abre, mas sabe o que abre???? A imobiliária!

 Desço as escadas e vejo uma senhora fofa seus cabelos eram brancos e lisos, e apesar de amarrados, percebi que era bem grande, e sua pele era negra, me lembrava chocolate. Também vi uma e uma mulher bonita com cara de menina, seus cabelos eram negros e cacheados, entrando em contraste com sua linda pele branca. as duas me olharam com doces sorrisos simpáticos.

 - Olá senhora, seu marido a aguarda no jardim para o café da manhã- disse a mais velha.

- Olá moças, podem me chamar de Sarah, não sou senhora ou noiva dele, estou aqui temporariamente. Qual o nome de vocês?.

 - Meu nome é Maria Eduarda.- disse a mais nova.

 - A chamarei de Duda, se não se importa é claro!

 - De forma alguma, adoro esse apelido.

 - Me chamo Vera.

  Senti meus olhos se encherem de lágrimas, minha vózinha se chamava Ver, semana passada fez um ano que ela morreu.

 - É um belo nome dona Vera, podem me chamar de Sarah- ofereci meu melhor sorriso a elas, o que ocasionou uma risada amável, sinto que seremos boas amigas- Agora, podem me mostrar esse jardim? Estou faminta.

 E assim as duas belas mulheres me guiaram até a saída dos fundos, vi muitas flores, rosas, crisântemos, girassois, copos de leite, todas lindas e bem cuidadas, até borboletas pousaram nela, mas as mulheres me levaram até a estufa, e aí sim fiquei impressionada, minhas flores favoritas estavam por lá.

 - Como conseguiu?- perguntei assim que sentei a mesa- As Begônias, como as plantou aqui?

- Não vou mentir, deu muito trabalho, mas sabia que eram suas favoritas, por isso não desisti! - ele disse como se fosse a coisa mais normal do mundo enquanto com a Kitty no colo, ele acariciava seu pelo e ela nem se importava, lembro que ela odiava quando Gustavo a acariciava, estranhei o seu comportamento, acho que dos loucos se atraem

 - Estão lindas, muito obrigada! - Melhor não expor meus reais pensamentos

 - É um prazer lhe agradar, agora me diga, onde vai com essa roupa? - perguntou olhando meu macaquinho verde decotado, seu short aberto fazia ele parecer um vestido, e com o coque eu me sentia a Tinker Bell.

 - Vou na imobiliária. - Respondi comendo um pãozinho.

 - Se for assim vou com você! - Falou firme

 - Não é necessário!- Tentei desviar

 - Sei que quer se mudar rápido, vou com você pra garantir que escolha alguma coisa boa, não um lugar qualquer apenas para se livrar de mim!- eu ia rebater- Nem adianta, coma e vamos, acho que a Kitty precisa de um dia no Petshop, eles cuidarão bem dela.

 A safada até ronronou.

- Mas eu pago!

- De maneira nenhuma, é meu presente pra essa bela felina, ela é um amor, e é nossa gata, por tanto também a mimarei.

 Revirei os olhos e fui comer, essas baguetes pareciam me chamar, e eu estava faminta, o café tinha um cheiro tão bom que brincava com minhas narinas, me deliciei com as panquecas de banana e mel e por fim, tomei um iogurte de morango. Isso é muito bom.

 - Pra onde vai tudo isso?

- Pra todos os lados, acha que é fácil ficar gostosa assim? Além disso, vamos andar muito.- ele murmurou algo que não consegui compreender e preferi ignorar.- Vamos, vou só escovar os dentes.

 - Já vou!

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 *Ajiaco é uma sopa de batata e galinha, que deu origem na Colômbia e, é bastante típica de Bogotá. Deve ser feita numa quantidade razoável, uma vez que exige que se usem diferentes variedades de batata, a “fruta-da-terra”.

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