Valeu, Cupido!
Valeu, Cupido!
Por: Freya Hawk
Prólogo

Quando a solidão for te encontrar

Crie asas e comece a voar

Temos o mundo inteiro a descobrir

Sei que é difícil de entender

Mas a vida é feita para se viver

Abra um sorriso e faça alguém sorrir

(Farol – Victor Kley)

MALU

O mês de junho tinha começado a todo o vapor. Um lado meu agradecia pelo tumulto temporário da minha vida. Já o outro se lamentava por ele ter sido provocado justamente pelo Dia dos Namorados. Logo naquele ano em que o status de solteira pesava sobre meus ombros. Parecia até mesmo uma piada do destino. Piada dupla, já que faço aniversário no dia 13, dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro.

No dia 12, quem tem a sorte de ter encontrado um par, comemora com flores e chocolates. E quem perdeu as esperanças faz todo o tipo de promessa para Santo Antônio no dia 13. Já participei das duas datas: a apaixonada e a esperançosa por dias melhores.

Desde o rompimento com o Fernando, há sete meses, não quis me envolver com ninguém. Sabe quando bate um ranço de relacionamentos? Nem sei explicar direito... É uma mistura de “Deus me livre” com “ah, quem me dera”. Logicamente não fiquei cega. Enxergo os caras gatos por onde eu ando, suspiro pelos atores lindos dos filmes, mas bate uma preguiça... E escolhi justamente vender lindas e deliciosas cestas de café da manhã para casais românticos com a finalidade de ganhar uma grana extra. Sabe aquele ditado “casa de ferreiro, espeto de pau”?

Tatiana, minha melhor amiga desde que eu me entendo por gente, resolveu que aquele seria um ótimo dia para tagarelar asneiras nos meus ouvidos sobre a minha vida de solteira. Justamente quando eu precisava de total atenção para não errar na quantidade de coisas que eu precisava organizar para atender todas as encomendas.

— Malu, por favor, você só precisa dizer SIM! Uma palavrinha tão simples e curtinha, três letrinhas... Posso marcar?

— Peraí que eu preciso pensar... Errr... Que tal outra também com três letrinhas? NÃO?! — Revirei os olhos e fiz uma careta entediada com a insistência dela.

— Como você vai conhecer caras legais passando o dia inteiro dentro de casa? Nem cadastro no Tinder você aceita fazer. Pelo menos esse pretendente eu conheço bem, referências garantidas. Depois vai reclamar por ter passado mais um Dia dos Namorados sozinha.

— Tati, deixa de ser maluca! Esse negócio de blind date funciona bem nas comédias românticas que a gente adora assistir. Aqui é vida real. Encontro às cegas armado por alguém? Na boa, que programa furado!

— Aí é que você se engana. O que dizer do Príncipe Harry e Meghan Markle? Encontro armado pelos amigos e olha no que deu! Quer outro exemplo de caso de sucesso? Gisele Bündchen e Tom Brady. Pois é, minha querida incrédula Malu. Até Gisele, que não queria encontros desse tipo, deu o braço a torcer e o mundo inveja o marido que ela tem. Só gente linda, famosa e que tinha qualquer pessoa num estalar de dedos. Mas confiaram nos seus melhores amigos para bancarem seus cupidos. Eu sou a sua melhor cupido, confia em mim.

Minha sala de estar parecia uma praça de guerra! Caixas de todos os tamanhos, chocolates, cestas de palha, ursinhos de pelúcia e laçarotes vermelhos estavam por todos os lugares. Não sei o que me deixava mais tonta. Olhar para tudo aquilo e decidir por onde começaria a arrumar as coisas ou prestar atenção na ideia maluca da Tatiana. Resolvi me sentar para poder respirar um pouco e ela, achando que finalmente estava cedendo ao seu plano mirabolante, sentou-se ao meu lado com os olhos brilhando de expectativa. Sua expressão era engraçada demais, tanto que soltei uma sonora gargalhada.

— Tudo bem, conta essa história de novo. Desde o começo.

— Ótimo! — Tatiana bateu palminhas de satisfação. — Você se lembra do nosso último encontro para um café no final da tarde perto do meu escritório? A gente sentou próximo ao um janelão de frente para a avenida. Um dos advogados mais gatos e promissores da empresa passou na porta e viu a gente lá. Bastou eu colocar os pés no escritório para me perguntar quem você era. Quer te conhecer. Está obcecado pela ideia.

Obcecado?! Se já estava com medo de me meter em um encontro arranjado, essa palavra não está ajudando nem um pouco.

— Ah, para de palhaçada, Malu. Não se trata de um psicopata. Olha pra essa foto do perfil dele do W******p. Que homem mais maravilhoso, presta atenção. Seu tipo! Todo engomadinho, cabelos castanhos, queixo quadrado e sobrancelhas grossas. Você vai adorar o João.

Dei uma olhada na foto e realmente o cara era gato. Eu tinha uma queda por homens de terno e gravata. E, ele sendo advogado, com certeza tinha um bom vocabulário. Se existe uma coisa que me tira do sério é homem falando igual a um adolescente e com um monte de gírias.

— Se ele é tão perfeito, Tati, por que você quer empurrar o cara pra mim?

— Ele é perfeito sim, mas não pra mim. Malu, você sabe muito bem que sou mais o estilo rock and roll, cabeludo, camiseta preta e tatuagem. E já marquei um encontro com o Daniel no Dia dos Namorados. Agora essa amizade colorida vira namoro!

— Hahaha! Boa sorte, então. Eu acho esse cara muito estranho, mas tem gosto pra tudo, né? Como dizia a minha amada avó, o que seria do amarelo se todo mundo gostasse do azul? Mas voltando para essa maluquice que você inventou... Vamos supor que eu aceite conhecer esse tal João... Como seria isso?

— Um almoço, amanhã.

— Amanhã?! Tá muito em cima!

— Malu, amiga linda do meu coração, olha pra mim! — Tati me sacodiu pelos ombros de forma dramática, pra variar. — Amanhã já é dia 10. Estamos correndo contra o tempo. Sabendo bem como você é cheia de frescuras, sugeri um almoço perto do escritório. Luz do dia, lugar público, num restaurante com ótima comida e ambiente agradável. Se tudo der errado, peça a torta de limão e garanta a melhor sobremesa da sua vida. Você não é obrigada a ficar com ele. É apenas um almoço pra conhecer o cara. O que me diz?

— Tatiana, você realmente tem um parafuso a menos! Cismou de querer bancar a cupido achando que vai virar manchete de sites de fofoca. — A expressão entusiasmada dela era tão engraçada que ri ao ponto de a barriga doer. — Eu estou longe de ser famosa, os colunistas de plantão não vão achar a menor graça na notícia.

Ela fez aquele olhar de cachorrinho abandonado. E o tradicional beicinho quando faz chantagem emocional querendo alguma coisa.

— Tudo bem, sua chata, pode marcar. Depois me passa direitinho o endereço do restaurante, horário e a foto do sujeito.

— Eu até posso ser chata. Mas sei que sou a sua chata preferida! Uhuu! Eu sabia que ia dar certo! — Tati me esmagou num abraço e por pouco não quebrou as minhas costelas. — Vou te m****r o serviço completo. Foto, perfis das redes sociais, tudinho.

— Agora se manda do meu apartamento que preciso organizar essa bagunça.

— Expulsa, mas feliz. Ah! Coloque aquele seu vestido com alças brancas rendadas. Ele é sexy sem ser vulgar e é perfeito para um almoço. Ele combina maravilhosamente bem com seus cabelos cor de chocolate e seus olhos amendoados. O João vai cair de amores de vez!  

Assim que a Tati saiu, olhei de novo para o caos da minha sala. Aquela desordem toda salvaria as contas dos próximos dois meses. Desde que perdi o emprego no início do ano e sem conseguir uma recolocação como designer, eu venho fazendo trabalhos esporádicos como freelancer.  E, para arrumar uma graninha extra, resolvi ressuscitar uma atividade da época da faculdade: venda de cestas de café da manhã.

Criei um site bem bonitinho para a Delli Cestas e um perfil no I*******m para divulgação. Só não esperava que a promoção do Dia dos Namorados fosse esse sucesso todo, tanto que precisei encerrar os pedidos de encomendas. Era um único modelo de cesta, mas com coisas bem gostosas e um ursinho de pelúcia bem fofo. Fiz um acordo com uma empresa de motoboys aqui do bairro e preciso montar as 80 encomendas nos próximos dias. Tudo deve estar pronto para as primeiras entregas do dia 12, que serão feitas a partir das 8 da manhã.

Infelizmente não consegui ajuda para a montagem. Além do mais, pagar alguém diminuiria os meus lucros. Teria que enfrentar o desafio sozinha mesmo. Respirei fundo, tomei um copo grande de vitamina de banana e fiquei até às três da madrugada colocando todos os itens das cestas em uma determinada ordem para facilitar a linha de montagem.  Estava tão cansada que praticamente desmaiei na minha cama e, assustada, acordei faltando pouco tempo para o tal almoço. Nem tive tempo de investigar a vida do sujeito, apesar de a Tati ter me enviado todos os links na noite anterior.

Quando saí do Uber, aproximadamente cinco minutos depois da hora marcada, só deu para conferir se o visual estava bom no reflexo da porta de vidro da entrada. Até que a sugestão do vestido foi boa. Ponto para a cupido Tatiana! Bom, se deu certo para a Gisele Bündchen e a Meghan Markle, quem sabe também não dá certo para a Maria Luiza Carvalhal, mais conhecida como Malu?  

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