Capítulo 5 - Olhares

Maicon

Passo as mãos pelos meus cabelos como se eles tivessem culpa nisso. Sinto todo o meu corpo tenso e a forma que ela me encarou enquanto tomávamos café fez todo o meu corpo formigar.

O seu olhar me provoca e faz às lembranças serem ainda mais fortes preciso resolver isso com ela, temos muitas coisas que não foram ditas corretamente e outras que nunca foram ditas, precisamos conversar.

Viro-me rapidamente e seguro o seu braço, não permito que se afaste de mim. Seu corpo move-se bruscamente fazendo com que olhe para mim e eu posso jurar que esqueci tudo o que tinha para dizer quando me perdi em seus olhos.

Ela parecia assustada e curiosa ao mesmo tempo, mas quando me encarou pareceu se perder em mim e eu podia lê-la facilmente, tinha algo renascendo e eu acredito que isso esta acontecendo dentro de nós dois.

O seu olhar se mantêm em meus olhos e às vezes eles escapam para meus lábios, percorrem o meu corpo. De repente voam para longe de mim, mas eles voltam e eu desejo que nunca se afastem de mim.

Tento mantê-la comigo, quero tudo o que pode oferecer. Agora eu tenho certeza que o que sentimos nunca passou e se continuar durando deve ser porque não devemos escapar um do outro.

— Para de fugir. – Sussurro e sua respiração acelera.

— Eu não estou fugindo. – Diz irritada.

— Então não vá embora. – Peço e ela começa a puxar o próprio braço.

— Preciso ir trabalhar Maicon e por outro lado, não estou fugindo por que não devo nada a você e não estou a fim de conversar, então, por favor, fique longe de mim. – Fala rispidamente, mas eu não a solto.

— Temos muito que conversar e eu não deixarei que fuja novamente. – Informo e vejo a resistência em seu olhar, mas a solto, pois precisamos começar a trabalhar.

Ela se afasta rapidamente, deixando-me confuso enquanto tento de alguma forma organizar em minha mente o que aconteceu entre nós para saber por que ela me odeia, mas falho de novo.

Vou para a minha mesa e sento ao lado de Samanta, ela esta realmente linda grávida e os seus olhos que parecem sempre felizes a deixam ainda mais bela. Não entendo por que o Marcos não contou a ela que desistiu do casamento. Ele não lutou e isso me surpreendeu.

Hoje ela esta em silêncio, em algumas ocasiões ela fica presa em um mundo que só cabe ela e isso me deixa curioso, pois eu sempre acho que neste mundo ela vê o meu amigo.

Entro em contato com alguns representantes e verifico contratos que ainda não foram finalizados, pois devemos através da avaliação da empresa informar a melhor forma de atender sua solicitação.

As horas passam e eu não percebo, o trabalho é a melhor coisa que faço para poder me entregar e fugir um pouco dos problemas que desenterrei.

Samanta me chama discretamente e pergunta se quero almoçar com eles, aceito de imediato, pois realmente estou com fome. Pego a minha carteira e o celular, estranho que ainda não recebi nenhuma mensagem do Marcos, mas não comento isso com ela. Não acho bom falar sobre o meu amigo, principalmente por que sei o que aconteceu entre eles.

Acompanho Sam até a portaria do prédio e conversamos animadamente sobre a vinda do bebê, quando começamos a nos aproximar de Rafa vejo Isa ao lado dele, isso faz todo o meu corpo ficar em alerta.

— Vai almoçar com a gente de novo? – Indaga curiosa.

— Isabelli, não seja grossa. – Samanta a repreende.

— Belli, minha companhia é realmente maravilhosa, não acredito que seja diferente com você. – Exclamo para provocá-la.

Vejo seus olhos brilharem com as coisas que esse apelido faz com que lembre e me sinto vitorioso por isso.

— Era isso que queria, não é Ma? – Questiona.

Sei que esta jogando comigo, mas isso me deixa feliz, pois me chamar dessa forma só prova que ela se lembra, provavelmente com a mesma intensidade que eu. Neste momento nossos olhos estão perdidos um no outro, trazendo de volta memórias que podem mudar muitas coisas.

— Pelo jeito a história de vocês esta fervendo. – Comenta Rafa divertido.

— Não se intromete amor. – Pede Samanta, em seguida começa a andar para irmos almoçar.

— Admite que você também esta curiosa. – Diz e continua sorrindo.

— Sim, eu estou, mas não é da nossa conta. – Fala tentando não sorrir.

Eu e Belli os seguimos em silêncio, parece que hoje esta sendo um dia longo, tem coisa demais acontecendo e nós não sabemos como controlar ou mudar isso.

Chegamos ao restaurante e fazemos os pedidos, quando o garçom traz os pratos vejo que o de Isa esta errado, mas ela permanece em silêncio, então tomo a iniciativa de solicitar a troca.

— Por gentileza, pode trocar este prato, ela não come arroz integral. – Peço e vejo o olhar dela assustado e confuso direcionado para mim.

— Não foi isso que foi pedido? – Indaga o rapaz sem compreender.

— Não, ela pediu arroz branco. – Esclareço e ele assente saindo para trazer outro prato.

Vejo que ela não ficou feliz com o que fiz, mas se eu não fizesse isso ela não comeria o arroz. Todos na mesa ficam em silêncio e ela continua me encarando.

— E se eu quisesse comer? – Questiona irritada.

— Você não ia comer Belli. – Afirmo usando minhas mãos para segurar o meu queixo, com os cotovelos apoiados na mesa.

— Acho que não vamos saber isso. – Diz como uma criança mimada.

— Eu a conheço, para de tentar provar o contrario. – Exclamo e vejo seus olhos brilharem, mas isso não parece muito bom.

O garçom retorna com o pedido correto e comemos em silêncio, com a Sam e o Rafa falando sobre a Alice e fazendo algumas piadas tentando de alguma forma deixar o clima melhor, mas nada parece funcionar.

Quando terminamos saímos mais animados, afinal conversar sobre as coisas do bebê deixa tudo sempre melhor.

Caminhamos um pouco e quando chegamos próximo ao trabalho vejo algo que tenho certeza que deixará a Isa melhor.

— Querem tomar sorvete? – Indago.

Samanta aceita imediatamente, Isa não recusa, mas não me encara. Ela age como se eu não existisse, mas eu sei que isso vai mudar, por que eu vou fazer mudar. A mudança deve começar por nós e eu faço questão de melhorar as coisas.

Após pedirmos, vamos para um praça e nos sentamos, tomamos nosso sorvete e conversamos sobre banalidades, tento fazer as coisas melhorarem entre nós, mas ela não olha mais para mim e ficar sem encarar os seus olhos fazem com que um vazio enorme cresça dentro de mim.

Quando terminamos voltamos para o escritório. Tudo parece se perder, mas sei que para ter uma chance preciso me manter forte e não me abater.

Abro o meu e-mail e verifico que o Renato nos convocou para uma reunião, aparentemente teremos uma respostas referente ao projeto que concluímos há alguns meses.

Organizo algumas coisas e pego o notebook, me reúno com Sam e seguimos para a sala de reunião.

Esse olhar é tão poderoso que desperta o melhor e o pior de mim.

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