Em menos de um segundo, estava diante dela, meu rosto transformado no que realmente era, uma besta. Como essa humana se atrevia a me desrespeitar dessa maneira e, não só isso, a ameaçar meus filhotes? O rugido que saiu da minha garganta fez as paredes do quarto tremerem. Agarrei-a pelo pescoço e a levantei do chão, meu lobo exigindo sangue por sua insolência.
— SILÊNCIO! — rugi, com meus dentes a centímetros de seu rosto — Eu já destrocei gargantas por muito menos que isso, pequena humana insolente. Você acha que por carregar meus herdeiros tem o direito de me falar assim? Eu poderia arrancar sua língua agora mesmo. Podia ouvir seu coração batendo descontroladamente, mas mesmo assim, seus olhos... aqueles malditos olhos verdes continuavam me desafiando. Em mil anos, ninguém se atreveu a me olhar assim. Nem mesmo os alfas mais pCLARIS:Não sabia por que diabos continuava respondendo a essa besta selvagem que tinha à minha frente, olhando para mim com seus olhos dourados e os dentes à mostra nas comissuras da boca. Minha mente racional gritava para que eu ficasse em silêncio e abaixasse a cabeça diante dele. O que eu poderia fazer, uma simples humana, frente a um homem lobo que poderia me despedaçar com um simples movimento de suas garras? Pelo amor de Deus, Claris, cale-se! No entanto, aquela outra parte de mim, a que estava farta de que os homens acreditassem que podiam fazer o que quisessem comigo, se recusava a se submeter. Esse selvagem me engravidou de seus filhotes sem minha permissão, havia mudado minha vida para sempre sem me consultar. Uma força interior que eu não sabia de onde vinha me empurrava a enfrentá-lo, embora meu corpo tremesse de medo. — Senhor Kieran, saia de cima de mim, respeite-me. Nunca lh
ALFA KIERAN THORNEO cheiro me atingiu como uma descarga elétrica, enviando arrepios pela minha coluna vertebral. Minha pele se arrepiou ao reconhecê-lo: era minha própria essência, mas mais doce, mais intensa, entrelaçada com algo que não conseguia identificar. Impossível. Isso só acontecia quando... Não! Depois de centenas de anos esperando, por que agora? Meus músculos se tensionaram por instinto e, antes que eu pudesse processar isso conscientemente, já estava correndo. O aroma me guiou além dos limites da matilha, em direção a uma velha casa de pedra e madeira nos arredores da cidade. O edifício, cercado por pinheiros centenários, havia sido ocupado recentemente por três humanas. Eu podia sentir suas essências entrelaçadas com o cheiro de tinta fresca e caixas de papelão. Meu lobo Atka se agitava dentro de mim, desesperado para irromper na casa, mas três séculos de controle me mantiveram ancorado ao chão. Eu não podia simplesmente entrar e assustar os humanos. Como era possív
As náuseas me assaltaram novamente enquanto organizava os documentos na minha mesa. Era a terceira vez naquela manhã e eu já não conseguia disfarçar. Corri para o banheiro, sentindo o olhar penetrante do meu chefe seguindo cada um dos meus movimentos. Ao passar por ele, pude ver como ele enrugava o nariz com aquele gesto de desgosto que tanto o caracterizava. Depois de três meses trabalhando nesta cidade perdida, conhecia bem essa expressão. O senhor Kieran Thorne, um homem rabugento com rotinas, e qualquer alteração o perturbava visivelmente. — Preciso sair mais cedo hoje — anunciei ao voltar, limpando discretamente o suor da minha testa —. Tenho uma consulta médica. Ele mal levantou os olhos de seus papéis, mas pude notar como seus ombros se tensionavam. Depois de um silêncio que pareceu eterno, assentiu secamente. Caminhei apressada, olhando meu relógio com medo de me atrasar. Enquanto esperava, suspirei pensando que não era hora de ficar doente agora. Minha mãe e minha pob
KIERAN:Observei como minha assistente pegava suas coisas e se afastava em direção à sua velha caminhonete. A admirei da minha janela, admirando sua extraordinária beleza e a aura de vitalidade que emanava. Meu lobo Atka rosnava dentro de mim, ainda relutante em aceitar que aquela humana havia rejeitado nossa oferta de levá-la para casa. Sou o Alfa, ninguém me rejeita jamais. Mas havia algo nela que me inquietava. Enquanto seu veículo desgastado se afastava, fiz uma anotação mental: eu precisava providenciar um carro melhor e mais seguro para ela. O som da porta interrompeu meus pensamentos. Virei-me após dar uma última olhada na caminhonete que desaparecia à distância. — Meu Alfa, seu primo Gael está lá fora, bastante alterado — informou Fenris, meu Beta, com uma expressão preocupada —. Ele pediu para estar presente no que descreve como uma reunião de extrema importância e confidencialidade. Você tem ideia do que se trata? — Deixe-o entrar e feche a porta — respondi, deixando-m
CLARIS:Saí do escritório quase correndo, não sei. Havia algo no olhar do meu chefe que me fez temer. Agora entendia por que ninguém queria trabalhar com ele e como muitas mulheres antes de mim haviam renunciado a esse cargo. Kieran Thorne era, sem dúvida, um homem extraordinariamente atraente, o tipo de exemplar que raramente se encontra na vida. Alto, provavelmente beirando um metro e noventa, com um físico que parecia esculpido pelos deuses: ombros largos, cintura estreita e músculos definidos que se destacavam até mesmo sob seus impecáveis trajes de grife. Seu rosto era emoldurado por uma mandíbula forte e definida, lábios carnudos que raramente sorriam, e um nariz reto que lhe conferia um ar aristocrático. O cabelo negro que ele sempre usava perfeitamente penteado para trás deixava à mostra uma testa ampla e sobrancelhas expressivas que acentuavam a intensidade de seu olhar. Mas eram seus olhos que verdadeiramente me perturbavam. De um cinza aço que parecia mudar de tonalidad
KIERAN:Eu havia permanecido em meu escritório depois que meu Beta e meu primo se retiraram sem que chegássemos a um acordo. A voz do meu lobo Atka me tirou de meus pensamentos confusos enquanto tentava encontrar uma solução. — Kieran, acho que nossa humana está com problemas — me surpreendi ao ouvi-lo se referir a ela assim. — Nossa? Atka, sei que ela pode vir a ser a mãe substituta dos nossos filhotes, mas isso não a torna nossa — esclareci enquanto me levantava. Apesar de não ter nenhum vínculo estabelecido com Claris, podia sentir seu medo com uma intensidade desconcertante. — Vamos ver o que está acontecendo com ela e, acima de tudo, vamos descobrir de quem é esse uivo que estou ouvindo. Saí do prédio com passos firmes, ignorando os olhares curiosos dos meus funcionários. O aroma do medo de Claris estava cada vez mais forte, misturado com algo mais... A preocupação se instalou em meu peito enquanto acelerava o passo em direção ao meu carro. — Ela está fraca, assustada e p
KIERAN:A noite havia caído quando meu Audi negro parou em frente à casa em ruínas. O vento gelado assobiava entre as tábuas soltas da varanda, e a luz fraca do único poste de iluminação revelava a pintura descascada das paredes. Apertei o volante, contendo minha ira. O cheiro de umidade e deterioração ofendia meus sentidos de alfa, mas havia algo mais no ar, algo que fazia meu lobo interior se agitar inquieto. Ao sair do carro, a gravilha solta estalou sob meus pés. Semicerrei os olhos, escaneando a propriedade e notando as janelas mal vedadas, o telhado que precisava de reparos urgentes e aquele cheiro... o inconfundível aroma de outros lobos rondando a área. Estava certo de que haviam descoberto Claris; não era a primeira vez que uma de minhas assistentes desaparecia de forma misteriosa. E esta era humana, um alvo fácil para os lobos. Eu podia senti-los à espreita. — Não precisa descer, senhor Kieran — a voz de Claris me tirou de meus pensamentos enquanto ela se colocava entre
CLARIS:Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Meu chefe me carregou em seu ombro como se eu fosse um saco de batatas. Gritava e esperneava com todas as minhas forças, mas ninguém ao nosso redor parecia se importar, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mamãe havia ido na ambulância com Clara, me deixando para trás lutando contra esse energúmeno. Quando finalmente chegamos ao seu carro, que já tinha a porta aberta, ele me lançou sem cerimônia no banco de trás. Virei-me furiosa para enfrentá-lo, mas seus olhos de um vermelho brilhante me pararam em seco. — O que... o que você é? — balbuciei, recuando instintivamente diante de seu olhar sobrenatural. O senhor Kieran me olhou fixamente, com dois pontos vermelhos brilhando na escuridão como brasas ardentes. Por um momento, pensei ter visto algo mais em seu rosto, algo selvagem e primitivo que fez meu coração acelerar. Estava com medo e, ao mesmo tempo, curiosa. — Agora não é hora para explicações — grunhiu, mais ir