Enrico Narrando Comecei a gritar desesperado, pedindo ajuda, sem saber o que fazer. O desespero tomou conta de mim de uma forma que eu nunca havia sentido antes. Eu queria pegá-la no colo e levá-la eu mesmo para o hospital, mas as pessoas ao redor não deixaram.— Chamem uma ambulância! Pelo amor de Deus, alguém chama uma ambulância! — minha voz saiu rouca, trêmula, quase sem força, eu não posso perder a Thayla, não posso.Olhei para Thayla no chão, imóvel, seu rosto pálido, os lábios entreabertos. Meu coração martelava contra o peito, um medo sufocante tomando conta de mim. Várias pessoas ao redor já estavam com o celular na mão, ligando para o resgate. Eu queria fazer algo, qualquer coisa, mas me sentia impotente.Minha visão varreu ao redor, até que encontrei Vilma. Ela estava parada, olhando tudo, sem esboçar nenhuma reação além de um semblante surpreso.Avancei em sua direção, apontando o dedo para ela.— Pega o meu carro e leva de volta para empresa Agora, Vilma! — minha voz sai
Thayla Narrando O barulho insistente de um bip foi a primeira coisa que captei ao abrir os olhos. A claridade forte fez minha cabeça latejar, e eu precisei de alguns segundos para me acostumar. Meu corpo inteiro doía, um incômodo constante e pesado, como se tivesse sido atropelada por um caminhão.Foi quando tudo veio como um choque elétrico. O carro. O impacto. O asfalto quente. A dor.Minha respiração ficou presa na garganta ao lembrar da cena antes do acidente, Vilma tocando Enrico. O jeito como ela o olhava, como se ele se fosse um pedaço de carne a ser disputado. Ele não fez nada para afastá-la.Minha garganta fechou, e o desespero tomou conta. As lágrimas caíram antes mesmo de eu perceber, e em segundos, eu já estava soluçando.— Filha! — A voz aflita da minha mãe preencheu o quarto, e logo senti seus braços me envolvendo. Meu pai chegou em seguida, a raiva emanando dele como uma chama prestes a incendiar tudo.— Eu vou matar o Enrico! — meu pai rosnou, os punhos cerrados ao la
Thayla Narrando O médico analisou a tela do ultrassom por mais alguns segundos antes de soltar um leve suspiro e sorrir de forma tranquilizadora.— O feto está bem. Por enquanto não temos com o que se preocupar, parabéns mamãe, tenho certeza que será uma criança saudável.Meu peito, que estava preso em um nó de medo, se afrouxou um pouco. Meus olhos continuavam marejados, mas, pela primeira vez desde que acordei naquele hospital, senti um alívio genuíno.— Graças a Deus — minha mãe murmurou, apertando minha mão. No entanto, o médico continuou. — Thayla, Você vai ficar sob observação nas próximas 24 horas. Precisamos garantir que não haja nenhuma intercorrência. Antes da alta, faremos mais um ultrassom para confirmar que tudo continua bem.Eu apenas assenti. Não tinha escolha, e, sinceramente, parte de mim queria essa segurança. O medo de que algo acontecesse ainda pairava sobre mim, mas eu precisava confiar que meu bebê era forte.Meu pai empurrou a cadeira de rodas de volta para o
Enrico Narrando Eu não consegui sair dali.A fachada do hospital parecia me engolir, e a sensação no peito era sufocante. Sentei na calçada, sem forças, tentando recuperar o fôlego.— Enrico — A voz de Vilma chegou aos meus ouvidos, carregada de falsa preocupação. Senti sua mão pousar no meu ombro, e antes mesmo que ela continuasse, já sabia o que viria a seguir. — Você sabe que essa mulher não presta, né? Antonella se tornou uma barraqueira, a Madeleine nunca gostou dela.Fechei os olhos, tentando conter a raiva, mas foi inútil. Um calor subiu pelo meu corpo, e quando abri os olhos novamente, só enxergava vermelho.— Agora eu saquei o seu joguinho, Vilma! — Minha voz saiu mais alta do que eu esperava, mas eu não me importei. — Engraçado, né? Enquanto eu vivia um luto infinito, você sumiu. Quase nunca mandava mensagem, nunca perguntou se eu estava vivo ou morto. Mas agora, agora que meu relacionamento com a Thayla está por toda parte, nas redes sociais, nos tabloides, aqui está você!
Enrico Narrando Me levantei cedo, mesmo sem ter dormido bem. A noite tinha sido longa, minha mente não me dava trégua, e a ausência de uma resposta da Thayla só piorava tudo. Tomei um banho demorado, tentando me livrar do cansaço e da sensação de culpa que grudava em mim como uma segunda pele. Vesti um terno escuro, ajeitei a gravata no espelho e, respirando fundo, saí para a empresa.O caminho até lá foi um borrão. Minha cabeça estava longe, muito longe dali. Eu dirigia no automático, revivendo cada erro, cada momento em que deveria ter feito diferente. Quando cheguei ao prédio, percebi os olhares sobre mim. Murmúrios, expressões de pesar. Todos ali já sabiam do acidente.Ignorei tudo e fui direto para o andar da presidência. Assim que entrei na minha sala, tirei o celular do bolso. Meu peito apertou ao ver que não havia nenhuma notificação. Nenhuma mensagem da Thayla. Nada. Ela sequer tinha visualizado.Soltei um suspiro frustrado, joguei o celular sobre a mesa e passei as mãos no
Thayla Narrando Assim que cheguei em casa, senti um alívio por estar no meu próprio espaço, mas ao mesmo tempo, um aperto no peito. A segunda ultrassom mostrou que estava tudo bem com o bebê e comigo, e o médico me deu alta, porém com uma lista de cuidados. Minha gestação é de risco e os três primeiros meses seram cruciais para a vida do meu filho. Eu preciso me cuidar.Me sentei no sofá por um momento e peguei o celular. Havia muitas mensagens. As meninas, o senhor Carlos, o pessoal do meu trabalho, e então vi as mensagens do Enrico. Muitas. Ele pedia perdão várias vezes. Meu coração acelerou. Li cada uma delas, e as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Eu o amo tanto. Ele sempre foi o amor da minha vida, mas a dor ainda está aqui.Respirei fundo e, antes que perdesse a coragem, respondi. Pedi para ele vir até minha casa, pois precisávamos conversar. Minha decisão já estava tomada: eu vou terminar tudo. Antes de Enrico chegar, contei para os meus pais. Meu pai fechou a car
Thayla Narrando Acordei, já me espreguiçando, sentindo meus músculos relaxarem depois de uma noite de sono relativamente tranquila. O quarto estava silencioso, iluminado apenas pela luz fraca que passava pelas frestas da cortina. Peguei o celular ao meu lado e, ao desbloqueá-lo, me deparei com diversas notificações. Algumas mensagens de amigas, outras do grupo da empresa, mas a que mais chamou minha atenção foi uma de Enrico.— Bom dia, meu amor. Espero que tenha dormido bem. Eu te amo e estou com muitas saudades.Meu coração acelerou instantaneamente. Podia sentir a saudade dele pesando no meu peito, mas mesmo assim, respondi apenas com um curto "Bom dia."Sabia que ele merecia mais, que o que eu sentia era muito maior do que aquelas duas palavras simples, mas algo dentro de mim me impedia de demonstrar completamente. Talvez fosse o receio, o medo de me entregar novamente, assim tão fácil.Suspirei, deixando o celular de lado, e me levantei com calma. O médico havia me dado alguns d
Enrico Narrando Mal consegui dormir. A madrugada foi longa, meus pensamentos giravam em torno dela. Me revirei na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas o sono simplesmente não vinha. Desisti. Me levantei antes mesmo do sol nascer e vesti minha bermuda de natação. Se minha mente estava inquieta, talvez o corpo exausto me desse algum alívio.Fui até a piscina aquecida e mergulhei sem hesitação. A água fria foi um choque inicial, mas logo meus músculos se acostumaram, e eu comecei a nadar. Braçada após braçada, o cansaço físico se tornava mais presente, mas a inquietação dentro de mim permanecia. Continuei nadando até que meus braços e pernas já não respondiam com a mesma agilidade. Exausto, me apoiei na borda e recuperei o fôlego.Saí da piscina, sentindo o corpo pesado. Um banho quente aliviou parte da tensão acumulada. Escolhi um terno escuro, camisa branca e um relógio discreto. Meu café da manhã? Nada. Meu apetite havia desaparecido, e eu não queria perder tempo. Pe