Ele fez uma pausa, respirando fundo antes de continuar, a voz embargada.— Não importa para onde ele estava indo, infelizmente aconteceu. O caminhoneiro já está preso e está respondendo na polícia. Pelo que entendi, ele dormiu ao volante.— Como assim, pai? — Beatriz deu um passo para trás, como se tivesse levado um golpe no estômago. Ela apertou as mãos contra a testa, os olhos marejados. — Essa é nova. Então quer dizer que não foi um descuido do Jack, e sim alguém que causou a morte dele?De repente, sua expressão mudou para fúria, e ela encarou Olavo com determinação.— Eu quero ir para a delegacia agora! — gritou, marchando em direção à porta, mas foi detida por Frida, que segurou seu braço.— Vou fazer esse desgraçado pagar por toda a dor que está fazendo nossa família passar. Isso é um absurdo! Como é que alguém pode dormir ao volante e acabar assim com a vida de outra pessoa? Isso não pode ficar impune de jeito nenhum. Ele tem que ser castigado, muito bem castigado!Olavo deu a
A demora dos capangas de Acácia em trazer os equipamentos médicos que ela havia solicitado parecia interminável. Jack, incapaz de suportar as dores intensas espalhadas pelo corpo, acabou entrando em coma. O organismo dele ativou um mecanismo de defesa, mantendo-o desacordado para poupá-lo do sofrimento extremo. Acácia, angustiada, andava de um lado para o outro no quarto, mordendo o lábio e mexendo nos cabelos, um sinal claro de sua crescente preocupação.— Onde esses idiotas se meteram? — murmurava para si mesma, lançando olhares nervosos para Jack, que permanecia imóvel na cama.Depois de horas intermináveis, o som de um carro se aproximando ecoou do lado de fora da casa. Acácia correu para a porta, abrindo-a de forma abrupta e encarando os capangas com olhos cheios de fúria.— Pelo amor de Deus, gente, que demora foi essa?! — gritou, gesticulando com impaciência. — Vocês querem que ele morra? Eu falei para serem rápidos, mas parece que ninguém me ouve!Os homens se entreolharam, cl
Olavo fechou os olhos, tentando conter as próprias lágrimas, mas falhou. Ele se abaixou para abraçá-la, apertando-a com força.— Eu sei, minha filha, eu sei... Mas não temos escolha. Não podemos adiar mais o velório. — A voz dele saiu baixa, quase um sussurro. — Vai ser difícil, muito difícil, ver o Jack dentro daquele caixão. E pior... sem nem poder abrir o caixão para vê-lo pela última vez. Nem isso nos sobrou...Ele engoliu em seco, tentando desviar a mente da imagem que havia pintado em sua própria cabeça.— E a Lis? Como ela está hoje? Você já foi vê-la?Beatriz assentiu lentamente, enxugando as lágrimas com a manga da blusa.— Fui sim, pai. Ela continua na mesma... Olhar vazio, não reage a nada. É como se não estivesse aqui. Está inerte, presa no choque do que aconteceu. Sabe, até sinto inveja dela nesse aspecto... Pelo menos assim, ela não sente essa dor esmagadora que estamos sentindo agora.Olavo balançou a cabeça, o semblante pesado.— E sua mãe? Está melhor?— Não... Contin
Lis apontou para o caixão de Jack, com o rosto tomado por uma tristeza indescritível. O choro escorria livremente, e ela começou a descontrolar-se ainda mais.— Sabe, há pouco tempo eu era feliz... de repente, o meu mundo se partiu ao meio. Eu preciso viver este luto, e preciso fazer isso do meu jeito. Preciso ficar só, preciso chorar e pensar em você. Agora, a única forma que tenho para sentir o seu amor é ficando sozinha e em silêncio, para escutar as batidas do meu coração, porque você sempre estará dentro dele.Todos na sala estavam em silêncio, seus olhos marejados, sentindo a dor de Lis como própria. A mãe de Jack, não aguentando a tensão, desmaiou e teve que ser levada para o hospital.Olavo estava visivelmente abalado, mas não suportava mais ver aquilo. Ele pediu, com a voz rouca, que a cerimônia fosse logo encerrada. Mas antes que alguém pudesse afastar Lis do caixão, ela deu um grito tão forte, tão desesperado, que ecoou por todo o cemitério. O som da dor era aterrador. Todo
Lis olhou para Luiza, seus olhos brilhando com a luta interna que a consumia. Ela sabia que tinha dito aquelas palavras, mas agora se via em uma situação onde a verdade era uma carga pesada demais para ser compartilhada. O medo tomou conta dela, e ela não sabia como ou quando poderia contar a verdade. Mesmo com a dor imensurável que sentia, a ideia de revelar o segredo parecia mais assustadora do que qualquer outra coisa.Ela sentiu o coração apertar, desejando mais do que tudo que tudo aquilo fosse uma mentira, um pesadelo do qual ela pudesse acordar. Mas não era. E, por enquanto, a única forma que ela encontrou de manter a paz interior foi manter esse segredo para si mesma. Ela desejava que todos se afastassem, que ninguém soubesse o que estava acontecendo dentro dela.— Eu sei que você está preocupada, Luiza, mas você precisa cuidar de si mesma. Já está doente, precisa descansar, cuidar das crianças e focar no seu tratamento. Isso é o melhor para você. Não vou precisar de mais ning
Luiza ficou em silêncio por alguns segundos, sentindo o peso das palavras de Beatriz. Ela entendia o que a irmã estava dizendo, mas também sabia que não podia forçar a Lis a fazer algo que ela não queria.— Eu sei, Beatriz! Eu entendo o que você está passando, sei o quanto você ama a Lis, assim como eu. Mas você não conviveu a vida inteira com ela, então é difícil para você entender. O jeito dela de lidar com a dor sempre foi esse. É a forma dela de processar tudo, de lidar com as coisas. Então, eu não posso simplesmente passar por cima disso e me impor, porque só vou acabar criando mais problemas para mim e para ela. — Luiza respondeu, a voz trêmula, mas firme na decisão que tomava.Beatriz ficou um momento em silêncio, respirando fundo antes de falar novamente. Ela queria entender, queria apoiar, mas seu coração de irmã mais nova não podia simplesmente aceitar ver Lis afastando-se de todos.— Tudo bem, Luiza. Se você diz que é isso que a Lis precisa, eu vou acreditar em você. Afinal
Como Viver o luto é fundamental para ultrapassar a dor da perda e transformar o sofrimento em uma memória de amor; e assim vivermos com serenidade a ausência daqueles que amamos e que já não estão entre nós. A pior dor do mundo é obrigar a cabeça a esquecer aquilo que o coração teima em lembrar. Mesmo que, para Lis, houvesse algo pelo qual lutar, ainda assim era difícil. Depois de meses da morte de Jack, ela ainda se sentia perdida. Mesmo com duas pessoas para cuidar, era como se Deus tentasse compensá-la, depois de tudo.Naquele dia, no cemitério, Lis passou mal. Foi levada ao hospital e, para sua surpresa, descobriu que carregava duas partes de Jack com ela. Ainda era recente, e ela precisava de cuidados intensivos, pois, devido à dor que sentiu, estava correndo o risco de sofrer um aborto. Ela não conseguiria passar por isso novamente. Samuel, ao descobrir a situação de Lis, decidiu interná-la para que pudesse descansar no hospital e tivesse as condições necessárias para evitar a p
Samuel suspirou, colocando a mão no ombro dela com um gesto protetor. Ele queria que ela sentisse que estava ali para apoiá-la, não importava o que acontecesse.— Não se preocupe com isso, minha querida. Eu mesmo posso falar com ela e dizer que, por ordens médicas, você não pode ter nenhum estresse. Que ela precisa te manter calma e despreocupada. E, tenho certeza, sabendo que, se fizer o contrário, pode reviver a dor que passou, ela vai entender. Ele sorriu de forma reconfortante. Eu conheço bem a dona Frida, quase como uma mãe para mim. E tenho certeza de que, desta vez, será diferente. Mas é importante que você conte para sua irmã e para sua sogra, para seu sogro também. Samuel fez uma leve careta, percebendo a tensão no rosto de Lis.Lis se encolheu um pouco, claramente desconfortável com a ideia de abrir seu coração para sua família.— Tenho medo do que eles vão achar... Ela respirou fundo, como se estivesse tentando reunir coragem. Quando descobrirem que estou quase com quatro m