Luiza não escondeu o choque ao ouvir aquelas palavras de Jack. Ela tinha certeza de que, assim que Lis acordasse, Jack não sairia do seu lado. Por outro lado, Luiza não sabia qual havia sido a reação de sua irmã ao saber que o pequeno Lucca havia morrido, então não julgou.— Claro, Jack. — Jack somente acenou em concordância e saiu de cabeça baixa, sem dizer uma única palavra.Lis não cabia em dor. A dor dela era pior do que quando tinha perdido seus pais. Era quase sufocante, como se fosse morrer com seu pequeno doutor. Seu coração parecia que estava atrofiando e ela não sabia se aguentaria.Quando Lis ouviu a porta se abrir, ela se encolheu ainda mais. Não queria ter ninguém ali com ela, e se visse as pessoas que a atormentaram por toda a sua gravidez, ela gritaria.— Lis... — Lis ouviu a voz embargada de Luiza.Quando Lis se virou, viu sua irmã já perto de sua cama, também chorando. Ela abriu os braços para Lis.— Oh! Lis. — Luiza se jogou nos braços de Lis, as duas ficaram vários
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas a dor que Lis sentia não era física, era sentimental, a pior de todas.Fazia alguns dias que Lis estava em casa, mas era como se só o corpo dela estivesse ali. Sua mente, seu coração, sua alma, estavam dilacerados. As coisas pioraram mais quando Lis descobriu que nem o rostinho do seu pequeno doutor pôde ver, pois quando Lis acordou já o haviam enterrado. Outra coisa que a deixava fora de si era sua sogra. Lis não aguentava mais. Queria ficar só e sentir sua dor.— O que quero saber é por que vocês não me deram o direito de ver o rosto do meu filho. Nem isso pude ver. Imagine só uma mãe acordar e saber que nunca poderá ver o rosto do seu filho novamente. Por que vocês tomaram decisões precipitadas, decisões que só eu poderia tomar? Quem gerou ele dentro de mim fui eu, n
Lis respirou aliviada por ter Jack fora. Ela precisava de privacidade e espaço. Lis sabia que as coisas não estavam fáceis para Jack também, mas por mais que pensasse em ter uma aproximação com seu marido, aquilo lhe machucava bastante. Estar ao lado dele a fazia lembrar constantemente de seu filho e de que talvez, por causa dele, ela perdeu, e isso Lis não conseguia perdoar de jeito nenhum. A água quente foi muito bem-vinda, e Lis demorou a sair. Lavou os cabelos sem pressa e tremeu cada vez que fazia um movimento brusco. Lis se sentia um pouco melhor, não sabia se foi o toque de Jack ou aquele banho após dias.Quando saiu do boxe, encontrou toalhas e um roupão de banho. Enrolou-se em um e saiu para o quarto, onde viu Jack encostado em uma parede olhando para ela. Ele não transmitia nada do que pensava em seu olhar, além de intensidade.— Sei que você não me quer por perto. — Jack falou em um sussurro. Lis apertou mais seu roupão. — Da mesma forma que você está sofrendo pelo nosso fi
— Ah, filho. Infelizmente, você ainda passará um bom tempo assim. Você sabe muito bem que depressão não se cura muito rapidamente, e ainda mais uma depressão pós-parto. Pelo que você está me dizendo, ela tem progredido bastante, e é um avanço no caso dela. Mas você sabe que é tudo a passos lentos e que ela irá melhorar gradualmente. Continue fazendo o que você está fazendo, pois realmente está causando um efeito bom sobre ela. Só o fato dela já ter aceitado no quarto e que vocês dois dormirem juntos e já estar falando com você novamente, isso é ótimo, e eu me sinto bem melhor. Eu estava muito preocupada com você, meu filho. Você já voltou a comer direitinho. Sei que é tudo difícil para você, mas você sabe que tem que se alimentar bem para poder ficar bem para sua esposa. Ela precisa muito de você, e se você não se cuidar, como conseguirá cuidar dela? Não precisa voltar agora para o hospital. O Samuel está fazendo um ótimo trabalho por lá e disse que ficará na direção do hospital o tem
Jack ficou bastante pensativo com o que sua mãe disse. Ele não imaginava dessa forma que sua mãe estava colocando para ele, e sim imaginava que Luiza poderia ajudar a Lis a se recuperar mais rápido. Embora não entendesse o porquê de Lis preferir a sua irmã a ele, que era seu esposo e companheiro, e que os dois prometeram diante de Deus cuidarem um do outro na saúde e na doença, até que a morte os separasse. Com isso, Jack ficou bastante pensativo e faz uma pausa ao ouvir seu telefone. Sua mãe logo pergunta se ele está lá ainda para falar com ela.— Estou, sim, mamãe, estou aqui. Estava pensando no que a senhora acabou de me dizer. Eu não estava vendo por esse lado, mas agora que a senhora falou, tudo faz mais sentido. Embora saiba que a Luiza iria ajudar Lis a melhorar rapidamente, realmente iríamos ficar sem privacidade nenhuma. A Luísa, quando mora aqui, Lis esquece de mim e fica com ela todo o tempo. Imagine se ela morasse, acho que realmente iria perder minha mulher para sempre. I
Lis não gosta muito de escutar o que sua irmã acabou de lhe dizer, mas acaba refletindo em suas palavras. Embora fosse difícil de admitir, Luiza estava certa. Querendo ou não, ninguém ali saberia quanto tempo Lis ficaria internada naquele hospital, e ficaria em coma. Como médica, ela sabe que em mais ou menos três dias, o corpinho do pequeno Lucca já entraria em estado de decomposição e não aguentaria chegar intacto, nem ao menos em uma semana. Exceto caso o enchesse de remédios e conservantes, mas não era isso que ela queria para o seu pequeno. E sim, já que ele foi para os braços do pai, que ele descansasse em paz e que seu corpinho fosse devidamente enterrado. Os dias se passam na vida de Lis e com a ajuda de Jack, ela vai melhorando gradualmente. Mas agora colocou a ideia fixa em sua cabeça de que deseja engravidar novamente para poder ter um bebê em seus braços. Para ela, não importa se for homem ou mulher, o que ela apenas quer é escutar um chorinho durante a madrugada, é passa
Jack passa a mão pelos cabelos andando de um lado para o outro no quarto. Ele fica muito irritado com a insistência de Lis, que não entende o porquê de estar tão fixada nessa ideia depois de tudo o que passou. Ele sofreu demais e praticamente sozinho, pois ela o abandonou no momento que ele mais precisava dela, se fechando para o mundo. E agora ela quer fazer tudo sem pensar. Ele não sabe o que fazer, nem como convencer Lis do contrário, já que não se sente preparado para passar por mais uma gravidez, já que essa gravidez de Lucca foi muito estressante e ela mudou completamente. Quanto mais pensa em uma solução, mais desesperado Jack fica. Então, resolve ligar para Frida, para ver se ela pensa em algo. Frida atende no quinto toque.— Oi! Meu querido, que milagre é esse que já está me ligando novamente? Está tudo bem por aí? Como está a sua esposa? Já deu mais uma melhorada? Espero que sim.— Mãe, até que ela melhorou mais um pouco, mas agora está com a ideia fixa na cabeça de que tem
Luísa olha atentamente para Jack e vê o quanto ele está nervoso e com medo do que possa acontecer. Ela também não acha certo que Lis engravide novamente, embora saiba que é o que sua irmã mais quer nesse momento. Luísa não quis se meter na decisão da sua irmã, pois achava que seria apenas uma ideia que ela logo deixaria de lado. Mas agora vê que não é isso e que, na realidade, Lis está convicta dessa ideia que surgiu de repente em sua cabeça.— Jack, eu não concordo com essa ideia da Lis de jeito nenhum. Mas, infelizmente, é algo que ela deseja muito e, conhecendo a minha irmã como conheço, sei que ela jamais irá fazer o contrário disso. Porque quando ela quer uma coisa, tem que ser aquilo que ela quer e não tem ninguém que consiga tirar da sua cabeça. Lis sente que falta algo para ela. Durante essa última semana, é justamente o fato de achar que pode engravidar novamente e ter o alento de ouvir um chorinho todos os dias. Para ela, agora é muito importante esse bebê. É algo que irá tr