Com os ombros eretos e um olhar calculista, Victor enxerga na resposta do rapaz uma oportunidade perfeita para aprofundar o interrogatório.— Já que mencionou o seu pai e a profissão dele, me diga também o que a sua mãe faz. — Sua voz soa tranquila, mas há um tom de análise subjacente.Endireitando a postura, Daniel responde prontamente, apesar do nervosismo que ainda sente:— Minha mãe trabalha como secretária no consultório do meu pai e também administra uma ONG que cuida de pessoas em situação de rua.Arqueando ligeiramente uma sobrancelha, Victor se mostra surpreso com a resposta. Por um instante, a rigidez em sua postura suaviza, mas a expressão séria em seu rosto permanece intacta, estudando cada detalhe do jovem à sua frente.— Isso é interessante… — murmura, cruzando os braços. — Talvez devêssemos conhecer os seus pais também.Daniel assente rapidamente, como se quisesse garantir sua aprovação.— Claro, senhor. Tenho certeza de que eles ficarão muito felizes em conhecê-los.Vi
No dia seguinte, a casa da família Ferraz estava mais uma vez movimentada. O jantar daquela noite seria especial, os convidados eram ninguém menos que os pais de Daniel, namorado de Amelie.Pela casa, Amelie caminhava de um lado para o outro, incapaz de esconder o nervosismo. Seu estômago estava um nó, e suas mãos suavam levemente. Conhecer os sogros pela primeira vez já seria intimidador por si só, mas saber que tudo isso foi ideia de seu pai tornava a situação ainda pior.Impaciente, ela entra no quarto da mãe, cruzando os braços e fazendo uma careta nada empolgada.— Por que o papai foi inventar isso? — reclama, indignada.— Meu amor, você sabe como seu pai é desconfiado. — Marina diz com a voz serena, tentando acalmar a filha. — Ele só quer ter certeza de que os pais do Daniel são boas pessoas e que criaram um filho responsável.Ela toca de leve a mão de Amelie, oferecendo um sorriso tranquilizador, na esperança de suavizar o nervosismo da filha.— Mas isso está soando tão estranh
Saindo do quarto, Marina segue em direção ao quintal da casa, onde encontra o marido sentado em uma poltrona, com um livro aberto sobre as mãos. O rosto dele está sério, os olhos fixos nas páginas, mas há algo em sua postura que denuncia que sua mente está em outro lugar.Aproximando-se, ela se senta ao lado do marido e o observa por um instante antes de perguntar:— O livro está interessante?Soltando um suspiro leve e, sem desviar o olhar da página, Victor responde com um sorriso de canto:— Para ser sincero, estou lendo o mesmo parágrafo há quase duas horas — responde, fazendo uma careta divertida, mas Marina percebe a inquietação por trás da brincadeira.— O que houve? — questiona, evidentemente preocupada.Lentamente, Victor fecha o livro, apoiando-o sobre a mesa ao lado. Seus olhos vagam até a piscina, encarando o reflexo trêmulo da água, como se buscassem respostas ali.— Hoje chegou mais uma carta da minha mãe, não foi? — sua voz sai baixa, quase um murmúrio.— Sim. Dayane acab
Quando Andressa ouviu seu filho dizer estar apaixonado, seu coração se encheu de alegria. Ela praticamente saltitou, radiante, pois sempre idealizou a felicidade dele acima de qualquer conquista material. Daniel era o seu orgulho, e ela vivia para ele e para o marido, que nunca poupou esforços para cuidar da família.Ao saber que os pais da namorada queriam conhecê-los, Andressa sentiu uma onda de animação. Se faziam tanta questão desse encontro, é porque levavam o relacionamento a sério. E isso significava muito para ela.Mas nada a preparava para o que estava por vir.Quando o carro para diante da imponente mansão da família da namorada de Daniel, ela arregala os olhos. O tamanho da casa, a grandiosidade da entrada, cada detalhe denuncia o quão absurdamente ricos são os pais de Amelie. Seu coração acelera, não por receio, mas por uma expectativa genuína.Quando a empregada da casa abre a porta, ela espera que Daniel entre primeiro e, em seguida, segue com o marido. Seus passos são f
Marina caminha de um lado para o outro, tentando processar o que acabara de acontecer. O turbilhão de emoções a impede de ficar parada.— Mãe, a senhora não vai dizer nada? — A voz de Amelie carrega uma mistura de frustração e expectativa.Percebendo a inquietação da filha, Marina se senta no sofá e pede que a filha faça o mesmo.— Me desculpe, meu amor — a mãe inicia a conversa com um tom sereno. — Eu simplesmente não esperava por essa surpresa.— Nem eu esperava pelo que aconteceu aqui — Amelie responde, ainda confusa. — Mas por que você e o papai reagiram daquela forma quando os pais do Daniel entraram?Ela encara a mãe, esperando uma explicação, mas percebe seu olhar hesitante em direção a Victor, pedindo apoio silenciosamente. Ele se aproxima e assume a conversa.— A verdade, filha, é que sua mãe e Andressa eram muito amigas na juventude… melhores amigas, para ser mais exato — revela. — Mas algo aconteceu entre elas, algo que as fez brigarem a ponto de encerrarem a amizade delas
Ao escutar aquele absurdo de Andressa, Marina arregala os olhos em choque e paralisa por um momento.— O quê? — pergunta, achando que não escutou muito bem.— É isso mesmo que ouviu, o Daniel é filho do Xavier — revela.— Mas o Leonel disse que você havia perdido o bebê naquela briga que teve com o Xavier.— Sim, ele só disse aquilo porque eu pedi — explica, quase num sussurro. — Eu queria encerrar de vez todo aquele ciclo, aquela confusão que sei ter causado. Jamais desejei que o Xavier soubesse desse filho, nem vocês. Só queria desaparecer da vida de todos para não causar mais sofrimento — confessa, com a voz embargada de choro. — Você não faz ideia de como me arrependo de tudo, Mari. Passei anos revivendo esse erro terrível. Quando penso no passado, sinto como se fosse outra pessoa, alguém em transe, cometendo as maiores insensatezes. Tenho vergonha de estar aqui. Vergonha de olhar para você, para o seu marido e agora, para a sua filha.Enquanto fala, os olhos de Andressa estão che
Nada naquele momento podia consolar o coração de Amelie, enquanto ouvia a explicação da mãe sobre tudo o que aconteceu no passado. Cada nova revelação fazia com que ela sentisse mais tristeza e pesar.Já se passava da meia-noite quando Marina acompanhou a filha até o quarto, onde ela se deita na cama sem ter nem mais forças para chorar.— Por que isso foi acontecer comigo, mamãe? — pergunta Amelie, segurando o braço da mãe, que está sentada ao seu lado.— Às vezes a vida nos prega algumas peças que não conseguimos entender, filha — comenta Marina, passando a mão levemente pelos longos cabelos pretos da filha. — Sei que nesse momento tudo parece sem sentido, mas sei que com o tempo você voltará a ser feliz. Logo se apaixonará novamente.— De tantos homens no mundo, eu fui me apaixonar logo por ele — comenta sem acreditar no que havia acontecido.Logo, uma grande interrogação surge na cabeça de Marina, algo que a incomoda como um punhal em seu peito, a ponto de perturbá-la. Estava sem j
O tempo foi correndo sem pressa. As semanas se transformaram em meses, e antes que percebesse, um ano inteiro já havia se passado.Todos pareciam ter seguido a sua rotina normal. Amelie e Arthur haviam terminado o ensino médio e estavam prestes a ingressar na faculdade. Arthur havia optado por Harvard, enquanto Amelie escolheu a Yale University. A decisão dela foi motivada pela abordagem flexível da Yale em seus programas de graduação, que permitiam aos alunos explorarem uma ampla gama de disciplinas antes de se comprometerem com uma área específica de estudo. Amelie fez isso porque, no fundo, se sentia confusa pelo caminho que deveria seguir.Victor e Marina também retomaram suas rotinas no escritório, ainda que sentissem os corações apertados diante da iminente partida dos filhos para o exterior, sabendo que só os veriam novamente nas férias.Mergulhado em seus papéis e planilhas, Victor tenta manter a mente ocupada. Porém, o toque insistente do telefone o tira do foco. Ele olha par