Estava perto do horário do almoço, e organizando minhas coisas para sair, ouvi a voz do homem atrás de mim, me fazendo paralisar.

— Senhorita Rachel?

— Sim?

Me virei para ele, vendo que agora ele estava sem sua gravata e sem seu casaco azul, apenas com sua camisa social que... Por Deus... O deixava bonito... Nicole tinha razão, ele é um pedaço de mal caminho mesmo.

— Eu... Gostaria de me desculpar por mais cedo, além de não reconhece-la, também soube a pouco que é a nova recepcionista. Deveria ter percebido.

— Imagine, o senhor não tem obrigação de falar comigo por causa disso. — Falei.

— Não é porque sou o CEO da YM que não falo ou conheço meus funcionários.

— É claro, você me pedindo desculpas agora mesmo diz exatamente isso. — Falei no impulso pensando depois que eu poderia facilmente ser demitida pela minha audácia.

E ele me olhou percebendo isso, colocando as duas mãos no quadril.

Respirei fundo percebendo que posso ter ido longe demais, e disse:

— Desculpa...

— Bem... Então estamos quites. — Ele falou olhando nos meus olhos, subindo uma das sobrancelhas e a baixando rapidamente.

O que me fez arrepiar de repente, algo que eu não esperava na verdade.

— A senhorita tem algum lugar para almoçar hoje?

— Talvez... Por quê? — Perguntei com um minúsculo sorriso no rosto.

— Eu conheço um lugar muito bom, se quiser me acompanhar.

— Não vai parecer algo como um caso amoroso?

O vi soltar uma risada nasal, virando o rosto para o lado.

— Se não tiver problema pra você, tudo bem.

— Então vamos?

Concordei e o segui até o elevador, o vendo apertar o botão para descer. Ficamos em silêncio até chegar ao térreo, o que foi um pouco desconfortável para mim. Será que terei assunto para esse almoço?

Espera? Yann Lee me convidou mesmo para almoçar com ele?

Quando a porta se abriu, eu voltei a segui-lo até um carro que estava esperando por ele. Será que ele sabe dirigir? Hum... Com certeza... Mas ele tem motorista particular...

Ele abriu a porta do carro para mim atrás, e me sentando puxando minha saia cinza para baixo, me ajeitei enquanto ele se sentava ao meu lado.

Tudo bem... Estou ficando nervosa...

Evitei olhá-lo, fiquei o pouco tempo que estávamos ali olhando para a janela... Não me sentia confortável pra falar com ele com o motorista ali. Além disso, ele nem estranhou uma mulher acompanhar o CEO. Será que isso acontece com frequência?

Quando chegamos, saímos do carro e então entramos no estabelecimento que era puro luxo. Meu Deus, achei que iríamos almoçar uma ala minuta na esquina! Mas o que eu estava pensando?

— Com licença Senhor Lee, sua mesa já está reservada. Devo levá-los até lá? — Um homem bonitão perguntou olhando para o "Senhor Lee".

— Eu agradeceria.

Caminhamos até a mesa que ficava perto de uma janela com vista para a cidade. Era lindo! Eu acho que nunca estive em um lugar tão chique como esse!

Me sentei e em seguida o vi se sentar na minha frente, me olhando algumas vezes.

— É aqui que costuma almoçar todos os dias? — Perguntei curiosa sobre o quanto ele deve gastar todos os dias. Ou melhor, o quanto ele é rico.

— Na verdade não. — Ele sorriu. — Mas aqui é o meu restaurante favorito para eventos especiais. Enfim, achei que você gostaria de comer aqui.

— Não precisava ter me trazido em um lugar tão luxuoso, mas de qualquer forma eu agradeço, nunca estive aqui e vai ser uma experiência muito boa.

— Bem... Deixando o trabalho e o profissionalismo de lado... Gostaria que a gente pudesse conversar como quando o dia em que nos conhecemos... Vamos esquecer que sou seu chefe por enquanto. — Ele pediu.

— Ah... Tudo bem... Sem formalismo. — Sorri tomando um pouco de água em uma taça que eu tinha medo de quebrar.

— Então, soube que é nova na empresa, você começou quando exatamente?

— Hoje. — Respondi largando a taça na mesa.

— Hoje? Nossa... Bom, meus parabéns por isso.

— Obrigada. — Sorri. — Até então estou gostando do trabalho, já tinha sido recepcionista de outros lugares, mas conseguir na YM é um sonho realizado!

— Eu fico feliz que a empresa é vista tão bem pelas pessoas. — Ele pausou para tomar um pouco de vinho. — Mas me diga, você tem quantos anos?

— Eu tenho vinte e três, e você?

— Vinte e sete, quase vinte e oito. Faço aniversário em novembro.

— Nossa, você é bem maduro pra sua idade, imaginei que você já tinha seus trinta e poucos anos.

— Eu pareço velho? — Ele perguntou sorrindo de lado se escorando para trás em sua cadeira, enquanto pegava sua taça de vinho novamente.

— Não! Não foi isso que eu... Quis dizer... — Falei me distraindo com a maneira em que ele estava encostado... Por que ele parecia tão bonito assim?

— Estou brincando. — Ele sorriu de novo. — Na verdade eu tenho que ser profissional quando estou na empresa, mas eu não sou tão chato sempre.

— Fiquei curiosa... O que você faz quando não está na YM? É claro, além de elogiar algumas noivas experimentando vestidos. — brinquei o vendo sorrir.

— Eu... Gosto de sair com alguns amigos, gosto de cozinhar, de dançar... De tocar violão e em outros momentos especiais eu gosto de pintar quadros.

— É sério? Você pinta?

— Inclusive fui eu quem desenhei algumas capas de álbuns de alguns dos nossos artistas. Desde criança eu adorava desenhar, e meu pai que estava montando a YM Entertainment na época, viu que eu tinha potencial e me colocou em uma escola de artes. Eyearts. Eu fiquei fora por um tempo, mas aprendi muitas coisas. Como tocar outros instrumentos também, mas eu realmente gosto do violão.

— Estou cada vez mais impressionada... — Apoiei minha mão no queixo olhando intrigada para ele, que sorriu um pouco envergonhado talvez.

— Eu... Sei tocar violão, piano, bateria e violino. Sei dançar e sou muito bom em aprender coreografias. Teve uma época em que eu queria treinar para entrar em um dos grupos da YM para ser lançado no mundo da música, mas meu pai estava me preparando pra ser o novo CEO.

— Estou imaginando você dançando como alguns dos grupos da YM... Acho que você faria sucesso entre as garotas.

Ele sorriu umedecendo os lábios, até que os chefs de cozinha vieram colocar nossos pratos. Deixei ele escolher pra mim já que conhecia o lugar, e ao meu ver aquela comida parecia uma delícia! Estava com fome...

— Bom apetite. — Ele disse.

— Obrigada. Pra você também. — Respondi pegando meus talheres.

Começamos a comer aquela maravilha dos céus, voltando a conversar depois.

— Mudando um pouco de assunto, você... Já se casou? — Ele perguntou quase me fazendo engasgar.

Precisei tomar água e tossir algumas vezes. Adoro passar uma vergonha... Meu Deus.

Ele parecia preocupado e confuso com isso, mas depois que eu voltei ao normal, o respondi.

— É que... Eu... Não vou me casar...

— Ah... Você... Se sente confortável pra me contar o que houve?

— Você vai me achar maluca... Mas na verdade eu estava experimentando vestidos de noiva porque eu queria apenas me ver assim. O meu maior sonho sempre foi me casar... Isso ainda não aconteceu e talvez nem aconteça... Mas eu... Queria ter a sensação de me vestir como uma noiva...

Por que eu contei isso pra ele? Parece que eu me sinto tão íntima para contar sobre minha vida... Nos conhecemos praticamente hoje!

Levantei meu olhar para ele, que parecia um pouco surpreso com isso, batucando seus dedos na mesa.

— Então você não tem um noivo...

Neguei com a cabeça, me sentindo uma maluca... Ainda mais sabendo da carta que eu escrevi. Mas isso eu não vou contar.

— Bom... E sua irmã, ela já casou? — Perguntei mudando o foco.

— Ah não. — Ele respondeu servindo mais vinho para ele e para mim. — Ela estava fazendo alguns ajustes finais no vestido, já que já tinha escolhido há um tempo. O casamento vai ser em um mês.

— Ah, aposto que será uma festa grandiosa!

— Na verdade ela escolheu fazer apenas para a família. Será em casa.

Concordei com a cabeça em sinal de entendimento, pegando a taça de vinho.

Ele de repente abriu a boca para falar algo, mas se segurou, como se fosse uma má ideia, e mesmo deixando ele assim, fiquei curiosa sobre o que ele iria falar...

Não deve ser nada demais... Será?