Na Tanzânia o homem que Olívia acreditava estar morto, chorava sem conseguir nem mesmo falar o nome da namorada, preso em uma cadeira de rodas, se alimentando por uma sonda, tudo o que pensava era no porquê ninguém estava fazendo nada?Queria pedir por ajuda, contar sobre Arjun, dizer que alguém precisava pagar Miryja, temia que ela tivesse deixado o garotinho sozinho, precisava saber de Olívia e tudo o que conseguiu foi piscar algumas vezes enquanto as lágrimas caiam deixando uma sensação estranha na pele.Kwami estava ajudando, no começo por amizade e depois porque começou a receber pelos serviços.Mas se conseguisse admitir para si mesmo, tinha outro motivo que mantinha guardado quase como se tivesse vergonha do que estava sentindo.Ele ajudou a arrumar as almofadas em torno do tronco de Nick, olhou para a mãe do rapaz, Sara estava angustiada com aquela reação do filho, ele parecia querer dizer algo em meio ao silêncio.Kwami se surpreendeu com a chegada de um homem que parecia fri
A menina que estava sentada na parte externa do complexo e olhava para o mar com o semblante perdido, parecia tão frágil e bonita com aquele nariz vermelho e a forma como limpava o próprio rosto que fez com que Kwami quisesse ajudar.— É o meu irmão ele se machucou, só isso.— Você é a irmãzinha do Nick?Mel soltou o ar rindo e chorando ao mesmo tempo de uma forma estranha, mas que aliviou seu peito, era assim que o irmão sempre a chamou.— Ele é meu irmãozinho. Sou mais velhaPara Kwami era bem difícil de acreditar, não apenas pela estranheza de Mel parecer uma menininha quase sem formas femininas e de Nick parecer um fisioculturista, mas principalmente porque a aparência desleixada do rapaz o fazia parecer muito mais velho do que realmente era.— Entendi, mas ele falou de você como irmãzinha e agora entendo o porquê. A mãe de vocês também parece uma boneca.— Nem brinca assim, se meu pai ouve você chamando a minha mãe de boneca, nem um tsunami te salva dele.— Não estou pensando nes
Endi trancou a porta porque não queria ser interrompido, tinha algo a dizer e se estivesse errado seguiria com o plano, mas antes precisava ter certeza.Abaixou em frente a cadeira em que Nick estava sentado, uma cadeira adaptada, com almofadas laterais, cintos de contenção para o tronco e uma estrutura específica para manter o pescoço na posição adequada.Para aqueles que conheciam o rapaz, a cena era triste, não apenas por ser um homem jovem em uma situação terrível, mas porque tudo ali era injusto e gritava o absurdo da fragilidade humana.Antes de decidir os próximos passos, Endi tinha se perguntado se Olívia ficaria ao lado do namorado naquelas condições. Nick havia perdido tudo para chegar até ela e agora, mesmo que fosse complicado admitir, o marido de Mel se cobrava por isso.Poderia ter ajudado, escolheu não fazer, deixar Nick sozinho com a sua crença de que Olíe estava viva foi uma escolha dele, de ninguém mais. Também acreditava que existisse uma enorme chance de que a meni
Endi saiu do quarto do cunhado aliviado por estar certo, não pretendia esperar, mas queria, precisava que Nick estivesse melhor para esse reencontro.Além disso, se estivesse errado, Mel olharia para ele daquele jeito que o fazia sentir o mundo sumir sob seus pés.Ela discutiu, brigou, mas apesar do medo, a confiança também estava lá.— Você quer fazer o quê? Isso é loucura, Endi.Perguntou porque quase não acreditava no que tinha ouvido do marido, a médica dizia que ser impossível, mas Endi parecia não se importar com Nick, só em estar certo.— Precisamos tirar os sedativos dele, miminho. Ele tem que acordar de verdade. Não dá pra continuar fazendo isso é desumano! Já viu o estado em que ele está?Recuou quando a voz suave da esposa se tornou mais forte, ela nunca fazia isso, jamais o confrontava e nem ele a ela. Buscavam algo que prometeram um ao outro quando ainda eram crianças. O casamento deles certamente foi um casamento por amor, mas que estava escrito no tempo, no destino e ta
Jordan se afastava mais e mais a cada dia, estava sempre cansado, mesmo que descansasse cada vez mais, Olie continuava cuidando dele, sempre carinhosa, gentil, preocupada e algo, mesmo que de uma forma estranha foi mudando para ele.Estavam deitados na cama, assistindo pela décima vez as mesmas lutas, quando o boxeador perguntou.— Não quer assistir outra coisa? Qualquer coisa.O primeiro nome que passou pela mente de Olívia foi Thor, mas não foi o que respondeu.— Eternos! Já assistiu?— Vamos assistir juntos.Jordan se sentia muito melhor quando estava com a esposa, não entendia o motivo, mas ela sim! Parte do plano de Jane, ela aos poucos o deixava dependente dela, uma vingança perversa, mas que todos os dias que ela se lembrava do corpo de Nick naquele chão, Olíe pensava que nada seria o suficiente.Ela o deixava livre das cápsulas preparadas por ela e dava as vitaminas reais, mas naquele dia, assistiram o filme Eternos que ela pediu e em uma cena específica, Jordan girou o corpo
Todos estavam apreensivos com o que Endi havia proposto, até mesmo Kwami que não entendia nada de medicina tradicional, o nervosismo de Mel e Sara o fez ficar apreensivo também, quis chamar o nganga, mas a menina pediu para que ele esperasse.— Deixa a minha mãe se acalmar, tem muita gente aqui.— Tá certo, desculpa.Já fazia mais de duas horas que os medicamentos tinham sido suspensos, Jocelyn continuava monitorando tudo, não saiu de perto de Nick nem mesmo para tomar água.— P Ã IA voz saiu estranha, quase incompreensível, mas era uma palavra! Era ele!Sara se ajoelhou na frente do filho chorando e a médica franziu a testa desacreditando completamente do que estava acontecendo.Esperou, mesmo que Mel estivesse olhando para ela como se quisesse que ela fizesse qualquer coisa, Jocelyn achou que fosse um espasmo da garganta, um ruído sem significado, não existia lógica que Nick estivesse falando.— O que foi, meu amor? Fala! O que você disse?Sara tinha quase certeza de que o filho es
Endi estava sentado na área externa do complexo médico que pediu para organizar naquela ilha, achava estranho que um lugar se preocupasse tanto com acomodações luxuosas para os turistas, mas não tivesse nenhuma estrutura de saúde para os moradores.Ainda precisava decidir o que fazer com Omar, queria ir embora, estava com saudade dos filhos. No começo achava que Nick gostaria de resolver aquela questão, agora, já achava que o rapaz merecia algum descanso.Acendeu um cigarro, olhou em volta, Mel detestava que ele fumasse, mas por enquanto, ela estava envolvida com o irmão.Olhou para a brasa do cigarro, o vento daquele lugar soprava arrastando a cinza e iluminando a brasa.Uma lição que Endi concluiu em poucos segundos.— O que está morto, vai permanecer morto, mesmo que o vento sopre a favor.Pensou em voz alta, só porque aquela brasa tinha lhe dito o que fazer com Omar.Levantou pensando em resolver o assunto, deu dois passos e voltou, quase esqueceu que não podia entrar no hospital
Kwami não estava pronto, achou que ninguém nunca estaria. O cheiro dentro daquele quarto já era perturbador, mas a visão que teve destruiu cada uma das suas certezas. Na cama hospitalar havia um homem, provavelmente um senhor Na cama hospitalar havia um homem, provavelmente um senhor, mas era difícil ter certeza quanto a idade, os cabelos brancos diziam algo entre quarenta e cinco e cinquenta, mas o rosto estava completamente consumido pelo sofrimento. As expressões cadavéricas foram as primeiras coisas que chamaram a atenção de Kwami. Os ossos do rosto estavam destacados e os olhos pareciam muito maiores do que o normal. A carne parecia estar perdendo a batalha contra o tempo, desmascarando a fragilidade humana. Kwami tentou desviar os olhos, mas foi chamado de volta, quase um sussurro, quase imperceptível, quase inexistente! — s o co rro Kwami correu, esqueceu que estava com o capo, não se lembrou dos avisos, apenas seguiu os instintos e Endi assistiu com um sorriso a impotên