SofiaFernando parecia desconfortável ao entrar no restaurante exclusivo que eu escolhi para o nosso encontro. Não que ele fosse estranho a lugares assim, mas era evidente que o peso de ter sido chamado por mim o deixava inquieto. Ele chegou atrasado, claro, e não parecia minimamente arrependido.Se ele tivesse o mínimo de comprometimento, talvez ele já estivesse com aquela idiota e eu não precisasse mais vê-lo.— Sofia. — Ele disse, com um sorriso que claramente não alcançava os olhos. — Que prazer te ver.— Está atrasado. — Respondi friamente, sem me preocupar em disfarçar minha irritação. — Você sabe que odeio esperar.Ele se sentou, ajustando o paletó com cuidado, como se quisesse recuperar algum controle sobre a situação. Peguei minha taça de vinho e tomei um gole, esperando que ele se explicasse.— Peguei um pouco de trânsito. — Ele disse finalmente, com um encolher de ombros casual.— Isso não é desculpa. — Respondi, cruzando os braços. — Você deveria ter saído mais cedo. Mas v
OliverO som do interfone cortou o silêncio controlado do escritório. A voz de Alice, carregada de preocupação, ecoou pelo dispositivo.— Senhor Blake, preciso falar com o senhor imediatamente. É urgente.Franzi o cenho, desligando a tela do computador. Alice raramente usava o termo "urgente" sem motivo, e isso já era o suficiente para me colocar em alerta.— Entre. — Respondi, a voz firme, mas com uma pontada de inquietação.Alice abriu a porta com um tablet em mãos. Seus passos rápidos e a expressão tensa denunciavam que algo estava errado.— Recebemos uma notificação de que detalhes do projeto secreto foram vazados para a mídia. — Ela disse, entregando-me o tablet.A notícia na tela era um golpe. Manchetes especulativas estampavam termos como "projeto revolucionário" e "novos horizontes para a Blake Industries", acompanhadas de informações alarmantemente precisas. Não era um rumor qualquer; era um vazamento substancial.Fechei os olhos por um momento, deixando a raiva se dissipar o
EmilyQuando a porta do escritório de Oliver se fechou atrás de mim, o ar parecia mais pesado do que nunca. Meu coração ainda estava acelerado, e a conversa com ele ressoava na minha mente como um disco riscado.Ele desconfia de mim.As palavras não foram ditas com todas as letras, mas estavam implícitas em cada olhar e pergunta. Era como um soco no estômago. Depois de tudo que passamos, a ideia de que ele pudesse acreditar, mesmo por um segundo, que eu seria capaz de trair sua confiança era insuportável.Fui direto para minha mesa, ignorando os olhares curiosos de alguns colegas. Dan estava de pé ao lado da minha estação, segurando um copo de café e um sorriso simpático, mas sua expressão mudou assim que me viu.— Ei, o que aconteceu? Você está pálida. — Ele perguntou, entregando-me o café automaticamente.— Nada que eu queira discutir agora. — Respondi, tentando forçar um sorriso. Mas Dan conhecia cada nuance minha e não comprou a desculpa.Ele puxou uma cadeira e se sentou ao meu l
OliverEu estava em meu escritório, a penumbra da noite caindo pelas janelas panorâmicas. As luzes da cidade brilhavam como sempre, mas para mim, pareciam perder o brilho. Meu telefone estava sobre a mesa, vibrando ocasionalmente com notificações de e-mails e mensagens, mas eu não conseguia me concentrar em nada. A única coisa que rondava minha mente era Emily.Ela estava magoada. Eu sabia disso. Cada palavra dita naquela manhã ecoava em minha cabeça como uma acusação, mas dessa vez, contra mim mesmo. Não confiei nela. Não completamente. E agora, havia um abismo silencioso crescendo entre nós.O projeto vazado era um golpe duro para a Blake Industries, mas o que realmente me incomodava era o efeito que isso estava tendo em nosso relacionamento. Meu instinto de proteger tudo o que construí estava em guerra com meu desejo de confiar na mulher que eu amava. Mas a ideia de que Emily pudesse ter alguma ligação com isso? Era absurda. Eu sabia disso no fundo, mas os fatos estavam empilhados
Oliver O silêncio. Ele sempre foi meu aliado mais confiável. Aqui, no meu escritório no 42º andar, o som abafado da cidade nunca chega a penetrar. Apenas o som suave das teclas do meu computador, enquanto reviso o relatório financeiro mais recente da Blake Industries, me acompanha. É assim que prefiro. Sem distrações.A Blake Industries, minha criação, meu império. Líder em tecnologia de inteligência artificial, fornecendo soluções para as maiores empresas globais. Milhares de funcionários, bilhões em contratos. E no centro de tudo isso, eu. Aqui, nada escapa ao meu controle.Meus olhos percorrem os números na tela, em busca de qualquer desvio. Encontrar um erro aqui é inaceitável. Tudo deve estar exato. Sem margens para falhas. Um deslize e a confiança de investidores e clientes pode evaporar como fumaça. Isso é algo que jamais permitirei.Um número incorreto aparece no relatório. Um pequeno erro, quase imperceptível para qualquer outra pessoa, mas não para mim. Aperto o interfone.
EmilyEu estava concentrada no design de uma nova campanha publicitária quando vi o buquê de flores sobre a minha mesa. O aroma doce preencheu o pequeno cubículo, e minha mente quase imediatamente voltou a flutuar, distraída pela mesma pergunta que vinha me atormentando nas últimas semanas: Quem está por trás disso?Já fazia três meses que comecei a trabalhar na Blake Industries, e desde então, tenho recebido flores regularmente. Primeiro, foi um buquê simples de lírios brancos. Depois vieram rosas amarelas, orquídeas, e agora, uma combinação de tulipas e gérberas. Sempre com um pequeno bilhete, curto e impessoal: "Para alegrar seu dia" ou "Um pequeno gesto". Nada que desse qualquer pista concreta sobre quem poderia ser o remetente.No começo, pensei que fosse um erro. Talvez algum outro funcionário estivesse recebendo presentes e eles estavam vindo parar na minha mesa por engano. Mas quando as flores começaram a chegar de maneira consistente, ficou claro que não era coincidência. Eu
OliverA sala de reuniões ainda tinha o cheiro familiar de café e papel novo, misturado ao ar-condicionado incessante, quando me levantei para sair. A apresentação da campanha de marketing terminou sem grandes complicações, como deveria ser. Emily Carter se movia com desenvoltura, embora discretamente, no canto da sala. Ela manteve o silêncio enquanto seu colega de equipe, Daniel, liderava a apresentação, mas eu a observava de perto. Sempre.É impressionante como ela parece alheia à atenção que atrai. Três meses na Blake Industries e eu já conhecia bem o seu trabalho, a sua dedicação. No entanto, ela não fazia ideia do que estava por trás das flores que sempre encontrava em sua mesa. E é exatamente assim que deve ser.A verdade é que controle é o que define minha vida, e permitir que qualquer coisa, ou qualquer pessoa, comprometa isso seria um sinal de fraqueza. Eu não posso ser fraco. Não na minha posição. Não com tantas pessoas observando, esperando pelo menor sinal de erro para ata
OliverEu não deveria estar fazendo isso.Enquanto a luz fria da tela iluminava o escuro do meu escritório, observei Emily Carter mais uma vez pelas câmeras de segurança. Ela estava em seu cubículo, a essa hora em que a maioria dos funcionários já havia ido embora. Todos os outros andares estavam vazios, exceto pelo fraco brilho da luz sobre seu local de trabalho. As mãos dela se moviam ágeis, organizando papéis e pastas, e eu estava ali, observando, como um maldito stalker.Senti a familiar onda de frustração tomar conta de mim. O que estou fazendo? Eu, Oliver Blake, CEO da Blake Industries, assistindo uma funcionária pela tela das câmeras de segurança. Isso era insano. Eu sabia que era. Mas, ao mesmo tempo, algo em mim me mantinha grudado à tela, incapaz de desviar o olhar.Tentei justificar isso para mim mesmo inúmeras vezes. Fiquei convencido de que o que me prendia a Emily era sua dedicação, sua capacidade de mergulhar tão profundamente no trabalho que se esquecia de tudo ao redo