Não sei quanto tempo fiquei desacordada. Mas, não foi agradável voltar a realidade. Lembro das mulheres me socorrendo escandalosas aos gritos. Do pânico de Fábio em me ver sendo reanimada ali no chão frio da praça. Todo mundo nessa hora é entendido em primeiro socorros, porém na verdade, na hora do desespero, ninguém sabe de verdade de nada. A única coisa certa que fizeram foi chamar a ambulância.
Da ambulância lembro da extrema velocidade que era conduzida. Os paramédicos tentando acalmar meu filho aos prantos ao meu lado enquanto ele respondia as perguntas sobre o que eu era alérgica ou não. Se tomava remédios contínuos ou tinha alguma doença em tratamento...
Onde estava minha voz naquele momento? Sinceramente não sei. Tinha plena consciência da ação a minha volta. Porém, minhas palavras estavam sufo
O dia hoje mal começou e prometeria ser de grandes turbulências. O sol raiava lá fora como se o deserto do Saara mudasse ali para a nossa esquina. O tempo abafado, dificultava a respiração e anunciava uma tempestade ao final da tarde...O calor me deixa irritada e inchada. Ainda sinto enjôos tardios. A pressão cai com temperaturas tão altas e a paciência já se delimita ao suportável para não sair estrangulando ninguém. Já que, não é facil sustentar todo aquele peso do sétimo mês de gravidez...E para piorar... Tenho a constante insistência de Fábio em dar uma escapadinha na sua pista preferida. Faziam exatos um mês que praticamente está preso dentro de casa. Foi um bimestre ruim na escola de notas muito biaxas e Marcos resolveu castigá-lo. Afastando da sua brincadeira predileta.E se não bastasse, tamanha insistência nesse lugar, hoje ainda para completar tem o trabalho na casa da Cris... A nossa casa ainda não esta pronta e mantê-lo
Antes de nos deixar a sós, Marcos confirmou comigo senão queria a sua presença nessa conversa. Confirmei que precisava fazer isso sozinha. Era meu dilema de uma vida, foi minha atitude talvez não tão bem pensada no passado e um erro talvez, que tenha assumido por conta própria. Então, nada mais justo que esclarecer toda essa confusão com minhas próprias palavras sem sua defesa. Pelo menos, por enquanto. Ele concordou, um tanto preocupado, beijou minha testa novamente e encarou Gabriel... ____ Vá com calma, sim. Ela está grávida... ____Foi seu único pedido dirigido à Gabriel.___ Não se preocupe com isso, vamos ser prudentes.___ Ele o tranquilizou. Uma mesa ao fundo da cantina do hospital fora o local escolhido. Ali ninguém nos incomodaria principalmente àquela hora da noite. Gabriel pediu café e um bom e reforçado sanduíche já que, tanto a fadiga da viagem como a doação de sangue lhe roubaram muito de suas energias. &
Foram necessários três dias para que Gabriel conseguisse convencer sua mãe a ser doadora. Ela fizera o teste de boa vontade só para não ser acusada diante dasociedade como uma péssima avó. Gabriel jurou para ela que se negasse ajuda ao neto, nunca mais falaria com ela. E o seu perdão sobre o que fez com ele, seria jogado no lixo. A mágoa o transfomara nesses últimos dias numa pessoa que eu nunca imaginei que pudesse ser tornar.Ele arranjou um bom advogado. Conseguiu o teste de DNA pelo hospital e apesar de respeitar o pedido de Fábio de manter-se bem a distância, volta e meia aparecia para visitá-lo. Como um bom amigo, mesmo que pra isso saisse sempre sofrendo do seu quarto, odiando-me cada vez mais...As conversas com ele sobre a doença, sempre bem realistas sem lhe esconder detalhes sobre o tratamento e como ele poderia sim, ficar bom de novo e voltar as pistas de skates, os aproximaram. Ele já o aceitava como um bom amigo e nos momentos de dor, se
O tratamento de Fábio começou pelo transplante. Uma longa e dolorosa espera na recepção de um hospital. A cirurgia era de risco em vários aspectos. Desde deixar sequelfés, até mesmo morte.Parecíamos fantoches ali revivendo o passado. A angústia torturante pela espera de notícias do médico. O relógio que parecia simplesmente congelar o tempo e a tensão que se formou pela espera.Minha mãe chorava baixinho com o terço nas mãos em longas rezas por proteção. A fé dela era contangiante e em alguns momentos, nos juntamos a suas preces também. Marcos, segurava minha mão com força e tentava passar confiança nas palavras ditas pelo médico horas atrás que tudo term
Como Fábio prometera, ele não aceita Gabriel como pai. Proibiu-lhe de exigir o reconhecimento perante a lei, e o mantém como um amigo próximo. Ele tem medo que o roube de Marcos. Que por causa da sua doença, se aproximou ainda mais do filho de criação.Para não perder a aproximação com o filho, Gabriel concordou. Mesmo deixando bem claro, que não vai abrir mão desse direito. De momento, estar do seu lado em paz é melhor que diante de um tribunal disputando sua guarda.Depois de tanto tempo separados, qualquer sacrifício parecia válido para esta reaproximação. E acredito que tenha com o tempo, exercitado a prática da paciência com a noiva e tire de letra as manhas que Fábio com certeza vai fazer.
Mais uma ano de tranquilidade se passou. Não dizer que não houveram pequenas desavenças pelo caminho ou problemas nas duas famílias. Famílias sem problemas não existem. São contos de carochinhas contados por quem vive fora da realidade. O mundo em questão é cheio de obstáculos a serem transpostos. Mas, o tamanho dos quais nós vamos enfrentando rotineiramente, haviam diminuído considerávelmente.Gabriel se mudou para nossa cidade. Queria acompanhar o desenvolvimento do filho mais de perto. Abdicou o sonho de ter seu próprio laboratório e foi trabalhar de bioquímico num grande hospital daqui.Ganhava quase mais que sendo o próprio patrão e tinha mais tempo para ficar perto de Fábio. Ainda dava aulas na faculdade no período noturno
Aquilo tudo parecia um pesadelo. Marcos ofegante nos braços de Gabriel com o suor escorrendo pelo corpo em demasia. Nós três abraçados e petrificados olhando a cena sem reação. E um pânico eminente contaminado o ambiente.Os socorristas chegaram rápido. Não perderam um minuto sequer no atendimento em meio a minha sala e logo estávamos dentro de uma ambulância a mil pela cidade a caminho do hospital.Segurava a mão dele firme entre as minhas e lhe acariciava seu rosto tentando manter ele calmo. Ele tinha um respirador sobre sua face, um soro em seu braço e já estava conectado a medidores de pressão e batimentos cardíacos. Um infarto é igual a um tsunami. A primeira onda anuncia o desastre. A segunda, maior e mais devastadora acaba com seus planos para o futuro...Os olhos dele transmitiam inúmeros sentimentos nas lágrimas que deixava escapar. Medo, dor, decepção, tristeza por talvez ter que partir...Beijei seu rosto e lhe pedi calma. Que tudo iria ficar bem.
Marcos precisou de dois dias de descanso no hospital por causa da idade e tem um atestado de um mês inteiro em casa. Difícil vai ser fazer ele cumprir essa decisão médica diante de tantas providências as quais temos que tomar.Chegou animado, corado e louco de saudades da filha. Quanto a Fábio... A animação não era das melhores. Eles mal se falaram nesses dias e as poucas palavras que trocaram não foram tão amorosas. Ainda guardava mágoa da atitude irresponsável que o filho tivera sobre seu futuro.Deixamos ele descansar uns dias, depois remarcamos uma reunião pra ver o que faríamos com relação aos nossos filhos. Marta chegou com um sorriso farto no rosto a nossa casa, ela nunca tinha nos visitado e quando viu o grau de estabilidade financeira que temos...___ Acho que vamos ser boas avós... __ Começou sentando-se ao lado da filha no sofá à nossa frente.___ Não acha, Fernanda?___ Acho que eles são só crianças... E que talvez, devêssemos repensar isso..