O tempo passou e comecei a estudar. A rotina das aulas pareceu-me bem cansativa. Mas eu deveria encarar com muito afinco. Afinal, era um sonho meu e da minha família. Passei no vestibular e precisava ser um bom aluno.
Eu e Emelyn pouco saía. Não sobrava mais tempo para a gente se ver. Nosso caso estava ficando sem graça. Eu estava fazendo de tudo para que o nosso relacionamento não viesse por água abaixo. Fazíamos chamadas de vídeo de vez em quando.
Agora eu vejo a desvantagem de não estar namorando. Se fôssemos namorados, ela poderia dormir aqui em casa. Bem, eu acho que sim. Mesmo assim, poderíamos nos ver mais vezes, por mais tempo.
Paramos de nos ver, limitando nosso contato apenas por mensagens, quando ela começou um emprego numa filial das imobiliárias do seu pai. Isso do outro lado da cidade. O tempo que antes tínhamos, agora não existe mais.
Tam
Eu não podia acreditar, mas deveria me acostumar com isso. Emelyn estava de mudança pra São Paulo. Seus pais decidiram ir pra lá pra ficar mais perto de seus avós, após seu avô sofrer um AVC. – Preciso falar com você. Vem aqui em frente. Cheguei correndo em frente à casa de Emelyn. Lá estava ela cabisbaixa. Cabelo solto, uma blusinha listrada horizontalmente em preto e branco, calça jeans. – Ei. – Me limitei a isso. Não queria perguntar como ela estava, porque sabia que não estava nada bem. – Podemos dar uma volta? – Sim, claro. Caminhamos um pouco até a orla da praia. Durante o trajeto, Emmy rechaçou as minhas investidas de segurar sua mão. Ela parecia evitar o contato. Senti um ar gelado em meu peito e um nó na garganta, estava começando a ficar agonizado. O seu olhar triste mostrou-se mais aparente quando ela parou à minha frente e pôs suas mãos sobre meus ombros. Tentou olhar em meus olhos, mas abaixou a cabeça outra vez.
Quase não nos falamos mais. Parece que eu e Emelyn quebramos nossa última promessa. As mensagens já não são mais constantes e quando nos falamos são coisas muito vagas que não conectam mais o nosso amor. Peguei um café no refeitório do campus. Hoje o dia amanheceu nublado e frio no Rio. Estou usando uma blusa de moletom na cor cinza com as mangas verde musgo. Só faltou o nome Engenharia Ambiental no meio. Acho que combinaria bem. Sentei-me e saquei o meu tablet. Resolvi ler um pouco sobre o assunto da aula anterior de ciências do ambiente. Notei que alguém puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado. Uma voz doce quebrou o silêncio. – Ei, bom dia! – Oi. Bom dia! – Respondi surpreso. Era uma menina da minha sala, mas nunca nos falamos antes. – Tudo bem? Me chamo Anne e você? – Luke. Prazer. Conversamos um pouco durante os quinze minutos que precederam o sinal para a primeira aula. Anne é uma morena, magra, cabelos cacheados castan
Eu e Anne estamos nos dando muito bem. Agora estamos namorando oficialmente e não vejo a hora de traze-la em minha casa. Raramente Emelyn me manda alguma mensagem, mas de uns meses pra cá nosso papo tornou-se tão frio que não passamos de conhecidos. Evitei contar a ela sobre minha atualização de status. Ela não precisa ficar sabendo e acho também que não é interessante pra ela. Todo esse tempo se passou e não voltamos mais a trocar mensagens como antes. Agora não me faz falta. Peguei um pouco de café todo animado. Ultimamente tenho tomado bastante café por conta da faculdade. A minha maior motivação para estudar é estar ao lado de Anne na sala de aula. Ela é o meu combustível nos dias ruins quando quero me m****r daquele lugar. Não tenho muito pra onde correr. Chego em casa e as atividades tomam o meu tempo. Quase não estou tendo mais tempo para tocar a minha guitarra. A ideia de ter uma banda já fugiu da minha mente e, talvez, dos meus planos. Mas engana-se
As aulas estavam um tédio na faculdade. Eu e Anne temos nos esforçado bastante para alinhar todo o conhecimento adquirido individualmente para fazer um estudo dirigido em dupla. Não tem sido fácil. Perco horas de sono, vejo meu rosto refletido no espelho do banheiro. Caramba, quantas olheiras! Devo ter envelhecido uns dez anos em poucas semanas. Anne estava linda, vestindo uma blusina vermelha e calça jeans. Me esperava na porta da sala. Seu cabelo solto, cacheado, tocava os ombros. Eu estava de calça jeans preta e camisa branca. – Bom dia, meu anjo! – Disse isso e dei um beijo em sua testa. Ela amava quando a chamava assim. – Você dormiu? – Me encarou com a mesma cara de sempre quando se preocupa comigo. Acho um pouco chato da parte dela, mas bonito. Bom que ela se preocupa. – Olha esses olhos vermelhos. Você precisa dormir. – Eu sei. Entramos pra sala. Aula de geometria analítica. A matéria em si é tranquila, mas o professo
Eu estava mal. Havia dormido pouco nos últimos dias e a pressa do dia a dia não permite que eu tenha certos cuidados. A minha namorada é muito exigente. Um tanto chata. Se preocupa demais comigo, isso é bom. Mas, às vezes, se preocupa com coisas bobas, inúteis.Deixei a companhia da minha guitarra. Nem ela distrai a minha mente. Os meus preferidos livros de romance já não são os mesmos. Foi a nossa primeira briguinha e estou detestando. Eu e Anne temos tudo pra dar certo, mas tem coisinhas bobas que de tão insignificantes não poderiam ser o motivo da nossa briga.Saí de casa meia hora depois do habitual. Havia revisado todo o conteúdo da prova de ciências naturais na noite anterior. Por ter levantado mais tarde da cama, que foi uma grande luta, saí sem o meu café-da-manhã.Deixa pra lá. Compro qualquer coisa no intervalo. Estava sem fome,
Entrei no meu quarto, caí na cama, exausto. Poxa, vida. Essas últimas aulas têm me matado. Coloquei uma música pra relaxar. Às vezes música instrumental indiana ajuda. Tenho tido boas experiências com elas. Fico bastante relaxado.Da janela, vejo que o tempo fechou. Fortes nuvens tomavam conta de toda a cidade maravilhosa. Logo, pancadas de chuvas cairiam molhando o chão da cidade. Eu gosto quando chove por causa do cheiro da geosmina que sobe pelo quintal.Olhei pra prateleira e ali estava todo insinuante o livro que deixei no capítulo sete a leitura. Pensei em esticar o braço e pegá-lo, mas recuei. Melhor deixar essa leitura pra noite, não quero ter um desconforto por agora.– Luke – Ouvi a voz da minha irmãzinha me chamando, quebrando o silêncio gostoso. Em meu quarto, só se ouvia a música relaxante. – Vem aqui.Sério qu
Chegou o dia tão esperado da minha menina completar treze anos. Como dois irmãos brincalhões, resolvi dar a paga pela coisa que ela me aprontou no meu último aniversário. Paola me acordou com um balde de água fria e gelo. Eu fiquei muito bravo com ela. Hoje, era a minha vez de aprontar.Era ainda seis da manhã. Desci para a cozinha e acessei a geladeira. Ali contei. Treze. Poxa, vai nos fazer falta, mas vale a pena. Os separei e pus sobre uma tijela. Passei a mão sobre uma embalagem branca e subi.Tive o cuidado para não fazer barulho. Pés descalços tocavam o chão sorrateiramente. Abri a porta do seu quarto – que, assim como o meu, sempre fica encostada – e entrei. Lá estava ela dormindo suavemente em sua cama. De shortinho branco e blusinha branca com azul. Parecia um anjinho.Me aproximei dela e notei que não acordaria tão facilmente. Prep
O tempo foi passando e Anne foi esfriando o nosso relacionamento. Uma única vez em que esteve na minha casa, foi quando tivemos o nosso contato mais íntimo. Fomos pra minha cama e nos amamos ali por toda a tarde, cerca de três horas seguidas. Depois disso, notei que ela me evitou. Será que sua experiência sexual comigo foi tão ruim? Acredito que não. Sua prima Thammy ao saber, ficou boquiaberta. Pra ela, três horas eram muita coisa. Anne estava estranha comigo. Na faculdade nos falávamos pouco. Ela me abraçava sem aquele calor de antes. Seus beijos nem eram tão interessantes como os primeiros. Senti que entre nós faltava vida, faltava amor. As briguinhas e desentendimentos bobos foram constantes. Todas as vezes que a chamava pra sair, três desculpas surgiam. Ou estava doente (sempre uma enxaqueca chata), desanimada ou cansada. Uma dessas três coisas foram, alternadamente, sua resposta para servir de não para os meus encontros. Isso seguiu