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Capítulo 3 Mundo inferior

Não podia acreditar no que estava acontecendo eu estava caindo em direção ao mundo inferior.

Não caindo, mas descendo flutuando em direção a ele.

Tudo era escuridão ao meu redor, exceto por um ponto de luz que vinha ao meu lado, concentrei minha visão tentando identificar o que era aquele ponto de luz e depois de alguns instantes consegui entender que era o elmo das trevas brilhando.

O elmo de Hades, seus olhos estavam brilhando um cinza quase estrelado sobre a luz do elmo.

—  MALDITO! — exclamei para ele.

Ele se limitou a assentir com a cabeça em concordância.

Estava me sentindo cansada demais, segurei os panos rasgados de minhas vestes o amarrando rapidamente e de modo um pouco superficial, era difícil fazer algo quando não se tinha o controle do próprio corpo que parecia descer por um abismo sem fim.

De repente meus pés tocaram uma superfície arenosa.

Uma areia negra e densa.

A escuridão se dissipou e olhei ao redor para o novo cenário sombrio.

Um rio se situava a minha frente.

O ar era horrível fez meus pulmões arderem, se eu fosse mortal certamente eu morreria com esse ar tão terrível, não podua deixar de lembrar do ar puro do Olimpo.

Me apoiei em meus joelhos tentando raciocinar como eu havia saído de um casamento no Olimpo e agora tentava respirar o ar do mundo inferior.

Era um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.

—  Posso carregar você até a carruagem. — a voz grave do deus que havia me salvado e agora sequestrado veio.

Encarei-o sem palavras ainda mortificada com os acontecimentos.

Hades se aproximou e antes que eu pudesse dizer claramente que não iria para carruagem alguma, fui erguida do chão com facilidade por ele, ele falou como se nada de estranho estivesse ocorrendo, como se sequestrar moças fosse uma atividade muito comum para ele.

Enquanto era carregada até a carruagem fui surpreendida com vozes atrás de nós, murmúrios que não consegui entender, mas eram extremamente melancólicos.

— Não olhe. — Hades sugeriu enquanto me carregava.

Olhei para trás e vi um enorme portão de onde sombras com formas humanas saíam, algumas flutuavam sem rumo, outras se dirigiam diretamente para um barco onde havia uma figura encapuzada segurando um remo.

Caronte..o barqueiro que levava as almas.

As vidas humanas eram tão passageiras, no final todas acabavam aqui.

Ao redor do rio vi espectros parados seu olhar atento sobre aqueles que atravessavam, percebi naquele momento que eram almas que estavam presas nas margens do estige, almas que não podiam pagar sua passagem.

Desviei minha atenção deles para o deus que me carregava contra minha vontade.

—  Me solte! — exclamei para ele.

—  A carruagem está bem ali. —  me pôs no chão e diante de mim havia uma enorme carruagem negra.

Os cavalos eram simplesmente assustadores, mais pareciam demônios do que cavalos.

Que mundo era esse tão o oposto do qual nasci e cresci?

—  Você está me sequestrando! —  protestei batendo o pé para não entrar.

—  Até onde sei eu salvei sua pureza. —  retrucou e seu olhar cinza desceu e de repente o vi enrubescer rapidamente virando de costas.

Olhei para baixo e o nó que eu havia feito estava caído revelando um terço dos meus seios.

Corei.

Que pesadelo, segurei o pano rasgado do vestido e o amarrei firmemente desta vez.

—  Pode se virar. — informei.

Hades se virou mas não me encarou nos olhos, em vez disso olhou para a carruagem.

Caminhou para ela se adentrando com rapidez.

Manteve a porta aberta e fez sinal para que eu entrasse.

—  Nem pensar! Não vou a lugar algum com você. — exclamei.

—  Você não vai poder voltar para o mundo dos vivos sem mim, você não vai achar o caminho de volta e não vai querer ficar vagando por ai sozinha, quer dizer vai saber as criaturas que você pode encontrar.— respondeu calmamente, sua voz repleta de manipulação.

Que maquiavélico!

Olhei ao redor vendo nada além de um rio muito longo, muitas rochas de um lado e um céu avermelhado e com lampejos do que parecia ser raios, também pensei ter visto o bater de asas escuras mas logo desviei os olhos certa de que eu não iria querer saber que tipo de criaturas eram aquelas.

Então sou sua prisioneira? —  perguntei.

Pode ir embora se quiser.. — respondeu petulante.

Senti ódio naquele momento, ele era um dos deuses que acabou com a tirania dos titãs dando início ao reinado dos deuses, devia se achar poderoso demais e com direito de sequestrar a deusa que quisesse, eu me recordava muito bem de Anfitrite, a nereida que foi alvo da paixão de Poseidon.

Ela recusou-se a casar com ele fugindo dele para as profundezas do oceano, mas Poseidon enlouquecido por amor causou grandes desastres nos mares até que Anfitrite cedeu ao casamento.

Eu nunca cederia.

Venha, em meu Palácio você poderá descansar. — me chamou Hades após se passar vários minutos que eu estava parada encarando a carruagem e seus olhar cinza me encararam de volta, sua mão se estendeu para que eu a segura-se.

Passei direto por ele entrando na carruagem, me acomodei o mais longe possível.

Eu me rendi por hora.

A porta se fechou e a carruagem se moveu, com um solavanco ela seguiu vôo e a visão que tive da janela me enojou.

Era um lugar escuro demais, com várias áreas em chamas e o que pareciam almas vagando.

Não é tão bonito como o Olimpo, mas não existe Ares nem Dioniso aqui, bem vinda ao meu reino. — pronunciou isso como se eu fosse ficar aqui, como se tivesse vindo por vontade própria e eu simplesmente cogitei a idéia de me jogar da carruagem mas era inútil, eu não era mortal e se fosse eu iria morrer e voltar para cá.

Posso me proteger deles, não sou nenhuma mortal indefesa. —  retruquei.

—  E também não é nenhuma Athena, deusa da sabedoria em batalha, não se bebe tanto quando é observada por vários deuses, ficou vulnerável e um alvo fácil. —  Me censurou como se tivesse algum direito de fazer isso.

—  Sou filha de Deméter deusa das flores, da agricultura e natureza, eu tinha tudo sobre controle. — exclamei irritada.

—  Ótimo, da próxima vez jogue um punhado de flores em seus agressores, aposto que Ares irá ficar muito machucado. —  menosprezou.

Maldito.

Miserável deus dos mortos, minha mãe estava certa sobre seu coração negro..

Nota da autora.

O mundo inferior, também chamado de Hades, é o reino dos mortos, seu governante é o deus Hades, era para onde as almas eram levadas, lá era decidido seu destino em um julgamento podendo ir para três lugares distintos, o Tártaro, os campos Elíseo ou o campo de Afósdelos.

O Tártaro era uma prisão onde os inimigos do Olimpo eram mandados, após a titanomaquia, a guerra contra os titãs, estes foram aprisionados no tártaro que é nas profundezas do reino de Hades.

Os campos Elíseo são o oposto do Tártaro, um paraíso onde só os dignos vão, ao lado do rio Lete, o rio do esquecimento, algumas pessoas passavam muitos anos lá bebendo do rio Lete e esquecendo de toda sua vida terrena, após isso algumas reencarnavam.

O campo de Afósdelos é destinado as almas que após o julgamento não foram consideradas nem boas nem más, que viveram uma vida irrelevante.


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