Hades assumiu um lugar ao lado de Poseidon, Zeus deu continuidade a cerimônia, toda a névoa gelada se dissipou e o salão voltou ao seu brilho do ouro e das flores.
— Ele não deveria estar aqui! — murmurou minha mãe ao meu lado.
— Ele é um deus como todos nós, tem o direito de estar aqui mãe. — retruquei.
Ela me encarou com seus olhos castanhos como se eu fosse uma tola por dizer tais coisas.— Seu coração é negro como o céu noturno Perséfone, não se engane! — exclamou para mim.
Dei de ombros, e não retruquei porque não queria continuar aquela conversa.— Então Afrodite cedeu as ordens de Zeus.— pronunciou Hermes para nós, nos desviando do assunto de Hades.
Zeus proferia suas palavras selando o casamento de Afrodite e Hefestos.
— Ela não tinha escolha alguma. — Ressaltou Apolo se juntando a nós.
Meu coração acelerou de novo.— Uma pena, uma jóia com tanta beleza dada assim a ele. — se lamentou Dioniso, com seu odre de vinho em mãos.
Zeus terminou suas palavras e selou o casamento dando início a festa.— Que comece a festa! Vamos beber! — Dioniso comemorou e seguiu atrás de um grupo de ninfas que soltavam risinhos para ele.
Minha mãe seguiu comigo para o meio da festa e no caminho paramos para conversar com Athena e Hestia, eu as ouvia conversar sobre a presença indesejável de Hades, este permanecia isolado apreciando as danças das ninfas em um canto ao lado de uma coluna.
Observei aquele homem cuja presença incomodava tanto os deuses, não olhavam diretamente para ele e nem se quer falavam com ele, sua aparência sombria o destacava dos demais deuses, seu olhar cinza percorreu todo o salão novamente como fizeram em sua entrada, repousaram em mim uma segunda vez.Um cinza tão profundo como as estrelas sobre o monte Olimpo pensei, não consegui desviar os olhos daquele cinza tão poderoso.— Ele não é tão ruim quanto pensam.— Hermes afirmou ao meu lado, sem perceber eu havia me afastado de Deméter e parado a uma curta distância de Hermes, alguma coisa naqueles olhos havia me distraído completamente, eu havia ficado submersa enquanto o olhava.
— O que está bebendo? — perguntei diante da taça dele.
— Experimente. — ele sugeriu erguendo a taça em minha direção.
Aceitei a taça e bebi o líquido, era doce, mas não um doce enjoativo era suave, e acabei por tomar tudo.
— É Bom . O que é? — perguntei.
— Hidromel. — Ares respondeu me entregando outra taça cheia.
Aceitei um pouco surpresa com sua presença repentina.— Não o vi se aproximar. — comentei.
Ele sorriu me fitando da cabeça aos pés e seu olhar se fixou em meu decote por um longo momento, eu começava a me arrepender de ter escolhido tal roupa para a ocasião.— Melhor eu levar você para sua mãe Perséfone. — Hermes sugeriu segurando meu braço delicadamente mas o modo como se posicionou entre mim e o outro deus era claramente protetor, a mão de Ares o interrompeu em seu ombro, e mesmo que não fosse o meu ombro que ele tocava eu pude ver a pressão que fez no ombro de Hermes, seus músculos rapidamente se retesaram em reação a Ares.
Eu também fiquei tensa prevendo o que poderia vir a seguir.— Deixe sua mãe se divertir Perséfone, vamos beber, hoje é um dia de comemoração, afinal o casamento de sua amiga.— anunciou Ares com naturalidade apesar de ainda pressionar o ombro de Hermes, seu olhar era soberbo.
— Vou beber com Hermes. — respondi do modo mais definitivo que pude.
Ares me encarou por um breve momento até retirar sua mão do ombro de Hermes.
— Você parece mais uma mortal tímida do que uma deusa.— retrucou com rispidez, o que eu já esperava.
— E você parece uma cadela no cio meu irmão. — rebateu Hermes intrépido.
Os olhos do deus da guerra antes claros se tornaram vermelhos como um incêndio, e eu não duvidava que dentro dele algo estava em chamas, seu temperamento explosivo estava prestes a vir á tona, porque com o deus da guerra não existia discussões, só guerra.
— O que disse?! — esbravejou Ares pegando em sua espada, Hermes mostrou os punhos mas antes que fizessem algo me coloquei entre os dois deuses que estavam prestes a romper a paz do casamento, e eu sabia que para Ares isso não significava nada, porque ele parecia só entender a guerra.
Então algo me ocorreu para apartar aquele embate quase inevitável.— Parem você tem razão Ares hoje é uma comemoração, vamos beber! — anunciei virando a taça de hidromel de uma só vez.
A falsidade em minha voz era nítida mas ele não pareceu se importar com isso.Segui para o salão sentindo a música que tocava, minha mente girava junto com as musas de Apolo que dançavam e vi que era muito fraca para bebidas.Senti uma enorme vontade de dançar com elas e me juntei as mesmas na dança envolvente.Olhei ao redor e vi Afrodite dançar quase nua, bebia de uma taça e era admirada por Hefestos que permanecia ao seu lado, bom pensei, ele cuidaria bem dela.
uma doce voz embalou minha mente me fazendo girar no salão com as musas uma voz iluminada, suave e melodiosa.A musa mais velha das nove musas de Apolo cantava nesse momento, ele tocava.Me deixei levar por aquela voz.Caliope era conhecida por ter a mais bela voz das musas e seu título era mais que merecido, fiquei profundamente embalada naquela voz.— Venha Perséfone vamos dançar mais! — me chamou Talia, a musa das festividades, como sempre animada.
E logo me senti embriagada com a voz, com as danças das musas e com o Hidromel que não paravam de me oferecer.
— Aqui Perséfone! — Dioniso me ofereceu outra taça de Hidromel e mais uma vez tomei em um só gole.
Era delicioso demais.Talia subiu em cima da mesa e dançou, Afrodite se juntou a ela.Fiquei no chão observando as duas dançarem eu sentia muita alegria naquele momento e de repente minha mente viajou para aqueles olhos cinza profundos.Onde estaria ele?Olhei ao redor o procurando sem sucesso.Não estava em lugar algum talvez tenha se cansado de ser encarado, continuei a dançar me perguntando como eu não havia provado Hidromel antes?Era incrível.Senti mãos me puxarem pela cintura e meu coração se aliviou quando virei e reconheci Hermes.Sorri para ele, um sorriso embriagado com certeza.— Hermes vamos dançar e beber! — gritei para ele em meio a música alta.
Me senti tonta e desequilibrada, Hermes me segurou em seus braços me erguendo do chão.— Você já bebeu demais. — o ouvi dizer e andar comigo para longe.
Fechei meus olhos enquanto era carregada por ele e senti uma brisa suave em meu rosto.Os abri e vi um bosque repleto de flores azuis.Hermes me colocou deitada sobre flores recostada a uma árvore, olhei para ele e fiquei assombrada com sua metamorfose.Aos poucos o rosto que eu conhecia e confiava se deu lugar a um rosto conhecido, porém não confiável.— Dioniso! — exclamei em choque.
— Sim, vamos beber em um lugar reservado Perséfone longe dos deuses. — anunciou ele malicioso.
— Você realmente a trouxe Dioniso. — uma voz tremendamente assustadora surgiu por entre as árvores e quando olhei na sua direção o deus da guerra saiu da penumbra, a luz da lua o iluminou e eu estremeci.
— Não! — esbravejei e tentei me levantar mas me sentia tonta e cai novamente sentada na árvore, eu me sentia frágil e desamparada, se eu gritasse alguém ouviria? Duvidava disso.
Talvez eu devesse lutar, refleti mas logo Isso pareceu idiota só Zeus poderia parar Ares agora.Era um pesadelo estar sozinha com esses deuses pervertidos, não podia acreditar no que estava acontecendo comigo.
— Pare de agir como uma criança Perséfone, só vamos beber, nós três. — exclamou Dioniso.
Há sei! Nem ele mesmo acreditava nisso porque logo caiu na gargalhada.— Não ousem se aproximar de mim nenhum dos dois! — os adverti.
— O que tem de bela, tem de chata. — exclamou Ares. Que audácia a dele, mas não tive chance de retrucar porque ele
em seguida avançou contra mim.Rasgou minhas vestes com violência enquanto eu me debatia e gritava, tentei empurra-lo em vão, era extremamente forte para mim, era como empurrar uma rocha!
Não!
Não poderia acontecer assim, não..Era tudo que eu pensava naquele momento e me perguntei se Hermes se estivesse aqui me protegeria, senti as lágrimas descerem quentes e salgadas, então resolvi lutar com mais afinco, lutei em vão porque ele era forte demais e quando eu estava completamente dominada por ele, sem nenhuma resistência olhei para o bosque, para as árvores, se aquilo tinha que acontecer eu não guardaria nenhuma lembrança de seu rosto, foi nesse momento que vi o bosque ser coberto por uma névoa negra e densa.O frio se instalou e eu senti uma inexplicável esperança.Em um segundo Ares foi arremessado para longe batendo de encontro a uma enorme árvore, o tronco se quebrou quando ele se chocou com ela, coitada da pobre árvore foi o que eu pensei.Dioniso desapareceu pela floresta antes mesmo de Ares se chocar contra a árvore.Quanta bravura!Então virei minha atenção para a figura sombria diante de mim, Hades me fitava com seus olhos cinzas com ódio, mas o ódio não era dirigido a mim, e sim a Ares, ele pecorreu rapidamente o olhar por minhas vestes destruídas e eu me encolhi tentando me preservar de algum jeito.
Ele se virou para Ares que se levantou após se recuperar do choque inicial.— Volte para o seu inferno Hades, isso não tem a ver com você, este não é seu reino! — vociferou Ares.
Hades permaneceu com sua expressão impassível.Com seu garfo tocou o solo duas vezes, de repente o chão embaixo de mim se desfez..literalmente ele se desfez!Eu fui caindo no vazio, sendo totalmente tragada para a escuridão.
Nota da autora.
Dioniso é o deus do vinho, das festas, das loucuras, filho de Sêmele e Zeus viveu por anos como um semideus até se tornar um deus vivendo no Olimpo.Hidromel é conhecida como a bebida dos deuses.
Se gostou por favor comente que me incentiva a continuar.
Lembrando que é baseada no mito, mas com minha visão sobre ele, então irei acrescentar ou retirar coisas.Obrigada por ler.Não podia acreditar no que estava acontecendo eu estava caindo em direção ao mundo inferior.Não caindo, mas descendo flutuando em direção a ele.Tudo era escuridão ao meu redor, exceto por um ponto de luz que vinha ao meu lado, concentrei minha visão tentando identificar o que era aquele ponto de luz e depois de alguns instantes consegui entender que era o elmo das trevas brilhando.O elmo de Hades, seus olhos estavam brilhando um cinza quase estrelado sobre a luz do elmo.— MALDITO! — exclamei para ele.Ele se limitou a assentir com a cabeça em concordância.Estava me sentindo cansada demais, segurei os panos rasgados de minhas vestes o amarrando rapidamente e de modo um pouco superficial, era difícil fazer algo quando não se tinha o controle do próprio corpo que parecia descer por um abismo sem fim.De repente meus pés tocaram uma superfície arenosa.Uma areia negra e densa.A escuridão se dissipou e olhei ao
Encarei aqueles olhos cinza enquanto ele observava pela janela o cenário do mundo inferior.Era tão quente aqui, se eu não fosse uma divindade estaria suando muito.Essa era nossa diferença dos frágeis mortais, sentíamos tudo mas não nos afetavam como a eles.Envelheciamos na idade e no intelecto, mas o corpo permanecia igual, eternamente jovem.Olhei para o horizonte, aqui era um reino obscuro demais, eu não via lua nem sol, acima era tudo névoa negra sobre nós, e no solo almas enfileiradasdiante de seres horríveis, mais a frente vi um lugar iluminado..Campos verdes, um rio que brilhava corria pelo lugar, árvores enormes se erguiam e vi grandes heróis sorrindo nesses campos.Os campos de Elíseo para onde iam as almas dos heróis, e de almas boas.Nunca achei que veria isso.Suspirei diante de tanta beleza, existia beleza até mesmo aqui.— Nem tudo aqui é trevas. — Sussurrou Hades me observando.—
O castelo não era quente como lá fora, o ar não era dos melhores mas tentei me acostumar, não tinha idéia de quanto tempo permaneceria aqui.Queria muito ter tido mais tempo com Hermes, era meu melhor amigo desde sempre.Pensei em minha mãe nesse exato momento desesperada sentindo minha falta..— É aqui senhora. — anunciou Alexandra.Estava para em frente uma porta de madeira escura, segurei a maçaneta e girei.O quarto era gigante, o chão de madeira brilhava, no teto um lustre iluminando tudo..ao centro uma cama de tamanho impressionante com dossel, as cobertas eram azul marinho, lembrava o céu a noite porque havia estrelas bordadas..era lindo.Havia também uma lareira que estava acesa, apesar do calor lá fora, aqui dentro a temperatura era muito agradável e a lareira me fez me lembrar de casa..havia também um pequeno sofá, closet, uma estante com diversos livros, tudo que eu pudesse precisar
Uma profecia..Dei alguns passos para trás diante da revelação de Hades, ele me observava imóvel.— Nessa profecia eu serei sua esposa?- perguntei minha voz falhando.Ele assentiu mas rapidamente acrescentou.— Mas você não está aqui para se casar comigo, e sim para se proteger de Ares, eu nunca obrigaria você a um casamento.— Mas está me mantendo prisioneira aqui. — ressaltei reencontrando minha voz novamente.Hades deu alguns passos em minha direção.— Você é priosioneira de sua própria fragilidade. — retrucou na defensiva.Analisei suas palavras com cuidado e uma idéia me ocorreu.— Então o único motivo de eu me encontrar nesta situação é minha fragilidade e fraqueza..fácil de resolver, me ensine a lutar.Hades franz
O monte Olimpo estava movimentado com festas, comemorações, afinal o deus da guerrasecasaria..Não importava o quanto eu contasse a verdade ninguém acreditava, estavam tão convencidos da maldade e trevas que acusavam Hades de ter, que ignoravam a própria..A maldita Hera havia conseguido proteger o filho..no fundo eu desejava que Zeus se apaixona-se novamente por outra.. deste modo ele não era tão dominado por ela..Eu não saía do meu quarto já fazia uns dias, não tinha interesse em comemorações, não queria ver futuros possíveis vestidos de casamento, e além de tudo não queria olhar paraAres..Aquele ser vil, monstruoso, mentiroso..Ouvi batidas na porta, desejei que não fosse Deméter tentando me convencer a sair para o jardim.— Pode entrar. — exclamei.Era Apolo na porta, meu coração pulou ao vê-lo.Apolo havia tido a visão sobre mim.— Apolo? — me levantei da cama o encarando na porta.— Perséfo
— O que você precisa Perséfone é fugir para o mundo inferior e ficar lá até podermos convencer Zeus ou que Ares se canse de esperar. — sugeriu Hermes.— Não tem jeito de escapar para o mundo inferior, Hecate a pedido de Hera fez uma proteção para o Olimpo para Hades não entrar, e para Perséfone não sair até o dia de seu casamento.- Apolo pronunciou.— Se ela agir naturalmente como se finalmente estivesse voltando a si, não ficaria tão vigiada.- Hermes sugeriu.— Não iria adiantar. Ares iria desconfiar.- Afirmei.— O que precisamos é acabar com essa aliança dessas deusas. Hera, Athena e Afrodite, trazer discórdia entre elas, e seria uma distração suficiente para você fugir Perséfone.- Hermes queria chegar a algum lugar…eu estava começando a entender.— Precisamos de Éris.- anunciei.— A filha desprezada de Zeus e Hera?- Apolo perguntou confuso.— Não só a filha desprezada, mas a deusa da discórdia meu irmão.- Hermes sorria de modo diab
Os deuses fiaram a ruína dos homens, para que poemas fossem gerados à posteridade.HomeroAs deusas do salão se entreolharam ao pronunciarem as mesmas palavras.O ar do Olimpo parecia diferente.Era um ar pesado, irritante.Hermes!Havia conseguido a ajuda de Éris!Meu coração estava pulando no peito de êxtase.— Esta maçã de ouro pertence a mais bela do Olimpo, ou seja, eu a rainha!- esbravejou Hera.— Na inscrição diz mais bela, não a rainha do Olimpo, portanto me Pertence!- retrucou Afrodite.Hera a olhou furiosa.— Você não poderia estar mais errada Afrodite, ser a deusa da promiscuidade não faz de você a mais bela. Na verdade, nem bela você é, portanto, me pertence.- Athena exclamou diante de todos.— Nenhuma de vocês merece este presente, eu sou a mais bela.- Ênio a deusa conhecida como destruidora de cidades entrou na briga.Ênio é filha de Hera e Zeus.Hera a olhou com ódio aparente.— Vocês só podem es
Desta vez eu não senti ódio de Hades, enquanto ele me envolvia em seus braços, ao nosso redor a névoa negra nos encobria e tudo ao redor ia se esvaindo.Ou melhor, nós estávamos nos esvaindo.Tudo ficou escuro, só sentia os braços de Hades ao meu redor me confirmando que não estava sozinha, então meus pés novamente tocaram aquela superfície arenosa.Tudo ao redor se formou aos meus olhos, estávamos a beira do rio Estige.— Vamos para a carruagem.- Hades sugeriu e eu me desvencilhei dele.A carruagem estava no mesmo lugar de antes, mas os cavalos não me pareciam mais tão assustadores agora.Entrei nela me acomodando ao lado da janela, Hades se sentou ao meu lado, nós permanecemos em silêncio durante o caminho.— Você não descobriu a utilidade deste anel ainda não é? — Hades questionou ao chegarmos na ampla sala do castelo.— Pensei ser só uma joia.- respondi.— Uma joia do submundo, mais especificamente dos meus portões, e eu sei que voc