— Instintivamente, virei o rosto.No mesmo instante, Geo também levantou o olhar.Mesmo através do vidro do carro, parecia que ele podia me ver claramente.Meu coração foi perfurado como se uma lâmina fria o tivesse atravessado.Mas seu olhar na minha direção não durou muito. Mirela Furtado logo o interrompeu e, mesmo com a janela fechada, pude ouvir sua voz:— Geo, vamos entrar?Ele desviou o olhar, deu um passo à frente e seguiu Mirela para dentro.Naquele instante, um impulso inesperado tomou conta de mim, e antes que percebesse, já havia puxado a maçaneta do carro.Quando meus pés tocaram o chão, Renan Torre Sérgio também desceu do carro ao meu lado. Ele me observou e perguntou com um leve sorriso:— Quer ir lá cumprimentá-lo?Sim.Eu queria ver se ele teria vergonha ao me ver com outra mulher.Se lembraria das promessas que me fez?Isso não era sobre ainda estar presa ao passado, mas sim sobre querer saber: ele sentiria culpa?— Geo.— Renan chamou, sem precisar que eu respondesse.
— Então falamos depois do jogo. — Renan respondeu com seu típico tom de brincadeira.Já percebi que, para ele, tudo é um jogo. Não importa quem esteja do outro lado, ele sempre gosta de provocar.— Vamos encontrar um lugar para sentar. — Disse ele, me guiando pelo local.Assim que nos acomodamos, Geo entrou na arena ao lado de Mirela Furtado.Não estávamos exatamente ao lado deles, mas sim na fileira de trás.E, para completar, Sebastião Martins estava junto.Então foi ele quem organizou os assentos?Pensei nos ingressos que tinha separado para Benedita e Vinicius, mas até agora, eles ainda não tinham aparecido.Comecei a ficar preocupada.Mas meu celular estava quebrado, então eu não tinha como entrar em contato com Benedita.O mais lógico seria pedir para Geo ligar para ela, mas eu não queria dar esse gostinho.Por sorte, eu lembrava o número de Benedita de cabeça. Decidi sair para procurar um celular emprestado.— Carolina. — Ouvi uma voz me chamando assim que saí do salão.Virei-me
— Ódio? Sim.Mas o ressentimento era ainda maior.Só que meus sentimentos, sejam eles de amor ou de rancor, não tinham nada a ver com essa mulher.Ela me abordou por um motivo óbvio: insegurança.Talvez estivesse com medo de que eu ainda pudesse ser um problema entre ela e Geo.Virei-me para ela com um sorriso leve.— Srta. Furtado, nós não somos próximas. Quem eu amo ou odeio não é da sua conta. Mas, se você está tão curiosa, pode perguntar ao próprio Geo. Ele deve saber melhor do que ninguém.— Ah, ele sabe. — Ela disse com naturalidade. — Mas eu ainda não sei.Mirela continuou me pressionando.Observei aquela mulher de personalidade forte e confiante.— Você está com medo, não é?Meus lábios se curvaram em um sorriso frio.— Medo de que eu ainda possa ter algo com ele. Mas não se preocupe. O Geo de hoje… pode se ajoelhar na minha frente e implorar. Eu não perderia nem um segundo olhando para ele.Mirela riu, mas em seu sorriso havia algo de desdém.— Que frieza, Srta. Pinto.Puxei u
— O riso de Renan ecoou alto, chamando a atenção de todos ao redor.E, claro, como eu estava ao lado dele, os olhares também recaíram sobre mim.Até Mirela, sentada à nossa frente, virou-se para trás.Fiquei instantaneamente envergonhada, meu rosto pegando fogo. Irritada, bati no braço de Renan.— Para de rir!— Ah...Ele puxou o ar entre os dentes, protegendo o braço atingido.Foi então que lembrei da lesão… aquela que Geo havia deixado nele.Homens têm orgulho. E Renan, sendo quem é, nunca deixaria uma ofensa dessas passar em branco.Respirei fundo.— Geo está aqui hoje. — Comecei, hesitante. — Você vai se vingar?Renan fixou o olhar em Geo, sentado logo à frente.— Se ele ficar na dele, posso esperar mais um pouco.Meu coração deu um salto.— O que quer dizer com isso?Renan sorriu, sem pressa.— Quer dizer que, se ele não tentar te tirar daqui, eu deixo ele ir embora sem problemas.Meus dedos se apertaram sobre o sorvete que segurava.Geo queria me tirar daqui?Então… era sobre iss
— Nunca confie em um lobo para pastar como uma ovelha.Sebastião já havia me avisado que Renan queria que Pedro vencesse essa partida. Agora, só restava torcer para que ele realmente ganhasse e saísse daqui em segurança.A partida começou.Pedro entrou no salão.De imediato, seu olhar foi para a primeira fila. Era óbvio que ele e Geo trocaram olhares, e Sebastião também. Depois, ele varreu as arquibancadas, como se procurasse alguém.Seus olhos finalmente encontraram os meus.Sua expressão mudou no mesmo instante, a sobrancelha franzindo.E então, ao lado, Renan levantou a mão e acenou para ele.Era um lembrete.Uma ameaça.— Viu isso? — Renan se inclinou para o meu ouvido, sua voz cheia de diversão. — Ele ficou nervoso.— Se ele está nervoso, pode acabar perdendo a partida. — Retruquei, séria.— Errado. Você não entende a natureza humana.Renan balançou a cabeça como se estivesse explicando algo óbvio.— Você sabe quando um lobo fica mais excitado? Quando sente o cheiro de sangue. Os
—O público nas arquibancadas gritou — não dava para saber se de susto ou de empolgação.A cena era algo que eu definitivamente não esperava.Enquanto eu ainda estava chocada, de repente, a bola foi pega por alguém no meio da multidão. O sortudo começou a gritar, eufórico:— Cinco! Cinco! O número cinco é meu!Ele gritava enquanto beijava a bola, até subiu na cadeira de tanto entusiasmo.Se ele estava feliz, o resto do público estava furioso.— Queremos reembolso!— Reembolso!Os gritos ecoavam pelo ginásio, e não demorou para que as vaias se voltassem contra Pedro.Para eles, isso não era apenas um erro técnico.Era dinheiro perdido.Cerca de dois terços das pessoas ali haviam apostado no jogo. Todos tinham absoluta certeza da vitória de Pedro e colocaram suas fichas nele. Mas agora, com essa jogada desastrosa, isso significava que tinham perdido tudo.Meu choque inicial logo se transformou em clareza.Pedro não teria cometido esse erro sem intenção.Isso só podia significar uma coisa:
— Eu fiquei surpresa.Mas antes que eu pudesse falar mais alguma coisa com Pedro, de repente, alguém na plateia gritou:— Vocês sempre colocam seus próprios jogadores! Isso com certeza está armado! Que tal eu subir para competir? Se ela conseguir me vencer, então não vamos mais questionar o erro de antes!Segui a voz e olhei para trás.Quem havia falado era Mirela, e ao lado dela, George permanecia sentado, calmo como sempre, olhando para mim com um olhar profundo e indecifrável.É claro que essa mulher não era qualquer uma.Se ela teve coragem de se oferecer para um desafio desses, só podia significar que era realmente boa no jogo.A plateia logo se inflamou:— Deixa ela jogar!— Deixa ela jogar!O público clamava em uníssono, exigindo que Mirela participasse.O apresentador hesitou e olhou para Renan, que, para minha surpresa, assentiu levemente com a cabeça.O sinal foi dado.— Está decidido! A senhorita Mirela Furtado participará da rodada!Ela subiu no palco e caminhou até mim com
— Toc! Toc!...A cada bola que caía na caçapa com precisão, os gritos de empolgação da plateia ficavam mais intensos.Parecia que estavam impressionados com minha performance.E eu sentia minha confiança crescer a cada tacada, especialmente porque George estava ali.No fundo da minha mente, uma voz gritava:— Carolina, mostre a ele um lado seu que ele nunca conheceu.Passei tanto tempo ao lado dele, mas ele nunca soube que eu jogava sinuca.Eu nunca havia mostrado isso porque foi Tião quem me ensinou.Temia que George ficasse desconfortável ao saber.Mas agora, ironicamente, eu estava demonstrando minha habilidade diante dele...Toc!Mais uma jogada certeira. A bola girou, girou… e, no último segundo, parou.Era como se tivesse sido puxada para trás por alguma força invisível.Eu não consegui limpar a mesa nessa jogada.Agora era a vez de Mirela.A multidão voltou a gritar, animada com a disputa.O mais estranho era que nem eu nem Mirela éramos jogadoras profissionais, e, mesmo assim,