Nesses poucos dias no Hospital Psiquiátrico Municipal, Rafaela experimentou na pele o verdadeiro significado de algo pior que a morte.Todos os dias, eles a submetiam a choques elétricos e torturas de todo tipo. Até mesmo para dormir, trancavam Rafaela no banheiro.Ela quase acreditou que seria morta naquela prisão de sofrimento, mas, por sorte, Enrico veio para resgatá-la.No entanto, as sombras daqueles dias a consumiram completamente, distorcendo seu coração. Rafaela estava imersa em uma raiva profunda e irreversível.— Foi tudo culpa de Joaquim e Natacha! É tudo culpa deles! Joaquim foi cruel demais... Todos esses anos juntos, e ele ainda assim me tratou com tanta maldade. Pois bem, se é assim, vamos todos morrer juntos! — Gritou Rafaela, a voz carregada de ódio.Quando Enrico a trouxe de volta, por acaso, ela passou pela sala onde Gabriel estava bebendo. Rafaela o viu de relance e imediatamente compreendeu: provavelmente Natacha havia voltado para os braços de Joaquim, e Gabriel,
Joaquim pegou Otília e Adriano, e, a pedido insistente dos dois, decidiu ir ao hospital para buscar Natacha. No entanto, antes mesmo de chegar, avistou de longe uma ambulância se aproximando.Na entrada do hospital, já havia vários profissionais de saúde reunidos, e Joaquim viu quando a porta da ambulância se abriu, revelando duas macas sendo retiradas.Ao olhar para elas, algo o fez congelar no mesmo instante.— Aquela... E Natacha! E o outro, todo ensanguentado... Seria Gabriel?Seu coração acelerou tanto que ele quase podia ouvi-lo martelar em seu peito.Imediatamente, Joaquim se virou em direção ao carro, lutando para controlar a ansiedade que o dominava, e disse aos filhos:— Adriano, você e sua irmã esperem no carro, está bem? Papai vai ver se a mamãe ainda está trabalhando.— Tudo bem — Responderam Otília e Adriano em uníssono, comportados.Depois de instruir os filhos, Joaquim correu em direção ao hospital.Dentro da sala de emergência, o caos reinava enquanto médicos e enferme
O médico terminou de falar e voltou apressado para a sala de emergência. Joaquim correu atrás dele e, com seriedade, disse:— Por favor, vocês têm que salvar o Gabriel. Façam o possível!Por alguma razão, naquele momento, Joaquim desejava com todo o coração que Gabriel sobrevivesse.O médico concordou com a cabeça e respondeu:— Não se preocupe, faremos o nosso melhor....O céu foi, aos poucos, escurecendo.Na cama, Natacha, ainda inconsciente, começou a dar sinais de movimento.— Não! Dr. Gabriel, Dr. Gabriel! — Natacha gritou de repente, se sentando bruscamente na cama.Joaquim tinha ido mais cedo ao pronto-socorro para verificar o estado de Gabriel. Agora, ao retornar, ele viu que Natacha havia acordado.Se aproximando rapidamente, Joaquim perguntou, preocupado:— Você acordou? Está sentindo algum desconforto?Por um breve momento, os olhos negros de Natacha pareceram perdidos, mas logo ela disse:— Eu me lembrei... Eu me lembrei de tudo do passado! — Então, com um sorriso vazio e
Natacha olhava para tudo aquilo em estado de choque, como se já tivesse perdido a alma, restando apenas uma casca vazia e sem reação.— Tudo isso é por sua causa! — Lorena de repente avançou sobre Natacha e deu a um tapa com força nela. Gritando, Lorena continuou. — Por quê? Natacha, me diga, o que a nossa família Nunes te deve? Meu irmão te amava tanto, como você pode fazer isso com ele? Você merecia morrer! Quem deveria ter morrido era você, não ele!Natacha permaneceu imóvel, sem oferecer resistência às bofetadas e aos insultos de Lorena.As lágrimas de Natacha caíam uma a uma no chão, como pérolas de um colar arrebentado, enquanto um sorriso amargo aparecia em seus lábios.Falando consigo mesma, Natacha murmurou:— Eu também fico pensando... Por que não fui eu quem morreu?— Então morra, vá morrer agora junto com meu irmão! — Lorena a empurrou em direção à cama de Gabriel, jogando Natacha ao lado do leito.Natacha sequer ousava levantar o lençol branco que cobria o corpo. Com a voz
Joaquim ouvia os soluços abafados vindos do quarto, e cada som parecia perfurar seu coração. Ele pegou o celular e ligou para Xavier, dando instruções em um tom baixo:— Nos próximos dias, mande alguns homens para a família Nunes. Se eles precisarem de ajuda em qualquer coisa, ofereça assistência. E, sobre Rafaela, tem alguma novidade?Xavier, ofegante do outro lado da linha, respondeu:— Estou no Clube Nuvem agora. As últimas imagens de segurança mostram que Rafaela foi levada para cá. Estamos negociando com eles e já chamamos a polícia.Os olhos de Joaquim se encheram de uma fúria contida. Com uma voz fria, ele ordenou:— Encontre essa mulher! E o dono do carro que atropelou Natacha, já o localizaram?Xavier suspirou pesadamente:— Parece que esse homem já está acostumado a fazer esse tipo de coisa. Após o incidente, as câmeras mostraram que ele foi para o porto... Provavelmente, já fugiu.A raiva tomou conta de Joaquim, que apertou o celular com força. Quantos segredos mais Rafaela
Natacha se lembrava de ter lido, há muito tempo, em um livro a frase: "As mulheres se lembram do homem que as fez sorrir, e os homens se lembram da mulher que os fez chorar; mas, no fim, é comum que as mulheres fiquem ao lado do homem que as fez chorar, enquanto os homens permanecem com a mulher que os fez sorrir."Na época, Natacha nem havia terminado o ensino médio, e com desprezo refletia sobre essas palavras, jamais imaginando que um dia se tornaria a pessoa descrita no livro."Mas, no final, o homem que me fez sorrir... Morreu. E tudo isso, é culpa minha!"Natacha ainda não conseguia se perdoar. Parecia que apenas ao se privar de comer, beber ou dormir, seu coração poderia se sentir um pouco mais aliviado.Joaquim também não dormiu. Ele olhava preocupado para o quarto onde Natacha estava. Se continuasse assim, o corpo de Natacha acabaria sucumbindo.Ao amanhecer, Xavier chegou.Exausto, ele disse:— Sr. Joaquim, a polícia foi até o Clube Nuvem conosco, mas passamos a noite toda pr
Natacha não demonstrou qualquer emoção. Ela sequer hesitou diante das crianças, perguntando diretamente a Joaquim:— Foi a Rafaela que fez isso, não foi? Joaquim, se não fosse por você manter aquela mulher ao seu lado, se não fosse por você, hoje o Dr. Gabriel não estaria morto! Foi você! Foi a Rafaela! Fomos nós que causamos a morte do Dr. Gabriel!Joaquim ficou chocado, olhando para Natacha, mas não conseguiu rebater suas palavras.Ao ver o estado quase insano de Natacha, Otília começou a chorar de medo, e Adriano logo a acompanhou, chorando também:— Mamãe, o que aconteceu com você? Não nos assuste assim! Não nos abandone, mamãe!— Saiam! Não me chamem mais de mamãe! — Os olhos de Natacha estavam cheios de ódio enquanto ela apontava para a porta. — Joaquim, leve seus filhos e vá embora. Nunca mais apareçam diante de mim!Joaquim não conseguia acreditar que Natacha estava tão devastada a ponto de rejeitar seus próprios filhos!Antigamente, Natacha os amava tanto. E agora, ela estava
Joaquim finalmente suspirou aliviado, vendo que Natacha havia comido mais da metade da refeição, e então concordou em levá-la ao cemitério. Era a primeira vez em dias que Natacha se arrumava. Ela vestia um casaco preto, que a fazia parecer ainda mais pálida e frágil. O clima lá fora estava sombrio, como se o céu soubesse que dia era aquele e colaborasse, tornando tudo ao redor profundo e cinzento. Joaquim dirigiu até o cemitério. No gramado verde, estava reunida toda a família Nunes, junto com amigos e colegas de trabalho de Gabriel. Somente Natacha permaneceu afastada. Ela não ousava se aproximar deles, temendo estragar aquele cenário formal. Foi apenas quando a família Nunes terminou as homenagens e todos já tinham ido embora, que Natacha deu um passo em direção à lápide, caminhando lentamente. Joaquim não a seguiu. Ele se conteve, ficando onde estava, pois sabia que aquilo tinha começado por sua causa, e ele não tinha coragem de encarar Gabriel. Natacha se ajoelhou diante da