O olhar de Natacha finalmente perdeu aquele gelo de momentos atrás. Seu coração estava em conflito, e ela evitava encarar os olhos de Joaquim. No fim, apenas murmurou:— Obrigada.Joaquim suspirou e disse:— Vamos dormir. Vamos realizar o desejo de Otília e Adriano, deixá-los dormir entre o papai e a mamãe. Afinal, amanhã você vai levá-los embora. Então, realize meu desejo também, pode ser?As palavras de Joaquim fizeram o coração de Natacha apertar de leve, trazendo uma pontada de dor. Por algum motivo, ela sentiu uma vaga culpa e remorso.Sem forças para recusar, Natacha aceitou a sugestão e voltou para a cama, se deitando ao lado de Otília. Joaquim apagou as luzes, e no vasto quarto, só restava o som suave das respirações dos quatro.Com os olhos fechados, Natacha relembrava tudo o que havia acontecido ao longo daquele dia. Tudo o que Joaquim havia feito pelos filhos estava gravado em sua mente. A verdade é que, no fundo, Natacha estava comovida."Mas Gabriel não fez menos por nós.
Joaquim sentia uma enorme satisfação. Dizem que as filhas são o aconchego dos pais, e parecia que essa frase não poderia ser mais verdadeira. Ele desejava que momentos como aquele parassem no tempo, que aquela sensação durasse para sempre. Porém, infelizmente, o tempo nunca parava por causa do apego de alguém.Assim como agora, quando chegou a hora de levar as crianças para a escola. Joaquim e Natacha acompanharam os dois filhos até o portão. No caminho, Otília, cheia de alegria, disse:— Papai, você pode nos buscar depois da escola? E então, a gente vai buscar a mamãe no trabalho de novo, igual ontem, tá bom?Joaquim ficou levemente surpreso e trocou um olhar com Natacha. Afinal, na noite anterior, ele já havia concordado em devolver as crianças para ela. Joaquim sabia que Natacha não queria que os filhos fossem à Antiga Mansão da família Camargo.Ao ver o olhar ansioso de Otília, uma leve dor surgiu no coração de Joaquim. Mas, para não decepcioná-la, ele fingiu que nada tinha aconte
— Você ainda tem a coragem de me perguntar? — Lorena disse furiosa. — O que você fez ontem? Já se esqueceu tão rápido? Meu irmão sempre foi tão bom para você, como pôde ter o coração de enganá-lo junto com o seu ex-marido? Isso é cruel demais!O coração de Natacha disparou de tensão. Será que Lorena havia entendido algo errado?Ela tentou se explicar de imediato:— Não é nada do que você está pensando. Não aconteceu nada entre mim e Joaquim. O que aconteceu com o seu irmão? Me diga onde ele está, e eu vou falar com ele para esclarecer tudo.— Não precisa, ele não quer te ver. — Lorena respondeu, ainda furiosa. — Por favor, pare de incomodar o meu irmão. Não se aproveite da bondade e da integridade dele para machucá-lo repetidamente! Nossa família não pode lidar com você!Depois de dizer isso, Lorena se virou e foi embora, deixando Natacha sozinha, encarando sua silhueta cheia de indignação.Natacha entrou em pânico. Gabriel com certeza tinha visto ela e Joaquim juntos e, por isso, inte
Nesses poucos dias no Hospital Psiquiátrico Municipal, Rafaela experimentou na pele o verdadeiro significado de algo pior que a morte.Todos os dias, eles a submetiam a choques elétricos e torturas de todo tipo. Até mesmo para dormir, trancavam Rafaela no banheiro.Ela quase acreditou que seria morta naquela prisão de sofrimento, mas, por sorte, Enrico veio para resgatá-la.No entanto, as sombras daqueles dias a consumiram completamente, distorcendo seu coração. Rafaela estava imersa em uma raiva profunda e irreversível.— Foi tudo culpa de Joaquim e Natacha! É tudo culpa deles! Joaquim foi cruel demais... Todos esses anos juntos, e ele ainda assim me tratou com tanta maldade. Pois bem, se é assim, vamos todos morrer juntos! — Gritou Rafaela, a voz carregada de ódio.Quando Enrico a trouxe de volta, por acaso, ela passou pela sala onde Gabriel estava bebendo. Rafaela o viu de relance e imediatamente compreendeu: provavelmente Natacha havia voltado para os braços de Joaquim, e Gabriel,
Joaquim pegou Otília e Adriano, e, a pedido insistente dos dois, decidiu ir ao hospital para buscar Natacha. No entanto, antes mesmo de chegar, avistou de longe uma ambulância se aproximando.Na entrada do hospital, já havia vários profissionais de saúde reunidos, e Joaquim viu quando a porta da ambulância se abriu, revelando duas macas sendo retiradas.Ao olhar para elas, algo o fez congelar no mesmo instante.— Aquela... E Natacha! E o outro, todo ensanguentado... Seria Gabriel?Seu coração acelerou tanto que ele quase podia ouvi-lo martelar em seu peito.Imediatamente, Joaquim se virou em direção ao carro, lutando para controlar a ansiedade que o dominava, e disse aos filhos:— Adriano, você e sua irmã esperem no carro, está bem? Papai vai ver se a mamãe ainda está trabalhando.— Tudo bem — Responderam Otília e Adriano em uníssono, comportados.Depois de instruir os filhos, Joaquim correu em direção ao hospital.Dentro da sala de emergência, o caos reinava enquanto médicos e enferme
O médico terminou de falar e voltou apressado para a sala de emergência. Joaquim correu atrás dele e, com seriedade, disse:— Por favor, vocês têm que salvar o Gabriel. Façam o possível!Por alguma razão, naquele momento, Joaquim desejava com todo o coração que Gabriel sobrevivesse.O médico concordou com a cabeça e respondeu:— Não se preocupe, faremos o nosso melhor....O céu foi, aos poucos, escurecendo.Na cama, Natacha, ainda inconsciente, começou a dar sinais de movimento.— Não! Dr. Gabriel, Dr. Gabriel! — Natacha gritou de repente, se sentando bruscamente na cama.Joaquim tinha ido mais cedo ao pronto-socorro para verificar o estado de Gabriel. Agora, ao retornar, ele viu que Natacha havia acordado.Se aproximando rapidamente, Joaquim perguntou, preocupado:— Você acordou? Está sentindo algum desconforto?Por um breve momento, os olhos negros de Natacha pareceram perdidos, mas logo ela disse:— Eu me lembrei... Eu me lembrei de tudo do passado! — Então, com um sorriso vazio e
Natacha olhava para tudo aquilo em estado de choque, como se já tivesse perdido a alma, restando apenas uma casca vazia e sem reação.— Tudo isso é por sua causa! — Lorena de repente avançou sobre Natacha e deu a um tapa com força nela. Gritando, Lorena continuou. — Por quê? Natacha, me diga, o que a nossa família Nunes te deve? Meu irmão te amava tanto, como você pode fazer isso com ele? Você merecia morrer! Quem deveria ter morrido era você, não ele!Natacha permaneceu imóvel, sem oferecer resistência às bofetadas e aos insultos de Lorena.As lágrimas de Natacha caíam uma a uma no chão, como pérolas de um colar arrebentado, enquanto um sorriso amargo aparecia em seus lábios.Falando consigo mesma, Natacha murmurou:— Eu também fico pensando... Por que não fui eu quem morreu?— Então morra, vá morrer agora junto com meu irmão! — Lorena a empurrou em direção à cama de Gabriel, jogando Natacha ao lado do leito.Natacha sequer ousava levantar o lençol branco que cobria o corpo. Com a voz
Joaquim ouvia os soluços abafados vindos do quarto, e cada som parecia perfurar seu coração. Ele pegou o celular e ligou para Xavier, dando instruções em um tom baixo:— Nos próximos dias, mande alguns homens para a família Nunes. Se eles precisarem de ajuda em qualquer coisa, ofereça assistência. E, sobre Rafaela, tem alguma novidade?Xavier, ofegante do outro lado da linha, respondeu:— Estou no Clube Nuvem agora. As últimas imagens de segurança mostram que Rafaela foi levada para cá. Estamos negociando com eles e já chamamos a polícia.Os olhos de Joaquim se encheram de uma fúria contida. Com uma voz fria, ele ordenou:— Encontre essa mulher! E o dono do carro que atropelou Natacha, já o localizaram?Xavier suspirou pesadamente:— Parece que esse homem já está acostumado a fazer esse tipo de coisa. Após o incidente, as câmeras mostraram que ele foi para o porto... Provavelmente, já fugiu.A raiva tomou conta de Joaquim, que apertou o celular com força. Quantos segredos mais Rafaela