Ao ouvir a proposta de jogar e que os perdedores deveriam tirar uma peça de roupa, o rosto de Rosana mudou completamente. Ela olhou imediatamente para Manuel, com um misto de incredulidade e desconforto. “Será que é sempre assim quando Reginaldo vem encontrar Manuel? Tão... Desinibido?” O pensamento de que, se ela não estivesse ali, poderia haver outra mulher nos braços de Manuel a deixou profundamente incomodada. Reginaldo, por sua vez, insistiu animado: — Manuel, vamos jogar algumas rodadas antes de comer. Não venho para a Cidade M com frequência, hoje você tem que se divertir comigo! Com isso, as duas mulheres ao lado de Reginaldo pegaram um jogo de dados e o colocaram na mesa. Com um sorriso insinuante, uma delas disse: — Vamos apostar nos pontos, Sr. Reginaldo. Se você perder, nós tiramos algo... E se for o Sr. Manuel... Antes que pudessem terminar a frase, Manuel interrompeu firmemente: — Rosana não sabe jogar isso. E, mesmo que soubesse, ela não jogaria. Uma
— Manuel! — Rosana estava verdadeiramente irritada desta vez, e falou com uma voz carregada de indignação. — Eu nunca pensei que você fosse tão leviano! Só hoje descobri quem você realmente é! Mas, quer saber? Você faz o que quiser, não sou eu quem vai te controlar, nem tenho o direito de fazer isso. Só te peço uma coisa: pode parar de me levar junto? Não me faça assistir suas brincadeiras! A voz de Manuel saiu grave e rouca: — Desculpe. Eu não deveria ter te levado hoje. Naquele momento, pensei que, como Reginaldo é seu chefe, seria bom apresentá-los. Quem sabe ele pudesse te ajudar no trabalho no futuro. Não imaginei que isso acabaria te deixando chateada. Rosana deu um olhar ressentido para Manuel e perguntou: — Você também quer que eu seja como aquelas duas mulheres, servindo você? Me diz, o que vocês fizeram depois que eu fui embora? Manuel não conseguiu conter uma risada. Ver Rosana tão irritada era, na verdade, algo que ele achava adorável. Com um tom repleto de cari
Rosana pensou: “Não é só que essa notícia precise que eu faça a ponte com o Manuel? Por que o Reginaldo está agindo como se fosse algo tão complicado?” Rosana disse: — Sr. Reginaldo, fique tranquilo. Nossa agência de informação já trabalhou várias vezes com o escritório Marques Advogados e já fizemos muitas entrevistas exclusivas com o Sr. Manuel. Isso não deve ser um problema. Reginaldo sorriu levemente e respondeu: — Você separa bem trabalho e sentimentos, mas ainda não terminei de falar. O motivo pelo qual essa notícia precisa de uma cobertura especial é que os familiares do trabalhador estão acusando o Grupo Pereira de não fornecer instalações de segurança adequadas. Além disso, os trabalhadores do canteiro de obras estão muito revoltados. O Grupo Pereira não quer pagar indenizações e contratou advogados para tentar reduzir ao máximo o valor. Os familiares da vítima não aceitam a proposta de apenas duzentos mil reais. Agora, as duas partes estão em um impasse sério. — Duz
Rosana levou a manhã inteira para organizar as causas e os resultados dos Acidentes de trabalho no Grupo Pereira, além de identificar as figuras importantes envolvidas no caso. À tarde, ela e Isabelly foram visitar a família da vítima. A casa da vítima ficava em uma área rural isolada, em condições de extrema pobreza. Quando os familiares souberam que Rosana era uma renomada jornalista de revistas, eles imediatamente se desmancharam em lágrimas: — Jornalista, por favor, você precisa nos ajudar! Eram pessoas comuns, sem voz ou poder para se defenderem. Finalmente, alguém disposto a estender a mão para ajudá-los havia aparecido, e a gratidão que sentiam por Rosana era imensa. Rosana rapidamente ajudou a mãe e o pai do trabalhador falecido a se levantarem. O jovem trabalhador se chamava Estêvão, tinha apenas vinte anos. Seus pais, com pouco mais de quarenta, já tinham cabelos completamente brancos e um rosto marcado pela dor e pela miséria. O coração de Rosana se apertou dia
No entanto, ultimamente, Manuel parecia estar se tornando mais caloroso, embora Rosana não soubesse ao certo se era apenas uma impressão sua. Sem poder evitar, deu um leve toque no topo da cabeça de Isabelly, em tom de repreensão: — O que você anda pensando o dia inteiro, hein? Isabelly respondeu com seriedade: — Estou preocupada com você, Srta. Rosana! Mas deixa pra lá... Amanhã, melhor irmos ao escritório Marques Advogados para entender a situação, não acha? Essas coisas sempre têm dois lados, cada um achando que está com a razão. Quem sabe o Sr. Manuel tenha outra explicação para tudo isso? Um leve nervosismo se instalou no peito de Rosana, mas ela disfarçou bem. Quando chegaram ao centro da cidade, Rosana desceu do carro e disse: — Volte para a editor de revistas sozinha, Isabelly. Quero ficar um pouco sozinha para pensar. Isabelly, percebendo que Rosana provavelmente queria procurar Manuel para esclarecer a situação, não insistiu. Apenas se despediu rapidamente e s
Rosana precisava se acostumar e aceitar esse fato, por mais difícil que fosse. Manuel, percebendo a tensão no ar, falou calmamente: — Então espere um pouco por mim. Vou terminar o trabalho aqui e depois te levo para jantar fora, está bem? Rosana se sentou no sofá ao lado, ouvindo o som dos dedos de Manuel teclando no computador. Mas, enquanto o som de trabalho preenchia a sala, uma sensação de tristeza tomou conta dela. As cenas do dia passavam em sua mente. Ela lembrou da visita que fez junto com Isabelly à casa dos pais de Estêvão, os choros desesperados que presenciou, e as palavras que escutou momentos antes na conversa entre Manuel e Ronaldo. Inquieta, Rosana se levantou lentamente e caminhou até Manuel. Sem conseguir mais conter sua dúvida, perguntou: — O trabalho que você está fazendo agora... E sobre os acidentes de trabalho no Grupo Pereira? Manuel parou por um instante e a olhou com atenção: — Como você sabe desse caso? Rosana respondeu com sinceridade: —
Quando Rosana saiu do escritório de Manuel, se dirigiu diretamente ao editor de revistas. Já era o final do expediente, e todos os colegas de trabalho haviam deixado o local. Assim que entrou no escritório, Rosana ligou o computador. Sentada diante da tela, começou a registrar os acontecimentos do dia. Com dedos ágeis e, talvez, movidos por raiva ou excitação, Rosana digitava com força no teclado, preenchendo o ambiente com o som ritmado de suas teclas. Em meros vinte minutos, ela concluiu um artigo detalhado sobre o ocorrido em Acidentes de trabalho no Grupo Pereira. Contudo, ao redigir a última frase, Rosana começou a se acalmar. Observando o texto carregado de simpatia pela família de Estêvão e críticas ferozes ao Grupo Pereira, ela se deu conta de que havia traído sua ética jornalística. Hesitou por alguns segundos antes de tomar a decisão final: deletou o artigo. Afinal, como jornalista, sua responsabilidade era relatar os fatos com precisão, sem interferências emo
Isabelly finalmente falou em voz baixa: — Tudo bem, eu vou tentar. ... E assim, Isabelly, carregando a tarefa que Rosana lhe havia confiado, se dirigiu ao escritório Marques Advogados como se estivesse indo para um campo de batalha. No entanto, exatamente como ela imaginava, Isabelly nem sequer conseguiu ver o rosto de Manuel. Ela se lembrou da última vez que tinha vindo com Rosana. Naquela ocasião, Rosana também ficou esperando ali por um bom tempo. Determinada a concluir a entrevista, Isabelly decidiu que faria o mesmo: esperaria por Manuel o quanto fosse necessário. “Pelo menos o Sr. Manuel deveria me dar um pouco de atenção. Afinal, eu apoio ele ficar com a Rosana e até já conversei com ele sobre ela. Ele deveria me receber, nem que seja por isso.” — Isabelly! — Nesse momento, uma voz chamou seu nome. Isabelly levou um susto e, ao se virar, exclamou surpresa: — Cláudio? O que você está fazendo aqui? — Isabelly sorriu. — Eu vim resolver algumas coisas. Você mudou