Josiane olhou para ele:

- Fala alguma coisa.

Henrique, no entanto, disse:

- Vamos comer primeiro.

Ele a empurrou de leve e foi até a cozinha, colocando o café da manhã em cima da mesa.

O coração de Josiane afundou ainda mais, enquanto ela encarava suas costas, a dor era evidente em seus olhos.

Ela tinha impedido ele de falar sobre o divórcio, mas a atitude dele já estava clara. Ele estava se distanciando dela, nem sequer uma promessa falsa ele fazia.

Antes, ele não era assim!

No começo, ele apenas a seguia por onde ela fosse, grudado nela o tempo todo.

Depois, ela decidiu acolher ele, começou a ensinar ele a ler e os dois aprenderam linguagem de sinais juntos. O olhar dele ficou cada vez mais focado nela.

Não importava o que ela fizesse, os olhos dele sempre a seguiam. Como se ela fosse o mundo dele.

- Henrique, você nem me deu um beijo de bom dia. - Josiane se aproximou e disse.

Esse era um acordo deles desde que começaram a namorar. Henrique empurrou o copo de leite de soja na direção dela.

- Vamos comer primeiro, depois tenho algo para te falar.

A mão de Josiane se fechou em um punho.

- Se eu não comer, você não vai falar?

Henrique olhou para ela com seus olhos negros.

- Você já ouviu? - Ele perguntou.

Ele estava falando sobre o que disse ontem na cabine. Josiane fechou os olhos e perguntou:

- Por quê?

Mesmo que tivesse aguentado por muito tempo, agora tudo estava às claras e ela não conseguia mais se enganar.

- Ela é muito importante, eu tenho que ser responsável por ela. - Henrique disse.

- E eu? - Josiane olhou para ele, com um sorriso amargo. - O que nosso tempo juntos significa? - Ela pareceu lembrar de algo, se aproximou dele. - Você recuperou a memória, não é? Lembrou quem é, não é?

- Sim. - Henrique assentiu. - Josi, esse ano que você passou ao meu lado, sou muito grato. Vou retribuir, pode pedir o que quiser, eu vou te recompensar.

- Eu não quero o divórcio. - Josiane o encarou, falando palavra por palavra.

O rosto bonito e afiado de Henrique mostrou um pouco de indiferença.

- Nós precisamos nos divorciar.

Nesse momento, ele emitiu uma aura de frieza que Josiane nunca tinha visto antes. As unhas dela cavaram na palma da mão enquanto o encarava.

- Eu não vou me divorciar!

"Compensação?

"Como ele iria compensar esse ano de dedicação e amor?

A testa de Henrique se franziu um pouco, ele parecia impaciente.

- Josiane, assim não está bom para nenhum de nós.

Mas Josiane apenas se sentou e começou a tomar o café da manhã, sem dizer mais nada.

De qualquer forma, ela nunca iria se divorciar.

Henrique olhou para ela com olhos complicados, se lembrando de todos os momentos do último ano que ainda ecoavam em sua mente. Ele não queria recordar, mas sempre que a via, essas lembranças ressurgiam, deixando ele perturbado.

Ele se levantou friamente e disse:

- Mais tarde vou mandar alguém entregar o acordo de divórcio. Você pode sugerir as condições que quiser.

Em seguida, ele saiu sem mais palavras.

"Bang!"

Josiane deu um chute na cadeira ao lado, seus olhos amendoados começaram a se encher de lágrimas, enquanto ela cerrava os lábios com raiva.

"Canalha!"

Ele era mesmo um canalha!

Josiane fez um esforço tremendo para controlar suas emoções, respirou fundo várias vezes e seus olhos se encheram de determinação.

O acordo de divórcio chegou rapidinho como esperado.

Ela acabou de terminar o café da manhã e estava saindo para o trabalho quando um homem de terno apareceu na porta de sua casa, entregando o documento a ela.

Josiane mal olhou para ele, pegou o papel e o rasgou em pedaços.

- Divórcio? Nem pensar!

Dito isso, sem se importar com a expressão do homem, ela foi diretamente para o trabalho.