Capítulo 05

Maya

— Desculpe-me. Só quis dar a você uma noite legal. Eles não vão lhe tocar, se você não quiser! — disse Penny, tentando consertar a situação, como se a sua justificativa fosse o suficiente para resolver o que ela fez.

— Você é minha melhor amiga. Como pode fazer isso comigo? Por que me trouxe até aqui? — perguntei irada.

— Desculpe-me, por favor, Maya! — implorou aos sussurros. — Não faça nenhum escândalo! — pediu olhando para os lados, procurado se eu havia chamado a atenção indesejada de alguém com a minha voz alta.

— Mas o que você é, afinal? Pensei que fosse minha amiga. Não sei se você já percebeu, mas não preciso de mais complicações na minha vida!

Coloquei a taça que tinha na mão sobre o balcão e saí andando sem saber para onde exatamente eu estava indo. Atravessei o salão esbarrando-me nas pessoas, até chegar ao corredor que me levou a uma enorme porta de madeira entreaberta. Empurrei-a e passei por ela encontrando uma linda varanda com iluminação à luz de velas. A vista dali de cima era de tirar o fôlego. Sentei-me em um sofá ao canto e me recostei fechando os olhos respirando fundo. Nem mesmo a bela vista e a brisa fresca, com cheiro de rosas e terra molhada, deixaram-me mais calma. Como a minha melhor amiga pôde ser capaz de me convidar para uma festa de prostituição? Afinal, o que ela veio fazer aqui?

— Parece que você e a sua amiga tiveram um pequeno desentendimento — disse uma voz grossa, assustando-me.

Abri os meus olhos rapidamente e sentei-me com a coluna reta, encarando o homem de cabelos grisalhos à minha frente. Apesar da idade, ele era bonito e atraente. Diria ter cinquenta anos ou mais. Vestia um terno preto sob medida e uma camisa branca com os primeiros botões do colarinho abertos, mostrando alguns pelos do peitoral, que pareciam ser macios ao toque. Ele tinha um charme incomum, que atraiu a minha atenção, levando o meu olhar direto para os seus lábios que estavam curvados em um pequeno sorriso que me deixou nervosa.

— Não é da conta de ninguém! — disse rude.

— Sim, é claro. Desculpe-me, só tentei ser amigável. Você pareceu estar perdida e chateada quando passou por mim como um vendaval vindo para cá.

— Eu não tinha noção do que é este lugar.

O seu olhar sério deixou os meus ombros tensos.

— Já estou de saída. — Levantei-me puxando a barra do vestido para baixo.

Caminhei em direção à porta, mas antes que eu pudesse passar por ela, ele segurou o meu antebraço com certa força, impedindo-me e sorriu quando o encarei assustada com a sua atitude atrevida.

— Por favor, fique. Não quero incomodar — disse e soltou a sua mão que me agarrava. — Não tem que ir embora. Muitas mulheres vêm a essas festas somente à procura de diversão.

— É, eu imagino qual seja a diversão — disse, dando-lhe um sorriso sarcástico.

— O fato da sua amiga ser uma acompanhante, não significa que você também seja.

— Acompanhante? Que palavra gentil para prostituta.

Ele riu negando com a sua cabeça.

— Assim você irá ofender a sua amiga.

— Pouco me importo. — Fui hostil, antes de deixar a varanda.

— Sou Victor White. — O seu nome ecoou por minhas costas pelo corredor.

— Tchau, sr. White — despedi-me seguindo adiante, sem olhar para trás.

Procurei pela saída, até que, com a ajuda de um garçom, a encontrei. Parada na calçada, peguei o meu celular dentro da bolsa e chamei um táxi.

— Você já vai? — perguntou um homem atrás de mim.

— Ah, Deus! Outro não! — clamei em sussurros para mim mesma, enquanto guardava o celular na bolsa.

— Você não precisa ir. Ainda está cedo.

— É, mas eu quero! — respondi rude, virando-me para trás.

Fiquei um pouco surpresa e envergonhada ao ver o homem que destratei. Era Evan Johnnes, o rapaz que conheci há pouco e senti-me atraída. Bom... no momento não estava mais tão atraída assim, depois de descobrir o que era aquele lugar.

— Você é bem arisca — disse aproximando com um sorriso no canto dos lábios. — Adoraria ter a chance de domar você. — Tocou o meu rosto com os seus dedos, alisando-os na minha pele.

Dei um passo para trás, distanciando-me dele e do seu olhar desconfortante. O táxi estacionou próximo ao meio-fio e eu lhe dei as costas caminhando até o carro.

— Até mais, Valentina — escutei-o dizer antes que eu entrasse no táxi.

Ao chegar à fraternidade, o silêncio inundou os meus ouvidos e a escuridão segou-me. Tirei os saltos para evitar fazer barulho, liguei a lanterna do celular e subi a escada na ponta dos pés, indo direto para o quarto. Depois de um banho e de vestir um pijama confortável, caí na cama, entregando-me ao sono sem demora. Acordei pela manhã com os chamados da Penny de pé ao meu lado.

— Temos que conversar! — disse ela arrancando o edredom de cima de mim.

Virei para a parede, lhe dando as costas e a ignorando.

— Maya, é sério! — exclamou alto.

— O que foi? — perguntei zangada por estar sendo acordada tão cedo.

— Eu preciso conversar com você — disse com a voz embargada.

— Que horas são, hein? — murmurei sentando-me na cama.

— São sete horas.

— Fala sério. Não dá para conversar depois das nove da manhã? — perguntei mal-humorada.

— Não! Eu quero falar agora — disse como uma criança emburrada, cruzando os braços à frente do peito.

— Por que me levou para aquele lugar, Penny? Me levou para uma casa de prostituição!

— Olha só... eu não queria magoar você. Achei que seria uma noite divertida e que fosse gostar da festa.

— Jura que você pensou isso?

— Era só uma festa, Maya. Eu juro! Uma festa onde mulheres conhecem homens mais velhos e experientes. Homens maduros que dizem logo o que querem e não ficam a iludindo como moleques para depois te magoar — disse sentando-se à beirada da sua cama, ficando de frente para mim. — Você estar lá, não quer dizer que tenha que fazer alguma coisa com alguém ou que seja uma garota de programa. Entende?

— Diz isso, mas se tivesse acontecido algo entre mim e um daqueles homens, ele certamente teria me pagado no final da noite. Isso ainda é prostituição para mim. Entende? — perguntei sarcástica e levantei-me. — Foi isso que aconteceu no final da sua noite? — Dirigi-me ao banheiro.

— Não me julgue! Nem todas de nós tivemos pais a vida toda para nos ajudar.

Parei na porta do banheiro e olhei para ela sem entender o que queria dizer.

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