LizandraA vida tem um jeito estranho de nos surpreender. Um dia estamos fugindo da morte, no outro, planejando o futuro. E aqui estou eu, sentada à mesa da imponente mansão Lambertini, cercada por pessoas que se tornaram minha família, esperando o momento certo para falar. Meus olhos passeiam pela mesa farta, pelo riso das gêmeas, pelo olhar atento de Don Vittorio. Sei que minha ideia pode soar ousada, mas se tem uma coisa que aprendi com os Lambertini é que coragem é um requisito básico para sentar-se à mesa.— Don Vittorio, eu queria aproveitar essa reunião para falar de algo importante — minha voz sai firme, segura, mas sinto todos os olhares sobre mim.— Pois fale, menina. — Ele encosta-se na cadeira, observando-me com curiosidade.Respiro fundo e continuo:— Gostaria de contar com o suporte do grupo Lambertini para selecionar os trabalhadores da fazenda. Sei que ter uma equipe confiável fará toda a diferença, e não consigo pensar em um jeito melhor de garantir isso do que contar
NaraMe sinto presa em um jogo onde as regras mudam a todo instante, e eu sou a peça mais frágil no tabuleiro. Entre os Lambertini, encontrei um abrigo que nunca imaginei, um respiro em meio ao caos. Mas sei que isso é temporário. Não posso me acomodar. Derick está me procurando, e não sei por quanto tempo poderei me esconder. A última coisa que quero é ser pega desprevenida por ele, pelo furacão de sentimentos que ele sempre provoca em mim.Estou na fazenda há alguns dias, e, para minha surpresa, me sinto bem aqui. David garantiu que Derick não se aproximaria, mas sei como funciona a dinâmica entre eles. No fim, o que vale é a força dos punhos. E nisso, eles são muito bons.Raíssa tem sido um apoio inestimável, assim como o pai de Derick, que descobriu rapidamente toda a situação e me ajuda a despistá-lo. Ele cobre meus rastros, especialmente no La Russa, onde faço as consultas médicas. Sei que tem outro hacker envolvido nisso, alguém que não sei se da velha guarda ou da nova guarda
DanielO desejo toma conta de mim assim que Raissa entra no restaurante. Seu sorriso ilumina o ambiente, e seus olhos brilham de felicidade. Eu a observo atravessar o espaço e sinto um orgulho que nunca experimentei antes. Essa mulher é minha. Minha noiva, minha futura esposa. O simples pensamento de que passaremos o resto da vida juntos me faz sentir um calor inexplicável no peito. Mas por quanto tempo tudo será tão perfeito assim?Passamos a tarde entre conversas leves e planos para o futuro. Raissa quer morar na fazenda depois do casamento, ao menos até termos filhos. Concordo sem hesitar. Sei que ela vai fazer isso por mim, mas também entendo que quer começar algo novo, sem interferências, principalmente de Derick, se é isso que quer, e a fará feliz, é o suficiente para mim. Ela comenta que deseja pedir ajuda para minha mãe na decoração, e isso aquece meu coração. Minha família sempre foi tudo para mim, e saber que Raissa quer envolvê-los em nossas escolhas é um sinal de que esta
SilviaO ar dentro da sala parece pesado, sufocante. Meu coração bate acelerado e minhas mãos suam enquanto encaro o visor do telefone. O nome de David pisca na tela como um alerta. Respiro fundo antes de atender, mas sei que não importa o quanto tente me preparar, não estou pronta para essa conversa.— Silvia, que diiabos está acontecendo com você? — A voz de David ressoa autoritária do outro lado da linha. — O projeto do hotel cinco estrelas está parado porrah! Os franceses estão exigindo respostas, e você me diz que não sabe o que fazer?— Eu... eu não consigo pensar direito, David. — Minha voz sai mais fraca do que eu gostaria. — Tem muita coisa acontecendo.— Isso é inadmissível! — Ele explode. — Se você não pode lidar com essa função, me diga agora!A chamada cai. Ele desligou na minha cara. A raiva sobe pelo meu corpo como um veneno ardente. Não penso duas vezes. Pego minhas coisas e saio determinada até a presidência.Empurro a porta com força, nem me importo em bater. Uma fun
DavidEu nunca me senti tão exausto e, ao mesmo tempo, satisfeito. O dia foi um inferno no Grupo Lambertini. Reuniões intermináveis, problemas em todos os setores, exceto em operações. Graças à Silvia. Essa mulher tem uma capacidade absurda de manter tudo sob controle. Depois da nossa última discussão, nos entendemos, mas deixei Darlan ciente que quero ele bem longe dela. Eu penso nela e sorrio de leve, é uma boa garota e excepcional profissional. Mas agora, não é isso que ocupa minha mente. O que me impulsiona a sair daqui o mais rápido possível é a vontade de ir para casa, reunir a família e contar a novidade.Quando finalmente piso na mansão, a energia é instantaneamente diferente. O cheiro de comida no ar, as risadas espalhadas pelos corredores, o barulho das crianças... Eu cresci nesse caos organizado e nunca pensei que um dia fosse querer algo diferente. Mas talvez seja a hora.— Preciso falar com vocês — digo, chamando a atenção de todos na sala de estar. Os olhos se voltam par
DarlanA raiva me corrói por dentro como uma chama que se recusa a se apagar. Meu peito está apertado, e os meus passos ecoam com força pelos corredores do departamento de operações. Não penso, apenas ajo. Empurro a porta da sala dela com força, sem me importar se estou invadindo o seu espaço ou a sua paz. Silvia levanta os olhos do computador e me encara com frieza.— Posso ajudá-lo? — Sua voz é fria, cortante, como se eu fosse apenas mais um qualquer.O impacto das palavras dela me atinge em cheio. Como se eu nunca tivesse sido nada. Como se o que aconteceu entre nós não tivesse passado de uma ilusão barata. Engulo em seco, mas minha voz sai firme.— Precisamos conversar.Ela descruza as pernas, ajeita os papéis na mesa e levanta sem pressa.— Se for sobre trabalho, não há pendências. Se não for, não temos nada para conversar e tenho uma reunião em cinco minutos.Meu estômago se revira. Como ela pode agir assim? Como se eu fosse irrelevante, descartável? Antes que ela possa sair, s
DavidO cheiro de terra molhada e o som distante dos animais fazem um contraste interessante com o ronco dos motores enquanto nos aproximamos da fazenda. Uma surpresa. Um gesto meu para ela. Mas não faço ideia de como será recebido.Lizandra está ali, alheia à nossa chegada, completamente envolvida em seu mundo, no seu trabalho. Seus olhos brilham enquanto examina os suínos, suas mãos firmes mas gentis acariciam os filhotes que se aconchegam contra o seu peito. A cena, por um momento, me hipnotiza. Ela está radiante, sem maquiagem, sem luxo, vestida com uma macacão branco, calçada numa galocha, seu estestoscópio rosa no pescoço, e nada além de sua paixão pelo que faz. E, karalho, eu não consigo desviar o olhar.Ela ergue a cabeça e nos vê. O sorriso que se abre é involuntário, e isso me agrada.Ela vem até a mim e me beija com ternura, cumprimenta cada um de nós e fala:— Como os senhores podem ver, esse é o nosso plantel! — ela começa, a voz firme, os olhos vivos — a nossa produção
DarlanO dia está quente, e o ar condicionado da sala de aula parece não ser suficiente para conter o calor que se instala dentro de mim. Meu foco deveria estar na explicação do professor sobre direito penal, mas minha atenção é puxada por Luna, sentada ao meu lado, mordiscando a ponta do lápis com uma concentração absurda. Meu olhar percorre seus traços delicados, o jeito como seus olhos deslizam pelas anotações, completamente alheia ao efeito que está causando em mim.Eu me xingo mentalmente. O que diabos está acontecendo comigo? Desde que nos tornamos parceiros em alguns trabalhos da faculdade, nos aproximamos bastante, e hoje até combinamos de lanchar juntos no intervalo, mas também não nego que preciso jogar uma isca para Orti. Não deveria ser nada além disso. Mas há algo nela, algo que me inquieta, algo que me faz querer protegê-la de um perigo invisível.O sinal toca, interrompendo meus devaneios. Luna se vira para mim e sorri. Aquele sorriso tímido e encantador, o tipo de sorr