DavidEu nunca me senti tão exausto e, ao mesmo tempo, satisfeito. O dia foi um inferno no Grupo Lambertini. Reuniões intermináveis, problemas em todos os setores, exceto em operações. Graças à Silvia. Essa mulher tem uma capacidade absurda de manter tudo sob controle. Depois da nossa última discussão, nos entendemos, mas deixei Darlan ciente que quero ele bem longe dela. Eu penso nela e sorrio de leve, é uma boa garota e excepcional profissional. Mas agora, não é isso que ocupa minha mente. O que me impulsiona a sair daqui o mais rápido possível é a vontade de ir para casa, reunir a família e contar a novidade.Quando finalmente piso na mansão, a energia é instantaneamente diferente. O cheiro de comida no ar, as risadas espalhadas pelos corredores, o barulho das crianças... Eu cresci nesse caos organizado e nunca pensei que um dia fosse querer algo diferente. Mas talvez seja a hora.— Preciso falar com vocês — digo, chamando a atenção de todos na sala de estar. Os olhos se voltam par
DarlanA raiva me corrói por dentro como uma chama que se recusa a se apagar. Meu peito está apertado, e os meus passos ecoam com força pelos corredores do departamento de operações. Não penso, apenas ajo. Empurro a porta da sala dela com força, sem me importar se estou invadindo o seu espaço ou a sua paz. Silvia levanta os olhos do computador e me encara com frieza.— Posso ajudá-lo? — Sua voz é fria, cortante, como se eu fosse apenas mais um qualquer.O impacto das palavras dela me atinge em cheio. Como se eu nunca tivesse sido nada. Como se o que aconteceu entre nós não tivesse passado de uma ilusão barata. Engulo em seco, mas minha voz sai firme.— Precisamos conversar.Ela descruza as pernas, ajeita os papéis na mesa e levanta sem pressa.— Se for sobre trabalho, não há pendências. Se não for, não temos nada para conversar e tenho uma reunião em cinco minutos.Meu estômago se revira. Como ela pode agir assim? Como se eu fosse irrelevante, descartável? Antes que ela possa sair, s
DavidO cheiro de terra molhada e o som distante dos animais fazem um contraste interessante com o ronco dos motores enquanto nos aproximamos da fazenda. Uma surpresa. Um gesto meu para ela. Mas não faço ideia de como será recebido.Lizandra está ali, alheia à nossa chegada, completamente envolvida em seu mundo, no seu trabalho. Seus olhos brilham enquanto examina os suínos, suas mãos firmes mas gentis acariciam os filhotes que se aconchegam contra o seu peito. A cena, por um momento, me hipnotiza. Ela está radiante, sem maquiagem, sem luxo, vestida com uma macacão branco, calçada numa galocha, seu estestoscópio rosa no pescoço, e nada além de sua paixão pelo que faz. E, karalho, eu não consigo desviar o olhar.Ela ergue a cabeça e nos vê. O sorriso que se abre é involuntário, e isso me agrada.Ela vem até a mim e me beija com ternura, cumprimenta cada um de nós e fala:— Como os senhores podem ver, esse é o nosso plantel! — ela começa, a voz firme, os olhos vivos — a nossa produção
DarlanO dia está quente, e o ar condicionado da sala de aula parece não ser suficiente para conter o calor que se instala dentro de mim. Meu foco deveria estar na explicação do professor sobre direito penal, mas minha atenção é puxada por Luna, sentada ao meu lado, mordiscando a ponta do lápis com uma concentração absurda. Meu olhar percorre seus traços delicados, o jeito como seus olhos deslizam pelas anotações, completamente alheia ao efeito que está causando em mim.Eu me xingo mentalmente. O que diabos está acontecendo comigo? Desde que nos tornamos parceiros em alguns trabalhos da faculdade, nos aproximamos bastante, e hoje até combinamos de lanchar juntos no intervalo, mas também não nego que preciso jogar uma isca para Orti. Não deveria ser nada além disso. Mas há algo nela, algo que me inquieta, algo que me faz querer protegê-la de um perigo invisível.O sinal toca, interrompendo meus devaneios. Luna se vira para mim e sorri. Aquele sorriso tímido e encantador, o tipo de sorr
LizandraO som dos pneus esmagando a brita da entrada me alerta antes mesmo das câmeras de segurança. Eu vejo pelos monitores: uma fileira de carros pretos, brilhantes sob o sol escaldante, cortando a estrada de terra e adentrando os portões da minha fazenda. Meu coração acelera. Eles estão aqui. Todos eles. A família inteira Lambertini, incluindo os meus pais. E pelo jeito que dirigem, ninguém veio a passeio.Respiro fundo e ajeito Brenda e Briana nos carrinhos, mantendo o balanço rítmico com o pé, enquanto reviso alguns documentos sobre a minha mesa. O sucesso da geração de energia ainda me surpreende. O lucro que achei que viria apenas da agropecuária não se compara ao retorno desse investimento. Preciso discutir isso com David e Darlan o quanto antes. Mas esse pensamento é logo abafado pelo som de buzinas e risadas altas lá fora.Saio do escritório e, assim que chego à varanda, sou envolvida pelo cheiro de carne assando e pela visão do caos harmonioso que se instala ao redor da pis
Raissa Eu sabia que esse dia chegaria. Mas nunca imaginei que, antes mesmo de colocar o vestido de noiva, meu mundo já estaria em chamas.A porta do quarto se abre com um empurrão brusco. Derick entra sem cerimônia, os olhos carregados de intenções. Seu olhar me analisa de cima a baixo, e, apesar do sarcasmo evidente, também vejo algo mais ali. Algo que ele não quer admitir.— Ainda dá tempo de desistir — ele dispara, os braços cruzados e o tom provocativo.Antes que eu possa responder, outra voz preenche o quarto, fria e carregada de autoridade.— Se você, meu filho, fosse parâmetro para conselhos amororsos, não estaria feito um retardado atrás da mulher que você cometeu o seu maior ato de covardia. — Dilton entra na sala, os olhos duros e impiedosos sobre o filho. — E talvez hoje pudesse estar ao lado dela, acompanhando a gravidez e o crescimento da sua FILHA.O ar se esvai do ambiente. Derick empalidece. Ele acreditava que ninguém sabia. Mas o nosso pai sabia. Eu sabia. E, agora,
DanielO reflexo no espelho me encara de volta, e, por um instante, não reconheço o homem que vejo. A gravata impecável, o terno alinhado, os olhos carregados de emoção e expectativa. Estou prestes a me casar, e a ideia, embora carregada de felicidade, também pesa sobre meus ombros como o próprio destino. Não sou mais o jovem impulsivo que lutava contra os sentimentos, dividido entre duas mulheres. Hoje, sei que Raissa é minha escolha, minha verdade. Mas e se essa certeza não for suficiente? E se o passado ainda tentar me assombrar?— Nervoso? — A voz firme do meu pai, Luan, me tira do transe.Viro-me para ele e vejo não apenas meu pai, mas o homem que sempre foi meu exemplo de retidão. Ao seu lado, meu tio Allan observa-me com aquele olhar perspicaz de quem sabe mais do que deixa transparecer.— Se disser que não, estaria mentindo — admito, soltando o ar lentamente.Ele sorri, colocando a mão no meu ombro.— Isso é bom. Significa que está levando a sério.— Filho — meu tio Allan inte
Raissa Horn Malta O burburinho na igreja se dissolve no instante em que o padre se posiciona diante de nós. O silêncio que toma conta do ambiente carrega um peso quase sagrado, fazendo cada batida do meu coração ecoar em meus ouvidos. Meus dedos estão entrelaçados aos de Daniel, e sua mão firme me transmite uma segurança que eu não sabia precisar tão desesperadamente.— Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco! — a voz do padre ressoa pela catedral, e um arrepio percorre minha espinha.— Amém — respondemos em uníssono, acompanhados pela congregação.Daniel aperta minha mão, e nossos olhares se encontram. Ele está emocionado, e sei que eu também estou. O padre continua:— Hoje, estamos reunidos para testemunhar a união de Daniel e Raissa, que diante de Deus e de todos aqui presentes, escolheram seguir juntos nesta caminhada de amor. O casamento é uma promessa sagrada, um compromisso firmado no respeito, na compreensão e