DavidA escuridão lá fora é cortada apenas pelos faróis do carro. O ronco do motor parece distante, abafado pelo som da minha própria respiração acelerada. Lizandra está ao meu lado, a cabeça apoiada no banco, uma mão trêmula sobre a barriga. O sangue... aquele maldito sangue manchando suas roupas, manchando minhas mãos.— Vai ficar tudo bem, amor. — Minha voz sai rouca, quase quebrada. Eu quero acreditar nisso, mas o terror corrói cada palavra. O gosto amargo do medo impregna minha língua, como se eu estivesse engolindo vidro.Meu pai dirige como um louco, acelerando pelas ruas desertas, enquanto Liana vem logo atrás com as gêmeas. A cada curva fechada, a cada semáforo ignorado, eu sinto meu coração esmigalhar um pouco mais. Cada segundo parece uma eternidade, e cada gemido abafado de Lizandra me dilacera por dentro.— Por favor, aguenta firme... — murmuro, mas minhas palavras são fracas, quebradas pela culpa. Eu deveria tê-la protegido. Eu deveria tê-la tirado de lá antes que Castel
David— Eu vou perder eles, pai... — Não vai. — Ele me encara com firmeza. — E agora Lizandra precisa de você forte, não desesperado.Antes que eu possa responder, Dra. Selma surge na porta.— David — ela me chama.Minhas pernas tremem. Eu sinto como se estivesse prestes a desmoronar ali mesmo. Minha mãe aperta minha mão, e meu pai me dá um empurrão suave para frente.— Vá. — A voz dele é um comando. — Ela precisa de você agora.Eu entro na sala. Lizandra está deitada, pálida, os olhos cheios de lágrimas. Seus lábios tremem ao me ver, e eu corro para o seu lado, segurando sua mão.— Por pouco ela não perdeu os gêmeos — Dra. Selma diz. — Mas eles estão bem.Meu coração para, depois explode em batidas desenfreadas. Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto eu enterro a cabeça nas mãos de Lizandra, soluçando de alívio.— Eu chamei você aqui para que possa ver os seus filhos — continua a médica, preparando o aparelho.Quando o ultrassom é ligado, o monitor revela duas pequenas formas em
DarlanO cheiro metálico de sangue seco e ferrugem é a primeira coisa que me atinge quando descemos para o porão. O ar aqui é grosso, pesado, como se as paredes carregassem os ecos de cada grito já arrancado de alguém. A única luz vem de uma lâmpada oscilante no teto, lançando sombras distorcidas em Castellano, que está amarrado à cadeira no centro da sala.Ele tenta manter a expressão fria, mas eu vejo. O medo. O suor escorrendo pela têmpora. A leve tremedeira dos dedos.— Acham que podem me quebrar? — Castellano cospe no chão, os olhos cheios de uma arrogância imunda. — Já passei por coisas piores.Sorrio de lado. Pobre tolo. Acendo um cigarro e dou um longo trago, solto a fumaça lentamente observando o homem à minha frente que tenta resistir.— Isso aqui não é sobre dor, Castellano — digo, minha voz baixa como um veneno escorrendo. — É sobre terror.— Vamos começar? — Derick estala os dedos, os olhos ardendo de pura maldade.— Vamos — respondo, a voz baixa, calma.Pego um saco de l
DarlanHora de exorcizar os meus demônios! Preciso esquecer essa merda que o Castellano relatou e também a diaba da SIlvia que não sai da minha cabeça.Gemini.Whisky em mãos, observo o ambiente lotado, corpos se movendo no ritmo frenético da música. Preciso de algo forte o suficiente para me fazer esquecer.E então, a vejo.Uma morena linda, olhar magnético. Seu vestido justo desliza sobre o corpo como uma segunda pele, e seu sorriso tem um quê de desafio. Nossos olhares se encontram, e eu sei que ela está aqui pelo mesmo motivo que eu. Sexo sem compromisso.Me aproximo sem hesitação, e ela não recua. Apenas sorri e começa a dançar comigo, colando seu corpo ao meu, deixando claro que está no mesmo jogo. Nossas mãos exploram, testam limites, e logo estamos completamente imersos um no outro. Entre goles de whisky e provocações, o calor entre nós se torna insuportável.— Vem comigo. — digo, puxando-a pela cintura.Ela não hesita. Apenas entrelaça os dedos nos meus e me segue até uma sal
DavidO inferno abriu todas as portas, só pode ser! Mal acordo e já vejo a tela do meu celular explodindo em notificações. O grupo da máfia no WhatsApp está em chamas, cada mensagem mais tensa que a outra. O sangue ainda corre quente nas minhas veias desde o ataque a Lizandra, e a sensação de que algo muito maior está por vir me deixa em alerta máximo.Mas antes de qualquer coisa, preciso garantir que minha mulher e meus filhos estejam protegidos. Lizandra segue internada, e deixá-la sozinha agora parece uma ideia absurda. Meu coração aperta só de pensar.Don Vittorio aparece de repente, com aquela expressão rígida que conheço bem. Antes que eu possa dizer algo, ele me encara com seriedade e fala baixo:— Você vem comigo. Já organizei tudo.Meu olhar voa para Lizandra, ainda pálida, adormecida no leito hospitalar. Não quero sair dali, mas Don Vittorio continua:— Lucca vai ficar aqui, na porta. E mandei Giovane e algumas das nossas melhores soldados, inclusive a Nara, que faz a segura
DavidA tensão permanece, mas a voz de Bianchi rasga toda a sala como um trovão, o seu semblante carregado, deixa transparecer que ele não está para brincadeiras.Paolo Bianchi toma a palavra e começa, com a voz fria: — Pode parar de devaneio, seu psicopata de merrda! Lizandra e Daniel viviam comigo na Itália e foram treinados por mim. Eu tenho material genético da minha Lizandra. Ela é filha do Dante e da Elaine, e que eu não tivesse, ela é a versão feminina do pai, apenas melhorada! — O olhar dele é uma lâmina.— Da mesma forma, que também tenho material genético do Daniel, que realmente é filho da Júlia! Após investigar essa merda toda, eu descobri há anos atrás porque você sempre investigava a Lizandra, colocava seus homens na cola dela. Fui atrás da enfermeira antes de fazer os testes de DNA e ela me falou que recebeu o seu dinheiro e não fez a troca porque sabia que você era um louco e que só queria desestruturar duas famílias. Então, ela recebeu o dinheiro e te fez de palhaço!
DerickA merda toda sempre começa com uma mulher. E dessa vez não foi diferente.Se não fosse trágico, seria cômico: duas gerações inteiras de ódio, traição e sangue derramado por causa de uma b0ceta. Castellano e Juan Malta se odiavam desde antes de Daniel nascer, e tudo porque Júlia, a mulher que Castellano amava, escolheu o Malta. Castellano jamais superou Júlia, a mãe de Daniel, e sua rejeição arde até hoje, alimentando uma rivalidade tão fria quanto o casamento forçado que ele arrastou por anos.O amor doentio de um, o romance arrebatador do outro. O resultado? Décadas de rivalidade entre duas famílias poderosas de Buenos Aires.E agora, ironicamente, o filho do arqui-inimigo de Castellano, o próprio Daniel Malta, está aqui e logo estará se preparando para ocupar o lugar de seu pai biológico nesse tabuleiro de guerra.Meu cérebro ferve. Mas o que me tira do eixo de verdade é a minha irmã, a filha da putta da Raissa Horn. Agora que ela está enrabichada com o Malta, sei que anda g
Don VittorioO silêncio não é vazio. Ele é ensurdecedor. E, agora, dentro do carro ao lado do meu filho David, o silêncio carrega um peso ancestral, o peso de gerações que construíram impérios com sangue, honra e sacrifício. O motor ronca suave, o vidro reflete meu rosto marcado pelo tempo, mas meus olhos? Meus olhos ainda possuem o brilho implacável de um homem que comanda um império. David está ao meu lado, com a mandíbula tensa, as mãos firmes no volante, mas obedece sem contestar. Meu tom não deu margem para debate. Há momentos em que um pai não pode ser apenas pai. Ele é o Don!O caminho até a mansão Lambertini é feito em um silêncio confortável. Sei que David ainda carrega certo ressentimento pelo fato de eu não ter aceitado o acordo de casamento de imediato, mas há coisas que um homem como eu precisa ver com os próprios olhos antes de dar a sua bênção. Lizandra não é uma mulher comum. E meu filho, ainda que um homem feito, precisará aprender muitas coisa, inclusive que o amor