Don Paolo BianchiSou o líder da 'Ndrangheta. Minha palavra é lei, minha presença é respeito e temor. Na Itália, meu nome é um sussurro de advertência, um aviso de que o inferno tem donos.E agora, estou diante de Lizandra. Minha afilhada. Minha menininha.O sangue ainda ferve em minhas veias pela forma como a encontrei. Com um Lambertini. Grávida dele. E não de um Lambertini qualquer, mas do filho do Don argentino.— Lizandra! — Minha voz ecoa no ar como um trovão.Ela congela. Eu vejo a hesitação em seu rosto, o choque em seus olhos.Antes que eu possa me aproximar, ele se coloca na minha frente. David Lambertini. Seu olhar é letal, sua postura rígida. O instinto de proteção dele não me passa despercebido.— Se tocar nela, vai se arrepender. — O tom dele não tem hesitação. Um aviso. Uma ameaça.O ambiente fica tenso. Minha escolta surge ao meu redor, a dele nos cerca. Qualquer movimento errado, e isso vira um massacre. E eu estou no território dele.Mas antes que algo aconteça, Liza
Don Paolo Bianchi— Me diga uma coisa… vocês são inimigos da máfia russa?Franzo o cenho. Por que ele quer saber disso?— Estou tentando uma parceria com os russos, mas aqueles filhos da putta são inacessíveis.David ri baixo.— Então você nunca conseguiu uma reunião com eles?Minha paciência se esgota.— Não ainda, inferno!Ele se inclina para frente, o olhar afiado.— Pois bem. Essa parceria só vai acontecer porque eu estou aqui.Silêncio absoluto. Todos querem entender o que ele está prestes a dizer.— E por quê? — Pergunto, minha voz carregada de curiosidade e ceticismo.David então solta a bomba:— Minha mãe veio da Rússia. Ela foi recebida pelo meu pai, após as famílias consolidarem um acordo de casamento. E mais do que isso… ela é irmã do Don Russo. E também do Don Sueco, meu tio Alexander, casado com Elisabeth, filha do Don da Inglaterra, atualmente ele comanda a máfia Russa. Por outro lado, e não menos importante, o tio Maxin, casado com a tia Astrid, filha única do Don d
DavidO peso do compromisso selado com Paolo Bianchi ainda pulsa em minha mente enquanto dirijo de volta para a mansão Lambertini. O acordo está feito. Lizandra será a minha esposa. Pela primeira vez em muito tempo, sinto que posso respirar sem a sensação sufocante de uma batalha iminente. Com ela ao meu lado, estou pronto para enfrentar qualquer coisa. Qualquer um.Mas a paz não dura muito.Assim que atravesso as portas da mansão, o ar se torna pesado. Meu pai, Don Vittorio, está parado no centro da sala, seu olhar duro como pedra, carregado de tempestade. Minha mãe, Liana, está ao lado dele, uma mão pousada no peito do marido como se pudesse contê-lo.— O que está acontecendo aqui? — pergunto, cruzando os braços. Sei que algo grande me espera, e não vou fugir disso.Meu pai avança um passo, o olhar faiscando.— O que está acontecendo é que você, meu filho, acaba de cometer um erro colossal. — ele rosna. — Estou negociando seu casamento com a filha de Hector, da máfia colombiana. E
Don VittorioEu não criei um império para ser desafiado dentro da minha própria casa. E, ainda assim, aqui estou eu, com o sangue fervendo nas veias, sentindo que o meu próprio filho me apunhalou pelas costas. David acha que pode me desafiar, peitar a minha autoridade como se eu fosse um qualquer? Como se fosse fraco? Isso não ficará assim.Subo as escadas com passos firmes, o cenho franzido, a respiração pesada. Sei que Liana virá atrás de mim, sempre vem, sempre tenta aplacar minhas tempestades. E como previsto, não demora para que a porta do quarto se abra sem cerimônia. Ela entra, sem dizer nada, mas seu olhar diz tudo.— Como você pôde? — cuspo as palavras, me virando de supetão para encarar minha mulher. — Você sabia de tudo! Sabia que aquele moleque inconsequente estava se envolvendo com uma qualquer de fora do nosso meio e não me disse nada! Você está contra mim, Liana? Porque, se está, isso tem um nome, traição!Liana arregala os olhos, e vejo sua expressão mudar. A ofensa
Paolo BianchiO silêncio nunca me incomodou. Pelo contrário, ele sempre foi meu aliado. Mas agora, nesse instante, ele pesa. Um silêncio carregado de provocações não ditas, olhares que me desafiam, e uma tensão que se arrasta pelo ar como uma tempestade prestes a desabar. Alessandro e Daniel continuam me encarando, seus sorrisos são a definição da insolência. Dante, ao meu lado, revira os olhos, cansado das brincadeiras que já duram tempo demais.— Admitam logo — Alessandro diz, rindo. — Vocês dois têm um ciúme doentio da nossa pequena Liza. Nunca vi dois homens velhos tão protetores. Parece até que vão tranca-la num convento.Antes que eu possa rebater, Lizandra entra na sala. O momento é perfeito, porque ela escuta tudo. Seu rosto se tinge de vermelho, e eu vejo a confusão brilhar em seus olhos. Alessandro, sempre exagerado, se levanta e a pega no colo como se ela fosse uma criança. Antes que ela possa protestar, ele beija seu rosto e ri.— Mas não se preocupe, princesa. Mesmo sabe
Don Vittorio O silêncio da casa parece gritar em meus ouvidos. Estou encostado no batente da porta, observando Liana com os filhos, sua voz firme ao dizer que ligaria para o irmão e pediria abrigo na Rússia. Meu sangue ferve, não só pelo que ela disse, mas pelo jeito que disse, como se eu fosse irrelevante, um peso que ela carrega por obrigação.— Liana — minha voz sai dura, mais do que eu gostaria.— Me acompanhe, por favor.Ela se vira lentamente. Mas obedece. Porque sou o Don. Porque ela é a mulher de um mafioso.O gosto amargo da autoridade desce arranhando minha garganta.A conduzo até o escritório e, assim que entramos, fecho a porta. O som seco da madeira ecoa entre nós, mas Liana continua impassível. Me sento, o peito pesado, e faço o que mais odeio, uso meu poder sobre ela.— Sente-se.Ela obedece sem hesitar, mas é como se não estivesse ali. A distância entre nós é maior que qualquer parede.— Você não vai para a Rússia, Liana. Você é minha mulher.Seus olhos frios me atrav
Don Vittorio— Vittorio…— Não há mais volta. Lizandra carrega dois herdeiros Lambertini no ventre. David vai embora, ele sabe que precisa protegê-la, aquela menina virou alvo potencial dos nossos inimigos. — Ele já escolheu a família dele. E se quiser tentar segurar ele com dinheiro, nem comece, entregarei a ele a minha herança para que comece a vida ao lado da mulher que ama.Aquelas palavras são uma sentença.Sinto o peso da minha posição, a responsabilidade de ser o Don, mas pela primeira vez, percebo que nenhum poder, nenhuma ameaça, pode mudar o que já está feito.Liana se ajeita na cama e fecha os olhos, me deixando sozinho com meus demônios.E eu fico ali, encarando o teto, ciente de que, mesmo sendo o Don… há forças maiores que eu não posso controlar.Uma noite, mal dormida, e para completar, Liana não está na cama. Me arrumo e desço para o café da manhã, nossos filhos chegam, um a um, mas David não aparece, começo a ficar nervoso, mas não digo nada.A ausência de David é u
David Eu passo a noite em claro, deitado na cama que já não me parece minha. O cheiro da casa, as sombras nas paredes, tudo o que antes era familiar agora parece me sufocar. Não posso mais ficar aqui. Não enquanto cada olhar do meu pai me lembra que, para ele, eu sou uma decepção. Ele nunca vai aceitar Lizandra. Nunca vai aceitar que eu escolhi ela, que eu quero me casar e construir minha própria família longe da sombra dele. E se eu continuar aqui, essa guerra silenciosa entre nós dois vai me destruir.Antes do sol nascer, eu já estou de pé. O coração bate rápido, e as mãos trabalham quase de forma automática. Armo a mala com roupas, sapatos, meus relógios favoritos. Confiro minhas armas, uma por uma, como se fosse um ritual. Coloco meu material da faculdade dentro da mochila, o peso nas costas parecendo menor do que o peso no peito. Cada item que eu coloco na mala é um pedaço da minha vida que estou arrancando daqui.Quando passo pelo corredor, paro diante do quarto da minha mãe.