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O Despertar

Corria pelas ruas de forma apressada, não queria me atrasar, estava pensando na conversa com meus pais,  realmente queria entender o que eles queriam dizer com tudo aquilo, isso me incomodava muito, tentei pensar em outra coisa assim que avistei meus amigos Kazuya e Alice que estavam mais a frente e para minha surpresa Íris também estava com eles.

— Está atrasado cara. —  O garoto de rabo de cavalo disse me fazendo resmungar algo enquanto acenava para as duas irmãs ao seu lado.

— Que milagre é esse que você está vindo com a gente hoje, Íris? — perguntei encarando-a que sorriu calmamente.

— Estou apenas matando as saudades dos bons tempos — disse alisando o cabelo com as mãos e os colocando de lado, no momento Alice estava com os cabelos presos em maria-chiquinhas.

— Lice, por que você prende sempre o cabelo? —  perguntei olhando para a ruiva mais baixa, esta que apenas riu se divertindo com a questão.

— Para não ficar igual à minha irmã — disse apontando para a mais velha que sorriu.

— Maninha você tem que se soltar mais, sabe? Aproveitar a vida ou nunca vai ser notada por quem ama. —  Íris rebateu tirando o celular do bolso e mandando algumas mensagens.

Nós quatro andamos calmamente até chegarmos na escola, após chegarmos, Íris se despediu de nós três indo falar com o grupo onde Drake estava.

— Enfim, como foi os estudos ontem? — questionei olhando para os dois amigos que apenas riram.

— Foi bem normal, sabe? E você o que fez ontem? — perguntou a baixinha me fazendo suspirar.

— Ontem sem dúvidas foi o dia mais estranho da minha vida — resmunguei revirando os olhos e contando cada detalhe do dia anterior sobre as luzes estranhas,  meus pais agindo de maneira esquisita e para completar com a cereja do bolo as atitudes da Irecaelum mais velha.

— Que bizarro!

Alice disse fazendo uma careta e pegando um panfleto de alguns alunos que sempre estavam lá para falar sobre as novidades do colégio no jornal da escola.

Kazuya encarou a mesma, o olhar que a lançava era enigmático, não conseguia compreender o que ele queria dizer com esses olhares, até poderia jurar que eram idênticos aos de meus pais.

— Vai ver a energia está com algum problema em sua casa, sabe, problemas com fios, já que vocês nunca fizeram nenhuma manutenção ou algo do tipo — disse terminando de ler o panfleto e jogando no lixo.

— Uau! Só você mesmo. — Sorri impressionado observando-a, esta que apenas piscou o olho exclamando sorridente.

— Livros, pai dos burros, avô dos espertos.

Kazuya reagiu fazendo uma careta, odiava ler livros, ele sabia muito bem que alguns tinham boas informações e eram muito úteis no crescimento intelectual das pessoas mas ele simplesmente era preguiçoso, poucos chamavam sua atenção.

— Correção, pai dos burros é a internet. — Pisquei o olho sorrindo de canto provocando a menor, sempre discutimos a respeito de o que é mais necessário ultimamente, se era a grande rede ou se os clássicos livros.

Alice andou até ao meu lado beliscando meu braço me fazendo soltar um resmungo de dor.

— Idiota, não tente dar uma de esperto para cima de mim — rebateu exibindo um bico muito adorável em seus lábios, arrancando risadas de nós dois que observamos a menor

Seguimos nosso caminho até a sala de aula quando Alice parou para amarrar seu tênis, assim que se abaixou pude ver uma marca arroxeada em torno de seu pescoço o que atiçou minha curiosidade, que raios era aquilo? Estiquei a mão para a tocar arrancando um gemido baixo dela que se afastou rapidamente me olhando expressando um misto entre raiva e vergonha.

— O... o que você tá fazendo?   perguntou.

— O que é isso no seu pescoço? —  Indaguei encarando-a sem entender, Kazuya ao meu lado sussurrou algo que pude ouvir claramente por tá mais perto.

— Alice eu disse pra você dar um jeito nisso aí — escutei Kazuya sussurrando para a ruiva.

— A-ahh... foi uma vespa, ela me picou e eu sou alérgica a picadas e esqueci de cuidar disso. — Tentou explicar gesticulando as mãos no ar.

Ela estava claramente insultando minha inteligência, porém fui bonzinho e decidi fingir acreditar nisso.

Andamos até chegarmos na sala de aula onde nos sentamos em nossos respectivos lugares, já imaginava o longo dia que seria quando a Srta. Honda entrou dentro da sala com seus cabelos grisalhos, olhos claros e jaleco branco, olhando à classe seriamente por cima dos óculos.

— Abram na página 54 — disse com sua voz enjoativa e falha, todos obedecem e começam a estudar sobre a matéria enquanto a professora escrevia no quadro.

Peguei meu caderno rapidamente igual aos outros alunos assim que peguei minha caneta em meu estojo, porém pouco depois de acomodá-la em meus dedos ela tomou um impulso subindo e se prendendo ao teto, arregalei os olhos logo em seguida os coçando para ter certeza que não estava sonhando, suspirei ainda desacreditado.

— Cara, isso não tá acontecendo... — murmurei tentando ignorar o fato que minha caneta estava presa no teto pegando outra que também subiu me irritando.  — Os espíritos estão de sacanagem comigo hoje, só pode — bufei ainda olhando pra cima tentando procurar qualquer tipo de explicação para aquilo.

— Sr. Jukhen tem algo de errado no teto da sala? —  A Professora com cara de sapa se aproximou porém estava ocupado demais pensando em como aquilo poderia tá acontecendo, seu olhar seguiu o meu por fim entendendo o motivo de meu espanto.

— Professora, diz pra mim que isso tem uma explicação científica — sussurrei esperando uma resposta no mínimo aceitável todavia a educadora apenas me ignorou e voltou para a lousa.

— É, de fato tem espíritos brincando comigo — murmurei confirmando minha teoria para aquele fenômeno deitando minha  cabeça na mesa, como iria escrever algo sendo que as malditas canetas se negavam a se manter em minha mão?  Optei por ignorar tudo então não demorou para caísse no sono assim que acordei notei que já estava na terceira aula e para minha surpresa nenhum professor se incomodou com o fato de ter adormecido, talvez porque eu fosse um bom aluno, olhei para cima ainda tonto de sono notando que as canetas não estavam mais grudadas. Foi um sonho?  Já estava quase me convencendo disso quando notei as canetas pretas caídas a alguns passos de distância de minha mesa, me aproximei com cuidado as pegando segurando com força ironicamente dessa vez se mantiveram em minhas mãos, ignorei tal fato e me foquei na atividade em aula.

Após o sinal bater e todos saírem da sala enlouquecidos e ansiosos pela diversão e pela pausa das aulas, nos dirigimos para as costas do prédio escolar onde tinha uma goiabeira, nos sentamos abaixo dela – um ótimo lugar para descansar.

— Primeiro as lâmpadas, depois meu material fica preso no teto, realmente tem espíritos me zoando — murmurei olhando para o céu, fechei os olhos novamente mesmo que tivesse descansado ainda me sentia confuso por tudo que estava acontecendo Kazuya e Alice conversavam sobre algum jogo de RPG que eu realmente não fazia questão de entender, então continuaria assim até o intervalo acabar até ser despertado por vozes que eu conhecia muito bem, senti a claridade incomoda em meus olhos até por fim encarar Íris e o novo namorado Drake.

— Então, vai ter festa? — Drake perguntou-me olhando de cima a baixo.

— Provavelmente não —  respondi de forma seca, eu não gostava dele mesmo que tivesse uma festa, ainda sim ele não seria convidado e não era só por ego ferido mas sim porque não era um cara agradável.

— Como que ele sabe do meu aniversário? — perguntei para a ruiva que apenas deu de ombros.

— Eu contei, oras —  respondeu como se fosse nada demais.

— É então, finalmente estão namorando? — questionei demonstrando a raiva rangendo os dentes, olhando o novo casal que sorriam com asco e um selinho rapidamente foi efetuado entre eles respondendo minha pergunta idiota,  Alice ao ver a cena apenas bateu a mão em seu rosto em indignação enquanto Kazuya revirava os olhos de tédio e desânimo.

— Parabéns ao casal! —  parabenizei me levantando, andei em direção ao lado do refeitório onde comprei um salgado frito recheado de presunto e queijo para comer, era o que me faria acalmar. Após ingerir o alimento salgado segui o caminho do bebedouro e assim que meus lábios entraram em contato com a água senti um arrepios consumir meu corpo, senti por dois segundos que iria ter um troço fora o impacto que senti me empurrando a alguns passos para trás me indignando de vez.

—  O que? Eu fui empurrado para trás? Foi isso que aconteceu?! — Balancei a cabeça totalmente em negação para mim tinha sido o limite de minha paciência, iria a diretoria imediatamente ligar para meus pais para pedir uma permissão para me dispensarem porque definitivamente eu não estava bem, seguiria meus planos quando senti alguém segurar meu braço olhei para o lado encontrando os olhos castanhos de Íris me encarando impedindo-me de andar.

— Jukhen, preciso falar com você, ok? — Ela disse arrancando um suspiro cansado de minha parte.

— Estou ocupado agora, se queria falar comigo poderia ter dito antes —  respondi de forma fria e seca, eu realmente não queria papo com ela.

— Por favor, é rápido. — Ela me arrastou para o lado contrário até a quadra onde poucas pessoas ficavam, a não ser que fosse para se aventurar em alguma partida de algum esporte. Nos sentamos no banco de cimento que ficavam ao redor do lugar onde os reservas de times esperariam para entrar, ela se encostou na parede observando o ambiente e depois suspirou me olhando.

— Então eu vou direto ao ponto... — Notei que ela evitava me olhar nos olhos encarando o chão. — Poderia me esquecer? É que agora eu estou namorando, sabe? E fica chato você ficar pensando que vai ter algo comigo, né? então poderia por favor tentar me esquecer? Sei que é difícil, mas você consegue, né? Eu confio em você, só isso, quero que nós dois sejamos amigos, ok? — Ela disse segurando minhas mãos, foi inevitável deixar uma risada irônica escapar.

— Então... pare de me iludir… você disse que nós dois nunca daríamos certo, que você não sente nada por mim e eu entendo isso, mas me explica o que estava fazendo ontem? Estava me seduzindo, é quase como se estivesse pedindo para que eu dê atenção a você. Então Íris, faça o favor de não me encher mais, ok? —  disse a olhando irritado, deixando que tudo que estava entalado em minha garganta finalmente se libertasse me levantei seguindo para a saída da quadra quando senti os braços femininos cercarem minha cintura me abraçando por trás.

— Eu não quero que você me odeie, apenas que nós possamos voltar a ser o que éramos. — O tom de sua voz era triste, balancei a cabeça massageando as têmporas eu iria ceder novamente como sempre fazia mas dessa vez era diferente eu estava realmente de saco cheio.

— Não! — respondi, sentindo ela se desvencilhar de meu corpo.

— Por que não? —  Questionou com a voz embargada.

— Não podemos ser o que já fomos… só amigos, é o que sempre somos e o que sempre seremos. — respondi revirando os olhos a ignorando. Segui novamente de volta a sala, eu estava furioso de verdade.

 Assim que pisei para dentro do ambiente as lâmpadas explodiram, me assustando vacilei ao notar que uma delas se encontrava em cima do Professor de Física que não esperava pelo objeto que caiu em cima dele sendo este a lâmpada espatifada.

Observei a cena completamente incrédulo, mas que porra que tinha acontecido ali? Ainda bem que Kazuya, Alice e Íris coincidentemente chegaram após o acidente porque se fosse somente eu para explicar ninguém acreditaria. Não demorou para sermos solicitados até a diretoria enquanto uma ambulância levaria o educador para o hospital central da cidade, assim que adentramos a sala fomos recebidos por Minnie a Diretora do Colégio.  A mulher tinha lindos cabelos pretos que caiam como cascatas em suas costas, olhos também pretos como a noite, era alta, pele alva e trajava camisa social branca com calças sociais. Possuía 29 anos, diferente das diretoras comuns ela era bem boazinha e compreensiva mas isso não a impedia de comandar com mãos de ferro.

— Então o acidente aconteceu quando vocês estavam entrando na sala, né? — questionou anotando o que ouvia em uma caderneta.

— Sim, foi exatamente isso o que aconteceu. —  Alice dizia com uma expressão séria.

— Vocês viram alguma coisa diferente na sala? — Ela elevou o olhar para nos encarar, porém a menor do grupo continuava explicando tudo que havia acontecido como se fosse a coisa mais normal do mundo e isso nem me espantava, afinal ela sempre foi a mais calma dentre todos nós, o que realmente me intrigava era sua tranquilidade.

— Não, nós já teríamos lhe informado caso tivéssemos visto alguma coisa anormal. —  Sua serenidade realmente estava me assustando.

— Você está bem calma para alguém que viu uma pessoa quase morrer em sua frente — disse a olhando sério, ela apenas deu de ombros como se não fosse nada e respondeu: — São coisas que acontecem.

— Ok, estão dispensados, por favor voltem para a sala. — A Diretora ordenou nos dispensando assim que terminou sua anotação.

Meus amigos e eu retornamos para a sala, eu queria contar o que havia acontecido com mais detalhes e menos frieza que Alice que eu tinha a impressão que poderia haver comigo, mas com certeza me achariam que eu sou louco ou pior considerar que estava fazendo uma brincadeira de mal gosto.

Mordisquei o lábio irritado e me levantei novamente a lâmpada vibrou acendendo automaticamente e em seguida espatifando-se. Minnie observou aquilo completamente assustada e não era para menos eu também me senti amedrontado com aquilo, por isso tratei de sair dali ao invés de ir para minha sala, atravessei o corredor para o lado contrário da diretoria chegando ao laboratório de ciências.

O som da música dos Betts se escutava vindo da sala, levei a mão até a maçaneta e abrindo.

Wickie o irmão mais velho da Diretora Minnie estava fazendo mais um de seus experimentos malucos, ele era meio lunático, dizia conseguir ver o futuro e ler mentes mesmo sendo meio louco era um bom professor mas diferente dos outros professores que usavam jaleco ele preferia: uma jaqueta de couro, camisas de rock principalmente de banda de metal pesado, calças rasgadas estilo punk e chinelos era o significado vivo de um professor vida louca, sua aparência era muito igual a da irmã caçula.

— Jukhen, eu sabia que era você. — Ele exclamou de forma animada.

Suspirei fechando a porta atrás de mim e indo até ele me sentando na cadeira ao seu lado, o próprio se concentrava em derramar um líquido gosmento e esverdeado em uma outra vasilha.

— Professor, algo estranho está acontecendo comigo — disse de forma preocupada porém o adulto à minha frente se encontrava mais interessado no que fazia do que em meu desabafo.

— É normal os hormônios estarem agitados nessa idade — respondeu me emputecendo, balancei a cabeça em negação o encarando.

— Não tem nada a haver! Acontece que coisas estranhas andam acontecendo comigo, eu sinto que estou pirando aonde eu vou: lâmpadas explodem ou começam a piscar ou quando bebo água sinto meu corpo em chamas e sou empurrado para trás, fora as canetas se prendendo no teto.

— Estranho? Nós achamos as coisas estranhas porque é algo novo, para que nós aprendemos a se acostumar com o diferente.

— Me acostumar? Como você quer que eu me acostume com lâmpadas explodindo aonde eu vá? — O Professor voltou a mexer no líquido gosmento me fazendo bufar, será que ele poderia se importar só um pouquinho mais a respeito do meu problema? Não era difícil.

— Vou te fazer uma pergunta.

— Diga — respondi revirando os olhos já sabia que provavelmente soltaria mais um de seus enigmas sem sentido.

— Você sabe por que as pessoas sentem ódio? — questionou, voltando a sua atenção para seu experimento.

— Eu não faço ideia, porque normalmente seria detestar algo, mas conhecendo você tenho certeza que vai dizer algo completamente diferente — respondi cruzando os braços encarando-o tediosamente.

— Muito bem, está aprendendo. O que eu quero dizer é que as pessoas odeiam as coisas porque não entendem, o preconceito existe por causa disso. Quando você não entende algo a justificativa do ser humano sempre é a mesma, "ódio", se você compreender isso vai saber lidar com esse seu atual problema — explicou como se fosse uma super explicação e solução para o meu problema colocando seus headphones em suas orelhas o que significava que a conversa tinha acabado.

— Obrigado pelo enigma, ajudou muito, como sempre —  ironizei abrindo a porta do laboratório para ir embora, agora mais calmo. Pude pensar nas palavras que ele havia dito, ainda bem que faltava pouco para as aulas terminassem, só faltava uma aula para poder ir embora. Ao entrar na sala, recebi vários olhares, ignorei todos e me sentei na minha cadeira.

— Ficaram sabendo? O professor de história veio hoje — diz Bryan, um garoto de cabelos loiros que usava óculos fundo de garrafa, fofocou para Kim uma das amigas de Íris.

Os alunos ficaram bem surpresos, normalmente quem lecionava era a Professora Lily, loira dos olhos verdes, corpo escultural e seios medianos. Uma coisa que a caracteriza é sempre estar usando roupas provocantes, ela que assumia as aulas de histórias, suas vestimentas sempre dificultavam os alunos a prestarem atenção nas aulas, já que a maioria deles estavam entrando na puberdade.

Logo um homem de longos cabelos vermelhos e olhos de cor escarlate, corpo musculoso e roupas diferentes do normal que um professor comum usaria, entrou na sala com um semblante sério, arrumou a capa preta junto da camisa e a calça  preta.

— Aí Kazuya! —  Drake berrou. — Achamos um parente seu — brincou fazendo Kazuya revirar os olhos.

— Muito bem, sem questionarem e nem reclamarem, página 128, agora!

O homem lançou um olhar sério para toda a turma e logo todos trataram de seguir as ordens do professor.

Ele era bem rígido com a matéria, tanto que eles acabaram ficando na escola mais tempo do que o esperado, enquanto todos não tivessem entendido ninguém poderia ir embora. Os alunos foram liberados três horas da tarde.

Eu estava com tantas coisas na cabeça que não estava conseguindo resolver as questões do livro, respondia o que achava ser certo. Por tal motivo acabei ficando junto a outros alunos que tentavam acertar a atividade para finalmente conseguirem se livrar da aula.

O Professor se aproximou pegando meu caderno sem cerimônia analisando a matéria assim que terminou depositou novamente me encarando friamente. 

— Você acha mesmo que foi assim que aconteceu? Que Órion se destruiu por amor? —  Seus lábios soltaram uma gargalhada de escárnio revirando os olhos.  — Você só sai daqui depois que terminar as questões até a página 150 —  respondeu de forma autoritária saindo da sala em seu lugar um monitor tomou a liderança.

Como a história era a minha matéria preferida seria fácil, mas minha cabeça estava perdida em milhões de pensamentos e lembranças dos acontecimentos de hoje o que me incapacitou de levar a sério a atividade a finalizando somente as 20h30. Sim, o maldito cara era um renomado educador de uma escola vizinha logo ele tinha poder para tal punição

— Terminei! — exclamei me levantando e entregando para o monitor que deu o visto e finalmente me dispensou

Suspirei irritado indo até sua cadeira pegando a mochila e guardando o material, coloquei-a nas costas e já ia saindo quando acabei esbarrando em alguém que acabou indo para o chão pela surpresa.

— Me perdoe —  disse observando quem havia sido minha vítima, ninguém menos do que a própria Diretora.

— Está tudo bem. — Sorriu em agradecimento pela ajuda. — Você não devia estar aqui, ainda é perigoso. É melhor ir para casa, antes que escureça por completo.

Concordei me despedindo dela e saindo do prédio escolar na boa que dia desgraçado, eu realmente não deveria ter vindo a aula na véspera do meu aniversário. Corri até chegar finalmente em meu bairro, o que me tranquilizou e caminhei mais tranquilamente colocando meus fones até acabar trombando com outra pessoa.

Estava virando rotina aquilo? Ao olhar para o chão percebi que dessa vez se tratava Íris, a garota estava com os cabelos soltos como sempre usava um vestido verde e estava bem maquiada, presumi que estava indo para um encontro com Drake já que ela tinha saído antes junto com Alice como tínhamos a mesma altura ela se levantou limpando a sujeira da roupa.

— Oi — disse olhando para ela, esta que fixou seu olhar na mochila em meus ombros.

— Oi, por que está saindo da escola só agora? — perguntou, porém eu não respondi, apenas continuei parado a encarando.

— Jukhen, por favor não me trate assim! — Ela implorou me olhando tristemente.

— Eu estou te tratando normalmente — retruquei cruzando os braços a fitando.

— Eu só quero que nós dois sejamos amigos, ok? Poxa! Nós nos conhecemos desde criança, quer abalar tudo? — Ela desabafou.

Um longo suspiro irritado saiu de seus lábios, seria possível? Só queria chegar em casa e curtir seu último dia com 14 anos, mas pelo visto todo mundo queria me atrasar.

— Íris, já falei, nós somos amigos. Aquilo foi na hora da raiva tá? Agora pode por favor me dar licença? — Pedi passando por ela, andando em direção a minha casa, porém novamente a mão da garota segurou meu braço me parando ali.

— Você mudou... não é mais o mesmo, antes me tratava bem melhor, era mais carinhoso e atencioso comigo, eu sou a sua melhor amiga! Então, por que me trata assim agora? — Ela perguntou e ali minha paciência havia se esgotado novamente, era incrível como ela conseguia fazer isso em tempo recorde.

— Iris, você era minha melhor amiga, a partir do momento que começou a brincar comigo deixou de ser.  Quantas vezes você me fez de otário? Uma coisa é você dizer que não rola nada entre nós dois e a outra é você me usar para fazer ciúmes nele. —  Encarei ela seriamente, já estava farto daquela situação e não queria confrontá-la desse jeito.

— Eu não estou te usando como segunda opção, eu te avisei que não rolava nada entre nós. — Ela respondeu me fazendo ranger os dentes.

—  Vamos ser sinceros um com o outro. Começando comigo. Você nunca foi obrigada a ser minha amiga, já faz tempo que eu reparei que você deixou de andar comigo com o Kazuya e com a Alice para ficar com os populares só porque está gostando do Drake. Não te odeio por isso, sabe por que? Eu não mando em seus sentimentos, ninguém manda Eu só quero que me avise quando for deixar seus amigos de lado, os amigos que toda vez que você saia com o cara errado estavam lá para te ajudar porque é isso que nós fazemos e você não valoriza, prefere muito mais a popularidade do que aqueles que te querem bem —  respondi de forma ácida e fria, nunca imaginei que fosse falar com ela daquele jeito.

Só queria ir para casa e me deitar, passei por ela encerrando nossa discussão ali e segui a passos lentos até chegar na minha rua e mais uma vez as lâmpadas estavam apagadas, só que dessa vez estranhei a casa que justamente estava sem luz ser logo a minha, era muita sacanagem. 

Suspirei pensando pelo outro lado era meu aniversário então muito provavelmente poderiam estar planejando uma festa surpresa isso até que explicaria Íris de vestido mas novamente não fazia muito sentido, balancei a cabeça abrindo o portão me aproximando da casa. Levei a mão até a maçaneta girando-a,  esperando tá trancada mas com um ranger irritante que tomei ciência de que se encontrava aberta. Ok, isso é um mau sinal, meus pais jamais deixariam a porta aberta sempre a trancavam.

— Tenho certeza que eles ainda não foram dormir, não me deixariam para fora. — murmurei andando em direção a sala e não havia ninguém... escutei barulhos no andar de cima, porém como a casa se mantinha no breu acreditei que não fosse meus pais, fui até a cozinha procurando uma faca me armando, poderia ter ladrões na casa, o medo e a tensão consumiam o meu ser.  

Andei lentamente até o quarto de meus pais empurrando a porta e dando de cara com eles ajoelhados, um homem de cabelos escarlates que caiam sobre as costas do homem se encontrava em minha frente porém de costas, assim que me aproximei me dei conta de que se tratava do meu professor de história, o que diabos ele estava fazendo ali? E seus olhos por que se encontravam em um tom esbranquiçado lembrava muito um monstro.

— Professor?! Mas o que está acontecendo aqui?!

— Jukhen, você demorou, já estava ficando entediado com a sua demora. — Ele abriu um sorriso doentio me assustando, apontei a faca em sua direção tentando parecer me valente apesar de morrer de medo daquela situação.

— Solte eles! — Pedi tentando uma ameaça que soou mais do que vazia.

— Não é tão fácil assim, o que você acha que eu sou? — questionou me fazendo erguer a sobrancelha esquerda me sentindo confuso.

— Sei lá... um lunático? —

— Me chame do que quiser. —  Ele deu de ombros me irritando.

— E o que quer de meus pais?

 — Não é com seus pais, é com você!

— E o que quer comigo? —  Vacilei dando alguns passos para trás naquela situação era muito desesperadora, ele parecia se divertir com a expressão de medo em meu rosto.

— Eu preciso que você me odeie!

—  Eu já te odeio!

— Ah não, definitivamente você ainda não me odeia, talvez esteja irritado comigo e com medo de mim, mas ainda não sente isso e antes de eu fazer você me odiar vou te explicar o porque…  —  Ele fez uma pausa se sentando na cama de casal.

— Já ouviu falar de Oráculos, certo? — Ao notar a expressão confusa do meu rosto revirou os olhos.

— Verdade, eu me esqueço que você é apenas uma criança, existem os poderes para cada pessoa certo? Vocês ainda não estudaram sobre isso, mas antigamente existia um poder antigo que foi capaz de destruir civilizações, divindades, e até mesmo um deus porém por ser muito caótico essa habilidade foi selada  A partir daí ele surgiria a cada dez anos, em uma pessoa aleatória e quando esse hospedeiro morresse só daqui a dez anos outra pessoa nasceria com esse poder.  É uma dádiva que um ser milenar passou para nós do reino terrestre.

— E que droga isso tem a haver comigo? — Vociferei já totalmente tomado pela fúria.

— Esse poder desperta quando o escolhido completa uma idade a partir de no máximo 14 anos seus poderes estão gritando para sair. — Sorriu maldosamente me fazendo olhar minhas mãos assustado fazia sentido mas será que eu realmente tinha tal poder? Era absurdo, mas explicaria todas as outras coisas malucas que estariam acontecendo. — Vejo que entendeu que esse poder é uma das maiores armas da natureza e você teve a sorte de nascer neste lugar medíocre de Diamond Town, onde os poderes são restringidos por um diamante especial, é o que está interferindo em seu despertar se tivesse em outro lugar já teria varrido esse lugar do mapa faz tempo.

— E o que tem a ver esse Oráculo?

— Oráculos contam histórias de profecias e essa em especial diz que o ódio do Herdeiro de Ryousei, no caso você irá dar fim ao último membro do Clã Sanguinem, no caso eu: Cronos Sanguinem.... essas profecias estragaram minha vida, quando eu tinha sua idade vi meus pais serem mortos, eu vi todos da minha família morrerem por causa dessas profecias então pensei em colocar a minha a prova está na hora de enfrentar, e aqui estou eu pronto para desafiar a nossa profecia e enfrentar o guerreiro destinado a me derrotar, mas ele está preso em você uma criança inútil, então para despertar esse seu poder, é necessário certos sacrifícios, não concorda? Eu os paralisei com o meu poder só falta sacrificá-los. — Cronos disse levantando a mão direita até as costas tirando dali uma espada, a lâmina era longa com detalhes em vermelho o cabo tinha uma pequena caveira, parecia bem leve para se segurar mas aquilo definitivamente não era algo importante, e sem pensar corri em sua direção com a faca em mãos porém ele foi mais rápido me empurrando para o chão, me levantei com dificuldade observando meus pais que apenas me observavam com lágrimas nos olhos, pareciam que eles já haviam aceitado aquilo.

— Campeão, está tudo bem, será rápido, apenas feche os olhos. — Jin disse me olhando, senti minha respiração falhar, aquilo não estava acontecendo, não podia ser real.

— Nós te amamos querido. — Agnes sorriu o fazendo morder o lábio nervoso.

— Cronos eu te imploro... não faça isso, a profecia pode estar errada — Insisti esperando que ele pudesse mudar de ideia implorando para que ele deixasse as pessoas mais importantes do mundo para mim vivas. 

Mas sem pensar duas vezes ele perfurou o peito do casal, retirando sua lâmina do corpo coberta de sangue, os dois automaticamente foram ao chão o sujando do líquido vital. Bradou sua arma ao ar espirrando o sangue inocente em meu rosto meus olhos se encontravam arregalados, lágrimas escorriam por minha face e um filme sobre todos os momentos preciosos que passei ao lado eles rodou em minha mente, minha respiração falhou, a boca ficou seca e senti uma fúria incontrolável consumir meu corpo as lâmpadas presentes na casa explodiram junto com um barulho parecido com um rugido de leão que se fez presente fechando o céu limpo em nuvens de raios.

Cronos olhava aquele fenômeno fascinado após os lampejos pararem de iluminar o céu  meus punhos foram cobertos por um brilho azulado que faiscava e dançava entre minhas mãos corri em sua direção com a fúria em meu olhar, porém tudo que ele fez foi esticar a mão e abri-la parando meu soco como se não fosse absolutamente nada.

— Eu não acredito... —  murmurei desacreditado. Onde eu estava com a cabeça? 

— Você é apenas um garoto, não tem como me matar agora, seus poderes acabaram de despertar é perda de tempo esperar que você me derrote hoje... eu volto daqui a um ano para ver se o seu ódio vai mesmo ser maior que o meu poder, até breve Herdeiro de Ryousei —  Após se despedir o mesmo me arremessou como se fosse um travesseiro contra a parede, o impacto me fez soltar um grunhido de dor. Aterrissei com o rosto no chão, doía demais, me arrastei até o corpo de meus pais que ainda continuavam respirando o que me deu um pingo de esperança em tentar reanimá-los algo em meu interior sabia que era perda de tempo, mas precisava tentar.

— Mãe... — Tentei acordá-la assim como meu pai, a tonalidade de sua íris estava enfraquecida havia perdido muito sangue.

 — Querido... — novamente a mulher sorriu, olhando para o relógio que marcava onze e cinquenta e três.

— Q-Querido nós te amamos muito, tentamos esconder de você esse seu dom, sabíamos que uma hora ou outra você iria descobrir, nós estávamos nos preparando para esse momento, nos perdoe quando descobrir a verdade... você é nosso maior tesouro, não esqueça o quanto amamos você. —  Ela elevou a mão até meu nariz o apertando levemente, depois de tal ato o antebraço despencou caindo para o lado os olhos dela agora estavam fechados com um sorriso terno nos lábios.

— M-Mãe? — Solucei fechando meus olhos com força, não podia ser real, não podia ser.

— Campeão, nós sentimos muito por tudo... meu celular, ele está em meu bolso, pegue ele e ligue para o Lee, nosso velho amigo, ele vai se encarregar sobre o enterro... — Entre soluços e lágrimas confirmei com a cabeça prestando atenção no que meu pai dizia, não tinha como me apegar a uma esperança morta ninguém sobreviveria com um buraco no peito — Eu conheço uma pessoa, ele era amigo de meu pai, ele se chama Kai ele comanda um clã para ajudar jovens troublemakers a controlar seus poderes e a conviver com eles. Fica em Pearl Town, em sua gaveta irá encontrar dinheiro para conseguir ir para lá, ele irá te treinar e ajudar a controlar esse seu dom, se torne um bom homem, lute pelo o que é certo, acredite em si mesmo, encontre alguém e ame com todo o seu coração… — Eu te amo filho, eu sei que trará muito orgulho para nós, sempre estaremos com você. — Ao dizer isso os olhos castanhos escuros se perderam na escuridão, junto ao som da badalada do relógio na parede indicando ser meia noite mesclados ao choro de minha alma por ter meu coração partido no dia que completei 15 anos o dia em que me tornei orfão.

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