Esta foi a primeira vez que Rafaela iniciou uma conversa. Teófilo estava sentado à mesa preparando café:— Fale.Rafaela observava os desenhos na cafeteira e começou lentamente:— Quando fui sequestrada anos atrás, me levaram para as montanhas, onde sofri muito. Por sorte, consegui escapar...Ela não detalhou seus sofrimentos, mencionou eles apenas superficialmente. Teófilo, interessado, perguntou:— Como você conseguiu escapar?Afinal, as informações que ele tinha eram muito vagas, sem detalhes específicos.Rafaela ainda evitava entrar em detalhes:— Foi simples, eu planejei por um longo tempo. Escondi um isqueiro e incendiei o feno armazenado deles. Eram tão pobres que o fogo não duraria muito, mas... — Ela fez uma pausa antes de continuar. — Antes de atear fogo, tranquei aquela família em um quarto e os queimei vivos. Depois de sair das montanhas, caminhei por mais de um mês. Devido às graves queimaduras, todos me viam como um monstro. Felizmente, encontrei pessoas bondosas. Passei
Embora Rafaela tenha sido agredida, um sorriso doentio e obsessivo surgiu em seu rosto:— Eu sou louca, por que todos os sofrimentos do mundo devem recair sobre mim? Já que estou no inferno, vou arrastar mais pessoas comigo. Irmão, se há alguém para culpar, culpe você por amá-la! — Enquanto falava, parecia que ela se lembrava de algo mais e acrescentou. — Não importa se você me bater, mas não esqueça que eu sou a mentora, mas você é o executor. Você é quem se recusou a acreditar nela, não se importou com ela, a negligenciou, a intimidou, e a machucou mais profundamente, não eu.Teófilo baixou a mão que havia levantado, reconhecendo que Rafaela não estava errada e que ele era a principal razão, não tendo direito de se ressentir de outros.Ele se sentou desanimado e acendeu um cigarro, olhando para o vazio:— Agora que ela se foi, perdi tudo. Está feliz agora?O olhar de Rafaela pousou no rosto magro e abatido de Teófilo. Ela não disse nada, e era incerto o que estava pensando.Um silênc
Patrícia passou por seis sessões de quimioterapia, uma a cada vinte e um dias, completando seis meses após a última sessão. Para ela, cada dia desse semestre foi como viver no inferno, com os efeitos colaterais da quimioterapia invadindo cada órgão. Ela sentia um frio constante, suas mãos e pés sempre gelados, sem força nas pernas, e uma dor aguda nos ossos. Nanda olhava para ela com compaixão:— Patrícia, você resistiu, completou as seis sessões de quimioterapia, você é mais forte que a maioria das pessoas.Deitada na cama, Patrícia se sentia fraca e tonta, e falou com voz fraca:— Nanda, me ajude a sair para ver o sol, acho que fiquei deitada por tempo demais.— Certo.Nanda a empurrou na cadeira de rodas, o país no hemisfério sul só agora entrava no inverno. A temperatura aqui era geralmente mais quente do que na Cidade A, mesmo durante o pico do inverno, não nevava na área urbana. O sol de inverno aquecia seu corpo, e Patrícia apertou os olhos, levantando a mão para bloquear a
Os dias de doença são uma tortura a cada segundo, e ainda falta um mês. Patrícia suspirou, esperando conseguir contatar Marcos mais cedo, mesmo que fosse apenas para ver uma foto das crianças. No entanto, Marcos devia ter uma identidade especial, e ela não se atreveu a usar o número antigo novamente, simplesmente não conseguia contatá-lo. Teófilo continuou esperando e, finalmente, chegou uma nova atualização de vídeo de Patrícia. Ela não saía do quintal há muitos dias, o que mostrava o quão fraca ela estava, hoje só podendo se sentar numa cadeira de rodas.Teófilo passou os dedos pela tela, ela parecia mais magra do que da última vez, sem um pingo de gordura no rosto, o queixo pontudo, especialmente os olhos, que estavam assustadoramente grandes.— Esta é a sexta vez, certo?— Sim, esta quimioterapia é a última, depois é só descansar bem.— A Paty não vai incomodar as pessoas por muito tempo, assim que ela melhorar um pouco, ela vai embora. Vocês mantêm um olho apertado ao redor da
Ao ouvir essas palavras, o celular de Patrícia escorregou das suas mãos e caiu no chão com um barulho surdo, assustando Nanda, que estava ao telefone com Roberto. Nanda desligou rapidamente o telefone e se voltou para Patrícia:— Patrícia, o que aconteceu com você?O rosto de Patrícia estava pálido:— Não é nada, não se preocupe.Nanda recolheu o celular, cuja tela ainda exibia o rosto de Teófilo. Ela limpou o aparelho, entregou ele a Patrícia e tentou consolá-la:— Patrícia, não se preocupe, ele não sabe que você ainda está viva. É crucial que você se liberte da influência dele.Nanda refletia sobre o que Teófilo poderia ter feito a Patrícia, já que ela ainda tinha tanto medo dele.Patrícia assentiu, mas seu medo era palpável, se sentindo como se Teófilo estivesse falando diretamente com ela.— Certo, ele não pode saber que eu ainda estou viva. — Murmurou em voz baixa.Ela também tentava se convencer internamente, raciocinando que se Teófilo realmente soubesse, não a deixaria livre
Patrícia olhou para os rostos sinceros e bondosos dos dois, sentindo uma onda de calor no coração.Embora tivesse enfrentado muitos contratempos em sua vida e encontrado muitas pessoas ruins, parecia que o destino também colocava pessoas amáveis em seu caminho, e ela não era tão azarada assim.Pelo menos desta vez, a deusa da sorte ainda estava ao seu lado.— Bem, mas eu já estou muito melhor agora, Nanda pode voltar ao trabalho e não precisa mais cuidar de mim.— Mas...— Está decidido, não quero mais tomar o tempo de vocês, e além disso, este é o apartamento de vocês como casal, como eu poderia ficar aqui por muito tempo? Eu posso encontrar um apartamento menor para mim, só preciso de um cozinheiro, e ainda poderei sair para passear.Roberto não queria que ela se preocupasse com essas pequenas coisas e concordou imediatamente.— Está bem então, vou mandar alguém organizar isso para você.Roberto era muito eficiente e rapidamente encontrou um novo lugar para Patrícia, um térreo espaço
Patrícia, com uma expressão calma, perguntou:— Você está precisando muito de dinheiro? Ainda tem alguém na sua família?Raul passou a mão na nuca:— Sim, na minha terra natal ainda tenho minha mãe e algumas vacas.— Não é casado?— Quem trabalha no nosso ramo tem tempo para namorar? Se eu casasse, teria que deixar a esposa em casa sozinha, melhor não atrapalhar a vida de ninguém.Patrícia continuou:— Onde você trabalhou antes?— Minha vida sempre foi dura. Quando era pequeno, minha família era pobre, depois me tornei soldado. Quando deixei o exército, trabalhei em diversos lugares, como cassinos, clubes noturnos, segurança particular, fazendo cobranças para terceiros. Já fiz qualquer trabalho que pagasse.— Quem era seu último empregador?Patrícia já não era mais a mulher jovial, amável e extrovertida de antes. Ela estava com uma expressão calma, sentada com uma expressão fria, mas exalando uma aura que intimidava os outros.Ela havia amadurecido bastante e não confiava mais facilmen
Os dias passaram de forma monótona por duas semanas, e ela estava bastante satisfeita com Raul, que praticamente não tinha presença. Durante o dia, enquanto ela ficava dentro de casa, ele permanecia no jardim, sem sequer entrar na sala de estar, muito menos no quarto principal. Somente quando ela ia dormir à noite é que ele voltava para seu quarto, e pela manhã, quando Patrícia acordava, ele já estava fazendo exercícios no jardim. Se ela quisesse sair, chamava-o, e ele empurrava sua cadeira de rodas, às vezes para fazer compras no supermercado, outras vezes para passear pela comunidade. Ele falava o mínimo necessário, e muitas vezes era fácil esquecer que ele estava lá. Até que um dia, ele bateu de leve na porta de vidro da sala. Patrícia abriu a porta, olhando para ele com uma expressão serena:— O que foi?A face apática do homem mostrou um vislumbre de constrangimento:— Srta. Patrícia, eu encontrei um gatinho lá fora e ele parece muito triste. Devemos levá-lo para casa?Patrí