Khalil Mustafá Furak
APERTO TANTO o pescoço de Agatha e levanto-a que seus olhos se arregalam ao limite, o vigor que há em meus pulsos permite usar ainda mais da minha força, meus dentes trincados e sua vida por um fio. Atiro ela em cima da mesa, algumas velas tremeluzem ainda mais e livros caem no chão como pequenas bombas. Ela ofega com intensidade tentando recuperar a respiração ao normal, coloco munição na arma pronto para crivar a vidente com os tiros quando ela pega seu celular e grita:
— Posso provar! Faço-a dizer palavra por palavra Mustafá! Acha que eu mentiria sabendo que iria morrer?! Me dê essa chance, me dê a chance de tirar o veneno dela dos seus olhos.
Agatha ligou tremendo, a cada palavra enquanto olhava em meus olhos, ao início foi uma conversa patética onde Aisha menosprezava minha pequena, onde meu ódio se alimenta como um cavalo do deserto. O único momento que realmente fez eu franzir a testa foi
Anna AndariaTRÊS DIAS DEPOIS:— Você só precisará mexer a cintura desta maneira, sem usar muita força, com toda a delicadeza e os olhos predominantes como sempre, olhos extremamente sedutores. A professora fala enquanto Jamile reproduz o que devo fazer com perfeição em cima de uma cadeira, ela sorri rebolando, o véu fino em seu rosto deixa os olhos brilhantes.— Agora é sua vez, Andaria. A professora Jade pede e eu paraliso. — Não vou precisar disso, pelo menos não por algum tempo. — Mas por que minha flor?Abro a boca para dizer quando Stela entra na sala e interrompe qualquer possibilidade:— Anna precisa vir comigo, imediatamente, se me permite claro.Stela fecha a porta do
Aisha HussainAS CAMIRANGAS, abutres, apitãs e todas as malditas aves do deserto gritam no sol ardente, não sei qual odor é o pior os dos estupradores, das carniças que alimentam as aves ou o meu?Três dias se passaram e eu só desejo a morte, não sei como ainda estou viva! E só estou por que Mustafá me mantém assim, os médicos costuraram meu peito porque se não morreria de hemorragia em horas.Fui obrigada a andar horas com uma maldita máscara que castiga minha língua a cada momento que eu tente mexe-la, meus pés carcomidos por ácido não aguentam e eu caio diversas vezes, fazendo Habib puxar as hastes dos cavalos e cavalgar mais de pressa, me arrastando, fazendo minhas costas corroídas arderem ao extremo e eu não resisto ao grito, minha língua inteiramente furada é ainda mais excomungada. Me alimento do meu próprio sangue e do meu ódio.Mantenho minhas mãos mais longe possíveis por causa das alge
Khalil Mustafá FurakNA PORTA do hospital um médico me olha com um sorriso no rosto e me cumprimenta com uma simples reverência, eu não sei quanta raiva eu sinto, além dos motivos óbvios, mas Anna ter desmaiado depois de se atrever a colocar suas mãos de mulher em meu rosto com um tapa, me deixou preocupado, mais que isso, enfurecido!— O senhor será pai, sua bela e jovem esposa está grávida! Grávida? Abro a boca e sinto um nó na garganta, sinto um brilho nos meus olhos que não consigo imaginar.— Como ela está?!— Vai precisar de alguns cuidados, mas está perfeita em todos os quesitos referentes a saúde dela e do bebê, mas peço que ela passe essa noite no hospital, em observação. Poderá sair pela manhã.— Não, vou levá-la para casa, quero os melhores médicos supervisionando-a, com tudo que ela tem direito e é preciso.TARDE SUBS
Anna AndariaDIA SEGUINTE:— Estou grávida?! Ai Stela, isso é maravilhoso! Tem um bebezinho na minha barriga, na minha barriga! Agora sim irei me ocupar de verdade, será um menininho ou uma menininha?Digo alisando minha barriga na frente do espelho do closet, Stela está ao meu lado querendo que eu escolha alguma roupa. Descobri que estava grávida ontem, depois do desmaio, no Hospital minha felicidade nunca foi tanta.— Você está muito feliz, né Anna?Stela fica atrás de mim e passa os dedos sobre meu cabelo, sorrindo.— Como não estaria? Sempre gostei de crianças! Agora eu vou ter um filho, vou ser mamãe. — Stela puxa uma mecha do meu cabelo e eu solto um gritinho de dor.— Foi mal, Anna. Bom a senhora tem que escolher algumas peças, um sári que a deixa confortável e bastante estilosa. — Hmm... Para que mesmo? — As suas amigas senhora, chegarão es
Anna Andaria— Ahh senhor, p-por favor pare! Puxo os cabelos da empregada pronto para socar seu rosto, como ousam chamar a minha mulher de ladrona?!— Anna nunca roubaria nada, eu vou matar você é a vagabunda que cogitou isso!A ama em lágrimas tenta segurar minhas mãos, aperto seu pescoço e meus anéis machucava mais que minha mão pesada, ela fala a última coisa que eu deixo:— Mandaram a Ama dela vasculhar o quarto, mas eu e outras empregadas, estávamos certas que Anna nunca roubaria nada. Ela não precisa, é casada com o senhor, mas encontramos a joia nas coisas dela!Apago a criada na mesma hora, usando toda força do meu ódio! Sala de chá:— Foi meu filho que me deu, graças à Deus que encontraram! É muito importante a única recordação dele, uma faxineirinha que se deu bem acha que pode o qu
Anna AndariaMINUTOS MAIS TARDE: Seco minhas lágrimas na cama com rancor, com raiva que queima meus soluços, que arde nas minhas veias! Sinto um grito entalado na minha garganta aceitando apenas ruídos enquanto eu aperto o travesseiro, deixando minhas mãos suarem com a força, não é só um evento de arrecadações, não é só uma palestra, não é só mais um grito ou coisa assim! É meu sonho, meu sonho. Eu sei que se não fosse por Khalil, eu estaria nesse momento sendo torturada por Jamal e todos os homens do prostibulo. Ele não teria me vendido ou me colocado para dançar, pior, muito pior, me faria escrava dele quanto tanto falou! Eu sou completamente grata ao meu marido. Mas e meus sonhos?! E meu sonho de lutar pelas mulheres e crianças do meu país? De lutar pelos nossos direitos, que poucos temos, e os que temos são redimensionados pelos homens. Tudo porque eles são homens. Eu sonho alto demais? Sonho! E sei q
Anna AndariaMINHA CABEÇA está girando, girando muito e sinto minha língua congelar, um gemido sai pela minha boca enquanto tento abrir os olhos e quando finalmente abro-os cuspo o gelo que ela tentava colocar a toda força na minha boca.— Rapariguinha, ela acordou! JAMAL sua RAPARIGUINHA acordou!Yasmin grita dando uma risada tosca, começo a chorar, sentindo as explosões, as casas desabando, as crianças tudo como se fosse agora e começo a gritar por socorro, começo a pedir ajuda, minha cabeça está embaraçada, não sei como parei nesse lugar, nem ao menos sei onde estamos. Yasmin segura meus braços tentando me manter na cama, mas continuo me debatendo agoniada com o cheiro ruim que sinto, com tudo. Yasmin bate no meu rosto, um soco forte acompanhado de um tapa que corta minha boca. Segurando meus cabelos ela cospe as palavras na minha face:— Chega sua vadiazinha! Como Mustafá me trocou por uma garotinha
Khalil Mustafá FurakUM DIA ANTES:A mulher grita com sua pele simplesmente sendo arrancada pela cera que espalha por todo seu corpo enquanto ela está presa sobre uma mesa que roda, embaixo, uma enorme fornalha que esquenta toda cera e à mantem fervendo. Todo o trabalho foi complicado, mas vale a pena.Meus olhos estão concentrados na mulher, que se fosse pelo toque eu jamais perceberia que alguém estava me ligando, até porque não atendo nada quando estou em serviço, onde a coisa mais importante no momento é minha vítima e a forma que ela grita. Mas deixei o celular ligado e ele não parava de vibrar. Olho o número e não reconheço a princípio, mas levando em consideração que a tortura está indo como o desejado não vejo mal algum e atendo.— Eu não tenho mais que um minuto. Faço sinal para um dos meus combatentes girarem com mais força as manivelas da mesa.