Continua Capítulo Um

Parte 3

O peito dele era bonito, com pouco cabelo e alto. A barriga era de tanquinho e as mãos fortes e com calos pelo trabalho na fazenda. Mas fizeram milagres em seu corpo.

Ela lembrava sim. Não de tudo, mas boa parte já se fazia marcar em sua memória.

Lembrava do casamento do irmão mais velho, da farra dos amigos e parentes e claro, do tanto de bebida que ela consumiu sem ter noção do que faria com seu organismo.

Raramente bebia, era fraca para qualquer tipo de bebida alcoólica e resolveu fazer essa merda na noite anterior, misturando tudo. Aí estava o final.

Ela tinha começado a flertar com Vítor de brincadeira, nada demais, só para relaxar. E daí?

Todas as garotas da fazenda acham que ele é bonito e sexy, só quis brincar um pouco e até causar um pouco de inveja nelas. Mesmo achando que Vítor era um machista exagerado, mandão e egocêntrico.

Porém, ele era também muito sexy e inteligente, além de dançar muito bem. Ela sabia disso porque foi ela quem teve a ousadia de chamá-lo para dançar quando a música mudou.

Estava se divertindo muito com ele e não pensou nas consequências de seus atos. A música lenta o fez segurar em sua cintura e começaram a dançar quase colados, mesmo com as pessoas em volta olhando. E ela adorou aquelas mãos.

Foi interessante perceber como seu corpo reagiu ao dele, enquanto dançavam juntos, colados, sentindo o cheiro másculo.

Não tinha consciência dessa atração por ele até então. E Vítor era a última pessoa no mundo com quem deveria se envolver, por vários motivos.

Um deles é que ele era um solteiro convicto. Após o fracasso de seu casamento, já o ouvira dizer várias vezes que as mulheres eram só uma diversão em sua vida agora.

Era muito bonito, cheio de palavras e decisões, mas era um mulherengo. E ali estava ela.

Quando ele apareceu na fazenda procurando emprego, seus irmãos fizeram uma entrevista com ele e lhe deram o emprego por um tempo de experiência para ver se ele realmente era bom na tarefa.

E Vítor provou que era. Tanto que o irmão decidiu contratá-lo de modo fixo e logo as pessoas começaram a conhecê-lo mais e seu trabalho. Era muito capaz no que fazia e o que mais lhe agradava eram os animais. Parecia mais à vontade com eles do que com as pessoas.

Algo que também a intrigava um pouco quando pensava nele.

Fez tanto sucesso que até outros proprietários de sítios e fazendas o chamaram para fazer trabalhos avulsos quando estivesse de folga. E o sucesso se estendeu para as mulheres também.

Chegava a ser ridículo o tanto de mulher que ligava para a fazenda atrás dele. Até seu irmão Jessé reclamou com ele sobre isso, mas Vítor garantiu que não era ele quem dava o número do lugar e sim elas que descobriam e ligavam atrás dele.

Quando ele passou a trabalhar com ela também, tiveram alguns momentos de discórida e até brigas, mas nada grave, apenas coisas sobre diferença de pensamento.

Seus irmãos até riam disso.

_ Oi? Juliana? - ele estalou os dedos na frente dela.

_ O que? - ergueu as sobrancelhas.

_ Pode me dar uma ajudinha para recordar?

_ Hum... Não vai dar - mentiu _ Eu também estou meio apagada, não lembro.

De modo algum iria dizer que lembrava do que havia feito em cima dele. Jamais.

_ Ah, merda - suspirou e apertou a cabeça com as mãos ao lado _ Minha cabeça está pesada e parece que vai explodir.

_ Que chato... Eu também - torceu a boca.

Ela levantou enquanto ele estava de olhos fechados e sentou na beirada do colchão.

_ Porra!

Com o grito que ele deu ela também gritou e caiu sentada de novo no chão.

_ Que diabo foi isso, homem? - franziu a testa sem entender.

O diabo foi que veio à sua mente o momento exato em que fez amor com ela. E veio forte em sua lembrança que Juliana era virgem.

Virgem!

Ele tinha dançado com ela, a levou até seu quarto e fizera amor com ela, achando que era experiente e no entanto, ele foi seu primeiro homem.

Que merda grande ele tinha feito. Era o responsável por tirar a virgindade dela, irmã do chefe e dona de tudo também. A fazenda era da família.

Estava mesmo encrencado. Seu peito até apertou como se tivesse o peso de um caminhão em cima. Estava ferrado de vez.

_ P**a merda - ele murmurou.

Escondeu o rosto com as mãos, pensando na merda que tinha feito. Seria até correto que os irmãos dela o enchessem de porrada ao descobrir. Talvez até mais do que isso.

Ele a magoaria e a colocaria em uma confusão enorme. Tudo bem que era preciso dois para o que fizeram, mas ele era mais velho e mais experiente, não poderia ter dado esse deslize.

Tinha cometido um erro enorme e se alguém fizesse o mesmo com a irmã dele, também iria querer colocar tudo abaixo. No mínimo arrancava o pinto do safado que fizesse isso.

Por um tempo ele ficou calado só pensando no que fazer e o silêncio ficou um pouco estranho.

Ergueu a cabeça suspirando e olhou para ela.

_ Juliana... Eu... Nem sei o que dizer.

_ Como assim? - ela franziu os olhos e voltou a sentar na cama _ Dizer o que?

_ Eu não deveria ter trazido você para cá, não foi legal - esfregou o cabelo com força.

_ Ah, que bom... - ela torceu a boca _ Muito legal de sua parte me falar isso.

_ Eu estou arrependido, poxa.

_ Isso, vai piorando - bateu no colchão.

_ Ah... Você não está me entendendo - balançou a cabeça _ Quero dizer que sinto muito.

_ Não entendi mesmo - fechou a cara.

_ Quero dizer que eu cometi um erro trazendo você para cá ontem. Eu estava bêbado.

_ Eu sei, eu também estava.

_ Mas eu sou mais velho e sou homem, deveria ter tido controle.

_ Credo - ela ergueu a sobrancelha _ Que coisa mais antiga e machista.

_ Eu não sou machista.

_ É sim - cruzou os braços _ E muito!

_ Você... Você era virgem - falou baixo.

_ Eu sei - ela falou baixo também _ Sei disso há muito tempo. E por que falou baixo? Tem algum buraco na parede por acaso?

_ Isso é sério, Juliana.

_ Eu sei disso - aumentou os olhos _ Mas é bem desagradável o cara que a gente fez amor na noite passada, falar sinto muito logo de mahã.

_ Eu não queria te magoar.

_ Então não fale bobagem.

Ele apertou os lábios. Ali estava o gênio forte dela. Não queria mesmo causar um dano.

_ Eu só acho que sou culpado pela noite passada - tentou tocar em seu braço e ela recuou.

Juliana não tinha vergonha mais. Agora estava preocupada com o que poderia acontecer dali por diante. Torceu a boca várias vezes, trêmula e ansiosa.

Vítor estava fora de forma para lidar com uma mulher como ela. Fazia tempo que só tinha casinhos passageiros e mais ainda que tinha acordado ao lado de uma mulher.

Não estava sabendo lidar com ela agora e isso seria mais ruim ainda com os irmãos.

_ Não se preocupe - ela disse chateada _ Eu não vou exigir que você reparre seu erro.

Por um instante ele até ficou aliviado em ouvir isso, mas percebeu que ela estava incomodada e até parecia um pouco triste. Realmente o que um homem decente faria nessa hora seria isso mesmo. Ela não era uma menina, mas era virgem até ele se meter com ela.

Literalmente.

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