NOAH
Já se passavam vinte dias que estava no hospital, falo com a minha família todos os dias.
Foi para eles que primeiro recorri quando o pesadelo começou.
Hoje o médico disse que se continuarmos assim, logo poderemos voltar para casa.
Como vai ser isso, não sei.
A minha mulher era quinze anos mais velha que eu, ou seja, era uma mulher perfeita, experiente em tudo, mas que amava ser cuidada com carinho.
E desde o início do nosso relacionamento fiz questão de mostrar que a nossa diferença de idade para mim, era o demais importante, pois sempre gostei de mulheres experientes, nunca me vi com meninas da minha idade, mais novas, pior.
Como todos os homens da minha família, sou romântico, mandando flores, mensagens de carinho e s****, fazendo boas surpresas.
Porém, naquele dia de inverno, outro homem fez uma surpresa para minha esposa, uma surpresa muito desagradável.
Estávamos numa reunião com alguns fornecedores, quando a secretária de Júlia chegou na sala, era visível que a mulher estava assustada, ela olhou para mim, como pedindo permissão para falar com Júlia, não entendi nada. O meu sogro percebeu também.
— Fale logo mulher, o que aconteceu? — Júlio perguntou impaciente.
— Chegou uma encomenda para dona Julia! — Ela falou num fio de voz.
Eu sabia que não eram minhas, pois a minha surpresa do dia, estava no meu bolso, um desenho feito por Murilo.
-Julia, amor, termine a reunião irei ver do que se trata. Com licença senhores.
Saí da sala, seguindo a secretária, que não parava de tremer.
Quando cheguei onde a encomenda estava, travei, se fosse eu a receber aquilo, também estaria tremendo.
Mesmo percebendo que algo de má aguardava, nada me preparou para aquilo.
Encostada na porta da sala da minha mulher, tinha uma coroa de flores, como as que mandam em velórios, flores vermelhas e pretas, uma faixa, que fez o meu sangue gelar no corpo: "NÃO MORRI! MAS VOCÊ VAI LIA!"
Demorei alguns segundos para agir, mas lembrei que logo Júlia estaria ali, precisava tirar aquilo o mais rápido o possível.
-Chame os seguranças! Um plástico para cobrir, não vamos deixar ninguém colocar a mão, precisaremos das digitais para descobrir, que é esse mostro, que acha que pode assustar a minha mulher.
A secretária ligava para os seguranças, eu procurava algo para cobrir aquilo, encontrei um saco de lixo vazio.
Os seguranças, foram rápidos, mas quando estava orientando para levarem aquilo para longe, Julia e Julio chegaram ao local.
— Amor, foi uma brincadeira de alguém sem humor, vou cuidar de tudo.
-Noah, o que é isso? É porque está coberto?
— Não é nada que você gostaria de saber, fique calma, acompanhe o papai até a sala dele, já chego lá.
Lancei um olhar de socorro para Júlio, que entendeu e foi levando a minha esposa para longe dali.
Nesse momento a polícia chegou, com minha distração e de Júlio ao cumprimentarem os policiais, Júlia, foi rápida e levantou o plástico que escondia o presente macabro.
Corri até ela, que parecia ter congelado, Júlio também foi.
-Meu Deus! Não pode ser?
Assim, vi lágrimas descerrem pelo rosto da minha mulher, e ela desmaiar em meus braços.
Deixei Julio com a polícia e corri para o hospital com a minha mulher.
O médico disse que a pressão dela havia subido.
Contei-lhe tudo que havia acontecido, ele então decidiu deixa-la sedada por um tempo.
A aproveitei para ligar para minha mãe, que não atendeu, meu pai também não.
Então corri para o colo da minha irmã Serena, ela saberia como me ajudar, se tinha alguém que poderia me ensinar como proteger os que amam, era ela.
— Serena, preciso de mamãe, você sabe onde ela está, não consigo falar com ela.
— Calma, Noah, aconteceu algo com Júlia? Onde você está?
-Estou no hospital, a pressão de Julia subiu.
— Como isso, a gravidez dela estava tranquila.
— Disse bem, estava, preciso da mamãe, só ela para me ajudar a descobrir quem está ameaçando a minha mulher.
— Como assim ameaçando?
— Sim, mandaram uma coroa de flores negras para Júlia, com uma faixa de ameaça, ela passou mal por isso.
— Fique calmo, vou achar a mamãe e já chego aí!
Após falar com a minha irmã, sentei ao lado de Júlia, teria que ser calmo, agora, para não deixá-la nervosa.
Achei estranho a reação dela e de Júlio, mas apenas ele poder-me-iam dizer o porquê.
Depois de duas horas o meu sogro chegou.
— Oi meu filho!
— OI, papai, ela está sedada, para não ficar nervosa.
— A sua mãe já está com a polícia, ela vai saber lidar melhor com isso. Rita está com Murilo, os seus avôs já mandaram seguranças para casa.
— Quem mandou aquilo para ela pai? E sim, eu sei que o senhor sabe.
— E desconfio, certeza, não posso dar, mas já passei o nome para a polícia.
— Então, que é o suspeito?
— Isso, quem deve falar para você é Júlia. Espero que você saiba escuta-la.
Ele apenas afagou minha cabeça, deu um beijo na testa de Julia e saiu.
Fiquei ainda um bom tempo, alisando a sua barriga, onde Aurora não parava quieta.
Agora estou aqui, vendo a minha Aurora, brincar com as mãozinhas fofas, e fico me perguntando, como irei dizer a ela, que sua mamãe não vai poder cuidar dela.
-Eu te amo filha, vou fazer de tudo para proteger você. A sua mãe foi uma guerreira, lutou para lhe dar a vida.
Os meus filhos cresceram aprendendo que tiveram uma mãe maravilhosa, exemplo de superação, mulher batalhadora, que sempre acreditou no melhor de todos.
O médico chega para fazer mais uma avaliação em Aurora.
Logo poderemos sair do hospital.
Agradeço, mas uma vez por deixarem que ficássemos juntos numa ala isolada.
NOAH A minha pequena ganhou peso, eu já retirei a maioria dos pontos, toda a família está pronta para recebermos lá fora. Não sei como vai ser sair daqui, sabendo que não irei encontra-la lá fora, nem consegui responder aos meus sogros se voltaria para casa, não vou conseguir entrar e sentir a presença dela em tudo. Julia era a mulher mais forte que já conheci, mas tinha o seu lado sensível, que tentou esconder até de mim, com medo do meu julgamento. Naquele dia no hospital quando ela acordou, percebi que não olhava no meu rosto, estava com vergonha de algo, que eu nem fazia ideia. — Não precisa falar nada, não preciso saber de nada, mas precisamos colocar esse marginal na cadeia, não vou admitir que ele faça algum m@l a você ou a nossa filha. -O nome dele é Pietro! Eu tinha quinze anos. — Você não precisa contar-me nada, mas se quiser desabafar, saiba que antes do seu marido, sou seu amigo, nunca irei julgar-te. — Fiz muitas coisas erradas Noah, se você quiser se afastar de m
NOAH Continuo no hospital, faz quatro dias que Serena avisou-me que os meus sogros querem mudar, achei uma ideia acertada, vai ser melhor, a saudade de Julia vai estar em todos os lugares, mas lá seria quase possível voltar, a minha irmã já está com quase tudo pronto, conseguiu uma casa num residencial próximo a sua casa, já tinha algumas casas, prontas para modelo, mandou as fotos de uma que gostei, e sei que Julio e Ana também gostaram. Nessa noite, tive outro pesadelo, já decidi irei fazer terapia, até para motivar todos a fazerem, vou cumprir a promessa que fiz a Julia, olho para minha filha que já está muito esperta, mais de um mês aqui, mas logo iremos sair. Comecei a recordar-me de tudo que aconteceu, pergunto-me, onde errei, falhei em defender a minha mulher, achei estar fazendo o certo. A culpa vai ser minha companheira, ao lado da saudade. Por conta das ameaças, que começaram com a coroa de flores, muita coisa foi mudando. Passamos um mês atrás do c@n@lh@ que queria at
NOAHNunca imaginei vier um pesadelo como aquele, contei para meus sogros tudo que estava acontecendo.-Noah, onde foi mesmo que encontraram o corpo da enfermeira? — O meu sogro questionou.— Próximo do lado leste da cidade, antes da estrada da mata.— Alguém foi para lá?— Não naquela região não tem nem um abrigo.-O meu Deus! Ele levou ela para a casa de caça.— O que é uma cabana, que fica no meio da mata, para chegar até lá você vai seguir a estrada do 'nada', no carvalho caído você vira a esquerda, vai ver uma figueira centenária, vire a direita e vai seguindo o barulho do rio.— Como o senhor sabia disso?— Era nosso esconderijo quando ela era criança, e uma das vezes que ela fugiu com ele, foi para lá.— Eles estão no caminho errado, preciso ir resgatar a minha esposa, pai ligue para minha mãe, e o restante da família.— Mas você disse que não ficou nem um carro na casa.— A moto da Serena, papai não sabe, mas está aqui.Os meus sogros começaram a ligar para toda a família, nin
NOAH Hoje Aurora e eu receberemos alta. Falei ontem com Serena, ela fez um vídeo com a casa nova, tudo lindo, minha irmã e perfeita, sei que Ana e Julio irão gostar. Estou no quarto e Julio e Ana chegam, Murilo ficou com a minha mãe. — Bom dia pai e mãe! A bênção de você! — Bom dia filho, seja abençoado por Deus. -Preparado para me ajudar? -Noah, filho precisamos conversar. -Julio falou sério, estava acabado, parecia ter envelhecido anos. — Não queremos prender você o meu querido. — Ana falou com lágrimas nos olhos. -Julio e Ana, no dia que vocês me encontraram na sua casa tomando café da manhã, achei que iriam julgar-me, colocar para correr, achando que era um aproveitador, um moleque irresponsável. Mas, vocês me acolheram, com um amor, que posso apenas comparar com o amor dos meus próprios pais. — Você sempre será meu filho, o meu menino de ouro, um rapaz novo, que foi mais homem que muito homem adulto que eu conheço, eu apresento-te como o meu filho com muito orgulho, mas
NOAH 10 ANOS SEM VOCÊ! — Pai o Murilo não quer devolver a minha boneca! — Aurora aparece na sala gritando. — Não é que eu não queira devolver, ela prometeu brincar comigo hoje, então resolvi brincar de polícia e ladrão, eu sou o ladrão, melhor sequestrador, basta ela pagar o resgate. Mas um sábado a tarde aqui em casa, nesses últimos dez anos, sábado a tarde são dedicados a minha família, hoje está chovendo então nada de sítio, praia, piquenique, parque de diversões, zoológico. Nesses momentos Murilo apronta todas com a irmã, o meu sogro fica sempre do lado dela, enquanto a minha sogra defende Murilo, eu fico como juiz da situação. Essa semana estive no túmulo da minha amada Julia, vou lá sempre, mas essa semana tinha um motivo a mais, faríamos treze anos de casados, faz dez anos que estou sem ela ao meu lado, fisicamente, mas não estou sozinho os meus pais, irmãos, cunhado, cunhadas, sogros e filhos, preenchem a minha vida, parece até que eles evitam deixar-me sozinho, eu també
MURILO Acordo agitado, sonhei com a minha mãe outra vez, como nós outros sonhos, ela dá-me conselhos, diz para cuidar de Aurora, e ajudar papai a seguir. Dessa vez ela mostrou uma loira baixinha, ela disse que ela seria minha melhor amiga, a protetora de Aurora e o amor do meu pai, não vi o rosto da mulher. As minhas melhores lembranças da minha mãe, são dela me colocando para dormir, e eu alisando os seus cabelos vermelhos, as vezes, faço Aurora ficar falando sobre assuntos chatos, apenas para ficar pegando no cabelo dela, que nem desconfia o quanto me faz lembrar mamãe. As férias acabaram e agora, voltar as aulas, não gosto, e ver a Aurora toda alegre, deixa-me pensando que algo tem errado com aquela garota. Tio Oliver concorda comigo, escola, apenas para namorar, mas papai disse que sempre amou as aulas, coisa que o meu tio confirmou, disse que papai sempre foi muito aplicado na escola, com uma carinha de anjo, mas fora da escola aprontava todas. Vovó Ana disse que nós levarí
AGNES Fiquei olhando o homem no carro. Ele parecia tão alegre, daquelas pessoas, que não tem problemas na vida, que nunca sofreram, nunca passou por necessidade. Fiquei com inveja dele, ao mesmo tempo, queria também saber como poderia ser feliz assim também. O transito naquele dia estava horrível próximo da escola, mas ele parecia não se importar. Com certeza deve ter a vida perfeita, queria ter uma vida assim. Queria que ele me ensinasse a ser feliz dessa forma. Aquela barba bem-feita, moldando o seu rosto, queria poder fazer um carinho ali. A nossa, o que estou pensando, querendo tocar num desconhecido, que nunca iria olhar-me. Fui acompanhando o estranho, então ele parou o carro perto da escola. Fiquei em pé, será que vai sair do carro. Ele desceu do carro, alto, forte, ombros largos, ajeitou o terno sobre medida. Todas as mulheres passavam por ele, que apenas acenava com a cabeça educado. -Pai! Escutei um garçotinha gritando, de onde estava, não via criança direito,
AGNES A minha vida, não foi ruim, meus avôs, me protegeram o quanto puderam. Mas, as minhas tias, pareciam sentir prazer em me humilhar, sempre lembrando que eu não tinha ninguém. A minha avó dizia, que as minhas tias casaram novas, tia Roberta com dezoito e tia Rosania com dezenove. Mamãe era a cabula, e ficou com os meus avôs, que na época passavam por dificuldades, ente ela aos quinze anos deixou os estudos e começou a trabalhar de diarista, sendo caprichosa, conseguiu uma clientela boa, tendo serviço em quatro dias da semana, em uma das casas, fazia o almoço no dia que ia, então a patroa a motivou a abrir um negócio de marmitas congeladas. Nessa época, você ainda estava desempregado, e gostou da ideia, e nos dias de folgas da minha mãe, ela e vovó faziam as marmitas e vovó^começou a vender. Em um ano, a minha mãe precisou deixar as diárias, ele contrataram uma pessoa para ajudar, as encomendas eram muitas. O meu avô, não foi mais procurar emprego, abriram oficialmente o neg