PatriciaEu passei o resto da tarde em casa, tentando me distrair. Coloquei um filme para rodar, mas nem prestei atenção. Meus pensamentos estavam longe, girando em torno de Miguel, Bruna e toda aquela situação desconfortável. Para completar, Perla tinha saído de novo. Ela andava sumindo bastante nos últimos tempos, e eu suspeitava que era por causa do namorado, Sergio. Embora ela não tivesse dito claramente, o comportamento dela andava estranho, e eu tinha certeza de que algo estava rolando.O silêncio do apartamento começou a pesar, e no meio dessa atmosfera meio sufocante, meu celular tocou. Era minha mãe.— Oi, filha, como você está? — A voz dela veio suave, mas carregada de preocupação.Eu sorri, ainda que ela não pudesse ver. Minha mãe sempre tinha esse jeito de saber quando algo não estava bem.— Estou bem, mãe. Um pouco cansada, só isso — respondi, tentando manter a voz o mais leve possível.— Cansada? E o bebê, está tudo certo com vocês dois?Suspirei, sentindo o conforto de
(Patricia)O sábado tinha começado cedo, e eu e Perla já estávamos na praça movimentada da cidade, preparando tudo para a feira de doações.O sol ainda estava baixo, e o ar fresco da manhã nos dava energia. Organizamos as barracas e ajeitamos o espaço onde os animais ficariam. Os bichinhos estavam lindos, bem cuidados, e dava pra ver a curiosidade das pessoas ao passarem.Tínhamos sete gatos e treze cães, todos vira-latas, prontos para encontrar um novo lar. Entre eles, Luke, o cachorrinho que precisou amputar a perninha depois de ser maltratado pelos antigos donos. Ele era um dos que mais me preocupava, por ter passado por tanto sofrimento em tão pouco tempo.
Saí do quarto e vi que os meninos tinham comprado sorvete. Aquele clima tenso de antes parecia ter sido deixado de lado por um momento. Caminhei até o sofá e me sentei, sentindo o estofado macio enquanto Perla já estava devorando uma taça cheia. Miguel se sentou ao meu lado, mais calmo, mas dava para perceber que ainda estava preocupado comigo.— Tá melhor? — ele perguntou, olhando para mim com aqueles olhos que sempre me deixavam um pouco sem defesa.Assenti, forçando um sorriso para mostrar que as coisas estavam bem. Ele suspirou, parecia aliviado, mas sabia que o assunto ainda não estava completamente resolvido.— Eu sei que a Bruna tem sido... insistente esses dias. Mas estou vendo um lugar novo para ela. Mais perto do hospital — disse ele, passando a mão pelo cabelo, como fazia quando estava tentando encontrar uma solução.A notícia me animou. Era um alívio saber que ele estava, finalmente, tomando alguma atitude sobre essa situação.— Sério? — perguntei, sentindo um pouco de esp
Enquanto isso no Brasil…(Cassio)Enquanto eu procurava as chaves do carro pela sala, a voz de Elen me chamou do corredor.— Cassio, a gente vai se atrasar!— Eu sei, eu sei... Só estou procurando as chaves do carro — respondi, tentando esconder a frustração.Revirei mais algumas coisas, até que ouvi Elen me chamando de novo. Quando me virei, ela estava me olhando com aquela expressão divertida e um toque de impaciência. Ela apontou para minha mão.— Sério? — Elen disse, segurando o riso. Quando olhei para a minha mão, lá estavam as chaves, bem firmes entre meus dedos. Comecei a rir junto com ela, sentindo a tensão se dissipar.— O que seria da minha vida sem você? — perguntei, me aproximando e lhe dando um beijo rápido.— Provavelmente nada — ela respondeu, rindo, mas com aquele olhar cheio de amor.Estávamos prestes a sair, prontos para mais uma consulta de ultrassom, quando Elen abriu a porta e, para nossa surpresa, nos deparamos com um casal ali. Os meus pais.A expressão de Elen
(Patricia)ParisAcordei me sentindo completamente esgotada. Rolei na cama e percebi que estava sozinha. Miguel, como sempre, tinha se levantado antes de mim.Peguei o celular ao lado da cama e vi que já passavam das duas da tarde. Não me surpreendi, considerando que praticamente não dormi durante a noite toda. Miguel estava impossível, parecia insaciável, e meu corpo ainda sentia as consequências.Eu sorri para mim mesma, apesar de sentir uma leve dor em minha região íntima. “Ele realmente me esgota”, pensei, me levantando da cama.Caminhei até o banheiro e
(Patricia)Sentei-me no sofá, as lágrimas ainda escorrendo pelo meu rosto. Como Miguel pôde confiar em Bruna e não em mim? Isso não fazia sentido. Eu estava prestes a me casar com um homem que se sentia mais à vontade para abrir seu coração para a prima do que para a mulher que ele dizia amar. Isso me atormentava de uma forma que eu não conseguia colocar em palavras.A raiva e a dor misturavam-se dentro de mim, e, para tentar esfriar a cabeça, decidi tomar um banho. Enquanto a água morna escorria sobre mim, procurei organizar meus pensamentos. Precisei de um pouco de ar fresco, então me vesti rapidamente e fui visitar Elen e Cássio. Eles haviam se mudado recentemente e estavam morando sozinhos. (Miguel)Entrei no apartamento sentindo o cansaço do dia inteiro pesar sobre meus ombros. “Vai ser rápido,” pensei comigo mesmo. Patricia tinha mandado uma mensagem dizendo que estava com Perla no mercado, então eu sabia que tinha algum tempo antes delas voltarem. Fui direto para o banheiro, como se a água quente pudesse lavar não só o suor, mas também os pensamentos que vinham me atormentando.Fechei os olhos sob o chuveiro, sentindo a água escorrer pelo rosto. As palavras de Patricia ainda ecoavam na minha cabeça, principalmente o tom sério quando ela falou sobre Bruna. Ela estava certa. Droga, ela estava mais do que certa. Um suspiro escapou de mim. Como eu podia ser tão cego?Depois de me vestir, olhei em volta, mas o apartamento vazio só fazia com que os pensamentos voltassem com mais força. Precisava sair, espairecer. Uma volta vai ajudar.Sem rumo, me vi caminhando até o bar que costumava frequentar. Fazia tempo que não aparecia por lá, mas o ambiente me era familiar. O cheUm bêbado desesperado
(Patricia)Eu voltei para o apartamento com a cabeça cheia de pensamentos. O caminho até o bar, o encontro com Roger, as palavras entrecortadas de Miguel no chuveiro... tudo isso formava uma teia confusa que não saía da minha mente. Algo estava profundamente errado. O Miguel que eu conhecia não agia assim, não bebia daquele jeito e, definitivamente, não carregava essa culpa silenciosa nos olhos. Ao entrar no apartamento, fui direto à cozinha e preparei uma sopa para ele, tentando manter a calma e controlar a ansiedade que já apertava meu peito. Tomei um banho rápido, ainda tentando afastar os pensamentos sobre o que ele havia murmurado, mas nada fazia sentido.Quando saí, Miguel começava a acordar. Ele colocou a mão na cabeça e fez uma careta de dor. Eu me aproximei, tentando manter uma expressão neutra, e entreguei o remédio com um copo de água.— Aqui, toma isso — falei, enquanto ele se ajeitava na cama.Miguel pegou o remédio sem me olhar diretamente, o que me fez suspirar profun