Ceyas— Você sempre acorda tão cedo — reclama Rosian, empoleirando-se em meus ombros. Por mais que haja uma recusa corriqueira para sair da cama durante a manhã, não reclama quando o ergo, já que mantém seus braços me rodeando.Seguro suas pernas quando as usa como uma corrente em torno da minha cintura. Ele não é baixo, então, facilmente consegue me prender com elas. Se usasse sua força, seria mais difícil sair de onde estávamos.— Porque estou acostumado a lidar com as coisas da alcateia enquanto trabalho no escritório da empresa da minha família — digo, e ele sorri bem perto do meu ouvido, deixando que faça o meu caminho, ainda que não se desgrude de mim.Nunca tive pretextos para reclamar da minha rotina. Desde que aprendi sobre meus deveres, sabia que minha vida seria mais cheia de tarefas que a de outros.No entanto, a maior parte dos indivíduos não precisa se responsabilizar pelas vidas de outros seres como eu. Então, toda e qualquer tarefa que preciso fazer não parece tão compl
FaloutA estranheza que a presença de Ceyas aqui poderia ter causado se arrastaria por algum tempo, pelo menos foi o que cogitei, então estou bem grato por isso não ter ocorrido. Ele está aberto às modificações acontecendo, as experienciando, ao invés de negá-las.Não tenho certeza do quanto disso é uma influência do seu elo com Neamir, ou se até mesmo a ligação que fiz com ela e Rosian agora é responsável por mover parte de seus sentimentos.Quando me liguei a eles, sabia de todas as consequências que poderiam vir me caçar, mas foram eles que disseram que eu deveria ser egoísta, e foi o que fiz. Quem sabe o medo aterrador de acabar sozinho mais uma vez foi o que causou isso.Contudo, mesmo que fosse um temor, eles nunca me deram motivos para me preocupar. Os receios que tenho são exclusivamente criados pela minha mente. É normal que ela tenda a querer te ferir.Éden b**e na minha mão algumas vezes com palmadinhas leves. Chama minha atenção, já que deixei de rabiscar no papel com ele.
Rosian— Como está se sentindo? — pergunto a Neamir. Ela se mantém deitada na mesa cirúrgica como se nada pudesse afetá-la.Meu conhecimento de medicina tem aumentado muito nos últimos anos, dado que preciso continuamente cuidar do desenvolvimento do seu corpo.Agora, Éden também necessita desses cuidados.Por sorte, não preciso me preocupar com o tempo que levo para aprender.— Melhor do que imaginava, minha magia não está sendo drenada — garante ela. Contudo, da última vez não percebi isso até que entrou em colapso. Por isso, é melhor ser cuidadoso.— Você diz isso, mas situações inesperadas são o que mais fodem com a gente — lembro a ela.— Tem razão, e é por conta disso que não ligo de você tirar minha roupa desse jeito sem me dar um único beijo — resmunga, como se fosse um sacrilégio deixá-la sem suas vestimentas por motivos médicos e não devido a motivações salientes.— Se eu não focar no meu trabalho, nunca consigo fazer nada, já que você tem tanta libido — murmuro, recebendo su
NeamirEu me sento no sofá da sala, observando Rosian concentrado em suas anotações.A luz suave da manhã entra pelas janelas, iluminando seu rosto, destacando as feições que se contraem levemente enquanto ele trabalha. Ele parece sempre tão obsessivo quando está imerso em algo assim, completamente absorto em cada detalhe, como se o mundo ao seu redor simplesmente deixasse de existir.É essa intensidade que me fascina; a forma como ele se entrega de corpo e alma a tudo o que faz. Rosian fica lindo assim, com os olhos brilhando de foco, a testa ligeiramente franzida em concentração. Não consigo evitar, gosto muito de observá-lo desse jeito, mesmo sabendo o quão exaustivo pode ser para ele.Foi essa obsessão em resolver as coisas que fez com que as coisas entre mim, ele e Falout funcionassem, assim como aposto que foram as suas provocações que levaram Ceyas a agir primeiro.Com um sorriso no rosto, finalmente decido interromper o silêncio.— Como estão indo as modificações do feitiço? —
NeamirAs paredes da cela são escuras e frias, impregnadas de um cheiro nauseante de mofo e desespero. O chão é de pedra áspera, manchado com marcas escuras que se assemelham a sangue seco, vestígios de dor e sofrimento.Já vi a magia do meu pai criar muitas coisas.Tantas que eu me divertia, achando-o incrível, até que a loucura começou a mudá-lo. O que eu o via fazer de bom com a sua magia passou a se tornar sombrio. Não de uma maneira que dava para relevar, mas de uma forma que fez com que passassem a caçá-lo.Da primeira vez que vi os membros do coven dele, achei-os divertidos. Eram pessoas amorosas, indivíduos que não ligavam para ele ter decidido constituir uma família com uma loba, embora haja tantos que temam o que a ligação de espécies possa causar.Mesmo com o coven aceitando o relacionamento dos dois, precisávamos viver escondidos, para que nunca me descobrissem. Eu era o segredo feliz entre duas pessoas apaixonadas, até que me tornei o animal preso em uma cela.Tento ignora
NeamirSabe o que dizem sobre fantasmas voltarem para te assombrar?Meu pai fazia esse papel muito bem, sempre indo e vindo, soltando suas palavras assustadoras com um sorriso no rosto que enganaria os desavisados. Incapaz de deixar a minha mãe perecer, já que queria continuar testando as possibilidades de seu corpo.Fez o favor, segundo ele, de me dar um pouco de begônia.Lembro-me dela rosnando para ele em vez de dizer um agradecimento. No entanto, depois que ele se foi, a ouvi chorar, porque sabia que era a sua possibilidade de ficar um pouco mais forte e, apenas com isso, acredita que poderá me tirar daqui.É por conta disso que come todas as coisas nojentas que ele dá, apenas para que em troca receba algo bom para eu comer. Sempre soube o quanto a minha mãe me ama, mas nessa situação, entendo por que dizem que lobos amam desesperadamente.Porque ela sempre me disse que eu deveria proteger o que é meu com todas as minhas forças, porque somente assim poderia mantê-lo do meu lado. Qu
NeamirOdeio que lembranças tão dolorosas tenham invadido a minha mente, mas não posso correr do que houve. O passado é imutável e tudo o que ocorreu depois não pode ser modificado. No entanto, agora posso aconselhar o homem que pode estar sendo movido pelos seus instintos de proteger.Ao entrar, vejo Ceyas ao lado de Yvon, que está mostrando alguns dos veículos que a alcateia possui.A garagem é espaçosa e bem iluminada, com vários carros alinhados em perfeito estado, cada um mais impressionante que o outro. Mas é a presença de Yvon que chama a minha atenção. Ele é um homem negro, alto e imponente, com traços fortes que contrastam com a leve palidez de sua pele, resultado de sua condição como morto-vivo. Seus olhos, de um tom âmbar profundo, brilham com uma sabedoria silenciosa, enquanto ele fala com Ceyas com calma e precisão.Yvon é uma figura enigmática, sempre reservado, mas com uma aura de autoridade que é impossível ignorar. Ele move-se com uma graça quase sobrenatural, os gesto
CeyasCaminho pelo meu quarto, indeciso sobre o que fazer. A ideia de ir até o quarto de Rosian para me juntar a ele, Neamir e Falout é tentadora, mas a dúvida me assola. Nós transamos, foi ótimo, eu apreciei o momento, não reclamaria em repetir. Temos dormido juntos, mas nessas ocasiões em que fico sozinho, minha mente me trata como um idiota.No entanto, como nós não fomos muito explícitos em outras questões que não fossem o nosso desejo sexual, ainda pode ocorrer de eles tentarem, de alguma maneira, mudar as coisas.Sim, essa é minha mente me dando uma rasteira.O que estou pensando? Se eles quisessem tentar me afastar, teriam usado o que já aconteceu. Seria a melhor oportunidade. Chances para me matar houve, e muitas, fiquei muito exposto.Aproveitei tudo o que podia, até mesmo aquilo que eu não sabia que queria, porém, me senti extremamente realizado fazendo-as com eles. São abertos a praticar todo o tipo de coisa, e esse deve ser o motivo para perder tanta a noção do tempo enquan