Ceyas— Por que você não morre? — pergunto à pessoa que continua respirando, não importando quantas vezes rasguei sua carne.É muito contrário ao corpo gélido que fica no centro do lugar, apenas esperando que alguém o tire de onde está, porque nunca mais usará as próprias pernas. Diferente do meu irmão, meu pai tem uma grande resistência à morte.— Você deveria ter me dito o que estava acontecendo, se não queria que as coisas fossem assim — profiro, sem ter certeza do porquê essas palavras saem da minha boca, mas empoleirado em cima do seu corpo, com uma perna de cada lado dele para evitar que fuja, não tenho certeza do que deveria fazer para, enfim, acabar com a sua vida.Quanto mais sangue preciso derramar?Quantas vezes mais tenho que ver o corpo morto do meu irmão pelo canto dos olhos? Tem tanto assim que desejou para se desesperar querendo manter sua vida depois de ter feito algo tão macabro com o seu filho?Independente dos seus desejos, estou aqui para acabar com eles.Se depend
FaloutDescobrir que uma pessoa que você aprecia passou por tanto sofrimento não é simples, é algo que te deixa maluco, afinal, você não pode simplesmente voltar para o passado e ajustar o que sabe que a feriu.Durante todo o tempo em que Ceyas falou do seu passado, contando da maneira como acabou sendo arrastado pelas suas dúvidas em relação ao seu pai, foi notável que a sua culpa se sobressaía.Ele não pode controlar, apenas acontece, porque também tinha uma pessoa que queria proteger naquela época e, no final, acabou por vê-la morta, diante de seus olhos, pelas mãos de alguém que também deveria protegê-la, mas que no fim fez exatamente o contrário.Não me lembro bem dos familiares com quem um dia compartilhei sangue.Fui transformado em um período em que uma doença estava se alastrando e as pessoas recorriam a todo tipo de soluções para sobreviver. Uma delas surgiu como uma mulher bonita que esbanjava bondade ao distribuir medicamentos, independente da classe das pessoas.Todos a ad
RosianApesar de Ceyas estar do meu lado, não acho que estamos próximos o suficiente.Essa é uma sensação absurdamente maluca, no entanto, acredito que tocar no seu passado continuará deixando uma marca nele para sempre. Embora saiba que fez o melhor que podia, ainda se tornou o assassino do seu próprio pai e nem conseguiu salvar o seu irmão com essa ação.Entendo como podem ser tempestuosos os pensamentos depois de descobrir que acabou vivo quando alguém que ama morreu. No segundo em que notei que era o último sobrevivente do meu coven, algo dentro de mim se rompeu, quase como se uma parte minha não pudesse mais existir depois daquele acontecimento.Por muito tempo, acreditei que não haveria nada que pudesse me ajudar com isso, que, independente do que fizesse, essa parte permaneceria ali, sangrando, me lembrando de que continuei vivo quando todos os que conhecia morreram. No entanto, após ser pego nos encantos de Neamir, descobri que as feridas podem ser remediadas.Cicatrizes podem
CeyasSabia que o meu elo com eles seria diferente, afinal, tenho uma lumeny que tinha um vampiro ligado a ela por uma ligação sanguínea e um bruxo que a enche de magia para que não sofra com dores horríveis.No entanto, não pensei que houvesse algo mais que pudesse mudar no nosso elo. Ele já tem muitas peculiaridades, contudo, eu já estava bem feliz de poder alimentar Falout. Ele precisa de mais sangue do que outros vampiros que já vi.“Está se sentindo melhor?” Pergunta Rosian, e o sorriso em sua face é igualmente belo ao tom terno com o qual faz a questão soar em meus pensamentos. “A dor pode continuar por um período, até o seu corpo entender que a magia não é algo que vai te ferir”, me conta.Ele leva a mão para o meu peito, pressionando-a no local como se quisesse marcar as cinco digitais em minha pele para sempre. “Respire”, pede, me fazendo seguir o ritmo com o qual visa manter o ar entrando em seus pulmões. “Seu lobo também pode estranhar a intromissão, então precisa garantir q
RosianEsperava que o local tivesse uma aura sombria, mas é muito pior do que imaginava. Consigo entender por que Ceyas não vem a esse lugar, porque ficou receoso com a ideia de virmos até ele.Apesar de ter sido limpo, a magia que o impregnou não foi removida.Ela continua instalada em muitas partes do ambiente, agarrando-se a ele até ter a chance de conseguir penetrar no corpo de alguém e, com tanta maleficência, é difícil dizer o que causaria a um ser vivo.O pai dele não estava mexendo com magias comuns.Apenas feitiços extremamente malignos deixariam rastros desse tipo.— É ridículo o quanto esse lugar ainda esbanja a energia dos sacrifícios cometidos aqui — profere Julien, querendo chamar a minha atenção, ter certeza de que consigo mensurar a totalidade da situação, embora esteja envolvido com uma das pessoas que derramou sangue aqui.Ceyas não desejou participar do ritual, mas no segundo em que fez mais sangue ser derramado nesse piso, ele colaborou com os acontecimentos. É clar
Rosian— Você não pode usar a sua magia dessa maneira, vai acabar se queimando — avisa a minha mãe, batendo com o livro em minha cabeça com força, não hesita, apesar de saber que pode me machucar.— Aí — reclamo, ouvindo a sua risada se misturar com a raiva que sinto no momento. — Me disse para testar as formas elementais com as quais posso usar minha magia, é o que estou fazendo.— Brincar com fogo ainda é perigoso — fala, demonstrando a sua braveza por não conseguir atingir a minha cabeça com o livro mais uma vez, já que usei minhas mãos de escudo. — Você é descuidado como o seu pai.— Pensei que você tinha se apaixonado depois de vê-lo fazer uma magia grandiosa sem nenhuma dificuldade, mesmo sabendo dos riscos à sua vida — pondero, e de novo, preciso tomar cuidado para não ser atingido.— Ele queria se mostrar, tem sorte de ter me conquistado — expõe, inflando o seu ego, e tem muito direito de se ver dessa forma, uma vez que até mesmo entre os bruxos existem aqueles que invejam a su
RosianComo minha mãe me disse uma vez, há muitas formas de usar as chamas que posso criar através da magia que se acumula em meu corpo. Quanto mais refinado for o meu controle, mais eu posso ver.Uma das coisas que estava aprendendo um pouco antes de sermos atacados era a capacidade de transformar as memórias de um local em imagens visíveis. A temperatura do meu corpo é tanta que sinto que qualquer coisa que tocar no momento derreterá embaixo da ponta dos meus dedos.— Me deixe ver o que aconteceu aqui — professo, observando as chamas espalhando-se pelo chão até que todo ele esteja recoberto. Incivilmente, Ceyas demonstra certo receio, dado que teme que alguém se machuque, mas sou eu no controle aqui.Por um instante, as chamas escapam do chão, elevando-se para recobrir as outras partes do ambiente com minha magia, e em seguida, silhuetas formadas pelas chamas passam a se formar diante dos nossos olhos.— Você tem passado muito tempo aqui, pensei que queria apenas um novo lugar para c
CeyasPelos livros que pudemos encontrar no coven Lua Quebrada, eu já sabia que meu irmão tinha sofrido muito nas mãos deles. Eles o usaram até o seu limite. Utilizaram todas as possibilidades possíveis para testar o quanto o seu corpo tinha se modificado após os experimentos.Com as suas loucuras postas à prova no corpo dele, meu irmão sofreu demais. Imaginei as dores que havia passado com lágrimas nos olhos, mas agora, com a imagem perfeitamente esculpida pelas chamas na minha frente, o motivo para as minhas lágrimas é o ódio.Passei muito tempo odiando a minha falta de percepção para o assunto, mas enquanto os ouço ameaçando-o a aguentar tudo somente para que nós não fôssemos usados em seu lugar, odeio o fato de não ter feito com que sofressem mais antes de sua morte.— Grite o quanto quiser — manda Rari, mantendo a sua mão apoiada contra a adaga que perfura o centro do corpo do meu irmão. Muitas pessoas morreram nesse lugar, mas aquele que mais providenciou material genético foi o