Ceyas— Você vai falar direitinho o que tem feito com o Rira — declara Lugi. — Tenho certeza de que tem uma maneira de ajudar ele — murmura meu amigo.O choque de saber que meu irmão tem cometido atos de canibalismo ainda não se assentou em sua cabeça, mas não temos tempo para deixar ele brincando com nossas mentes. Ainda me preocupo com o que disse antes, sobre não haver tempo.— Ajudar? Não tem mais volta — garante, mas não é possível, todas as coisas têm mais de uma via.Esse problema tem uma solução. Até mesmo a morte pode ser enganada, nós sabemos disso, afinal, temos uma vida extensa que não é dada para as pessoas comuns. Aprendemos a lidar com a passagem de tempo mais longa de nossas existências.— Seu pai percebeu que Rira não é mais aquele garotinho que o obedecerá em todos os momentos, e sabe o que se faz com um cachorro que morde a sua mão? — A sua questão eleva os meus batimentos cardíacos, porque as imagens que se forma em minha cabeça são perigosas demais. — Você sacrifi
Ceyas— Você precisa respirar — me avisa Lugi, nem me deixou chegar perto do volante do carro, sequer me permitiu uma transformação, porque tem medo do que pode acontecer que meu lobo perceber que tem a sua liberdade.Entendo porque tem esse receio, porque eu também o possuo no momento, mas as palavras de Fann não param de reverberar em minha cabeça. A maneira como falou do meu irmão, o modo como se aproveitaram dele… estavam o usando como ancora para suas magias, somente para dar em troca conhecimento absurdo ao meu pai.Ele esteve trocando o seu filho com os bruxos por que não queria aceitar que a evolução da nossa raça não seria obtida pela sua geração, pelo menos não para si. O modo como Fann falou do meu pai me deixou embasbacado, porque nunca imaginaria que a mente dele se encheria com tantos absurdos e que seus filhos seriam pegos nisso.Como minha mãe não notou as mudanças nele?Como eu não pude observá-las? Sou alguém que é bem próximo dele, ainda assim, fui incapaz de perceb
CeyasDepois do ataque de Lewyn pude manter mais dos meus pensamentos concentrados na minha tarefa, mas assim que chegamos na mansão da nossa família, meu coração voltou a disparar e meu lobo passou a reclamar sem parar, querendo que eu deixe que aja.No entanto, não tenho certeza de nada que pode acontecer no momento se eu simplesmente permitir que saia. Uma corrida livre não será suficiente para ele, tenho certeza.Entrar na minha casa é muito diferente agora, como se meus olhos pudessem ver detalhes que antes ficavam mascarados, contudo, isso não é o bastante para descobrir o que ficou escondido embaixo do meu nariz.Deixamos Fann vivo para continuar o interrogando depois de resolver o assunto com meu pai, mas ele fez questão de guardar a informação sobre qual seria a parte da mansão que eu desconheço.Tem que ser uma parte da mansão, porque não tem outro lugar em que eu não procuraria só porque confiaria de nada passaria despercebido por mim. Essa é a casa em que cresci, na minha
CeyasAlgumas vezes o seu corpo apenas sabe os locais em que deve ir ou não, nesse momento, eu não quero passar pelo corredor que levará até a fonte do odor me incomodando. Sei que quanto mais próximo eu chegar, pior será, não tem como evitar.Entretanto, também não posso apenas evitar, estive procurando um meio de resolver o que está acontecendo e acabei de encontrar a toca do louco. Tenho que entrar nela e procurar os rastros da sua loucura, destruindo-a terei a chance de salvar uma das pessoas que aprecio.— Vou na frente — profere Lugi, mas seguro em seu braço antes que ele se mova, porque sei que faria, verificaria todo o lugar, apesar de saber que pode esconder perigos que tirariam a sua vida.— Não, atrás de mim — mando, percebendo que o incomodo em seu rosto é devido à pressão que coloquei em minhas palavras. Em nome pode ser leal ao meu pai, mas não é para ele que o seu lobo se curvar nos momentos em que o nó aperta.Puxando uma boa lufada de ar, começo a minha caminhada pelo
Ceyas— Porque você não morre? — pergunto a pessoa que continua respirando sem importar quantas vezes rasguei a sua carne.É muito contrário ao corpo gélido que fica no centro do lugar, apenas esperando que alguém o tire de onde está, porque nunca mais usará as próprias pernas. Diferente do meu irmão tem uma grande resistência a morte.— Você deveria ter me dito o que estava acontecendo se não queria que as coisas fossem assim — profiro, sem ter certeza de porque essas palavras saem da minha boca, mas empoleirado em cima do eu corpo, com uma perna de cada lado dele para evitar que fuja, não tenho certeza do que deveria fazer para enfim acabar com a sua vida.Quanto sangue mais tem que derramar?Quantas vezes mais tenho que ver o corpo morto do meu irmão pelo canto dos olhos? Tem tanto assim que deseje para desesperar tanto pela sua vida depois que fez algo tão macabro com o seu filho?Independente dos seus desejos, estou aqui, para acabar com eles.Se depender de mim não conseguirá na
FaloutDescobrir que uma pessoa que você aprecia passou por tanto sofrimento não é simples, é algo que te deixa maluco, afinal, você não pode simplesmente voltar para o passado e ajustar o que sabe que a feriu.Durante todo o tempo em que Ceyas falou do seu passado, contando da maneira como acabou sendo arrastado pelas suas dúvidas em relação ao seu pai, foi notável que a sua culpa se sobressai.Ele não pode controlar, apenas acontece, porque também tinha uma pessoa que ele queria proteger naquela época e, no final, acabou por vê-la morta, diante de seus olhos, pelas mãos de alguém que também deveria protegê-la, mas que no fim fez exatamente o contrário.Não me lembro bem dos familiares com quem um dia dividi sangue.Fui transformando em um período em que uma doença estava se alastrando e as pessoas recorriam a todo o tipo de soluções para sobreviver. Uma delas surgiu como uma mulher bonita que esbanjava bondade ao distribuir medicamentos, independente da classe das pessoas.Todos a a
RosianApesar de Ceyas estar do meu lado, não acho que estamos próximos o suficiente.Essa é uma sensação absurdamente maluca, no entanto, acredito que tocar no seu passado continuará deixando uma marca nele para sempre. Embora saiba que fez o melhor que podia, ainda se tornou o assassino do seu próprio pai e nem conseguiu salvar o seu irmão com essa ação.Entendo como podem ser tempestuosos os pensamentos depois de descobrir que acabou vivo quando alguém que ama morreu. No segundo, em que notei que era o último sobrevivente do meu coven algo dentro de mim se rompeu, quase como se uma parte minha não pudesse mais existir depois daquele acontecimento.Por muito tempo acreditei que não haveria nada que pudesse me ajudar com isso, que independente do que fizesse, essa parte permaneceria ali, sangrando, me lembrando de que continuou vivo quando todos os que conhecia morreram. No entanto, após ser pego nos encantos de Neamir descobri que as feridas podem ser remediadas.Cicatrizes podem se
CeyasSabia que o meu elo com eles seria diferente, afinal, tenho uma lumeny que tinha um vampiro ligado a ela por uma ligação sanguínea e um bruxo que a enche de magia para que não sofra com dores horríveis.No entanto, não pensei que havia algo mais que pudesse mudar no nosso elo. Ele já tem muitas peculiaridades, contudo, já estava bem feliz de poder alimentar Falout. Uma vez que ele precisa de mais sangue do que outros vampiros que já vi.“Está se sentindo melhor?” Pergunta Rosian e o sorriso em sua face é igualmente belo ao tom terno que usa para fazer a questão soar em meus pensamentos. “A dor pode continuar por um período, até o seu corpo entender que a magia não é algo que vai te ferir” me conta.Leva a mão para o meu peito, pressionando-a no local como se quisesse marcar as cinco digitais em minha pele para sempre. “Respire” pede, me fazendo seguir o ritmo com o qual visa manter o ar entrando em seus pulmões. “Seu lobo também pode estranhar a intromissão, então, precisa garan