Páginas em Branco - Vanessa Matos

Em uma tarde de sábado, Cibele estava sentada no sofá de sua casa, enquanto aguardava que Miguel chegasse. Ela estava tão ansiosa para esse encontro, que a cada cinco minutos era necessário beber um copo de água a fim de hidratar a sua garganta que ficava seca rapidamente.

Com o objetivo de se distrair, Cibele pegou o controle remoto da televisão, e depois de apertar um botão, ela observou que a tela se acendeu, exibindo algumas cenas que se assemelhavam às cenas de um filme de romance, pois as imagens eram bastante claras, dando um tom de harmonia e encantamento a alguns cenários que estavam repletos de flores. De repente, Cibele foi surpreendida com o som da buzina de um carro, o qual parecia estar avançando em direção da sua casa e estacionando sobre a sua calçada. Imaginando que poderia ser o carro do vizinho, ela permaneceu sentada no mesmo lugar do sofá. No instante em que ela novamente se distraiu com aquele filme repleto de cenas de amor, ela ouviu o som da campainha de sua casa, fazendo com que ela pegasse o controle remoto e desligasse rapidamente a televisão de modo a se encontrar com o seu grande amor. Entretanto, quando ela tocou a maçaneta da porta, o seu semblante foi de decepção, visto que não era Miguel quem estava lhe procurando, e sim um homem que estava vestido com um uniforme na cor cinza e que perguntou se ela permitiria que ele medisse o registro da água a fim de executar os seus serviços. Tomada pela surpresa, a qual se misturava com a decepção, Cibele apenas assentiu com a cabeça, de modo a permitir que aquele homem se direcionasse à área onde ficava localizado o seu registro hidráulico.

Quando Cibele virou de costas a fim de voltar para o interior de sua casa, o homem voltou os seus olhos para ela e para dentro da casa através do espaço entre as cortinas da janela, de modo a observar se ela morava sozinha, como se ele estivesse com alguma intenção no mais profundo de sua mente. Como Cibele não viu esse olhar um tanto estranho daquele homem que ela não conhecia, ela seguiu os passos até entrar em sua casa e fechar a porta. E novamente ligando a televisão, ela continuou assistindo o filme, enquanto aguardava Miguel.

Como as horas passavam e Miguel não chegava, ela ficou preocupada de ter acontecido alguma coisa com ele, visto que tinham muitos anos que ele não frequentava a Barra da Esperança e por isso ele pudesse ter se desacostumado a caminhar por aquela cidade tão perigosa. Tendo em dúvida se ele realmente estava a caminho de sua casa, ou por algum motivo ter se perdido, ela resolveu pegar o seu telefone celular e discar o número a fim de ligar para ele. Mas infelizmente a sua primeira tentativa foi em vão, pois a linha só exibiu um som de ocupado, o que a fez imaginar que ele pudesse ter perdido a hora por estar conversando com alguém pelo telefone. Depois de alguns minutos Cibele discou novamente o número a fim de tentar falar com Miguel, mas dessa vez a linha deu sinal de que estava chamando, mas ninguém atendeu. Mas ao tentar pela terceira vez, não é possível dizer se Cibele teve sorte, pois alguém atendeu, mas era uma voz feminina que disse “alô”, fazendo com que ela fosse invadida por uma grande decepção que foi o suficiente para que os seus olhos se enchessem de lágrimas e ela pensasse que foi iludida por uma pessoa que ela nunca imaginou que fosse capaz de brincar com os sentimentos de alguém.

Desligando o telefone sem dizer uma só palavra para responder aquela mulher que tinha atendido ao telefone de Miguel, Cibele foi caminhando para o seu quarto, e depois de se deitar em sua cama, ela apoiou a cabeça no travesseiro e sentiu as lágrimas rolarem.

Depois de passar cerca de duas horas naquela situação desoladora, ela se levantou, levou as mãos ao rosto, e pegou o seu diário a fim de expor os motivos que tinham levado à maior frustração do seu dia, que mesmo sem entender, foram suficientes para que ela desistisse de reencontrar Miguel.