Emily narrando...O cheiro familiar da fazenda Paraíso me acolhe como um abraço, misturado ao som distante das ondas quebrando e ao canto dos pássaros. Este é o lugar que sempre foi meu refúgio, meu lar. Respiro fundo, sentindo o peso da cidade se dissolver no ar fresco. Após descarregar minhas malas no antigo quarto que já foi meu, decidi caminhar pela propriedade. Os anos passaram, mas cada canto ainda guarda as memórias da infância, como se o tempo tivesse parado por aqui.Os dias seguintes são dedicados a reorganizar a casa e redescobrir a rotina na fazenda. É difícil voltar ao lugar onde meus pais viveram e construíram tanto, sabendo que agora sou a única responsável por mantê-lo. Às vezes, sinto o peso da solidão, mas é reconfortante estar rodeada pelas lembranças.Uma semana após minha chegada, enquanto eu revisava algumas contas na sala, sou interrompida por uma batida na porta. Vou atender e encontro o advogado da família, o Sr. Roberto, com uma pasta volumosa em mãos e uma e
Theo narrando...O som repetitivo do motor do meu carro era a trilha sonora perfeita para meus pensamentos. Era sempre assim: trabalho, trabalho e mais trabalho. Desde que perdi a Ana, mergulhei de cabeça no que sabia fazer de melhor. Não havia espaço para mais nada. Amor? Nem pensar. Esse capítulo da minha vida foi arrancado brutalmente numa noite que deveria ser de felicidade. Perdi minha esposa, meu chão e, junto com ela, qualquer esperança de que o amor pudesse ser um lugar seguro.Parei o carro na entrada da minha propriedade, um terreno simples, mas funcional. Era ali que eu passava os dias, lidando com a terra, os animais e os números que faziam tudo aquilo funcionar. A rotina era uma zona de conforto, quase anestésica, até que o telefone tocou, tirando-me do meu transe.Era Emanuelle, minha prima. Não que ela ligasse com frequência, então, algo me dizia que tinha novidade.– Theo? – sua voz soava alegre, mas com aquele tom de quem estava tramando alguma coisa.– Fala, Manu. O
Emily Narrando...Os dias na fazenda têm sido intensos, sempre há muito para se fazer, nossos dias estão sendo carregados de trabalho, mas também é satisfatório ver o lugar que meus pais deixaram, para mim, voltar a tomar forma. O Theo tem me ajudado muito, e às vezes escuto a voz da minha amiga falando para dar uma chance para o primo dela. Entretanto, ainda penso no Gabriel, mesmo que fale para mim mesma que não adianta, pois enquanto passei anos da minha vida esperando por ele. Ele nem lembrava da minha existência.Depois de um dia exaustivo, com o sol queimando minha pele enquanto eu trabalhava no campo, finalmente decidi que precisava de uma pausa. Theo apareceu com aquele sorriso fácil e um convite que, no fundo, eu já sabia que aceitaria.— Que tal jantar na cidade? — ele perguntou, tirando o chapéu e passando a mão pelos cabelos bagunçados. — Acho que merecemos algo além de pão e café frio, não acha?Hesitei por um instante. Sempre hesito, como se uma parte de mim ainda est
Gabriel Narrando...A manhã começou como todas as outras para Gabriel, mas a sensação de inquietação era ainda mais forte. Desde que Emily se afastou, ele sentia que o mundo ao seu redor havia perdido a cor. A rotina da empresa, antes um refúgio, agora parecia uma prisão. Seus pais o sobrecarregavam com tarefas e responsabilidades, mas Gabriel sabia que havia algo mais por trás disso.Após uma reunião exaustiva sobre a administração da empresa, Gabriel decidiu que era hora de confrontar seus pais. Ele entrou na sala de estar, onde os dois estavam discutindo detalhes sobre um novo aplicativo.— Podemos conversar? — perguntei, com um tom firme que imediatamente chamou a atenção dos dois.Meu pai ergueu os olhos do papel que analisava, enquanto minha mãe cruzava os braços, antecipando a seriedade da conversa.— Claro, Gabriel. O que foi? — Meu pai respondeu, sem esconder a impaciência.— Quero saber por que vocês estão fazendo de tudo para me manter afastado da Emily. Vocês foram os prim
Emily narrando...Depois daquela noite com o Theo, minha mente parecia uma tempestade, um caos entre o que era certo e o que meu coração queria. Enquanto a razão me dizia que Theo era a escolha lógica, uma nova oportunidade de algo leve e sem histórias complicadas, meu coração teimava em sussurrar o nome do Gabriel. Era ele que parecia gravado em mim de uma forma que eu não sabia explicar. Talvez fosse o peso da escolha dos meus pais, ou talvez algo mais profundo que eu não tinha coragem de encarar.“Ele teve o momento dele”, dizia a voz racional na minha cabeça. E era verdade. Gabriel viveu. Enquanto eu esperava, ele não hesitou em seguir em frente. Teve namoradas, festas, uma vida inteira que não me incluía. Por que agora ele deveria ser a minha prioridade? O Theo, por outro lado, era um novo capítulo, algo que eu poderia escrever sem as sombras do passado.Mas então, como se o universo soubesse que eu precisava de um empurrão, Manu apareceu. Minha prima querida, cheia de energia e
Emily narrando… Os dias na casa de praia têm sido muito bons. O som do mar, o cheiro de sal no ar e o toque suave do vento na minha pele fazem tudo parecer mais leve, como se o mundo lá fora não existisse. Mas o que realmente tem me deixado confusa é o Theo. Ele é… diferente. Não de um jeito óbvio, mas nos detalhes. No jeito como ele me olha quando acha que eu não estou percebendo. No modo como ele sempre encontra uma desculpa para ficar por perto. No sorriso que ele tenta esconder quando eu digo algo bobo. — Emily, quer ajuda com isso? — a voz dele me trouxe de volta à realidade. Eu estava tentando acender a churrasqueira e, obviamente, falhando miseravelmente. — Ah, claro! Se você quiser salvar o almoço, acho que seria uma boa ideia — respondi, tentando soar descontraída. Ele riu, aquele riso baixo e rouco que fazia meu coração acelerar sem motivo algum. Enquanto ele ajeitava o carvão e riscava o fósforo com uma facilidade irritante, fiquei observando de lado. Theo sempre
Emily narrando… — Emily, podemos conversar— ele fala e sai em direção à praia. Sem pensar muito saio ao seu encontro. — Gabriel, o que… — Antes que você fale qualquer coisa, pode me falar quem é aquele cara que se acha seu dono? — Você está falando do Theo? — pergunto, parando de caminhar ao lado de Gabriel. O vento da praia bagunça meu cabelo, mas minha atenção está totalmente voltada para ele. — É, o Theo. Quem mais seria? Ele fica te olhando como se fosse o dono da sua vida. — Gabriel cruza os braços, os olhos fixos em mim, como se estivesse esperando que eu confessasse algo que nem eu sei. Solto um suspiro, tentando manter a calma. — Gabriel, o Theo está me ajudando com a administração da fazenda e das outras propriedades da minha família. Ele é primo da Emanuelle, sabia? Não tem nada além disso. Ele arqueia uma sobrancelha, claramente desconfiado. — E é só isso mesmo? Porque, sei lá, parece que vocês têm alguma coisa. Não é só ajuda profissional. — A voz dele soa c
Gabriel narrando… O beijo de Emily me pegou completamente de surpresa. Por um momento, fiquei congelado, sem saber como reagir. Mas assim que senti seus lábios nos meus, algo em mim se acendeu, como se uma chama que estava adormecida há muito tempo tivesse sido reacesa. Era como se todo o caos que nos envolvia desaparecesse, deixando apenas nós dois ali, naquele instante. Quando nos afastamos, minha mente estava um turbilhão. Tudo o que eu pensava parecia insignificante perto do que acabava de acontecer. Emily, com aquele olhar firme e, ao mesmo tempo, vulnerável, havia acabado de quebrar todas as barreiras que eu tinha construído ao nosso redor. E eu não podia deixar isso escapar. — Minha linda, vem comigo. — As palavras saíram antes mesmo que eu pudesse processá-las. — A lancha está atracada no cais. Fica comigo essa noite? Por um segundo, temi que ela fosse hesitar. Que todas as dúvidas e medos voltassem à tona. Mas, sem pensar duas vezes, ela deu um passo à frente e me env