A fronteira norte estava fria e úmida, com cheiro familiar de neve e pinho preenchendo o ar. Kaelan e eu passamos a noite viajando para chegar.Entrei no forte que construímos próximo à fronteira e fui recebido com reverência pelos meus lobos. Conferi como cada um estava e os estragos que os Spinelli havia cometido.A lua ainda não estava cheia, mas o ar estava pesado, com cheiro de morte e violência.Draven veio até mim, estava muito bem vestido, afinal de contas, ele era o meu representante nessas terras.Mesmo olhando-o de longe, percebi que estava preocupado. Meu irmão raramente demonstrava emoções fortes, mas seus ombros estavam tensos e a mandíbula rígida.— Alfa.— Irmão — segurei em seu ombro. — Como estão as coisas por aqui?— Os Spinelli deixaram um rastro de destruição e fugiram
Dois dias depois, antes da lua cheia, eu estava de volta. As coisas haviam se acalmado e nada mais aconteceu. Os Spinelli sequer se aproximaram da fronteira e nenhum outro evento ocorreu na minha ausência.E isso anda me deixava preocupado.Sempre que o silêncio se prolongava, era sinal de que algo pior estava por vir. Mas naquele momento, assim que pisei os pés em Port Angeles, só consegui pensar numa única coisa: Mirella.Ao chegar em sua casa, vi que estava no jardim. O colar que Amber havia lhe dado brilhava em seu pescoço, sob a luz suave do fim da tarde.Seus olhos castanhos se voltaram para mim assim que entrei no terreno e, por um momento, uma brisa passou entre nós. Não importasse o tempo que ficássemos distantes, a conexão silenciosa que compartilhávamos continua inegável.Não havia necessidade de palavras ou outras conexões; eu sentia o desejo
O dia havia chegado.A lua cheia brilhava no céu, prateada, vibrante, parecia pulsar com energia própria. O colar que Amber havia me dado começou a brilhar intensamente mesmo sem tocar a luz lunar. Havia passado os últimos dias estudando tudo o que eu podia sobre esse poder, mas era como matemática: eu via os números, as operações e problemas, nada fazia sentido em minha cabeça.Então Arturo veio me buscar, em sua forma de lobo. Sob a lua cheia ele parecia maior e mais poderoso do que nunca, sua presença me preenchia com uma sensação de segurança e poder.Seus olhos, prateados como a lua se fixaram em mim e ele aguardou até que eu saísse de casa e andasse em sua direção.— Está pronta? — sua voz ecoou como um sussurro em minha mente.Eu inspirei até encher meus pulmões, senti o ar géli
O uivo de Mirella ecoou pela floresta, reverberando em cada fibra do solo, da copa das árvores, do domo do céu e do meu ser. A lua cheia iluminou seu pelo branco como a neve, tornando-a a coisa mais linda que eu já havia visto em toda a minha vida.Ela parecia plena, imponente, seu simples olhar emanava poder. Ao vê-la em sua verdadeira forma de lobo, eu quis adorá-la, servi-la, protegê-la e amá-la.Ela era, sem sombra de dúvidas, a minha rainha.Corremos juntos pela floresta, sentindo a terra sob nossas patas e o vento gélido que cortava as árvores ao nosso redor. Os outros lobos da alcateia nos seguiram, respeitando nossa liderança.A sensação de correr ao lado dela, de sentir sua presença tão intensamente conectada à minha, era como reestabelecer a ordem natural das coisas: meus ferimentos imediatamente cicatrizaram, nos vestígios do inc
A revelação de que aquela loba branca à minha frente era a minha avó, me acertou como um raio. Por um momento minha cabeça inteira entrou em pane e eu lutei para entender o que aquilo significada.Tudo o que eu sabia, tudo o que eu pensava sobre minha família, estava sendo desmontado peça por peça.Eu mal conhecia minha avó, e o que sabia vinha de histórias desconexas vindas da minha mãe. Histórias de abandono, de desaparecimento, de que ela ficou louca e sumiu.Agora, ali estava ela, diante de mim, com um poder tão palpável que me deixava sem palavras.— Você... você é minha avó?Mariel deu um passo à frente, sua forma de loba brilhando à luz da lua cheia. Seus olhos dourados, semelhantes aos meus, me encararam com uma intensidade que fez meu coração pular uma batida.— Sim, Mirell
O silêncio da noite se estendeu como uma manta ao redor da montanha. Arturo, parte da Alcateia e eu havíamos retornado para Port Angeles, mas apenas ele e eu fomos para a casa da minha família.Tentei esconder o máximo que pude os meus sentimentos divididos, mas eu não era tão boa assim em dissimular algo que não estava sentindo.Minha mente estava uma loucura. Eram tantas informações novas, tantas decisões a serem tomadas em tão pouco tempo que eu ainda não sabia como não tinha tido um colapso nervoso.A presença de Arturo ao meu lado era reconfortante, mas ao mesmo tempo, aumentava a pressão que eu sentia.Assim que chegamos à casa, Arturo se transformou de volta em sua forma humana e se aproximou de mim. Seus olhos prateados me observaram com cuidado, procurando alguma reação minha, algum sinal de que eu estava pronta para o pr&o
A dúvida estava estampada no rosto de Mirella, como uma sombra que não podia ser ignorada. Ela se afastou de mim na noite anterior, pedindo tempo para pensar, mas eu sabia. Sabia que seu coração estava tomado por medos que não era só dela, mas de todos os Ômegas, que um dia, tiveram que tomar essa decisão.Eu queria dar-lhe tempo, espaço. Queria ser o Alfa compreensivo, aquele que respeitava a boa vontade da sua companheira, mas... a lua não esperaria por ela. E cada dia que se passava era um risco maior para todos nós, porque os Spinelli não paravam de ficar fortes. E a qualquer momento avançariam por Port Angeles, para usurpar as terras.Na manhã seguinte, Noah, Troy, Flynn e Skylar vieram até mim.— O que desejam?— Queremos provar o nosso valor, com sua permissão, Alfa — Noah disse.— Nós já estive
Quando abri os olhos, percebi que estava na entrada da floresta. Pisquei tentando me lembrar do que havia acontecido e então o uivo ecoou mais uma vez. De alguma forma, aquilo havia me deixado hipnotizada e me feito sair de casa sem nem perceber e vagar pela descida da montanha até entrar nos domínios de Arturo.Tentei convencer a mim mesma de que estava pronta, de que a conexão que sentia por Arturo poderia superar qualquer coisa. Mas a verdade era que eu não sabia o que estava por vir. E esse desconhecido me aterrorizava.Quando cheguei à clareira, o vento foi tão voraz que era como se cortasse a pele do meu rosto como uma lâmina, e o frio se infiltrou em meus ossos. Eu senti a presença dele antes de vê-lo. O som de seus passos pesados, o roçar das árvores ao seu redor, um ruído que parecia uma ameaça silenciosa, como se a floresta estivesse se preparando para testemunhar