Capítulo 3

Tente não se afastar demais

Não permita que seus receios controlem você

Mantenha-se atento com beijos autênticos

Preenchido com amor

Orion's Belt - Sabrina Claudio

(...)

 Justin

 — Doutor Coleman, sua próxima paciente acaba de chegar. — Amber, uma das enfermeiras do hospital, me informa, segurando a porta para não bater.

 — Eu não preciso ser anunciada, querida. Eu e o Justin somos amigos, não é mesmo? — a senhora baixinha, de cabelos grisalhos, segurando uma bengala para auxiliá-la a andar, entra em minha sala, quase derrubando a Amber.

 Sorrio em vê-la.

 — Está certíssima, dona Mary. Amber, prepare a sala de radiografia, por favor. — ela assente com um menear de cabeça.

 Sai em seguida, fechando a porta atrás de si e nos deixando a sós.

 — Como está a senhora? — lhe pergunto, à medida que ela senta na cadeira em frente à mesa branca.

 — Estou bem na medida do possível, meu filho. Senti saudade das nossas conversas. Como vai esse coração? — sorrio para ela.

 — Cheio de sangue e batendo no ritmo correto. — brinco com ela, que estala a língua na boca, fazendo um bico.

Solto uma gargalhada.

 — Sabe bem do que estou falando, rapaz. Não brinque comigo, te dou uma surra. — ela fala em tom de repreensão, me contenho para não rir.

 — Estou bem, dona Mary. Não se preocupe. Quero saber é como anda esse joelho. Tem feito as caminhadas como te orientei? — pego o último exame de raio-x que fizemos.

 — Tenho feito sim, apesar de achar que não está dando resultado. Sinto meus ossos cada vez mais fracos e vivo caindo feito uma jaca mole. — ela ri.

 — Não fale assim, dona Mary. Tenho fé que a senhora ainda vai voltar a andar sem precisar dessa bengala.

  — Oh, meu querido — me olha com ternura — Seu otimismo faz de você um ser único, mas sejamos realistas, já estou velha demais para pensar em melhorar.

 — Está velha, não morta, então podemos fazer de tudo para que viva da melhor maneira possível — pisco para ela — Agora venha, vamos fazer uma radiografia para ver se tivemos avanço no tratamento desse joelho.

 Saímos de minha sala e caminhamos pelo hospital, indo para a sala de raio-x. Falo com alguns dos meus colegas de trabalho.

 Assim que chegamos na sala, peço que ela retire qualquer objeto metálico e se deite na cama. A ajudo a subir no degrau da pequena escadinha, que fica no chão, próxima à cama. Eu pediria ao radiologista para fazer isso, no entanto, ela faz questão que eu mesmo faça o exame.

 Dona Mary já sabe como funciona o procedimento, então não move um músculo enquanto faço meu trabalho. O que não demora muito.

 Após o exame ser feito, ela senta na cama, se reorganizando e retornamos ao meu consultório. Espero a Amber trazer o resultado para mim.

 Ouço batidas na porta.

— Aqui, doutor. — Amber me entrega.

 — Obrigado. Pelo que estou vendo aqui, a fisioterapia e as caminhadas tem dado resultado, seu joelho está se recuperando bem. — comento, segurando as chapas de raio-x e analisando-as.

 — Isso é muito bom, apesar de eu não sentir essa melhora.

 — Eu garanto que a senhora sentirá, o processo realmente é lento — desvio meu olhar para ela — Está liberada, dona Mary.

 Ela levanta da cadeira e se aproxima de mim.

 — Você não respondeu a minha pergunta.

 — Pergunta? — franzo o cenho.

 — Sim, senhor. Como anda esse coração? Algum amor à vista? — dou uma risada nasal e passo a língua nos lábios.

 — Eu já te disse que só me caso se a mulher for como a senhora — ela ri, balançando os ombros — Então, não, nenhum amor à vista. — faço aspas com os dedos.

 — Você não tem jeito, rapaz. Vou repetir o que te digo sempre, quando alguém laçar esse coração, todo seu passado ficará para trás. Ele será apenas uma…

 — Lembrança de algo bom que vivi. — completo a frase dela que já conheço de cor.

 Dona Mary sorri e balança a cabeça em afirmação. Ela sabe tudo o que vivi e torce por mim.

 — Isso mesmo! Fico feliz que nunca esqueça de minhas palavras. Elas podem até não fazer o menor sentido agora, mas eu afirmo que no futuro fará, quando enfim, a pessoa que irá arrasar esse coração e sua mente chegar.

 Pela primeira vez, em tempos que ouço essa mesma frase sair dos lábios dela, me sinto confortável.

 — Obrigada, dona Mary. Pode ter certeza que guardarei suas palavras — dou um beijo afetuoso em sua bochecha e ela retribui — Foi muito bom revê-la.

 — Digo o mesmo. Até mais, Justin. — acena para mim, enquanto sai da minha sala.

 Estando sozinho, observo as horas e percebo que meu plantão de vinte e quatro horas, acabou. Estou exausto.

 Tiro o jaleco, colocando sobre o antebraço e pego meus pertences para ir embora.

 — Aonde pensa que vai, bonitão? — mesmo de costas, reconheço a voz do Fernando, meu amigo, colega de trabalho e vizinho.

 — Para casa, cara. Preciso muito da minha cama.

 — Nem pensar, você prometeu ir comigo naquele bar hoje e nem adianta tentar me dar bolo.

 Bufo.

 — Não dá mesmo para deixarmos para outro dia? Poxa! Acabei de concluir um plantão de vinte e quatro horas. — minha voz soa cansada.

 — Nem adianta choramingar, vovô. Promessa é dívida. Além disso, eu também acabei meu plantão agora, estou tão cansado quanto você, mas nossa profissão nos dá pouquíssimo tempo para nós mesmos, então vamos sair e beber todas. — coloca um braço em meu ombro, cheio de animação.

 E, por mais que eu não queira admitir, sei que ele tem razão. Ser médico é uma profissão que exige muito de nós, então, dificilmente conseguimos sair ou tirar uma folguinha.

 Entramos em nossos carros no estacionamento do hospital e seguimos para um barzinho estilo retrô, próximo ao lugar onde moramos. Dessa forma, não teríamos problema na volta para casa.

 Era fim de tarde, quando chegamos no lugar, então não havia muita gente. Procuramos pela mesa de sempre e nos acomodamos.

 — Olá! Justin — uma das garçonetes, que é afim de mim e que já demos uns amassos no banheiro do bar, me cumprimenta ignorando completamente a presença do meu amigo — O que vão querer?

 Ela pega um caderninho e retira uma caneta presa a parte alta do seu penteado. Perguntando aos dois, mas olhando apenas para mim.

 Vejo o sorriso cínico do Nando.

 — Apenas cerveja, estamos dirigindo e não queremos problemas, certo? — arqueio as sobrancelhas, encarando o Nando, esperando que ele concorde comigo.

 Ele revira os olhos.

 — É claro, se você diz…

 — Certo. Não esquece de mim… — a garçonete termina de anotar nossos pedidos e alisa minha mão com o olhar cheio de malícia.

 Enquanto ela se afasta, aproveito para dar uma conferida no material, a bunda redondinha e os peitos salientes. É uma delícia. Se eu não estivesse esgotado, como estou me sentindo hoje, puxava ela para aquele banheiro.

 — Que sorte hein, cara. Pena que não me dá bola e você não fez nem uma gracinha… — Nando me faz voltar à atenção para ele, vejo que está com um sorriso arteiro.

 Rio nasalmente.

 — Estou morto de cansaço e a mente cheia. Essa semana só apareceram os casos mais complicados naquele hospital. — recosto-me na cadeira e solto uma lufada de ar.

 — Realmente, essa semana foi osso. Mas essa não é a única razão para você estar assim… Apesar de tudo, nunca reclamou tanto do trabalho, como tem feito ultimamente, nem tem dado mais aquelas festinhas no final de semana quando está de folga. Esse cansaço está com cara que tem nome, sobrenome e endereço. É, foram bons tempos, tracei muitas gostosas naquele quarto de hóspedes… — ele sorri arteiro, olhando como se estivesse imerso nas lembranças.

 Dou um tapa em sua nuca em meio a uma risada.

 — Nem vem com essa, Nando. Não é nada disso que está pensando.

 — Ah, não? Só me diz uma coisa, por acaso, estou delirando ou vi você entrando no apartamento da gostosa da minha vizinha ontem?

 Rio nasalmente e olho para baixo, balançando a cabeça para os lados.

 — Ok, você viu certo, mas ainda assim, não é nada disso que sua mente pervertida fantasiou.

 — Então, eu tenho a mente pervertida? Você vive de olho nela e eu sou o pervertido? A propósito, o que rolou lá? Transaram? Ela é boa de cama? Com aquele corpo, certamente deve ser. — dou risada.

 — Não transamos. O que aconteceu, é que ela estava entrando no prédio depois de comprar uma pizza, após eu sair de seu apartamento e nos esbarramos, aí a pizza além de sujar a roupa dela, se espatifou no chão. Como ela estava visivelmente irritada e cansada, me ofereci para fazer um jantar. Foi apenas isso.

 — Quem te viu e quem te vê, hein Justin… Já está até fazendo jantarzinho para aquela gata, nunca vi você fazer isso para nenhuma das suas fodas.

 — Cara, eu só me senti no dever de ajudá-la. Porra, a mulher estava com uma aparência de exausta, eu também ficaria puto se estragassem a única coisa que poderia matar minha fome, após um dia de plantão. O que queria que eu fizesse?

 — Você afim dela, né? Admita. — Nando sorri de canto.

 Desvio o olhar brevemente, encarando qualquer outra coisa, menos ele.

 — Não, você está vendo chifre em cabeça de cavalo. Ela nem faz o meu tipo. — dou de ombros e Nando bufa.

 — Aquela mulher faz o tipo de todo mundo, Justin. Já viu o tamanho daquelas pernas e a bunda redondinha e empinada? Eu iria foder com ela uma noite inteira, sem me cansar. — poderia ficar irritado com a forma que ele falou, porém, sei que está me testando.

 Minha mente vai até a noite anterior, quando reparei cada parte do corpo dela e, involuntariamente, sinto minha ereção incomodando.

 Por sorte, a garçonete trouxe nossos pedidos, me fazendo voltar à realidade. E, com isso, tento pensar em qualquer coisa não sexual, principalmente se tratando da Ella, para acalmar meus instintos.

 — Então, vai dizer que aquele corpo não te deixa excitado? — pergunta, enquanto bebe um gole da cerveja.

 — Sim, ela é gostosa.

 — Pensei que discordaria, o que seria bem contraditório, já que vive falando sobre ela sempre que conversamos.

 — Não passa de uma curiosidade, ela é gostosa, qual homem em sã consciência não queria ter uma mulher como aquela na cama? Só se fosse louco. — bebo também.

 — Então, admite que está afim?

— Acabei de dizer que é apenas curiosidade. Ela não é pra mim, merece alguém melhor do que eu.

 — Lá vem você com esse papo de novo. Quando vai parar com isso, Justin? Que droga! — ele se aborrece sempre que tocamos nesse assunto.

 — Já chega desse assunto, ou então vamos embora. — perco a paciência também.

 — Ok. — responde frustrado.

 Mesmo sem querer, se dá por vencido.

(...)

 Algum tempo se passa, e devido à bebida, sinto o cansaço bater. Então decidimos ir embora.

 Por obra do destino ou sei lá do quê, assim que paramos no condomínio em que moramos, Ella estaciona o carro dela também. Já vi que será só mais uma razão para o Nando me encher com esse assunto outra vez.

 Desço do carro, segurando meu jaleco em uma das mãos e vejo meu amigo fazer o mesmo, com um sorriso cínico, olhando em direção a Ella.

 — Boa noite, vizinha. — Nando é o primeiro a cumprimentá-la, enquanto está com o tronco inclinado no banco do passageiro, pegando seus pertences.

 Essa posição deixa sua bunda saliente e ainda mais avantajada.

 — Oi, Nando — o responde sem graça, saindo da posição em que estava — Boa noite.  — fecha a porta do carro.

 — Como vai a melhor advogada desse prédio? — pergunta em tom de brincadeira.

 Ela ri, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

 — Acho que sou a única advogada que mora aqui, mas respondendo a sua pergunta, estou bem. E você? A propósito, boa noite, Justin. — desvia o olhar dele, para mim.

 — Boa noite, Ella. — sorrio.

 — Estou muito bem e você está maravilhosa, linda como sempre. — fico apenas observando a performance de galanteador do meu amigo.

 — Obrigada, Nando. Bondade sua. — ela o responde meio tímida.

 — Engraçado como você é educada com ele, mas comigo é o oposto. — não saberia explicar porque disse isso.

 Ela me fuzila com os olhos.

 — Apenas retribuo aquilo que me é oferecido, se não está satisfeito, o problema é seu. — empina o nariz, me encarando.

 Fico sério, mas juro que minha vontade por dentro, é de rir.

 — Boa noite para os dois. — diz e entra, no prédio, pisando duro.

 Solto uma gargalhada após ela sair de nossas vistas.

 — E depois diz que não tá afim. Você engana a outro, a mim não. — me finjo de desentendido.

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