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Capítulo 4 – Alucinação

O som contínuo do despertador me acordou e, com isso, a dor de cabeça tomou conta de mim, eu não estava pronto para me levantar, a ressaca me deixou arrasado, então, ainda meio sonolento, me mexi na cama apenas o suficiente para esticar a mão e adiar o despertador: “Só mais dez minutos”.

Fechei os olhos e, um segundo depois, o som de uma batida me acordou. “Porra, será que eles não me deixam dormir?”, rosnei em meus pensamentos. Joguei o travesseiro sobre a cabeça, querendo esquecer aquele som e continuar dormindo, mas as batidas continuaram mais altas.

- Quem? – gritei frustrado enquanto me sentava no colchão.

- A senhorita? – Aurora, a governanta, abriu a porta com um leve movimento de cabeça. – O Sr. Golf acabou de ligar, a reunião está prestes a começar e ele quer saber por que a senhorita ainda não chegou.

“Olhei para o relógio na mesinha de cabeceira ao lado da cama, eram nove da manhã, peguei-o nas mãos para detalhá-lo “Mas eu coloquei o despertador para as sete!”, verifiquei bem, achei que tinha adiado por dez minutos, mas não foi assim, toquei no botão errado e acabei desativando-o.

Pulei da cama, suportando a dor de cabeça, a náusea, o mal-estar, para correr ao banheiro e tomar um banho rápido.

- Aurora, preciso de uma xícara enorme de café forte e um par de aspirinas! – gritei enquanto corria.

Vesti-me como sempre, um terno executivo sob medida com paletó e calça cinza, camisa branca e sapatos confortáveis, escuros e de salto baixo. No trabalho, eu tinha que esquecer que era uma nova Ava, pelo menos enquanto não contasse ao meu avô meus planos, além disso, eu me sentia mais confortável com essas roupas, elas cobriam muito bem meus pneuzinhos.

Saí correndo de casa. Sim, já era muito tarde, mas eu esperava chegar pelo menos na metade da reunião. De qualquer forma, eu tinha certeza de uma coisa: o sermão que meu avô me daria.

De fato, esse era um evento muito importante, meu avô havia reunido toda a diretoria da empresa porque ele iria apresentar os novos sócios. Ele também me disse que faria outros anúncios importantes, sobre os quais não queria me dar detalhes.

A única informação que meu avô me deu foi que era essencial que eu estivesse presente na reunião, especialmente porque eu era sua neta, sua herdeira, e também porque eu estava ajudando meu avô a administrar a empresa no momento. Ele era o proprietário e CEO da empresa, mas eu estava encarregada de grande parte do trabalho para aliviar o fardo do meu avô.

Por isso, estudei e me preparei para esse cargo, pois queria ajudar meu avô, que já era bastante idoso. Ele logo completaria 83 anos, então provavelmente acabaria se aposentando em breve e eu teria de assumir completamente as rédeas da empresa.

Resumindo, por causa de tudo isso, meu avô Chester queria que eu me casasse logo, ele ficava me pressionando sobre isso, não queria deixar todo o peso da empresa sobre meus ombros, segundo ele, eu precisava do apoio de um marido para administrar nossa empresa com mais eficiência.

No entanto, quando eu criasse coragem suficiente, o que eu esperava que acontecesse naquele mesmo dia, e confessasse ao meu avô que meu relacionamento havia terminado e que eu havia decidido ficar na empresa pelo resto da vida, ele teria que se conformar com o fato de que eu talvez nunca me casasse.

Cheguei à empresa mais cedo do que imaginava, morrendo de ressaca e com uma cara de morta que eu não conseguia esconder nem com maquiagem. Mas eu tinha conseguido, tinha chegado e a reunião ainda não havia terminado.

Do lado de fora da sala de reuniões, havia um assistente chegando com várias xícaras de café.

- Senhorita Golf?! – Rina, a assistente, ficou surpresa ao me ver atrasada.

- Rina, bom dia. – murmurei enquanto entrava pela porta da frente atrás dela.

Tentei entrar sem fazer barulho, tentando passar despercebida atrás de Rina para me sentar em um lugar distante na mesa da sala de reuniões, sem chamar a atenção dos presentes. Entretanto, assim que saí de tras das costas de Rina (que também não me cobria muito, graças à minha cintura larga), todos os olhares se voltaram para mim.

Congelei por um segundo, olhando rapidamente para o grupo de rostos carrancudos, sem realmente olhar para eles. Voltei-me para o meu avô, envergonhada, pois ele era o que parecia mais severo.

- Ava, até que enfim você chegou! – anunciou meu avô com um tom intimidador e uma expressão séria.

- Eu… sinto muito…”, gaguejei, caminhando rapidamente para o meu assento habitual ao lado dele.

- Bem, pelo menos ainda não chegamos à parte mais importante, a reunião está quase no fim e eu esperava que você chegasse para começar os anúncios. – Assenti com a cabeça, baixando o olhar, pegando a pasta que estava preparada na minha frente para fingir. – Primeiro, deixe-me apresentá-los aos nossos novos parceiros… - Levantei-me, olhando ao redor da mesa, procurando os novos rostos entre os presentes. – O Sr. Tomas Grand e seu filho Alex Grand.

Meu coração disparou ao ouvir aquele nome, nervoso, olhei para a pasta que tinha em mãos antes mesmo de verificar com meus próprios olhos: “Não pode ser, debe ser uma coincidência, uma incrível coincidência”.

Respirei fundo e olhei para cima novamente, meu avô estava apontando para um ponto específico da mesa, virei-me e encontrei o que eu temia, aqueles intensos e belos olhos azuis.

Senti um arrepio, meus olhos se arregalaram de surpresa e acho que fiquei vermelha como um tomate porque meu rosto estava quente.

- Prazer em conhecê-la, Srta. Golf. – O Sr. Tomas se levantou imediatamente, sorrindo. Seu filho o seguiu.

- É um prazer. – Alex murmurou.

Ao ouvir a voz rouca de Alex, dei um pequeño sobressalto e saí de meu devaneio, reativando certas lembranças que me faziam estremecer, ele pareceu notar isso, sorriu levemente, demonstrando alguma malícia. Acenei com a cabeça para os dois homens, mas não consegui responder, as palavras não saíram. Roboticamente, voltei a me sentar, e os homens recém-apresentados fizeram o mesmo.

“Meu Deus, o que eu bebi ontem à noite? Um alucinógeno? Debe ser ressaca! Sim, minha mente debe estar me pregando peças! Estou visualizando Alex no corpo do novo parceiro! Só pode ser isso! Mas meu avô disse o nome dele! Só pode ser outra alucinação! Aquela festa e aquelas bebidas eram poderosas! Nunca mais vou beber como um desmiolado! Minha consciência estava discutindo comigo, enquanto eu fingia ler a pasta que estava folheando há algum tempo.

Meu avô permaneceu de pé, liderando a reunião.

- Bem, em resumo, posso lhe dizer que eles são os proprietários de uma nova empresa de publicidade chamada Imagim, que cresceu incrivelmente no último ano, demonstrando sua capacidade, por isso tenho certeza de que essa parceria trará grandes benefícios para nós dois. Os relatórios que estudamos na última hora mostram a enorme habilidade e capacidade desses homens.

Continuei concentrado na pasta, olhando para ela sem prestar atenção, não queria olhar para cima, não queria encontrar os olhos de Alex, queria continuar imaginando que tudo aquilo era uma alucinação, especialmente depois de tudo o que havíamos feito na noite anterior, e pensei que nunca mais o veria!

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