Ponto de vista de Kas.Sento-me na frente dele, mesmo que ele não saiba que estou lá. Receio que, se desviar o olhar, talvez nunca mais o veja. O focinho preto de Elexis empurra sob meu cotovelo, então coloco meu braço em volta dela enquanto ela se senta ao meu lado. Deixo-me inclinar contra ela e observamos nosso companheiro perceber que meu espírito deixou meu corpo.“Ele quebrou o vínculo do companheiro, Kas. As jornadas de nossos espíritos terminaram”, Lex diz calmamente: “Não há mais vidas para nós.”“Eu entendo”, aceno lentamente enquanto corro meus dedos por seu sedoso pelo cor de ônix: “Lex, apesar de tudo, eu o perdoo. Tenho certeza de que parece tolice, mas não quero guardar ódio ou ressentimentos quando seguir em frente. Então, eu o perdoo.”"Claro que você perdoa. Você tem um bom coração, Kas. Eu sei o quanto você o amou ao longo dos séculos.”“Fiz as pazes e morri sabendo que fiz tudo o que podia para salvar minhas irmãs e manter meus filhotes vivos. Não há mais nada
O cheiro de agulhas de pinheiro e lavanda enche a sala. Mantenho meus olhos fechados e escondo meu sorriso enquanto as risadas se aproximam.“Mamãe? Você está acordada?", a vozinha de Maya sussurra alto. Posso sentir seu peso subindo na cama."Shhh, Maya, mamãe vai dormir, porque é o aniversário dela", Andreas ri para ela enquanto ele sobe na cama também.Eu rolo e finjo bocejar com um grande rosnado e estico meus braços, agarrando os dois e trazendo-os para mim. Seus gritos felizes enchem meu coração de alegria."Olá, queridos", eu os aperto com força em meus braços.“Mamãe, feliz aniversário!”, Andreas diz alegremente e me dá um beijo molhado na bochecha.“Mamãe, tia Delilah disse que fez um bolo para você”, Maya diz com grandes olhos cinzas. Ela se deita em meus braços e brinca com meus cabelos brancos. Ela dá um sorrisinho malicioso: "Eu acho que ela fez de chocolate.""Ah, ela fez, não é?" Eu sorrio de volta. Os gêmeos conversam animados ao mesmo tempo, me contando sobre to
Sento-me na beirada da cama no quarto silencioso. Então é assim que é fazer vinte e cinco anos. Eu me pergunto como será cento e vinte e cinco. E duzentos e vinte e cinco? Rio para mim mesma com o pensamento enquanto vou para o banheiro.Olho no espelho e passo uma escova no meu cabelo branco. Nada do cinza brilhante voltou quando cresceu, há quatro anos e meio. Examino o espelho mais de perto. Parece que há mais algumas manchas violetas no cinza claro da minha íris, mas talvez seja apenas eu sendo esperançosa. Eu ainda não tenho nenhuma habilidade além de ser capaz de me transformar e me conectar em mente com os outros membros da matilha.Jogo água no rosto e escovo os dentes. Haverá tempo para tomar banho mais tarde antes da festa do solstício de verão e da corrida da matilha. Pego alguns brinquedos no armário e encontro um vestido azul escuro para usar. Uma vez vestida, me olho no espelho de corpo inteiro e sorrio.Quando chego na sala, Marco chega e me dá um abraço gigante, me l
A maioria das pessoas nem ao menos se lembram que a Casa do Clã tem um calabouço, mas eu sim. Eu tenho um pequeno quarto nos fundos que costumava ser um cela solitária, ela cheira a xixi velho, vômito e sangue, mas com o tempo você se acostuma com isso, tenho uma cama estreita e um velho cobertor esfarrapado para me manter aquecida, ainda peguei um abajur do lixo que ainda funciona, então eu tenho luz para estudar. Lar doce lar e todo aquele jazz, né? Quer dizer, pelo menos eu não sou uma selvagem.A sim, eu deveria me apresentar. Meu nome é Iokaste Latmus, mas todos me chamam de Kas, ninguém me chama de Iokaste, a não ser meus professores no primeiro dia de aula. Eu sou uma lobisomem no alcateia Lua de Prata, tendo em vista que eu sou órfã não sei exatamente quantos anos eu tenho, mas tenho quase certeza de que é 16. Eu também sou uma ômega, o que quer dizer que sou uma serva, meu trabalho é fazer as refeições para os lobisomens que vivem na Casa do Clã. Entre fazer o café e o jantar
Olho para a enfermeira que está me encarando, quando ela percebe que a peguei no flagra, vira o rosto. O que está acontecendo? Ok, senhora. Grosseria.“Vou te deixar agora.” Ela diz. “Você pode ir ao banheiro e se lavar, Apenas leve este tripé com a solução IV com você. Tem um shorts e roupas intimas limpas na bolsa, você precisa ficar com a bata do hospital até que suas costas estejam curadas. Entendeu?”“Sim, senhora. Obrigada, Diane.” Ela balança a cabeça e sai da sala.Essa é a primeira vez na minha vida que as pessoas estão sendo gentis comigo. Quer dizer, acho que faz parte do trabalho, mas ainda assim. Tudo que eu conhecia até agora eram insultos, miséria física e trabalho pesado, nunca nenhuma gentileza, nunca nenhum amor. Eu sinto que posso confiar no médico, mas ainda fico com um pé atras com a enfermeira Diane, o jeito que ela me encarava ainda a pouco me deixou desconfortável. Pego a mochila e vou para o banheiro, evito olhar para o espelho, não tenho certeza se estou
Eu ouço os passos de Alfa Graham voltando para o saguão enquanto ele sai do calabouço. Ryan aumenta seu aperto em meu pescoço, alongando as garras de lobo e me fazendo gritar.Assim que a porta bate, Ryan solta meu pescoço e se ajoelha na minha frete, seu rosto está contorcido de raiva, seus olhos piscando negros enquanto seu lobo, Dagger, vem para a superfície. Ele me agarra pelos ombros e balança bruscamente. “O que diabos você fez para deixá-lo tão bravo?Por que ele não está me batendo como ele disse ao Alfa Graham que faria? Eu enrijeço meu corpo inteiro evitando olhá-lo nos olhos. Eu estou tremendo tanto, que não consigo nem falar no momento, a ideia de duas pessoas me batendo regularmente pelo resto da minha vida... isto não podia ser real, podia?Como a Deusa podia permitir que isso acontecesse? Eu quero morrer, não é exagero, não sou eu fazendo drama, por favor, Deusa, não deixe isso acontecer, apenas me deixe morrer.Eu tremo tanto que caiu de joelho, começo a soluçar his
O seguinte um mês e meio foram os piores da minha vida, mas agradeço a Deusa pela Lex, ela quem me fez continuar, toda e qualquer motivação que eu tinha já não existia mais. Ao invés de apenas o café e o jantar, agora eu também tinha que fazer almoço, além de continuar com o trabalho nas despensas, cada momento do meu dia era preenchido com trabalho da hora em que eu acordava até a hora em que caia na cama. Lex me convencia a aproveitar o tempo que nós duas passamos juntas, ou seja, enquanto eu estava cozinhando.Descobri que gosto de cozinhar enquanto a Lex está comigo. Ninguém vem me perturbar, então conseguimos ter ótimas conversas sem interrupções, no fim acabei criando algo que as pessoas vão gostar, até mesmo achei alguns livros de receita no fundo dos armários da cozinha e aprendi algumas novas técnicas e pratos para fazer.Todo o resto na minha vida é uma merda. Alfa Graham permite que os membros do alcateia me batam e me xinguem, coisa que eles fazem sempre que tem oportunid
**Alerta de gatilho – Este capítulo tem conteúdos sensíveis relacionados à A.S.**Sam ajeita as costas de olhos arregalados, se levanta e foge para longe o mais rápido que consegue.De repente sou empurrada de volta ao meu estado normal de espírito e caio no chão exausta, minhas mãos não estão mais brilhando, mas eu sinto como se elas estivessem pegando fogo e cheias de eletricidade. “Lex! O que foi isso?” Eu a repreendo, principalmente porque isso me assustou.“Não consegui evitar, ele estava nos ameaçando.”“Ok, mas o que foi esse brilho roxo, mãos queimando e tudo mais? Isso não é normal!”“Kas, já falamos sobre isso, nós somos filhas da Deusa Lua, somos especiais. O ‘brilho roxo e as mãos queimando’ são presentes da nossa mãe e tem muito mais. Você vai descobrir depois que nos transformarmos pela primeira vez, até lá, eu não sou forte o suficiente para te mostrar. Além disso, não é como se eu tivesse machucado ele, o lobo dele vai curá-lo antes que ele volte ao escritório.”